

Que aconteceu nas oito décadas que ligam e separam as duas imagens? Uma história em que a arte — todas as formas de arte — tem coabitado, de forma mais ou menos calculada, com a noção de simulacro. Não a simulação que é, no fundo, um mero logro "imitativo". Mas o simulacro. Ou seja: a possibilidade de a imagem conter, não apenas o imediato da simulação, mas também a ansiedade de uma verdade que se aproxima do concreto da matéria.
Daí que ambas as imagens suscitem a mesma pergunta: em que pensamos quando pensamos em imagens? E, desde logo, emerge uma resposta: pensamos em palavras. Ou ainda: o pensamento por imagens nunca é estranho às mil e uma formas de labor da escrita.
Claro que vivemos no interior de uma cultura mediática enredada no "espectáculo" como obscenidade quotidiana, cultura que tende a beatificar as imagens, para melhor nos dominar pelas palavras, ao mesmo tempo que nos afasta da especificidade da escrita. Em todo o caso, Tarantino, herdeiro de Magritte, é um dos que nos volta a convocar para a íntima articulação do visual e do escrito — para o visual como forma de escrita. Sacanas sem Lei é um filme dessa celebração ambígua em que o simulacro nos repõe face à perturbante verdade que nunca abandona os corpos — é, por isso, à sua maneira, um filme contra a normalização pornográfica das relações e da história.