sexta-feira, maio 15, 2009

Em conversa: Andrew Fletcher (2/3)

Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Andrew Fletcher, dos Depeche Mode, que serviu de base a um artigo publicado no DN a 15 de Abril (e que está também disponível no DN online).

O vosso caminho teria sido o mesmo se, em finais de 1981, Vince Clarke, tivesse permanecido no grupo?
Na verdade, no início da nossa carreira nunca pensámos que estaríamos juntos mais que uma mão cheia de anos... Era assim na música pop... Mais de 90 por cento dos grupos não duram quase tempo nenhum... O nosso contabilista tinha até um plano espantoso, assumindo que a nossa carreira duraria uns três anos... Mas depois fomos tendo sucesso... Tem sido uma carreira agradável... Tivemos ocasionais “baixos”, mas muito mais “altos”...

Como reagiram perante a saída de Vince Clarke [que na altura era o autor da maior parte das canções dos Depeche Mode]?
Vince foi, originalmente, o homem que tinha a energia e as ideias quando nos formámos, em 1980. Era ele quem mais queria sair de Basildon. A nós sabia-nos bem estar numa banda, mas era ele quem tinha as ideias. Ele avisou-nos que ia sair... Que ia fazer a digressão e depois sair... E mantivemos uma boa relação. Nunca pensámos que íamos parar... É como aquelas coisas más que trazem depois coisas boas.

Acha que Martin Gore nunca se teria afirmado como compositor se Vince Clarke tivesse permanecido no grupo?
Sim, Martin nunca se teria afirmado como depois o fez. A opção também acabou por ser boa para o próprio Vince, porque acabou por ter uma carreira notável nos Erasure. Como compositor de canções ele é incrível, e acabou assim por dar uma chance ao Martin.

Nos vossos primeiros tempos foi notório que nunca encontraram uma relação sólida com a imagem. E em 1986 Anton Corbijn mostrou-vos de uma forma diferente...
Fez-nos parecer cool, o que é difícil. E compreendeu o nosso sentido de humor. E captou as nossas personalidades. Antes disso nós estávamos um bocado sem rumo... Mais que isso, estávamos muito insatisfeitos.

Fizeram uma ou outra boa capa...
Sim... Já tínhamos tentado trabalhar com o Anton, mas ele via-nos como uma bandinha pop... Em 1986 aparecemos com o A Question Of Time e resolvemos perguntar-lhe se queria fazer o vídeo. Ele, na altura, estava a começar a fazer vídeos. Aceitou e démo-nos bem. E desde então tem estado envolvido em quase 90 por cento da imagem da banda.

Chegaram a filmar parte de um teledisco em Portugal...
Sim, o Enjoy The Silence. Foi no Algarve. A nossa parte nesse vídeo durou apenas uma hora. Depois o Dave teve de viajar nos dias seguintes desde a neve das montanhas até ao Algarve... Acabou por ficar um belo vídeo. E uma das canções mais bem sucedidas da nossa carreira.

Esta entrevista integra um dossier sobre os Depeche Mode que está disponível. no DN online O dossier pode ser consultado aqui.