terça-feira, maio 19, 2009

Cannes 2009: 19 de Maio

Sabine Azéma dirigida por Alain Renais: um jogo de espelhos, de facto. Ou ainda: uma situação clássica que classicamente regressa num filme de clássica e desconcertante depuração, quer dizer, esplendorosamente moderno. Chama-se Les Herbes Folles e é um dos momentos de pura alegria criativa de Cannes 2009.
Desta vez, Resnais parte de um romance de Christian Gailly (L'Incident) para criar uma teia de acontecimentos que desconcertam qualquer determinismo, seja ele factual, afectivo ou moral: Azéma fica sem o seu saco, roubado por esticão, e André Dussolier encontra a sua carteira no chão de um parque de estacionamento. A partir daí, gera-se um labirinto de laços e enlaces que, de uma só voz, interroga as razões (ou a ausência delas) do impulso amoroso e pulveriza todas as regras da narrativa fílmica. Se quisermos uma definição fácil, mas porventura sugestiva, diremos que, quase meio século depois, esta é uma reinvenção de um dos clássicos do autor, O Último Ano em Marienbad, agora cruzado com os sobressaltos da comédia romântica.
Grande acontecimento foi a passagem de I Love You Philip Morris, estreia na realização da dupla de argumentistas Glenn Ficarra/John Requa, no âmbito da Quinzena dos Realizadores. É uma história de amor entre dois homens, interpretados pelos fabulosos Jim Carrey e Ewan McGregor (Carrey esteve na sessão das 14h00, de terça-feira, no Palais Stéphanie), história que integra de forma brilhante as formas de uma cultura genuinamente queer: trata-se de (re)pensar as relações amorosas para além da diferença de géneros, pelo caminho propondo um relançamento brilhante de alguns dispositivos clássicos da comédia. Vale a pena ver o trailer.