segunda-feira, maio 18, 2009

Cannes, 2009: 18 de Maio

O autor recorda a morte de Irène, sua mulher, em 1972, vítima de um acidente de automóvel. Passaram-se mais de 30 anos e relê os seus diários da época. Ao manusear os registos de 1971, decide queimá-los com o fogareiro de campismo. Ainda aproxima o livrinho da chama, chamuscando a contracapa, mas depois desiste.
Parece um episódio de um melodrama convulsivo. E, num certo sentido, é mesmo. Em Irène (selecção oficial, 'Un Certain Regard'), Alain Cavalier prossegue a sua saga digital e "amadora": quatro anos passados sobre Le Filmeur (também apresentado em Cannes), faz mais um filme radicamente pessoal, utilizando a sua pequena câmara para percorrer memórias pessoalíssimas, como quem está a reconverter a própria vocação subjectiva do acto de filmar. Discretamente, este produto de um cinema "pobre", é das coisas mais fascinantes de todo o festival.
Quem também permanece fiel às componentes do seu universo, é o italiano Marco Bellocchio: o seu Vincere (a concurso) evoca a personagem fascinante de Ida Dalser, mulher "não oficial" de Benito Mussolini que acabaria por ser marginalizada e internada num asilo. É um grande filme histórico, conseguindo um notável equlíbrio dramatúrgico entre as experiências individuais e as dinâmicas colectivas.