terça-feira, abril 21, 2009

Televisão da frivolidade

O noivo oferece à sua amada o anel de noivado — aconteceu em directo, na televisão. No canal Kark4, do Arkansas, no final das evening news, o jornalista Pete Thompson pediu a apresentadora Courtney Collins em casamento. E é inevitável discutirmos a "na-turalidade" do evento.
Aliás, convém não sermos mais papistas que o Papa: é óbvio que estes são momentos benignos de um tempo em que a televisão (e não precisamos de citar exemplos americanos) está cheia de monstruosidades que, todos os dias, degradam um pouco mais a dignidade humana. Mas não é um problema de "grau" que está em jogo. É uma questão de identidade mediática: e aquilo a que se assistiu na Kark4 é qualquer coisa que está entre o infantilismo dos apanhados (Collins não sabia o que ia acontecer) e a obscenidade da reality TV — um momento privado que procura uma espécie de sanção anónima no "colectivo" de espectadores.
O exemplo é tanto mais perturbante quanto são profissionais da informação que encenam tudo isto com a frivolidade pueril de quem brinca com o seu próprio dispositivo de trabalho. Quando são jornalistas a favorecer este tipo de situações, o menos que se pode dizer é que, embora desejando as maiores felicidades aos noivos, a história do seu noivado prestou um mau serviço à televisão — o video que se reproduz foi retirado do site da CNN.