segunda-feira, outubro 06, 2008

Bill Maher: elogio da "stand up comedy"

Um tapete para o rato do computador com a efígie de Bill Maher: eis um dos objectos comercializados pela HBO com aquele que, neste momento, é um dos seus maiores trunfos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Outubro), com o título 'Descobrindo Bill Maher'.

E Bill Maher chegou à televisão por cabo. O seu show produzido pela HBO está a passar no canal MOV (sábado, 01h05). Se outras vantagens não tivesse, a mera disponibilidade deste programa serve para combater a ideia feita (e muito mal feita...) segundo a qual fazer stand up comedy corresponde a colar algumas anedotas mais ou menos brejeiras, eventualmente “forçando” um pouco e apostando num calão menos comum no humor televisivo.
A esse propósito, valerá a pena não simplificar: de facto, Bill Maher aplica uma linguagem de extremos, não se coibindo de usar palavras e expressões que, por princípio, não integram os horários nobres. Mas, também aqui, seria bom não fingirmos que, além de adultos, favorecemos a estupidez. Assim como a nudez dos corpos nunca transformou as telenovelas em narrativas revolucionárias, também não é o calão que, por si só, distingue o humor mais “ousado”: as grandes diferenças jogam-se sempre no plano das ideias e, no caso concreto da stand up comedy, na construção de algum ponto de vista.
Pontos de vista não faltam a Bill Maher. Ele é mesmo alguém cuja agenda política se reflecte de modo muito directo no seu trabalho. Estamos a falar de um activista pelo casamento de homossexuais e também pelos direitos dos animais, neste caso ocupando mesmo um lugar na direcção da organização PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). Mais ainda: todo o discurso de Bill Maher passa por uma atitude fundamental, não de censura, mas de desconfiança política face às crenças religiosas e aos efeitos (políticos, justamente) dos conflitos entre religiões. É esse, aliás, o tema do seu filme Religulous, dirigido por Larry Charles (anunciado para 4 de Dezembro, em Portugal).
Por tudo disso, esta é uma descoberta tanto mais estimulante quanto nos revela um outro espaço da comédia televisiva americana, afinal bem diverso do modelo consagrado por Jon Stewart em The Daily Show. Há mesmo em Bill Maher qualquer coisa do pregador tradicional que nos apresenta o seu sermão. Com uma diferença significativa: a moral que prega não vem do passado, antes pertence a um futuro mais ou menos utópico.