quinta-feira, agosto 07, 2008

Nicole Kidman: um recado para os media

Nicole Kidman e Keith Urban / Oscars 2008
>>> foto publicada pela revista People, 25 Fev.

De acordo com a tradição mitológica, são os fotógrafos que pedem para que as estrelas se deixem fotografar (sendo os paparazzi a versão bruta de tal ansiedade — esses não pedem...). Algo está a mudar: chegámos ao ponto em que as estrelas pedem para não ser fotografadas.
Aconteceu agora com Nicole Kidman. De visita aos seus familiares que vivem na Austrália, acompanhada pelo marido, Keith Urban, e a filha (nascida há um mês, nos EUA, em Nashville), Kidman declarou à estação de rádio 2Day FM que espera que os media deixem algum "espaço" para que possam "movimentar-se em Sydney". Falando para a mesma rádio, Urban referiu-se em particular às atitudes predadoras de alguns fotógrafos, deixando esta pergunta: "Por vezes, quando nos aparecem à frente, somos levados a pensar: 'Meu Deus, será que fariam isto a uma criança de outras pessoas?'".
O cinismo reinante (em grande parte induzido pelas mais medíocres formas de jornalismo) lembrará que, com as suas máquinas promocionais e os seus muito especializados relações públicas, as estrelas mantêm uma atitude ambivalente face aos meios de comunicação: querem "servir-se" desses meios, mas não os "servem". De facto, tal formulação da questão mascara algo de essencial: o espaço público — entenda-se: o território social em que coexistem as personalidades das notícias e os fazedores dessas mesmas notícias — não é um espaço "automaticamente" aberto. Em rigor: não é um qualquer Big Brother em que, por uma espécie de "naturalismo" inquestionável, todos sejam obrigados a submeter-se aos modos de trabalho de todos os olhares.
A definição de um espaço público pressupõe que ainda existe um espaço privado. Ora, justamente, é esse o recado que Kidman vem deixar. A saber: ninguém (estrela ou cidadão anónimo) está obrigado a aceitar, sem recurso, todo e qualquer olhar mediático ou mediatizável. Afinal de contas, uma estrela não pode ser prisioneira das imagens que os outros dela fabricam ou querem fabricar. Aliás, a história ensina-nos que, quando isso acontece, algo vai correr mal.