segunda-feira, maio 05, 2008

Em conversa: Portishead (1/3)

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Geoff Barrow, dos Portishead. Esta conversa serviu de base a dois artigos entretanto já publicados no DN

Sabiam o que esperar de vós uma vez reunida a banda?
Sim, sabíamos. Sempre fomos fiéis a uma ideia na nossa a música. Isso notou-se na passagem do primeiro para o segundo álbum. E este terceiro é uma continuação. Sempre nos interessámos pelo desafio de procurar novos sons para a nossa música. E este disco mostra isso mesmo. Mais um som diferente. Mas ao mesmo tempo tem os elementos característicos daquilo.

Não levaram dez anos a fazer este disco...
Não, foram quatro anos. Terminámos a digressão em 1998. E tínhamos estado muito tempo na estrada. Foi cansativo... Fizemos primeiro o Dummy,. Depois a promoção, depois a digressão... E trabalhamos logo no segundo álbum. O concerto em Nova Iorque. E os festivais... Desgastou-nos. Não como banda, mas pessoalmente. Por isso cada um seguiu o seu caminho. Resolvemos tirar uma pausa e essa pausa acabou por durar seis anos. Estava um pouco cansado da música... Trabalhava na minha música desde os 16 anos e precisava de uma pausa. Então fiz algum trabalho de produção, abri uma pequena editora no Reino Unido. Diverti-me, assim por dizer. E hoje sou uma pessoa diferente.

Levaram seis anos a decidir qual seria o momento do reencontro. A ansiedade foi crescendo à medida que o reencontro ia sendo progressivamente adiado?
Estranhamente isso não aconteceu. Perdemos até essa ideia de ansiedade por completo aí pelo quarto ano... E quando nos reencontrámos quisemos apenas provar a nós mesmos que seríamos capazes de fazer algo bom, interessante e relevante. Mas sem ansiedade. Ninguém pensou nisso...

Mas sabiam que havia uma expectativa da parte de quem ouvia os vossos discos...
Não pensávamos nisso. Até porque a partir de certa altura as pessoas deixaram de nos fazer perguntas. E no fundo sabíamos que haveria interesse quando lançássemos um novo disco. A editora nunca nos pressionou... Também deixaram de perguntar.

Foram regressando aos poucos. Primeiro aquele aperitivo instrumental no MySpace...
Sim, mas era algo ainda muito rudimentar.

O MySpace pareceu-vos ser uma ferramenta de comunicação interessante?
Sim, muito interessante. Não faremos do MySpace a nossa principal fonte de comunicação. Duvido que seja por ali que iremos estrear as novas músicas. Mas é um espaço de comunicação directo, sem intermediários. Quando surgimos, não havia plataformas para comunicarmos com as pessoas senão através dos media convencionais. É uma forma interactiva, brilhante, para trabalhar. Mas também tem os seus perigos. Porque podemos ler tudo o que as pessoas depois respondem... E se começamos, depois, a querer agradar, então acabamos a soar ao que querem que sejamos e não ao que somos.

Depois do aperitivo no MySpace participaram no álbum de homenagem a Serge Gainsbourg. Porque colaboraram nesse disco?
Somos todos grandes admiradores da música de Serge Gainsbourg. E o que aconteceu, neste disco de tributo, foi o de sempre. Ou sejam, fomos contactados, convidados e aceitámos... Mas não encontrámos, a princípio, uma faixa que ritmicamente servisse a ideia que tínhamos. E resolvemos combinar dois temas.
(continua amanhã)