sábado, maio 24, 2008

Arqueologia da pop electrónica - parte 2

A ideia da “segunda oportunidade” pode, por vezes, trazer a surpresa a quem sabe esperar. Gary Numan que o diga. Em 1977 formou uma banda punk, os Tubeway Army, com os quais gravou um álbum que só veria a luz do dia sete anos depois, sob o título The Plan. No mesmo ano, o grupo separa-se por divergências estéticas. Numan assina pela Beggars Banquet e, com nova formação, grava um álbum que reflecte um interesse pela emergente new wave. Ninguém dá por ele... Fã confesso de Bowie, deixa-se entretanto cativar pelos sinais de mudança que escutara em Low e Heroes. Ao mesmo tempo descobre nos compatriotas Ultravox uma música que devolve os sintetizadores (recentemente banidos pelos sacerdotes do punk por ligados ao rock progressivo) a um terreno de invenção. Aceita-os, estuda-os e grava, em finais de 1978, um novo conjunto de canções nas quais os novos instrumentos revelam outros caminhos. Era um tempo de revolução na música pop em solo britânico. Além dos Ultravox e Tubeway Army, os Human League, os recém-formados Orchestral Manouevers In The Dark, os Cabaret Voltaire, os The Normal, a primeira formação dos Duran Duran, mostravam sinais de alerta que, mais dia, menos dia, chegariam ao grande público. Coube a Replicas, originalmente editado em 1979 como sendo um álbum dos Tubeway Army, e ao sucesso do single Are Friends Electric? fazer as “honras” da casa. Até então apenas os Kraftwerk e o bem sucedido Sound and Vision de Bowie haviam levado os sintetizadores a terreno pop, sob aclamação geral. Replicas abriu contudo a porta a uma nova geração de bandas e a uma relação com as electrónicas que teria fortíssimo impacte na música dos 80 que se aproximavam. E com consequências mais além, estando esta etapa da obra de Gary Numan tão presente nas referências de nomes vários, da nova pop ao rock industrial mais sombrio dos anos 90.
Replicas acaba de ser reeditado em formato de CD duplo (sob designação Replicas Redux), com um segundo CD no qual se reúnem maquetes das canções depois registadas no álbum. O CD2 permite, assim, uma espécie de leitura arqueológica dos eventos, localizando sinais de transição do som new wave para a pop electrónica (facção cold wave, como então se lhe chamou). O disco acompanha uma digressão nova de Gary Numan, na qual interpretará, de fio a pavio, este álbum histórico de 1979. Uma semana depois de aqui termos recordado Are Friends Electric, mostramos hoje, como aperitivo, a memória, ao vivo, em 1979, de Down In The Park. Tudo muito “moderno”, segundo os códigos de então...



Estas imagens são documento da digressão que Gary Numan realiza em finais de 1979, já como artista a solo, e sob o clima de popularidade que o sucesso de Replicas lhe trouxe. Repare-se no palco, com sinais de piscar de olho à cenografia feita de luzes da Stage Tour, de Bowie... E nos movimentos de Numan, que também não escondem uma admiração por quem, um ano, antes, cantava Heroes...