Não é por acaso que as naves invasoras no Marte Ataca! de Tim Burton têm claro sabor a anos 50. A sua forma clássica de "disco voador", o canhão de raios com ar de candeeiro de estudante com antena no meio, e mesmo o seu interior despojado e amplo têm um modelo na história. O mesmo que nos deu a cena, na qual um destes "discos" destrói o obelisco em Washington. Chama-se A Invasão dos Discos Voadores, foi realizado em 1956 por Fred F. Sears e tinha, à frente da equipa encarregue de criar os efeitos especiais, um dos mais importantes pioneiros do género: Ray Harryhausen. Este é um dos três filmes que o mesmo Harryhausen, agora com 87 anos, coloriu para lhes dar nova vida na era do DVD. A caixa, que ainda inclui O Monstro do Planeta Vénus e O Octopus, acaba de ser lançada entre nós como Ray Harryhausen Collection, pela Sony Pictures. A presente edição permite um reencontro (uma vez que inclui também as versões originais, a preto e branco) com uma época em que o cinema de ficção científica, antes dos êxitos de bilheteira de Guerra das Estrelas ou Encontros Imediatos do Terceiro Grau, era feito com orçamentos minimalistas, efeitos artesanais, muitos monstros, alienígenas e sustos quanto baste. Ray Harryhausen foi, então, um dos mais destacados pioneiros, a sua arte e engenho tendo resolvido "milagres" com técnicas rudimentares em sucessivas produções, mantendo regular actividade entre meados dos anos 40 e 1981, ano em que, mesmo correndo o risco de parecer fora de moda e datados, os seus préstimos foram solicitados o para Choque de Titãs, de Desmond Davis.Foi o trabalho do modelista que deu vida a King Kong que o inspirou. Usando uma técnica de animação usando modelos miniaturizados (stop motion animation), Harryhausen deu a inúmeras produções dos anos 50 e 60 os monstros, naves e horrores que a imaginação das revistas e livros de ficção científica há muito relatavam, mas que o cinema ainda não fora capaz de encenar condignamente.Muitos dos seus admiradores são hoje profissionais de efeitos visuais na era do digital. Harryhausen não teme ser colocado a seu lado e, a caminho dos 90 anos de idade, mantém-se em actividade. Em 2005 coordenou a edição de dois DVD nos quais reuniu uma série de filmes não- comerciais, nomeadamente testes a modelos. Neste momento, tem a sua atenção centrada na transposição de velhos filmes para a cor, para edição em DVD.
PS. Versão editada de um texto publicado no DN