quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Discos da semana, 25 de Fevereiro

Em 2004 o regresso dos American Music Club, após dez anos de silêncio, brotou de amargas e tensas visões de uma América entregue a uma guerra contra a qual esta não foi a única banda a se pronunciar. Passaram quatro anos e, no reencontro com os American Music Club voltamos a constatar o gosto de Mark Eitzel em reflectir sobre o espaço que é o seu palco de vida, porém retomando, de forma igualmente pessoal, outros ângulos de visão, outro patamar emocional, outro tom. The Golden Age assinala, musicalmente, uma continuidade forma face ao que os American Music Club nos deram na sua mais dourada etapa musical. Ou seja, o período entre 1991 e 1994 no qual gravaram três álbuns, dois deles (Mercury, de 1993 e San Francisco, de 1994) representando as mais inesquecíveis colecções de canções que Eitzel escreveu e gravou em grupo. Em The Golden Age encontramos o grupo num outro momento de grande forma, entregue a canções nas quais o encanto aparente das notas tocas e cantadas contrasta com um desencanto que molda muitas das histórias contadas, das visões da Nova Iorque pré-11 de Setembro em Windows Of The World a uma já conhecida relação crítica com a instituição militar, em The Dance. Uma profunda melancolia perpassa todas estas canções, cantos de uma terra desencantada e magoada que Eitzel encara sem filtros em palavras que não temem o expressar do que há de frágil em quem as canta. Outonal, contemplativo, traduzindo a cada vez mais clara e cuidada escrita do celebrado autor/compositor, este é um disco que, ostensivamente avesso a modas e tendências, e sem desejo de traçar entre o seu alinhamento uma qualquer agenda sociológica, não deixa contudo de ser um claro fruto dos tempos que vivemos.
American Music Club
“The Golden Age”

Cooking Vinyl
4 / 5
Para ouvir: MySpace


Porque são os editores portugueses (salvo raras excepções), incapazes de assumir a edição de música exterior ao alinhamento de um álbum sem ter de o fazer usando, re-usando, voltando a insistir, e mais uma vez ainda, no estafado modelo do “repackage”? Ou, por outras palavras, o “baralha e volta a dar”. Poderá haver, eventualmente, situações em que semelhante modelo se justifique. Mas, salvo em pontuais excepções, os repackages que vemos editados em Portugal não são mais que o álbum (antes editado), ao qual se soma um EP... É o que se passa com a Tour Edition do álbum de David Fonseca que, para desfrutar das novas faixas ao vivo inclusas no CD2, obrigam o comprador a levar para casa, uma vez mais, o disco que, eventualmente, comprou há poucos meses. Porque não se editou, contudo, e em separado, um eventual Tour EP? Mais barato e, naturalmente, complementar ao que já se tinha em casa? Podendo apresentar-se ao mercado, como alternativa, o pacote duplo, ou seja, o tal repackage... De Dreams In Colour, nesta edição, nada a acrescentar. É o melhor disco da carreira de David Fonseca, sublinhando um sonho de versatilidade que finalmente sai do armário. E o EP? Ou, perdão, o CD 2, o tal que sublinha o sub-título Tour Edition? Gravado ao vivo, recolhe um inédito e quatro versões, estas contudo longe de mostrar a selecção das melhores que o músico já apresentou em palco. As abordagens a Tim Buckley e Bryan Ferry mostram paixão e capacidade de reinvenção. Mas, perante as potencialidades já exibidas de David Fonseca neste departamento, o extra desta ‘Tour Edition’ é encore de dieta...
David Fonseca
'Dreams In Colour – Tour Edition'
Universal
3 / 5
Para ouvir: MySpace


Já lhes chamaram o “super-grupo” indie escocês... Tudo porque o quarteto, Correcto de nome, inclui o baterista dos Franz Ferdinand (Paul Thompson) e o ex-baixista dos extintos The Royal We (Patrick Doyle). Animados pelo viço pop do single de estreia, Joni, e pelo entusiasmo da mais recente recepção ao seu sucessor, Do It Better, eis que nos brindam com um álbum de estreia que, contudo, está longe de manter alta a fasquia que esses cartões de visita faziam antever. A luz pop de Joni e a angulosidade dançável de Do it Better já faziam esperar por um álbum empenhado na redescoberta de mecânicas e formas clássicas herdadas do punk britânico (dos Buzzcocks aos Sex Pistols), em canções onde, contudo, o tempero da diferença se fazia pela consulta igualmente estimulante de outra escola brit, em concreto a memória pop de uns Kinks. O álbum, contudo, pouco parece querer acrescentar aos singles. E a surpresa irrompe apenas a momentos, sobretudo quando o pólo pop, em clima mid tempo, parece dominar os cenários, como se escuta em Save Your Sorrow, New Capitals ou Walking To Town. Longe de ser uma desilusão, Correcto é um álbum que quase corre o risco de ser inconsequente face aos singles que o grupo nos deu já. Melhor, contudo, que o frágil e já esquecido álbum do projecto Box Codax, do também Franz Ferdinand Nick McCarthy.
Correcto
‘Correcto’

Domino / Edel
3 / 5
Para ouvir: MySpace


Nem sempre o chamado regresso à casa partida resulta enquanto opção numa carreira na música. E o que escutamos em Seventh Tree, o quarto álbum de Goldfrapp, em tudo dá razão a quem teme os perigos dessa opção. Depois de uma espantosa estreia em Felt Mountain, disco no qual se encontrava uma nova expressão, na era do digital, para uma certa alma pop pastoral, o grupo descobriu os prazeres da dança, do apelo sexy, da noite, do corpo. As opiniões dividiram-se, naturalmente, entre os partidários da etapa inicial e os convertidos por Black Cherry e Supernature. Seventh Tree, de certo modo, apela directamente a espaços semelhantes aos que se escutaram em Felt Mountain. Mas, ao contrário do que se escutou nessa soberba estreia, as canções são desinspiradas, lentas porque lentas, sem o sentimento de arrepio que soprava nas entrelinhas de verdadeiras pelas de filigrana pop como o foram Lovely Head ou Utopia. A&E, o single de avanço, revelou-se deslaçado empadão feito com o desejo de repetir sabores, mas sem os mesmos condimentos, nem a mesma atitude gourmet. Apesar de pontuais instantes de beleza pop (como o é Caravan Girl), o álbum pouco parece querer acrescentar ao que o single exibiu, repetindo lógica semelhante por um alinhamento que acaba cansativo. Desapontante. Surpreendentemente desapontante.
Goldfrapp
‘Seventh Tree’
Mute / EMI Music Portugal
2/5
Para ouvir: MySpace


Os discos de tributo são espaços nos quais, salvo em raras excepções, verificamos como os admiradores levam dez a zero dos respectivos admirados. A surpresa é, ocasionalmente, o motivo que pode fazer a diferença pelo que, não é invulgar vermos, entre a multidão de inevitáveis ou óbvios fãs, uma aparente carta fora do baralho. E, quase sempre, é por aí que muitas vezes se revelam os episódios de excepção. Há casos e casos, é verdade, com tributos como I’m Your Fan (dedicado a Leonard Cohen) ou This Is Where I Belong (Ray Davies) a mostrar invulgares alinhamentos feitos de invulgarmente coesas e interessantes versões. Controversy, tributo dedicado à música de Prince, não é, todavia, um desses casos notáveis. O que, todavia, não quer dizer que aqui não encontremos pontuais focos de interesse. As tais cartas fora do baralho, neste caso sendo elas Stina Nordenstam, Susanna & The Magical Orchestra, dão-nos momentos interessantes, todavia longe de surpreendentes, revisitando, respectivamente, Purple Rain e Condition Of The Heart. Os discípulos mais evidentes, D’Angelo ou Rob Mello, dão conta do recado, mas revelam-se igualmente pouco capazes de reinventar She’s Always In My Hair e Critical. Num mar morno de versões apenas satisfatórias, acabam por de destacar, apenas, Peaches (com 7 Hurtz) em Sexy Dancer e os Souwax em Starfish & Coffee... Prince merecia mais. Muito mais...
Vários
'Controversy'

Rapster / Popstock
2 / 5
Para saber mais: MySpace


Também esta semana:
Triffids (reedições), Envelopes, Gary Numan (reedição),

Brevemente:
3 de Março: Bauhaus, Nick Cave & The Bad Seeds, Billy Bragg, OMD (reedição)
10 de Março: MGMT (ed internacional), The Kills, Young Knives, Vicious 5, Hercules & Love Affair
17 de Março: Soft Cell (reedição), The Teenagers, Elbow, Stephen Malkmus

Março: B-52’s, Moby, R.E.M., Guillemots, Beck (reedição), Foals, Elf Power, The Whip, Supergrass, Faces (reedições), Devotchka, Daft Punk, Young Knives, Zombies (reedição), John Tavener, Philip Glass (BSO), The Grid, Super Nada, Guillemots, The La’s (reedição), Cinematic Orchestra (live), We Are Scientists, Why?, Cut Copy, Baumer, Joy Division (best of)
Abril: Portishead, Madonna, The Teenagers, Breeders, The Presets, M83, Air (reedição), UHF (reedição), Petrus Castrus (reedição), Quinteto Académico + 2 (reedição), Telectu (reedição), Quarteto 1111 (reedição), Duran Duran (reedições – três primeiros álbuns numa caixa), Rita Redshoes, Camané, Mesa, OMD (live), Kooks