sábado, janeiro 05, 2008

Uma oratória por um rei bíblico

Em 1727 Handel adquiriu cidadania britânica. A sua presença em Londres levou-o, após anos de convivência com a língua, a redobrar o seu interesse pela adaptação de librettos no idioma que, agora, era, oficialmente, o seu. Assim foi, estabelecendo uma obra que acompanhou o evoluir dos tempos artísticos (e políticos). Handel somava já 63 anos de vida quando, em 1748 começou a trabalhar em Solomon, uma das suas últimas obras de grande fôlego. Narrativamente, esta oratória retrata três momentos na vida do bíblico rei Salomão (a construção do Templo, o célebre julgamento e a visita da rainha de Sabá. Ou seja, num mesmo espaço Handel combinava reflexões sobre política e identidade patriótica, o amor carnal e a exaltação das riquezas terrenas. A oratória, dividida nestes três quadros, reflecte o domínio da escrita coral do compositor, o seu sentido de construção dramática e um profundo interesse pelo cruzamento de temas sagrados com ideias e pensamentos da vida mundana. Esta soberba peça de música coral surge numa nova gravação que conta com o protagonismo da Akademie Für Alte Musik Berlin e do RIAS Kammercor, sob direcção de Daniel Reuss. São solistas Sarah Connoly, Susan Gritton, Carolyn Sampson, Mark Padmore e David Wilson-Johnson. A edição, em CD duplo (com magnífico packaging, como sempre), é da Harmonia Mundi.

Integrada numa campanha de reedições da Deutsche Grammophon, regressa aos escaparates uma espantosa gravação de 1966 da Missa Solene de Santa Cecília de Charles Gounod (1818-1893), numa interpretação da Orquestra Filarmónica Checa e do seu coro, dirigidos por Igor Markevitch, com os solistas Irmgard Seefried, Gerhard Stolze e Hermann Uhde. Esta gravação corresponde à consequência de uma opção da editora que, terminada a II Guerra Mundial, optou por diversificar o seu catálogo, até então essencialmente constituído por artistas alemães. O maestro (natural de Kiev) tinha nesta missa de Gonoud memórias dos dias imediatamente posteriores ao fim da guerra, tendo-a apresentado em vários palcos europeus num programa partilhado pelo Stabat Mater de Dvorák. Apesar do sucesso obtido pela gravação, esta foi a sua última edição pela DG, que abandonou para integrar depois o catálogo da Phillips.

Este conjunto de gravações reflecte a interessante e muito próxima relação do compositor norueguês Edward Grieg (1843-1907) com a música folk do seu país. A suite que abre este conjunto de pequenas peças tem inclusivamente raízes em danças e melodias folk, habitualmente tocadas ao violino. Grieg transcreveu estas peças para o piano e, mais tarde, trabalhou arranjos para orquestra. Esta suite nasceu directamente da intervenção de um violinista norueguês contemporâneo de Grieg, a quem escreveu seis cartas, alertando-o para a necessidade deste transcrever as peças do seu repertório, certamente pensando na sua preservação e, talvez, transporte para outra dimensão artística. Esta gravação, pela Royal Scottish Opera, dirigida por Bjarte Engeset, junta a esta Slater – Suite Para Orquestra Op. 72, outras obras para piano com orquestração, entre as quais as Danças Notueguesas, uma marcha funerária, uma de casamento e uma balada. Edição pela Naxos.