terça-feira, dezembro 25, 2007

A tradição dos discos de Natal

A frequente edição de álbuns temáticos em tempo de Natal foi uma das mais bem recebidas entre as novidades trazidas pela entrada em cena do LP, em 1948. O formato, que ganhou enorme popularidade nos anos 50, e que assim fez dessa década a mais prolífica em "sucessos" natalícios nas vozes de então. Não deixa de ser curioso o facto do álbum mais vendido de toda a década de 50, nos EUA, ter sido Elvis' Christmas Album, primeira "aventura" de Elvis Presley (1957) fora do registo estético e temático do rock'n'roll que o lançara em 1954. Entre os LPs mais populares dos anos 50 contam-se ainda outros sucessos de Natal como Merry Christmas, de Johnny Mathis (1958), A Jolly Christmas From Frank Sinatra, de Frank Sinatra (1957) ou Merry Christmas, de Bing Crosby (1957). Ao todo, nove entre os cem discos mais vendidos da década foram álbuns de Natal.
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Os primeiros êxitos de Natal revelavam um apelo a valores tradicionais com os artistas, até mesmo no caso de Elvis Presley, a mostrar uma imagem sóbria e familiar nas suas capas. Nos anos 60, apesar das frequentes edições "de Natal" de cantores veteranos, a cultura pop invadiu a quadra. E os mais representativos dos títulos natalícios da década de 60 vieram de figuras do universo pop/rock, nomeadamente Phil Spector (A Christmas Gift From Phil Spector é, ainda hoje, uma referência) e os Beach Boys (The Beach Boys Christmas Album, de 1964). Os próprios Beatles registaram várias canções de Natal , mais tarde reunidas em 1970 em dois álbuns que tiveram edição exclusiva para o clube de fãs (e que até hoje e nunca foram reeditados em CD).A década 70, do glam rock, do disco, do progressivo e do punk, da contestação pela música mas também do hedonismo escapista, reduziu os discos de Natal a uma expressão de nicho essencialmente habitado pelos veteranos de 50. Mesmo assim, John Lennon teve, em 1972, com Happy Xmas (War is Over), com subtexto pacifista, um dos seus maiores êxitos a solo. E os Slade reclamaram um dos seus maiores sucessos em Merry Xmas Everybody (1973). David Bowie deixou depois meio mundo espantado quando, em 1977, participou no programa de Natal de Bing Crosby para, com ele, cantar dois temas clássicos. E em 1978 o Natal chegou à discoteca com Mary's Boy Child, dos Boney M!

O regresso das canções de Natal à linha da frente da edição discográfica deu-se em 1984, com dois singles: Do They Know It's Christmas (do colectivo Band Aid, primeira etapa no processo que conduziria ao Live Aid) e Last Christmas, dos Wham!. Seguiram-se-lhes êxitos de Natal pelos Erasure, Pogues com Kirsty MacColl ou Bryan Adams. Os artistas mainstream dos anos 90 deram novos êxitos à quadra, entre eles contando-se nomes como os de Mariah Carey, Boyz II Men ou Backstreet Boys. A tradição continuou depois do milénio, ora no mainstream (N'Sync, Dido ou Christina Aguillera), ora em terreno alternativo, aqui destacando-se canções dos Flaming Lips, Eels, Aimee Mannm The Knife ou Sufjan Stevens, este tendo editado em 2006 a caixa Songs For Christmas, a melhor colecção de cannções de Natal chegadas a disco nos últimos anos.
PS. Versão editada de um texto publicado no DN