domingo, dezembro 23, 2007

Em conversa: Nick Mason (2)

O vosso segundo álbum, A Saucerful Of Secrets. Sugere uma imensidão de possíveis caminhos. Mas só optaram por uma rota de evolução concreta um pouco mais à frente no tempo.
Creio que, de certa maneira, se virmos à distância a história musical dos Pink Floyd, o Meddle parece o sucessor natural de A Saucerful Of Secrets. O Atom Heart Mother é um beco sem saída... O Ummagumma é uma tentativa de abordagem ao nível do indivíduo, e não tem continuidade. Para mim muito do que se mostra em A Saucerful of Secrets manifesta-se em vários momentos posteriores, inclusivamente Dark Side e em The Wall.

Era preciso um tempo de vida antes de poderem criar álbuns como Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here ou The Wall?
Penso que seguimos caminhos e, por vezes, tomamos atalhos errados. E isso acaba em desvios. As carreiras nunca seguem uma linha recta.

Há momentos em que se acerta, outros em que se erra...
Precisamente. É muito pouco provável que se faça uma careira só de álbuns perfeitos.

Consegue reconhecer os "erros" dos Pink Floyd?
É difícil... Mas talvez comece por apontar o Atom Heart Mother, que foi uma dessas falsas pistas. Foi divertido de fazer, mas não é um disco onde se reconheçam traços do restante trabalho. E penso talvez, depois, num disco como o The Final Cut. É um bom disco, mas é mais um disco do Roger [Waters] e não tanto o reflexo de uma banda.

O que fez de Dark Side of The Moon o álbum tão influente, popular e marcante em que se transformou?
Muitos factores o justificam. Em primeiro lugar as letras foram escritas a pensar num grupo etário mais velho. Quando se tem 50 anos as letras têm mais relevância que para quem tem 27 anos e as escreve... E a esse nível isso deu ao trabalho um certo nível mais filosófico. Depois, creio que reflectia nas canções algumas ideias de que as pessoas gostavam. A qualidade da gravação, e isso tem a ver com o Alan Parsons, foi excepcional. Depois o Storm [Thorgerson] apareceu com aquele conceito fantástico do prisma, o que deu ao álbum uma capa lindíssima. E resultou porque o disco era em vinil. No formato de CD as imagens ter-se-iam perdido... Mas há ainda o ângulo comercual. Nos Estados Unidos havia um novo presidente na Capitil Records, que queria provar que conseguia fazer bem o seu trabalho. E mostrou isso mesmo com o Dark Side... Se tivesse sido trabalhado pela equipa anterior não teria sido a mesma coisa...

Falou na capa dos discos. A presença, recorrente, do mesmo designer, deu aos Pink Floyd uma identidade visual.
Storm foi sempre uma certa consciência da banda... Muito importante, a sua presença. Era importante ter uma consciência visual do que fazíamos.

Todavia, recorreram ao desenho do cartoonista Gerald Scarfe em The Wall...
Nesse caso havia uma razão muito forte para não recorrer ao Storm. O Gerald estava envolvido, desde o início do projecto. No filme, no concerto... Teria sido má educação obrigar o Storm a entrar depois em cena.

The Wall teve nova visibilidade, recentemente, com a versão de Comfortably Numb, pelos Scissor Sisters. Gostou da versão?
É fantástica! Gostei muito. Assim como de uma versão, disco, de Another Brick In The Wall que foi feita. Gosto muito que façam novas interpretações da nossa música. A menos que sejam coisas desinteressantes, como as bandas de tributo.

Estão em voga. E há várias a tocar Pink Floyd...
São bons e têm sucesso. Mas é triste ver pessoas a fingir que são outras bandas. Sempre pensei que o rock’n’roll tinha muito a ver com uma vontade de cada um se expressar. E não com uma ideia de fotocopiar... Mas se é o que querem fazer, seja. Mas não creio que teria algum interesse em escutar um álbum de uma banda de tributo. E tenho todo o gosto em ouvir os Scissor Sisters. Não quero evitar nunca que alguém faça novas versões da nossa música.

Essas versões abrem portas a novos potenciais admiradores, a novas gerações de ouvintes?
Sim, e por vezes leva também as gerações mais velhas a revisitar o que ouviram no passado.
(continua)