quarta-feira, julho 25, 2007

Trolaró 2.05

A nova versão da velha crónica, agora em formato digital

Save 1520!

Nova Iorque tem entre mãos mais uma campanha pela defesa do seu património cultural. Um ano depois de infeliz desfecho no caso CBGB, obrigando Hilly Krystal a fechar o mítico clube que, entre 1973 e 75 viu nascer o punk, uma nova luta junta músicos, políticos e demais cidadãos pela defesa de um outro edifício. Longe da Bowery, no Sul de Manhattam, onde durante mais de 30 anos morou o agora encerrado CBGB, o número 1520 da Sedgwick Avenue, no Broxn, é o espaço agora na berlinda. Trata-se de um edifício construído em 1969, ao abrigo de um programa de habitação económica no qual, em festas num apartamento do primeiro andar, no Verão de 1973, terá nascido o hip hop.
Quem recorda esse berço é hoje o DJ Kool Herc, então com 18 anos e que, juntamente com a irmã Cindy Campbell, era uma das figuras mais activas desse movimento que hoje é reconhecido como determinante momento de invenção na proto-história do hip hop. Nascido na Jamaica em meados dos anos 50, cedo descobriu o encanto dos sound systems e da cultura dancehall em Kingston Town. Juntando o seu gira-discos a outros emprestados de amigos, cruzando discos (muitos deles de funk), ensaiou manobras inovadoras, aos poucos estabelecendo a base do que se veio a chamar break beat DJing. E, de certa forma, dando primeiros passos formais em formas de construção rítmica das quais evoluiria o hip hop.
Kool Herc é o rosto da campanha em defesa do número 1520 da Sedgwick Avenue. Campanha que, na primeira linha, pede a inscrição como património, daquele berço de uma expressão cultural que é filha da cidade de Nova Iorque e que, entretanto, descobriu o mundo. Todavia, esta é também uma campanha em defesa das premissas sociais pelas quais o edifício foi construído, cujo futuro está comprometido, um eventual levantamento do estatuto de habitação económica significando imediato aumento de rendas.
A campanha, que conta já com o apoio de políticos ligados ao Bronx (um congressista e um senador, ambos democratas), ganhou a simpatia do gabinete que gere a designação das candidaturas ao estatuto de património da cidade pretendido. Regras que obrigam a uma idade mínima dos edifícios a inscrever enquanto património apontam a uma fasquia de 50 anos. Porém, apontando o interesse cultural do edifício, a inscrição está garantida. Resta, agora, a aprovação...
O caso revela mais uma manifestação de cidadania que junta a vida cultural da cidade ao seu dia a dia. O arranque da campanha teve mediatização garantida, sobretudo depois de um expressivo artigo no New York Times, e flui agora pela blogosfera. O clima parece favorável... Kool Herc e seus “descendentes” só esperam um desfecho diferente do CBGB. Na verdade, ambos mereciam a inscrição como património, uma vez que foram primeira “casa” de dois entre os mais expressivos movimentos musicais nascidos na cidade. Terá o hip hop mais sorte que o punk?

Os interessados em ler mais, podem consultar o MySpace desta campanha.