quarta-feira, junho 27, 2007

Trolaró 2.03

A nova versão da velha coluna, agora em formato semanal e digital. Esta semana, naturalmente, a crónica das primeiras visitas ao Museu Colecção Berardo, no CCB, em Lisboa

Interior With Restful Paintings (1991), Roy Lichtenstein

O Museu

Não vou aqui comentar os recentes acontecimentos no CCB. A demissão de Mega Ferreira e o que representa... Vou, apenas, deixar as primeiras impressões de uma primeira visita ao Museu Colecção Berardo. Na tarde de inauguração, naturalmente, não vi quase nada... Havia um batalhão de ministros e, entre a multidão, alguns ex-ministros. Candidatos à Câmara de Lisboa eram vários. Figuras da cultura, dos media, dos negócios. E artistas plásticos vindos dos mais variados destinos. Foram perto de 800 os convidados à inauguração do Museu Colecção Berardo, que agora ocupa as salas do Centro de Exposições do CCB. Informal, Joe Berardo acolheu os presentes com palavras de satisfação. Mais formal, Isabel Pires de Lima lembrava a importância recente (na cultura, no turismo, na economia) para as cidades de Bilbao e Valencia da existência de activos pólos museológicos e, ao citar Wim Wenders, sublinhava como se ama o país pela cultura e não pela economia. José Sócrates, a fechar os discursos afirmava que, contra um cenário anterior, no qual os roteiros da arte contemporânea terminavam em Madrid, agora começam em Lisboa... E lá partimos todos, então, à descoberta das salas do novo museu. Escada abaixo rumo, primeiro, ao piso zero, subindo depois para o andar superior... Em ritmo de cortejo lento, poucos realmente viam as obras expostas. Viam-se mais uns aos outros. Nada de grave. É sempre assim... E um museu nunca se vê, realmente, em tarde de inauguração.
Regressei um dia depois. E com outra tranquilidade, convenhamos que a visita é obrigatória. Ao reflectir sobre o que se disse, talvez os discursos oficiais tenham passado tábua rasa a outros espaços museológicos portugueses igualmente dedicados à arte contemporânea. Gulbenkian e Serralves, para citar dois dos espaços mais visitados do país, têm actividade regular na área. E Lisboa tem, no Museu do Chiado, um outro museu de arte contemporânea. Certo é, contudo, que o país não tinha ainda, à disposição do cidadão, uma colecção tão representativa de caminhos e nomes da arte contemporânea como esta o é, de facto.
Num mesmo conjunto de salas encontramos obras de Miró, Picasso, Max Ernst, Bacon, Warhol, Rotella, Lichtenstein, Vieira da Silva, Paula Rego, Jorge Molder, Judd, Cabrita Reis, Nauman, Helena Almeida, Duchamp, Magritte, Dali, Mondrian, Balthus, Cesariny, Man Ray, Klein, Stella, Cindy Sherman, Nan Goldin... A lista é impressionante! Obras bem expostas, espaço de contemplação e respiração previsto, tranquila luz natural a invadir discretamente as salas. Faltam, apenas, sobretudo no andar superior, bancos para ocasional paragem do visitante. Há, contudo, um calcanhar de Aquiles, a rever: falta mais eficaz legendagem no indicar do que é o quê e na distribuição, em sala, e, acima de tudo, o cumprir de mínimos olímpicos de informação para quem quiser saber afinal o que ali vê. As folhinhas de sala não dispensam texto em parede.
À cidade e ao país, agora, o convite à visita. Aos governantes, e para fazer das palavras da ministra da cultura uma ressalva consequente, o desafio de uma comunicação internacional do novo museu que o saiba colocar, de facto, na agenda internacional da arte contemporânea e do turismo.