terça-feira, abril 17, 2007

Discos da semana, 16 de Abril

Algumas escolhas, entre os discos que chegam esta semana aos escaparates entre nós:

Não é por acaso que aos Low se chama, frequentemente, os "campeões do slowcore"... Mas a aparente paz que sugerem não traduz uma noção de escapismo zen segundo rotas próximas do silêncio ou seus afluentes. Na verdade, são uma banda de ideais bem claros. Drums and Guns parece, numa primeira abordagem, uma reflexão directa sobre a guerra no Iraque. Estão aqui marcas de uma revolta, de um arrependimento e frustração, que temos escutado em diversos outros discos de americanos descontentes com um conflito que já começa a ditar sequelas. Contudo, muitas destas canções podem ser sobretudo sentidas como lamentos, histórica, geográfica e temporalmente não concretos, à noção abstracta de guerra. Por vezes metafóricos, transcendendo os tradicionais modelos do activismo pop que, frequentemente, votam a uma rotulagem datada muitos discos que se vergam a objectivos mais políticos que estéticos. De facto, Drums and Guns é, acima de tudo, um manifesto de ousadia e transformação formal numa obra onde, até aqui, as guitarras sempre foram protagonistas. Longe da opulência do anterior The Great Destroyer (de 2005), mantendo contudo a produção de Dave Friedman, o novo álbum é um pequeno laboratório de ensaio de novas ideias, revelando uma inesperada opção pelas electrónicas e por novas e deslumbrantes possibilidades cénicas. As canções são encaradas como peças a trabalhar sob abordagens rudes, directas, ensopadas em texturas desafiantes, traduzindo as suas formas aparentemente inacabadas outro modo de sugerir o sentido de assombramento que, no final, se transmite de forma irrepreensível. Nunca a guerra se cantou de forma tão contida e implosiva.
Low “Drums and Guns” Sub Pop / Popstock
Para ouvir: MySpace

Dois anos depois de se estrear no catálogo da Columbia Records com o soberbo (mas pouco mediatizado) Trampin’, Patti Smith regressa aos discos com um álbum feito de versões. A ideia de cantar temas de outros autores não é novidade, numa obra que teve como primeiros estandartes versões de temas como My Generation (dos The Who) ou Gloria (de Van Morrisson) ou que, mais recentemente, na hora de acrescentar “novidade” a um best of, nos brindou com um espantoso When Doves Cry (de Prince). Porém, Twelve é, de fio a pavio, uma colecção de versões, através das quais não só somos confrontados com episódios muito pessoais de afinidade e gosto, como nos mostram, sobretudo, como pode uma voz e presença de personalidade tão vincadas encontrar espaço próprio em temas de outros. Patti acerta mais vezes que as que falha, e tem nas versões de Are You Experienced? (Jimi Hendrix), White Rabbit (Jefferson Airplane), Within You Without You (Beatles) ou Helpless (Neil Young) verdadeiros exemplos de como a assimilação de uma canção pode acontecer em pleno. Apesar de menos estimulantes, as leituras de Everybody Wants To Rule The World, dos Tears For Fears, e de Smells Like Teen Spirit, dos Nirvana, não deixam de sublinhar uma vontade de ligação com gerações que a tomaram como referência. Elegante, sóbrio, e uns furos acima dos muitos álbuns de versões que temos ouvido nos últimos anos.
Patti Smith “Twelve” Columbia / Sony BMG
Para ouvir: MySpace

Nascidos publicamente há precisamente 20 anos, os suíços Young Gods rapidamente ganharam lugar num panorama rock alternativo que os acolheu como ilustres representantes de uma facção industrial por vezes radical, a sua música traduzindo um sentido de angústia urbana de fim de milénio que rapidamente ganhou fiéis e gerou descendências. Porém, apesar terem marcado o panorama musical europeu através de álbuns de referência como L’Eau Rouge (1989), TV Sky (1991), Only Heaven (1995) ou mesmo o a desafiante homenagem a Kurt Weill (em 1991), perderam o rumo em meados de 90 e o desnorte evidente gerou álbuns progressivamente menos cativantes, ensopados em electrónica de dentes cerrados mas sem capacidade para morder convenientemente. O novo álbum, contudo, parece mostrar uma vontade em arrumar a casa. A abertura, em I’m The Drug abre frestas na memória rock de TV Sky, lançando um conjunto de 12 temas nos quais vemos os Young Gods mais centrados em redescobrir quem são que a querer inventar nova maquilhagem modernaça para enfrentar o presente. O próprio título (simplesmente The Young Gods) parece vincar essa demanda de renascimento no reencontro consigo mesmos e o seu legado, doseando electricidade e electrónicas sobre canções nas quais as ferramentas usadas são um veículo, não um fim. E, mesmo longe dos melhores dias, eis o mais recomendável disco do grupo desde 1995...
The Young Gods “The Young Gods” PIAS / Edel
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Money Mark (ou, se preferirem, Mark Ramos-Nishita) foi para muitos, e durante algum tempo, o “quarto beastie boy”, a sua presença evidente em álbuns como Check Your Head ou Ill Communication... Teclista versátil, fez da sua paixão por velhos teclados e um gosto musical de raro ecletismo o ponto de partida para a construção de uma carreira em nome próprio, que rapidamente conquistou James Lavelle e lhe mereceu lugar no distinto catálogo da Mo’Wax, que garantiu distribuição global ao marcante Mark’s Keyboard Repair (1995). Seguiram-se, numa linha de continuidade, o igualmente contagiante Push The Button (1998) e Change Is Coming (2000)... Passaram sete anos, e eis que volta a dar à costa num álbum onde a surpresa é uma inesperada vontade em encontrar novo caminho, procurando usar códigos mais característicos em cantatutores que nos espaços que até aqui visitara... A opção, em si, nada tem de errado, se a concretização das intenções acompanhar os desejos lançados. Todavia, não é isso o que aqui acontece. Apesar de pontuais momentos bem sucedidos (como em Colour Of The Blues), que nos mostram das reais capacidades interpretativas de Money Mark enquanto cantor, o grosso deste Brand New By Tomorrow é retrato de um fracasso. Sem a parafernália de recursos e texturas dos quais fez nascer uma linguagem na qual foi referência, o Money Mark de microfone em punho e pouca cenografia em seu redor deixa a nú argumentos menos convincentes na composição (sobretudo das canções)...
Money Mark “Brand New By Tomorrow” Bushfire Records / Universal
Para ouvir: MySpace

Ao terceiro álbum, as manas Casady conseguem sublinhar apenas uma das duas mais evidentes marcas de identidade visíveis (e então muito elogiadas) no disco que as revelou em 2004, o curioso La Maison de Mon Rêve, abençoado e bem empacotado em tempo de moda folk reencontrada. Essa marca é a da intrigante bizarria. Nada contra… Porém, a outra das sugestões ainda patentes nesse disco (como no segundo), a de que da estranheza formal e riqueza textural nasceria uma eloquente e visionária expressão criativa capaz de maiores feitos na composição, cada vez mais parece secundarizada perante uma muralha de malabarismos formais. E o algo irregular (e por vezes quase desencorajador) The Adventures Of Ghosthorse and Stillborn é prova disso mesmo, vivendo mais de uma exposição de pastiches de si mesmas que de consequente invenção. Mas nem E há aqui momentos que não só justificam a escuta do álbum, como nos fazem acreditar que, por trás de um certo conforto encontrado neste teatro de acontecimentos, das CocoRosie ainda podemos esperar por mais e melhor. Rainbowarriors, a canção que abre o disco, é talvez a mais espantosa das suas criações, um mundo de deliciosas cacofonias onde contudo nunca se perde a noção de canção. E que canção! Destacam-se ainda pérolas em Promise ou no fragmentário Japan (onde a voz, operática, de Sierra afirma potencialidades a explorar mais insistentemente no futuro)... Mas, volta não volta, deixam-se encantar com estranhas poções meramente ornamentais, e lá se volta o feitiço contra as feiticeiras...
CocoRosie “The Adventures of Ghosthorse and the Stillborn” Touch and Go / Sabotage
Para ouvir: MySpace

Também esta semana: Nine Inch Nails, Ben Folds (DVD), Maria João, Cornelius

Brevemente:
23 de Abril: Au revoir Simone, Papercuts, Arctic Monkeys, King Britt (mix), Tributo a Joni Mitchell, Tarwater, Micro Audio Waves, Mick Harvey, Feist
30 de Abril: Blonde Redhead, Bob Dylan (DVD), Tori Amos, Manic Street Preachers, Squeeze (best of)
7 de Maio: The Knife (edição Deluxe), Simian Mobile Disco, Björk, Groove Armana
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Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Spiritualized, Four Tet, Gary Numan (BBC Sessions), Larrikin Love, Elliott Smith, Black Rebel Motorcycle Club, The Bravery, Marilyn Manson
Junho: Bonde do Role, Bryan Ferry (DVD)
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Estas datas podem ser alteradas a todo o momento