sábado, abril 21, 2007

A China aqui tão perto

É uma história em que há uma pistola. Mas não é uma história que possamos adivinhar por nela haver uma pistola — é preciso seguir o movimento dos pensamentos, os circuitos imponderáveis dos desejos e também a luz peculiar de Lisboa.
Em apenas 17 minutos, China, China dá a haver uma espécie de "tribo chinesa em cenários lisboetas" (o pai e o filho fascinados por filmes chineses com muitas cenas de violência, a mãe construindo mentalmente a possibilidade um regresso). O filme transforma um quase fait divers num pequeno e fascinante ensaio sobre o modo como se pertence ao lugar onde se não está — ou como se permanece aí, num recanto de onde o pensamento já partiu para um exílio sem nome.

Com assinatura de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, China, China é um dos mais belos filmes surgidos, em tempos recentes, na produção portuguesa: um pequeno prodígio de contenção e inteligência, habitado por corpos muito concretos e uma alma quase abstracta, em convulsão. Passa hoje no IndieLisboa (Fórum Lisboa, 19h00), repetindo nos dias 23 (King 1, 22h00) e 26 (King 3, 17h45).