segunda-feira, março 19, 2007

Discos da Semana, 19 de Março

Panda Bear “Person Pitch”
Panda Bear (ou se preferirem, Noah Lennox, baterista e um dos fundadores dos Animal Collective) pode ser encarado como o paradigma do que, para já, vemos como o músico do século XXI. A sua consciência musical vive de uma ecléctica visão do universo de discos e sons que o rodeiam. Ao seu serviço convoca máquinas e técnicas que desenham o presente. Nas suas composições reflecte-se uma personalidade que sabe fazer coexistir uma firme vontade em falar do real e um evidente interesse pela construção de “canções” ricas em elementos texturais, entre os quais evoluem melodias, pulsões rítmicas, ideias e palavras. Três anos depois do elegíaco Young Prayer, disco-reflexão sobre a morte do pai e a dor que a perda convoca, Person Pitch celebra sentimentos opostos, partindo do nascimento da sua primeira filha (e de uma nova vida sedeada em Lisboa, onde vive há três anos) para cantar uma felicidade reencontrada. Aqui encontramos canções texturalmente ricas numa multidão de acontecimentos que, à primeira audição, quase escondem as linhas das melodias e as palavras que circulam na sua medula e aprendemos a descodificar e sentir a cada novo encontro. Person Pitch é uma colecção de pérolas talhadas com cautela para evitar erupções de som ou fossos de silêncio, sugerindo padrões planos, circulares, onde a repetição arrebata a cada ciclo. Um paraíso flutuante de sensações sugeridas, a luz e sons de Lisboa assimilados de uma forma como nunca antes os ouvimos...

Apples In Stereo “New Magnetic Wonder”
Depois de um hiato de cinco anos (do qual resultou Expo, um magnífico álbum pelo seu alter-ego, o projecto Marbles) Robert Schneider reactiva os Apples In Stereo para nos dar o mais consistente e ambicioso dos seus discos e, claramente, o melhor que editor desde que deixou de gravar pela Elephant 6 (um olhar pela ficha técnica, de resto, mostra aqui uma multidão de velhos amigos desses tempos). Mantém-se vivas as mesmas referências pop de escola “anos 60” (sobretudo os Beach Boys, Turtles, Beatles e Kinks), em confronto saudáveis com electrónicas discretas mas, sem perder de toda uma afinidade com artes finais lo-fi, as canções têm agora formas mais definidas, traduzindo a sua luminosidade pop uma sensação feel good que garantirá ao ouvinte momentos vários para episódios de amor à primeira vista. Canções e curtos instrumentais, mais que contar uma história, convidam a um mundo de fuga sem agenda política. Mas evidentemente capaz de trazer felicidade doce a quem o escutar.

Animal Collective “People EP”
Manifestação de continuidade face ao aprumo de uma linguagem pessoal atingido no álbum anterior – Feels (de 2005) – este é apenas um disco de “manutenção”, ao mesmo tempo que assinala o derradeiro lançamento da banda pela Fat Cat. Contudo, enquanto Tikwid (uma balada obsessivamente sedutora) e o não menos curioso My Favourite Colors nascem do mesmo caldeirão que forjou o já citado Feels, o tema-título (aqui apresentado em versões de estúdio e ao vivo) é, sem fugir a uma mesma agenda estética, uma interessante experiência feita de ténues linhas de guitarra e repetição de módulos vocais, sugerindo um encantamento que se descobre, ao longe, aos poucos, como quem olha a linha do horizonte.

Lisa Gerrard “Lisa Gerrard”
A voz e uma das forças criativas dos Dead Can Dance em antologia em nome próprio. Nada contra. Dividida hoje entre a criação de música ao serviço do cinema e uma obra a solo (apesar de essencialmente palco de colaborações) onde a demanda outrora ambiental quase resvala para o new age, Lisa Gerrard tem, aqui, um cartão de vista para aqueles a quem escaparam os dias em que foi figura estrutural na definição de um dos ramos mais prolíficos da editora 4AD. A antologia aposta fortemente no reencontro com memórias das várias etapas dos Dead Can Dance, assim como não deixa de usar fragmentos d’O Gladiador, Ali ou Whale Rider como cartaz capaz de captar novas atenções. A sua curta obra a solo (não cinematográfica, leia-se) é claramente secundarizada. Pecado maior: a total ausência de texto que coloque esta história em contexto. Uma das mais pobres capas da 4AD e um booklet de muitas páginas e zero de informação são fraca moldura para uma história que merecia ser aqui mais bem contada.

Também esta semana:
Andrew Bird, David Bowie (reedições), Kronos Quartet, Neil Young, Jah Wobble, Christian Gansch (Beethoven), New Young Pony Club, Paulo Praça

Brevemente:
26 de Março: Rickie Lee Jones, Trans AM, Bobby Conn, Amon Tobin, Brett Anderson, Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Norton, Bananarama (reedições), OneTwo, Laura Veirs, Teresa Salgueiro, Doors (reedições), Wedding Present (BBC Sessions), Vários (Mute Archive 1), Yardbirds (best of), The Bees, Jean Michel Jarre
2 de Abril: Maximo Park, Kings Of Leon, Da Weasel, Waterboys, Modest Mouse, Prefab Sprout (reedição), Low, Herbert, DJ Vadim
9 de Abril: Bright Eyes, Cowboy Junkies, CocoRosie


Abril: Patti Smith, Spiritualized, Nine Inch Nails, The Knife (DVD), Arctic Monkeys, Maria João, Blonde Redhead, Tributo a Joni Mitchell

Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Tori Amos, Björk

Estas datas podem ser alteradas a todo o momento