sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Expressionismo(s)

Ano Bowie – 29
A capa de "Heroes" (1977)

Seja qual for a perspectiva a partir da qual abordemos o álbum "Heroes", a sua singularidade emerge como algo de radical na genealogia artística de Bowie. Peça central da "Trilogia de Berlim" — completada por Low (1977) e Lodger (1979) —, trata-se também de uma das mais belas capas da discografia de Bowie. A preto e branco, numa pose rigorosamente indecifrável, parte saudação para um exterior desconhecido, parte mergulho numa interioridade silenciosa, o protagonista expõe-se como uma estátua carnal, segura da sua própria abstração.
Trata-se de uma das duas capas que citam, directamente, Roquairol [reproduzido em baixo], um trabalho do pintor alemão Eric Heckel. A outra pertence a um outro álbum de 1977, produzido pelo próprio Bowie: The Idiot, opus 1 de Iggy Pop — também neste caso a pose de Iggy Pop recria a estranha geometria das mãos desenhadas por Heckel, acentuando uma bizarra verdade física.
Eric Heckel (1883-1970) foi um pintor expressionista, fundador, em 1905, do movimento "Die Brücke" ('A Ponte'), que viria a integrar, por exemplo, Emil Nolde. Em 1937, Heckel foi um dos artistas catalogados de "degenerados" pelos nazis, tendo sido destruída grande parte da sua produção. Depois da guerra, foi professor na Academia de Karlsruhe.