quinta-feira, janeiro 11, 2007

História de uma fotografia

O novo filme de Clint Eastwood — As Bandeiras dos Nossos Pais — pode definir-se como a história de uma imagem. Ou, mais exactamente, da fotografia que mostra seis soldados dos EUA a erguer a bandeira americana no topo do Monte Suribachi, na ilha de Iwo Jima, numa altura decisiva dos combates da Segunda Guerra Mundial entre americanos e japoneses. Obtida por Joe Rosenthal, essa imagem é um daqueles ícones que transcenderam o testemunho realista (no fotografama do filme aqui reproduzido vemos, à direita, o actor Ned Eisenberg no papel de Rosenthal). Apropriada das mais diversas maneiras pelos meios de comunicação e serviços de propaganda, a fotografia do Monte Suribachi é, de uma só vez, um espelho e uma fantasma da experiência de uma geração nos confins do Oceano Pacífico.
Eastwood, fiel à sua obsessão pela ambivalência de todas as formas de heroísmo, constrói o seu filme como um contraste pendular entre os faustos do entertainment em território americano e os bastidores de uma guerra que se travava num cenário dantesco e também, indirectamente, na retaguarda, nas casas das famílias dos soldados ausentes. É um filme de um humanista desencantado, mas caloroso, cuja visão será necessariamente completada pela abordagem da mesma situação, vista do lado japonês, em Cartas de Iwo Jima (estreia: 22 Fevereiro).

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