terça-feira, novembro 21, 2006

Discos da semana, 20 de Novembro

The Beatles “Love”
Um novo álbum dos Beatles? Sim e não. A música é dos Beatles. As gravações são dos Beatles. Os takes inéditos são, também, Beatles... Mas em Love o que os dois Beatles vivos fizeram foi apenas, e não mais, que dizer “sempre soube que eras bom” ou “podem ir ainda mais longe”. Palavras, respectivamente, de Ringo e Paul, a George e Giles Martin, os verdadeiros “autores” do trabalho que agora ser transforma em disco. A capa não deixa dúvidas: é mesmo um novo disco dos Beatles. Mas tão “novo” como o foi Let It Be... Naked, de 2003. Mas não tão “novo” quanto os singles Free As A Bird ou Real Love, de 1995 e 96, canções construídas a partir de gravações inéditas de John Lennon, registadas em finais dos anos 70, sobre as quais Paul, George e Ringo juntaram elementos adicionais. Love é, agora, a expressão final do processo de (re)construção de uma série de gravações dos Beatles, banda sonora do espectáculo do Cirque du Soleil em exibição no The Mirage, em Las Vegas, desde há alguns meses. Love é como um milimétrico DJ set de temas dos Beatles, todavia apenas possível em estúdio, tantas e tão precisas que são as colagens e sobreposições que convoca. Em muitas das “novas” canções reconhecemos inclusivamente takes diferentes dos usados nas gravações que conhecemos dos discos originais. Por exemplo, a voz de John Lennon em Strawberry Fields, por exemplo, surge de um ensaio. Há, ainda, arranjos adicionais, notória (e espantosa) sendo a nova presença de uma orquestra em While My Guitar Gently Weeps, em tom elegíaco, também aqui sobre um take vocal alternativo de George Harrison. Love soma 26 canções, ostensiva sendo a presença de outras mais 11 no corpo destas, muitas mais depois visíveis apenas ao microscópio, num exercício de trainspotting para fãs dos Beatles que se adivinha passatempo certeiro para os próximos dias. Uma visita à Internet dentro de uma semana certamente exibirá as primeiras listas de tesouros escondidos... No campo dos números, Love apresenta três quartos de canções colhidas entre 1967 e 69, os três anos criativamente mais entusiasmantes da carreira dos Beatles. 1968 é o ano mais bem representado (com 12 canções), seguido de 1967 (com nove) e 1969 (com oito, uma das quais apenas editada em 1970). Apesar de construído como banda sonora para um espectáculo, Love resiste sem imagem e respira a solidez de um álbum. Não se trata de um best of, já que se baseia sucessivos em trabalhos de fusão, mas vive da força de canções que o tempo transformou já em clássicos transversais. O disco ouve-se, contudo, com o prazer da descoberta de estranha, mas saborosa, novidade entre algo absolutamente familiar. É empolegante, revela uma mão cheia de boas ideias (a melhor das quais o novo sublime arranjo para cordas de While My Guitar Gently Weeps, e revela um mergulho pelo catálogo dos Beatles bem mais agradável de escutar de fio a pavio que o tríptico Anthology de meados de 90.
(versão editada de texto maior publicado na revista ‘6ª’, do DN)

Tom Waits “Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards”
O volume de música é colossal, mas a arrumação tão bem pensada que ajuda a uma eficaz digestão da oferta. Orphans é, sobretudo, um conjunto de olhares cruzados pelas rotas e destinos já percorridos, sobretudo procurando referências na discografia histórica de 70, o CD 2 a mostrar como o tempo apurou ideias e ali atinge a perfeição. Do vaudeville ao bar em fim de noite, das contaminações pelos blues à assimilação (e destilação) da country, um catálogo de ideias arrumadas como se de uma síntese se tratasse. E com traços de uma personalidade ainda insatisfeita ao cabo de tantas buscas, a sua verve mais animada pela vontade em continuar a experimentar a dominar parte do CD 1, no qual se verificam os mais evidentes traços de continuidade face à sua obra mais recente. Para ouvir com tempo. Sem pressa.

U2 “18 Singles”
Complemento áudio a uma operação bem mais interessante em livro (ou seja, a adaptação aos U2 do conceito Anthology, dos Beatles, em U2 By U2, traduzido para português, mas com evidentes sinais de ausência de revisão atenta a questões musicais). 18 Singles limita-se a baralhar e voltar a dar os singles mais óbvios dos U2, juntando-lhes uma versão morna de um clássico dos Skids, gravada em parceria com os Green Day e um outro inédito, menor, em jeito de banda em piloto automático. Banalidade para Natal, 18 Singles está muito aquém das antologias de 1998 e 2001, respectivamente abordando feitos dos anos 80 e 90. Desta vez, pouco mais há para contar...

Yann Tiersen “On Tour”
Terceiro álbum ao vivo de Yann Tiersen, On Tour foca essencialmente a sua faceta pop/rock (ora na forma de instrumentais, ora em canções), apresentando sobretudo novas canções, visitando pontualmente memórias de Tout Est Calme, juntando apenas dois momentos do anterior Les Retrouvailles (um deles na voz de Elisabeth Frazer). Guitarras, baixo e bateria são protagonistas, não deixando os violinos ou acordeão de sublinhar marcas de identidade de um compositor versátil cuja obra não quer cristalizar na sombra da música de genética minimalista que o revelou em finais dos anos 90. Uma vez mais, a surpresa mora num disco de Yann Tiersen.

Também esta semana: Cool Hipnoise, Rammstein, Foo Fighters (live), Clinic, Weekend (reedição), Doors (caixa 6 CD + 6 DVD), Rodrigo Leão (best of)

Brevemente:
27 de Novembro: Tori Amos (caixa), Joseph K (antologia), Pavement (reedição), Chumbawamba, Johann Johansson
4 de Dezembro: Humanos (ao vivo), Sam The Kid, Heaven 17 (best of), Steve Reich (caixa)

Dezembro: Sonic Youth (lados B), Bernardo Sassetti, Clash (caixa de singles)
Para 2007: JP Simões, U-Clic, Klaxons, The Good The Bad and The Queen, Mika, John Cale


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento

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