quarta-feira, junho 07, 2006

Na cabeça de Daniel Johnston

Daniel Johnston faz desenhos incríveis onde, muitas vezes, se representa a si próprio, e representa os outros, com cabeças literalmente decepadas, abrindo para um buraco indecifrável. Será, certamente, um sintoma das suas próprias convulsões psicológicas que, mais do que marcarem a sua música, têm assombrado todas as fases da sua existência (nasceu a 22 de Janeiro de 1961, em Sacramento, California); ao mesmo tempo, trata-se de um signo a que podemos atribuir uma peculiar energia positiva — como quem diz: é preciso olhar lá para dentro, ver e ouvir as canções, as ideias, as emoções e os silêncios que de lá emanam...
O primeiro e decisivo grande mérito do filme de Jeff Feuerzeig, The Devil and Daniel Johnsnton — entre nós: Loucuras de um Génio — consiste em contornar qualquer visão "normativa" ou "moralista" da condição mental do seu protagonista. Aposta-se, afinal, em dar conta da complexidade fragmentada, e fragmentária, de um ser humano que, como poucos, vive a sua vida através da sua arte. Nessa medida, este é um filme (mais um) a confirmar a decisiva importância do olhar documental para lidar com personagens, entidades ou situações que, tantas vezes e de forma tão simplista, são reduzidas às fórmulas vigentes do paternalismo televisivo. Nesta perspectiva, vale a pena ir um pouco mais longe e dizer que The Devil and Daniel Johnston não é apenas um grande acontecimento documental — é um magnífico objecto de cinema. Ponto final.

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