domingo, abril 16, 2006

Singles: Visage, 1979

Em finais dos anos 70 uma geração de londrinos noctívagos vivia, embora satisfeita com a revolução de hábitos provocada pelo punk, uma certa insatisfação. Crescidos a ver e idolatrar as estrelas do glam rock, particularmente Bowie, Bolan e Ferry, sentiam uma certa falta de aprumo na imagem e luz e cor na música. A evolução natural dos acontecimentos musicais, com manifestação de vitalidade pop logo nas primeiras formas de derivação em clima pós-punk (a que se convencionou chamar new wave), recuperava não só um melodismo carnudo herdado das grandes canções pop que o progressivo e o hard rock haviam abolido, como, mostrava interesse pelo disco sound e enorme curiosidade pelas emergentes ferramentas electrónicas. Um DJ e um entusiasta da noite juntaram-se, uma vez por semana no Blitz, um clube em Covent Garden, chamando outros desencantados às suas Bowie Nights, nas quais, além de Bowie se escutavam discos dos Kraftwerk, Roxy Music, Japan, Human League, Grace Jones, Iggy Pop, Sparks, Ultravox ou Brian Eno. O DJ (Rusty Egan) e o porteiro (Steve Strange), este famoso pela política draconiana que só permitia a entrada a quem comparecesse devidamente vestido em jeito de imaginação, pompa e exagero, fomentaram ali a génese de um movimento que acabou conhecido como “neo-romântico”. Um movimento que começou por ser manifestação de hedonismo com indumentária sofisticada e banda sonora requintada, mas que acabou por criar as suas bandas, dos Spandau Ballet aos Duran Duran, dos Classix Nouveaux aos Depeche Mode… Mas o primeiro dos grupos, e o primeiro disco da nova vaga nascia ali mesmo, entre os promotores das Bowie Nights. Steve Strange e Rusty Egan juntaram em torno de si músicos dos Magazine (Barry Adamson, John McGeosh e Dave Formula), o teclista dos Ultravox (Billy Currie) e o guitarrista Midge Ure (ex-Rich Kids que, pouco depois, seria convidado para novo vocalista dos Ultravox). Juntos, numa existência que nunca ultrapassou as fronteiras do estúdio, nunca actuando ao vivo, e com exposição pública centrada na figura vistosa de Steve Strange, formaram os Visage, a banda-paradigma do movimento neo-romântico, que editou três álbuns de originais entre 1980 e 84, e com pico de glória no ainda hoje recordado Fade To Grey. O primeiro passo deram-no, antes de descobertos por uma multinacional, pela pequena independente Genetic Records, ao bom jeito de qualquer boa manifestação nascida de herança punk. Aí editaram, em 1979, o single de estreia Tar, primeiro foco de uma ideia que depois ganharia adeptos, que esgotou num ápice a pequena edição de lançamento. A canção cruzava evidente genética Bowie com novas visões pré-80, e a capa vincava mais ainda a vénia ao mestre-camaleão, com Steve Strange com um olho de cada cor. O single foi recentemente “citado” num lado B dos White Rose Movement.

VISAGE “Tar” (Genetic Records, 1979)
Lado A: Tar (Visage)
Lado B: Frequency 7 (Visage)
Produção: Visage
Não se classificou na tabela britânica


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