domingo, setembro 04, 2005

Filmar a violência

Foi um daqueles filmes que "ninguém" viu quando estreou nas salas. E, no entanto, por Dou-te os Meus Olhos (DVD Atalanta) passa uma questão hoje em dia tantas vezes discutida, quase sempre de forma simplista, gratuita ou demagógica: A saber: como representar a violência?
Trata-se, neste caso, de encenar um caso de violência doméstica e todo o processo — familiar, social e simbólico — que se desencadeia quando a mulher (Laia Marull) decide abandonar o marido (Luis Tosar), depois de anos e anos de sujeição aos mais diversos maus tratos. Icíar Bollaín, realizadora e co-argumentista (com Alicia Luna), filma a partir de um olhar de grande exigência realista que resiste a qualquer generalização "panfletária". Dito de outro modo: não estamos perante um desses digests moralistas em que a televisão se especializou (tanto na ficção como nos debates), mas sim face a um universo de gente viva e contraditória, tanto mais perturbante quanto Dou-te os Meus Olhos é um objecto de genuína compaixão humanista. Ou ainda: um exemplo brilhante de um certo cinema espanhol que continua pouco presente nas salas portuguesas.