terça-feira, setembro 06, 2005

A estreia de Andrew Bird

Talvez sejam um sinal dos tempos, agora que o criador mais solitário tem à sua disposição tudo o que é necessário para fazer música que denuncia precisamente o contrário, agora que a história não se faz de rupturas, antes de sínteses, mais ou menos inesperadas, dos estímulos mais diversos, talvez sejam um sinal dos tempos, dizia, que surjam agora estes músicos com aura de solitários criando música com uma multidão no seu interior. Patrick Wolf, que editou o seu óptimo segundo álbum – quer-me parecer que o veremos como primeiro – este ano, é um exemplo disso. Andrew Bird, que ao contrário do jovem músico inglês, já ultrapassou os trinta anos, é outro. Ambos são violinistas, partilham uma mesma melancolia sonhadora e o desejo de a exprimir segundo os cânones de uma canção pop que já não consegue ser exactamente aquilo que dela imaginamos. Andrew Bird deu sucessão a Weather Systems, álbum de 2003, com um The Mysterious Production of Eggs que, na sequência de uma carreira como colaborador dos Squirrel Nut Zippers e um posterior trajecto a solo empenhado na reabilitação das músicas da primeira metade do século XX, o destaca como artífice pop capaz, como todos os que realmente interessam, de extrair canções de corpo inteiro das mais diversas combinações de referências. The Mysterious Production Of Eggs é cinemático como a música dos Flaming Lips, tem a nostalgia da música de Morricone (e o assobio, melodia soprada indispensável para Andrew Bird), cativa como a pop dos Beatles, mas banha-a de uma suave estranheza que é toda ela copyright do seu autor – talvez seja dos pizzicatos no violino que sobrepõe até criar orquestrações luxuriantes, talvez seja do peso emocional que tem levado a comparações com Jeff Buckley e Rufus Wainright. Ou talvez seja apenas Andrew Bird e, nós, com tanta História e tantas personagens dela a preencher-nos a memória, já não conseguimos aperceber algo tão simples quanto isso.
Andrew Bird vem a Portugal para dois concertos (hoje no Lux, às 22.30, dia 9 na Casa das Artes de Famalicão, à mesma hora), e essa será uma boa oportunidade para, ao vê-lo só em palco com o violino e a guitarra, tirarmos as conclusões devidas. Mário Lopes

Indispensável para quem goste de:
Patrick Wolf, Bright Eyes, Rufus Wainwright

Site oficial: www.andrewbird.net

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P.S. Este post assinala a estreia no Sound + Vision do Mário. É o primeiro a juntar-se à comunidade. Seja bem vindo!