Conhecemos Tom McCarthy como actor, argumentista e, em particular, realizador de O Visitante (2007), título que valeu a Richard Jenkins uma nomeação para o Oscar de melhor actor. O seu novo filme, Spotlight, mobiliza um elenco invulgar para abordar o escândalo sexual que abalou a Igreja católica e, mais especificamente, a arquidiocese de Boston — a sua divulgação valeu um prémio Pulitzer ao jornal The Boston Globe. Integrado na secção extra-competição de Veneza, com estreia americana agendada para Novembro, Spotlight tem, para já, este trailer.
quinta-feira, agosto 20, 2015
quarta-feira, agosto 19, 2015
"Coclea" ou a música como metáfora
"Coclea": canal auditivo, caracol... O dicionário ajuda-nos a reconfigurar o nosso (des)conhecimento, aproximando-nos da dimensão serenamente metafórica da música — este é, de facto, um disco de significações alternativas, em que, por assim dizer, a música se confronta com o desafio de transcender a sua própria abstracção.
Evitemos, por isso, a facilidade de nos ficarmos pela noção de que Coclea é uma antologia de "música-ambiente". Sem ofensa para o mestre Brian Eno, mas o rótulo banalizou-se, a ponto de nos fazer crer que o essencial se passa algures, fora da música, servindo esta apenas para configurar o ambiente da percepção. Nada disso: Guilherme Gonçalves trabalha a guitarra (enfim, imagino que as guitarras...), tal e qual ou através de manipulações electrónicas (imagino que electrónicas...), como instrumentos de criação do ambiente, dos cenários, das personagens, enfim, das narrativas.
São seis temas de envolvente verdade poética que não resisto a designar como visceralmente cinematográficos, de tal modo vislumbramos a dinâmica de um mundo visual em movimento, discutindo as significações de gestos e poses das suas invisíveis personagens. Quase como um fenómeno táctil — a faixa nº1, aqui reproduzida, chama-se mesmo Touch.
São seis temas de envolvente verdade poética que não resisto a designar como visceralmente cinematográficos, de tal modo vislumbramos a dinâmica de um mundo visual em movimento, discutindo as significações de gestos e poses das suas invisíveis personagens. Quase como um fenómeno táctil — a faixa nº1, aqui reproduzida, chama-se mesmo Touch.
O triunfo do populismo audiovisual
![]() |
NETWORK (1976) |
O populismo televisivo invadiu o cinema: eis um dado fundamental (fundamentalmente terrível) do presente cultural português — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Agosto).
Em vésperas de campanha eleitoral, é sintomático que os partidos políticos se mostrem unidos no mesmo terrível silêncio sobre o domínio cultural. Há, em particular, uma incrível indiferença por qualquer possível reflexão sobre o espaço televisivo — sendo esse o espaço em que, hoje em dia, se decidem e promovem os valores mais fortes do tecido social e também, claro, as matrizes correntes de intervenção política.
Os modos dominantes de fazer política, à direita e à esquerda, estão marcados por uma cobardia intelectual que evita enfrentar o nosso populismo audiovisual. A questão é tanto mais actual, dramaticamente actual, quanto esse populismo tem vindo a ocupar zonas significativas do cinema — observem-se os recentes lançamentos de filmes como O Pátio das Cantigas, parasitando a herança estética do cinema do Estado Novo, e Um Encontro com o Destino, caricaturando uma família de emigrantes no Canadá.
Escusado será dizer que a questão do populismo não se confunde com o domínio da comédia (a noção de que os críticos “não gostam de comédias” não passa, aliás, de uma típica difamação populista). Nem sequer pode ser colocada a partir do impacto comercial seja do que for (reduzir a vida das linguagens artísticas a valores de bilheteiras é mesmo a mais velha impostura de qualquer forma de populismo).
Basta observarmos o que tem acontecido no enquadramento televisivo do futebol para compreendermos a lógica simplista, de sistemática infantilização, que tem vindo a “naturalizar-se” à nossa volta. Assim, temos assistido à metódica consagração de todos os clubismos — no limite, o adepto (de qualquer clube) já não é apresentado e representado como um sujeito de gosto, mas sim como peão de uma religiosidade alheia a qualquer fruição do próprio espectáculo.
Para além das muitas, e muito contrastadas, encarnações históricas do populismo, o que está a acontecer envolve uma lição cruel, porventura a mais difícil de aceitar: o populismo ideológico, sendo apanágio de quase todas as ditaduras, vive e sobrevive também na dinâmica das sociedades democráticas. Há, em todo o caso, um princípio básico que vai prevalecendo: as matrizes populistas diluem as singularidades individuais numa definição abstracta, supostamente redentora, do colectivo, quer dizer, do “povo”. A palavra “povo” tornou-se mesmo um elemento que os políticos evitam, tendo sido apropriada como bandeira dos programas vespertinos de televisão, alimentados por concursos pueris e música pimba.
Algures, num ecrã de televisão, dizia a personagem de Howard Beale, interpretada por Peter Finch: “Vocês começaram a acreditar nas ilusões que pusemos aqui a rodar. Começaram a acreditar que o ecrã é a realidade, e que as vossas próprias vidas não são reais”. Foi há quase quarenta anos, num filme chamado Network (1976), escrito pelo genial Paddy Chayefsky e realizado por Sidney Lumet. Ou como diria o típico discurso populista: são disparates do imperialismo americano...
Escrever [citação]
>>> Escrever é abalar o sentido do mundo, instalar uma interrogação indirecta à qual o escritor, através de uma derradeira suspensão, se abstém de responder. A resposta é cada um de nós que a dá, trazendo a sua história, a sua linguagem, a sua liberdade.
ROLAND BARTHES
Éditions du Seuil, Paris, 1975
Uma canção para o verão (2015.04)
O álbum Bilingual, que os Pet Shop Boys editaram em 1996, representa uma incursão mais profunda do grupo por referências e terrenos da cultura latina que, antes, tinham já abordado no single Domino Dancing, ainda nos anos 80. Este Single/Bilingual foi um dos três singles extraídos do alinhamento de Bilingual.
À espera da cotovia
Como tantos outros estou a contar as semanas para que chegue aqui a tradução de Go Set a Watchman... É verdade que uma edição inglesa já está disponível, mas desta vez decidi esperar. E em compasso de espera nada como voltar ao livro que Harper Lee publicou em 1960 e ao filme que Robert Mulligan realizou dois anos depois. E desses reencontros surgiu um texto que está disponível na Máquina de Escrever:
Como conseguiu uma obra literária de um só romance publicado fazer de Harper Lee uma das grandes figuras da cultura do século XX? Basta ler To Kill a Mockingbird – que entre nós teve traduções como Não Matem a Cotovia (Europa-América) ou Mataram a Cotovia (Relógio d’Água) – para o entender. Estamos numa cidade (imaginária, mas inspirada por vivências reais) no Alabama, ainda sob os efeitos da Grande Depressão. E numa trama coming of age que cruza uma obsessão juvenil pela história de um vizinho que há muitos anos não sai de casa e um caso de uma alegada violação, com um retrato social de uma comunidade que anda com um pé na boa moral pregada e um outro no preconceito que se manifesta em condutas e suspeitas baseadas na segregação, o livro dá-nos a conhecer, desde 1960, figuras que entretanto ganharam o seu lugar na história da cultura popular.
Como conseguiu uma obra literária de um só romance publicado fazer de Harper Lee uma das grandes figuras da cultura do século XX? Basta ler To Kill a Mockingbird – que entre nós teve traduções como Não Matem a Cotovia (Europa-América) ou Mataram a Cotovia (Relógio d’Água) – para o entender. Estamos numa cidade (imaginária, mas inspirada por vivências reais) no Alabama, ainda sob os efeitos da Grande Depressão. E numa trama coming of age que cruza uma obsessão juvenil pela história de um vizinho que há muitos anos não sai de casa e um caso de uma alegada violação, com um retrato social de uma comunidade que anda com um pé na boa moral pregada e um outro no preconceito que se manifesta em condutas e suspeitas baseadas na segregação, o livro dá-nos a conhecer, desde 1960, figuras que entretanto ganharam o seu lugar na história da cultura popular.
Podem ler aqui o texto completo
Para ler: regressar ao livro de Keith Richards
Com tempo para leituras, a New Yorker convida a um regresso às páginas de Life, a autobiografia do guitarrista dos Rolling Stones.
Para ler aqui
Para ler aqui
A IMAGEM: Scott Trindle, 2015
![]() |
SCOTT TRINDLE Inga Dezhina NYT, 2015 |
terça-feira, agosto 18, 2015
O contrato de Jorge Jesus — 3 perguntas
![]() |
JACKSON POLLOCK Nº 14 (Cinzento) 1948 |
1. Que está a acontecer no espaço público de um país quando os territórios da comunicação (?) são invadidos por discussões, debates, inquéritos & etc. sobre um mês de ordenado de um treinador de futebol?
2. Que imaginário social existe quando um treinador que ganha milhões de euros é motivo de intermináveis análises (?), enquanto um administrador que ganhe 50 ou 100 vezes menos está sujeito a ser automaticamente "suspeito" de ferir a harmonia social?
3. Como é possível que haja cada vez mais discursos jornalísticos que gastam tempos infinitos em tais questões, promovendo os respectivos protagonistas a sacerdotes de modos de viver e pensar (?) que ignoram qualquer dimensão humana?
Uma canção para o verão (2015.03)
Os Belle and Sebastian regressaram este ano aos discos após uma pausa, revelando em Girls in Peacetime Want to Dance o seu disco pop mais inspirado em muito tempo. Este Perfect Couples, com tempero estival, é um dos temas desse disco.
Subscrever:
Mensagens (Atom)