quarta-feira, setembro 22, 2010

Flaming Lips em livro

O universo visual dos Flaming Lips e o mundo ao seu redor são o tema do livro de fotografias que Michelle-Martin Coyne, a mulher do vocalista Wayne Coyne, acaba de publicar. O livro tem por título All We Have Is Now e está disponível não apenas nos concertos do grupo como também através do seu site oficial.

Novas edições:
Leonard Cohen, Songs From The Road


Leonard Cohen
“Songs From The Road”
Columbia / Sony Music
3 / 5

Leonard Cohen está na estrada desde Maio de 2008 e, desde então, já soma mais de 200 concertos numa digressão que, de resto, já visitou três vezes palcos de Lisboa (e arredores), uma delas inclusivamente com dois concertos em duas noites consecutivas. Quem passou à frente do palco sabe que viu concertos magníficos, daqueles que ficam em lugar de destaque entre os que nunca serão esquecidos. A digressão já lhe valera um primeiro retrato em Live In London, registo ao vivo (disponível tanto em disco como em DVD) que captava o alinhamento entre as canções de um concerto na londrina O2 Arena em Julho de 2008. Agora que a digressão se aproxima das últimas datas, novo registo ao vivo ganha forma em Songs From The Road, um dois em um com CD mais DVD sob capa comum. Os discos são, na verdade, complementares. O novo registo repete (num alinhamento de 12 canções) apenas quatro temas - os algo “inevitáveis” Bird on The Wire, Suzanne, Hallelujah e Closing Time – e junta inclusivamente Chelsea Hotel, um clássico ausentes em Live In London. O alinhamento representa ainda uma viagem com a digressão, somando actuações captadas em Glasgow, Gotenburgo ou Londres, entre outros palcos. De novo surge ainda o documentário Backstage Sketch, de Lorca Cohen. De resto, estamos em terreno familiar. Entre canções que não precisam de mais adjectivos. Com uma voz em notável momento de forma. Apenas com ocasionais momentos menores a assinalar no plano de arranjos onde uma política de minimalismo mais evidente não teria sido má ideia. No fundo, um bom “extra” para Live In London, portanto.

Em conversa: OMD (3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

No início da vossa carreira, e em poucos anos, passaram do som de Electrcity, claramente herdeiro dos Kraftwerk, para um som muito próprio, que atinge a definição em 1981 no álbum Architecture & Morality...
Queríamos fazer algo diferente. Não só diferente do que os outros estavam a fazer mas até de nós mesmos. No primeiro álbum fizemos uma espécie de synth pop teenager. No segundo havia um tom gótico algo inspirado pelos Joy Division (com algumas excepções). No terceiro disco tentámos mudar outra vez. Muitas destas mudanças tinham também a ver com os instrumentos. Tinhamos comprado um mellotron, estávamos a ouvir música coral religiosa... E tentámos fazer algo que saísse das nossas máquinas e sintetizadores mas que fosse muito humano. E, acima de tudo, emocional.

Esse álbum acabou, com o tempo, por se afirmar como uma referência da pop do seu tempo.
Foi muito emocionante. Estávamos a tentar fazer algo novo e assim foi. Em inicio de 1982, quando Maid of Orleans foi editado, estávamos no palco do Top Of The Pops... No programa podia haver uma presença de Cliff Richard, um vídeo de Elton John... Estavam lá os Roxy Music, de quem gostávamos muito quando tinham começado, mas que nos anos 80 eram um tanto aborrecidos... Tudo muito pop mainstream. E nós iamos tocar uma canção na qual os primeiros 40 segundos eram distorção, onde a melodia parecia um gato a estrangular uma gaita de foles escocesa...



E essa ideia de ir para lá do que era habitual na pop levou-os logo depois a Dazzle Ships. Foi um passo ousado…
Foi um passo genuinamente perigoso. Passámos de vendas na ordem dos 3 milhões em Architecture and Morality para 300 mil em Dazzle Ships. Perdemos 90% do nosso público!

E valeu a pena?
Artisticamente valeu a pena. Mas foram precisos 25 anos para que as pessoas começassem a falar do álbum como um disco esquecido. Como uma obra prima esquecida! Na altura foi um suicídio comercial e até na crítica. Foi arrazado. Quase ninguém gostou na crítica. Estávamos a tentar algo diferente e não sei como lá fomos parar... Mas pensava que ao tentar fazer algo diferente musicalmente ia ajudar mudar o mundo. Quando chegámos a Architecture and Morality vendemos milhões de discos e tivémos singles com êxito. Obviamente não mudámos o mundo... E um Andy McCluskey de 22 anos estava meio desiludido. Era como se as coisas não tivessem funcionado. Era mesmo uma parvoíce... Mas era como se os meus preconceitos todos tivessem caido no chão e eu tivesse de começar tudo outra vez. Então apareci com esta ideia de fazer um disco claramente político, sobre o mundo, a guerra fria e a violência... E ao pensar o álbum nem todas as ideias ganharam a forma de belas melodias. Podíamos ouvir os ossos das ideias... E o Paul Humphreys levou 25 anos para me perdoar por ter feito aquele disco.

A música em Dazzle Ships traduz, a certos momentos, relações possíveis com a música de alguns compositores minimalistas. Seguiram caminhos semelhantes na manipulação de fitas, usavam uma lógica de repetição de elementos... Conheciam o trabalho deles?
Porque não vinhamos de uma formação clássica, nunca tinhamos sido apresentados à música contemporânea mais experimental. Por essa altura conhecíamos um pouco o trabalho de Philip Glass e de Steve Reich. Mas aquelas repetições em ABC Auto Industry... O interessante foi que nunca fizemos as experiências apenas para estar a fazer uma música experimental... Quando se faz uma experiência tenta-se algo estranho, grava-se e deixa-se ficar. Ouve-se, reparamos no que se está a fazer, e depois de uma audição captámos a ideia... Mas nós tinhamos de construir algo. Uma canção, algo que tivesse a sua beleza. Algo que se pudesse ouvir várias vezes e que tivesse nascido dessas experiências.
(continua)

Queer Lisboa 14, dia 6


O sexto dia do Queer Lisboa 14 apresenta mais um exemplo do novo cinema argentino, representado nos últimos ano no festival através de títulos como XXY de Lucia Puenzo ou Glue, de Alexis dos Santos. Trata-se de El Ultimo Verano de La Boyita, de Julia Solomonoff, uma história centrada em cenário rural e nos apresenta a figura de Mário, o filho dos caseiros de quinta, envergonhado e inseguro, e que se sente diferente… Passa às 22.00 na Sala 1 do Cinema São Jorge.

Antes, pelas 19.00, no Espaço da Memória, Eduardo Pitta comenta o filme Cabaret, de Bob Fosse, focando a sua relação com a escrita de Christopher Isherwood, autor dos contos que serviram de base à criação do filme. Cabaret é exibido pelas 17.00 na Sala 1.

A programação completa para o dia de hoje no festival pode ser consultada aqui.

terça-feira, setembro 21, 2010

Memória(s) de Harry Nilsson

Harry Nilsson (1941-1994) foi uma figura essencial na história dos muitos cruzamentos folk-rock, em especial durante a década de 60. Muitas vezes identificado apenas como Nilsson, teve um dos seus maiores sucessos, Everybody's Talkin' [recordado, aqui em baixo, num registo televisivo da época], ampliado pelo cinema: a canção, lançada em 1966, transformar-se-ia numa espécie de hino do filme Cowboy da Meia-Noite (1969), de John Schlesinger, com Jon Voight e Dustin Hoffman.
Agora, um documentário recentemente lançado nos EUA, procura dar conta das muitas facetas da vida e obra de Nilsson, em particular o seu envolvimento com grandes protagonistas da cena musical dos anos 60/70, incluindo os Beatles. Chama-se Who Is Harry Nilsson (And Why Is Everybody Talkin' About Him)? e tem realização de John Scheinfeld. De facto, trata-se de uma produção já apresentada em 2006, no Festival Internacional de Santa Barbara, mas que só agora chega às salas. Entre os entrevistados no filme, incluem-se Terry Gilliam, Yoko Ono, Van Dyke Parks, Robin Williams e Brian Wilson.

Veleidades do "futebolês"

REMBRANDT
As três cruzes (esboço)
1653

De que falamos quando falamos de futebol? E como falamos? -- este texto integrava uma crónica de televisão publicada no
Diário de Notícias (17 de Setembro).

Em televisão, não é fácil ter um discurso gramaticalmente equilibrado (sei-o pelos meus muitos erros). Em especial num jogo de futebol: os lapsos são parte natural da dificuldade específica de tal tarefa. Ainda assim, a consagração do erro não é um bom princípio. Depois do “à última da hora” (já quase ninguém diz o correcto “à última hora”), assistimos agora ao triunfo de um novo (?) sentido para a palavra “veleidades”. Deixou de ser sinónimo de assomo de presunção (“ter a veleidade de”) para surgir como... hipótese de facilidade (“a equipa não deu veleidades ao adversário”). Porque é que o disparate consegue impor a sua lei?

Paulo Bento: 50 mil euros/mês

PIERRE BONNARD
Peixe num Prato
1921

Leio no Diário de Notícias algumas informações sobre as condições do contrato estabelecido entre a Federação Portuguesa de Futebol e Paulo Bento: o novo selecccionador nacional de futebol vai receber cerca de um terço daquilo que era pago a Carlos Queiroz. Na prática: perto de 50 mil euros/mês.
Creio que vale a pena dizer alguma coisa sobre estes números. Não para fazer moralismo fácil: sabemos que a economia do futebol possui uma escala invulgar, sem paralelo com a maior parte das actividades profissionais. Além do mais, importa não alimentar a demagogia fulanizada por alguém ganhar "muito" ou ganhar "pouco". Dito de outro modo: não está em causa a dignidade profissional de Paulo Bento, muito menos a sua legitimidade para ser pago como vai ser (afinal, com uma poupança significativa em relação ao anterior seleccionador).
Em causa está, isso sim, o continuado silêncio da nossa classe política sobre a dimensão económica do futebol. Afinal de contas, Portugal construiu estádios para o Euro 2004 que custaram 645 milhões de euros, insistindo mesmo (precisamente através da FPF) em manter uma candidatura (ibérica) à organização do Mundial de 2018. Dito de outro modo: quando, de um modo ou de outro, os partidos políticos defendem drásticos mecanismos de contenção financeira, seria interessante saber o que pensam dos dinheiros do futebol português. Aliás, a pergunta será igualmente pertinente para os candidatos à Presidência da República: num país em que se adiam ou atrasam grandes projectos nacionais devido às verbas que implicam, que pensam do facto de esse mesmo país se perfilar para organizar um Campeonato do Mundo de Futebol?

* NOTA: sendo ainda perfeitamente possível rodar um filme português de longa-metragem por 645 mil euros, aquele valor gasto no Euro 2004 permitiria fazer mil filmes (se considerarmos que dez é um número razoável para a nossa produção anual de longas-metragens, estamos a falar de uma verba que poderia alimentar cem anos de produção cinematográfica).

Duas gerações


Os Golpes juntaram-se a Rui Pregal da Cunha, o vocalista dos Heróis do Mar, para um tema que antecipa o seu segundo álbum. Aqui fica o teledisco de Vá Lá Senhora.

E sai mais uma reunião...

Martin Gore e Vince Clarke, dois fundadores dos Depeche Mode, estão a trabalhar em conjunto. Segundo revelou Vince Clarke no Twitter, estão a compor juntos um tema com o título Zaat. Vince Clarke foi o principal compositor dos Depeche Mode até finais de 1981 (formou depois os Yazoo, The Assembly e Erasure). Martin Gore tomou as rédeas da composição nos Depeche Mode após a saída de Vince Clarke. Por enquanto não se sabe ainda quando será editada a música que estão a compor juntos.

Novas edições:
OMD, History Of Modern



OMD
“History Of Modern”

100% / Edel
3 / 5

Regressar ou não regressar, eis a questão… Este é talvez o verbo que mais vezes hoje vemos ser conjugado por bandas que fizeram história noutros tempos (e muitas delas grandes discos) e que, valentes anos depois reencontram plateias (habitualmente dominadas por velhos admiradores) mais desejosos de reencontrar os êxitos antigos que dispostos a escutar novas canções. Nada de errado nas nostalgias (se bem que, convenhamos, vivê-las apenas para recordar não nos leva a lado nenhum senão ao passado). Nada de errado portanto nas reuniões, sendo certo que, nunca traduzindo a verdade do real tempo de vida da música que se evoca, muitas vezes têm gerado oportunidades de encontros (ler concertos ao vivo) que, no passado, nunca tinham sido possíveis. Os Bauhaus, por exemplo, assinaram notável digressão de reunião na histórica Resurrection Tour de 1998. Mas estragaram a depois a pintura ao regressar mais vezes, uma delas com um absolutamente inconsequente novo disco de originais. Na verdade têm sido demasiado frequentes os exemplos de bandas que não deveriam ter ido além das digressões greatest hits e resistido ao impulso de gravar novos discos. Que dizer então do regresso dos OMD? Reencontraram-se em 2007. Como tantos outros regressos, começaram pela estrada, recordando na íntegra o seu álbum histórico de 1981 Architecture and Morality e chegando mesmo a editar um registo em disco dessa digressão (o primeiro live album da discografia dos OMD). Só então decidiram o passo seguinte. E em History Of Modern, mesmo muito longe de nos apresentarem um disco ao nível dos seus melhores, revelam uma soma de argumentos entre as evocações das fundações da sua linguagem pop electrónica e alguns breves ensaios de novas ideias. Celebram os Kraftwerk em RFWK, recuperam uma melodia de 1981, nunca finalizada como canção, em Sister Mary Says. Ao mesmo tempo citam um clássico do gospel em Sometimes e experimentam novas dinâmicas ligadas às electrónicas dançáveis do presente em Pulse… Não nascerá aqui um êxito do calibre dos que em tempos nos deram, o disco revelando contudo um alinhamento nem melhor nem pior dos que foram lançando em álbum depois de Junk Culture (1984). O futuro que sonhavam há 30 anos é agora o presente. Mas é pouco provável que estas canções entusiasme outros senão os que os seguiram no passado.