Já tinha acontecido com Magia ao Luar (2014). Volta a repetir-se com Homem Irracional... Decididamente, os filmes de Woody Allen perderam o apoio consistente dos departamentos de design. A prova? Os cartazes banalíssimos dos seus títulos mais recentes. Homem Irracional é mais um exemplo, pouco ou nada digno da riqueza e complexidade do filme em questão — estreia nas salas portuguesas no dia 17 de Setembro.
segunda-feira, agosto 24, 2015
domingo, agosto 23, 2015
Torres na NPR
Foi a NPR a divulgar em primeira mão os conteúdos do segundo álbum de Torres, Sprinter. Agora, Torres (nome artístico de Mackenzie Scott), esteve nas instalações da rádio pública americana para um dos sempre interessantes 'Tiny Desk Concerts', coordenados por Bob Boilen: são três canções do novo disco — New Skin, A Proper Polish Welcome e The Harshest Light — em ambiente de singular intimidade.
A versão televisiva de Mourinho
Como é que uma personalidade se torna "mediática"? Ou ainda: como é que a televisão tende a atribuir a outros as responsabilidades da sua própria linguagem? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 Agosto), com o título 'José Mourinho manipulador?'.
1. Há um curioso tique que sempre funcionou nos debates televisivos (admito que haja excepções, mas nunca encontrei uma). Assim, sempre que algum dos intervenientes refere que a avaliação do tema, seja ele qual for, não pode omitir a sua percepção através das linguagens televisivas (e dos meios de comunicação em geral), o moderador recorda que não é isso que está a ser discutido... e passa à frente.
2. Há outra maneira de dizer isto: a ideologia dominante em televisão não tolera que o próprio dispositivo televisivo seja questionado. Avaliando o espectador como distraído, ou apenas estúpido, tal ideologia sente-se ameaçada sempre que haja qualquer sugestão que desnaturalize a televisão — nada mais se passaria a não ser a “transcrição” passiva, imaculada e inocente do mundo à nossa volta.
3. Exemplo da perversa sugestão de significações que as linguagens televisivas podem envolver surgiu na transmissão britânica do jogo Manchester City – Chelsea (BenficaTV). Assim, todo o conceito da realização supunha a insistente apresentação (e representação) de José Mourinho como único protagonista. O Chelsea falhava um golo... vinha a imagem de Mourinho. O City construía uma jogada de perigo... imagem de Mourinho. Um jogador do Chelsea caía aleijado... imagem de Mourinho. O árbitro apitava um lance... imagem de Mourinho. O City marcava um golo... imagem de Mourinho!!! Não admira que Mourinho continue a ser vergonhosamente vilipendiado como “manipulador” dos meios de comunicação — de facto, o que linguagens deste teor fazem (para além da sua indesmentível competência técnica) é definir Mourinho como carrasco automático de tudo o que possa acontecer num jogo do Chelsea. Fiquei até com pena de Manuel Pellegrini, a ponto de pensar que algum resfriado tinha obrigado o treinador do City a ficar a ver o jogo em casa... Do lado de cá, convictos na sua felicidade semiológica, os comentadores iam dissertando sobre tudo e mais alguma coisa.
Memória de Yvonne Craig
Apesar de uma carreira globalmente discreta, Yvonne Craig ficou para a história como ícone televisivo, graças à sua interpretação de Batgirl — este obituário foi publicado no Diário de Notícias (20 Agosto), com o título 'Morreu a actriz que interpretou Batgirl na televisão'.
Há actores e actrizes que, por boas ou más razões, ficam marcados por uma única personagem, numa espécie de assombramento mitológico. Assim aconteceu com Yvonne Craig. Apesar de uma carreira relativamente extensa, o seu nome será sempre associado à Batgirl da série televisiva Batman, produzida na segunda metade dos anos 60: Yvonne Craig faleceu na segunda-feira, na sua casa de Pacific Palisades, na Califórnia, vítima de cancro da mama — contava 78 anos [New York Times].
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Star Trek |
Na história audiovisual dos super-heróis, a série constitui uma referência incontornável, tendo sido a estreia de Batman no pequeno ecrã (na década de 40, a figura do justiceiro de Gotham City tinha já dado origem a dois típicos “serials” para cinema). A série televisiva, embora não tenha sido das mais duradouras — foram emitidos 120 episódios, durante três temporadas, entre Janeiro de 1966 e Março de 1968 — constituiu um fenómeno invulgar de popularidade, ainda hoje objecto de culto para muitos espectadores, especialmente fascinados pelo “kitsch” das suas histórias e do seu universo visual.
Yvonne Craig surgiu apenas para a terceira temporada, interpretando a figura de Batgirl, aliada de Batman e Robin (interpretados, respectivamente, por Adam West e Burt Ward) na luta contra o crime. Com o seu fato púrpura e amarelo, a actriz rapidamente conquistou uma legião de fãs que a entronizaram como modelo de um heroísmo feminino, algo paródico no seu ingénuo feminismo.
Na trajectória profissional da actriz, a interpretação de Batgirl representou uma espécie de compensação para o relativo falhanço da sua carreira no cinema. Na verdade, começou como bailarina, tendo integrado o Ballet Russo de Monte Carlo. Foi a partir de finais dos anos 50 que tentou a sua sorte em Hollywood, surgindo em títulos como The Young Land (1959), um western dirigido por Ted Tetzlaff, Ritmos Modernos (1959), uma biografia do baterista Gene Krupa realizada por Don Weis, ou Ruivas, Loiras e Morenas (1963), de Norman Taurog, uma das muitas comédias românticas protagonizadas por Elvis Presley.
Na altura, Yvonne Craig estava já envolvida em muitos projectos de televisão, tendo participado entre 1958 e 1965 em séries como Perry Mason, The Barbara Stanwyck Show, The Dick Powell Show, Dr. Kildare ou O Homem da U.N.C.L.E. A sua carreira poderia ter sofrido uma viragem decisiva quando foi considerada como uma hipótese para integrar o elenco de West Side Story (1961) — ainda fez um “casting” para a personagem nuclear de Maria, mas seria Natalie Wood a ficar com o papel.
Curiosamente, para além de Batgirl, a sua personagem mais célebre aconteceu também em televisão, noutro universo de típico artifício espectacular, de alguma maneira aplicando as suas competências no domínio da dança. Foi no episódio nº 14 da terceira temporada de Stark Strek, emitido em Janeiro de 1969: Yvonne Craig interpretava Marta, uma escrava de pele verde que era também uma bailarina exótica do planeta Elba II.
Apesar de ter continuado a surgir em diversas séries televisivas (Kojak, Fantasy Island, etc.), a sua carreira foi-se desvanecendo ao longo da década de 80, tendo mesmo optado por trabalhar na compra e venda de imobiliário. Publicou as suas memórias, From Ballet to the Batcave and Beyond, no ano 2000.
>>> Genérico de abertura da terceira temporada da série televisiva Batman (1967-68).
sábado, agosto 22, 2015
As árvores de Raghu Rai
Nascido no ano de 1942 na aldeia de Jhhang, hoje pertencente ao Paquistão, associado da agência Magnum desde 1977, Raghu Rai tem dedicado a sua vida de fotógrafo a temas da Índia. O humanismo da sua visão não é estranho a uma delicada atenção aos elementos naturais, como o demonstra o seu livro Trees (PhotoInk, 2014) — eis algumas imagens do seu magnífico portfolio.
Lana Del Rey: Hollywood, jazz & Bowie
As lendas de Hollywood nunca envelhecem, diz ela. Poucos dias depois do contundente teledisco de High By the Beach, Lana Del Rey divulga mais um tema do seu álbum Honeymoon. Chama-se Terrence Loves You e traduz-se numa belíssima deambulação romântica por uma paisagem algo jazzística — registe-se o magnífico verso: And I still got jazz when I've got those blues... — em que coabitam as mais sofisticadas referências, incluindo o emblemático "Ground control to Major Tom", roubado ao Space Oddity, de David Bowie. Letra e música, para já.
You are what you are
I don't matter to anyone
But Hollywood legends will never grow old
And all of what's hidden
Well it will never grow cold
But I lost my self when I lost you
And I still got jazz when I've got those blues
And I lost myself when I lost you
And I still get trashed darling when I hear your tunes
But you are who you are
I won't change you for anything
For when you are crazy
I'll let you be bad
I'll never dare change thee to what you are not
But I lost my self when I lost you
But I still got jazz when I've got those blues
(...)
I put the radio on hold you tight in my mind
Isn't strange that you're not here with me
But I know the lights on in the television
Trying to transmit can you hear me
Ground control to Major Tom
Can you hear me all night long
Ground control to Major Tom
But I lost my self when I lost you
But I still got jazz when I've got the blues
(...)
sexta-feira, agosto 21, 2015
António Gaio (1925 - 2015)
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FOTO: DN |
Foi director do Cinanima desde 1981: António Gaio, personalidade central no conhecimento, difusão e promoção da animação cinematográfica, faleceu no dia 21 de Agosto — contava 90 anos.
Foi graças à direcção de António Gaio que o Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho se consolidou a nível interno, ao mesmo tempo multiplicando os seus laços internacionais (a 39ª edição decorrerá de 9 a 15 de Novembro). Para além das suas actividades nos domínios jornalístico e do desporto, esteve ligado ao Cineclube de Espinho, desde a sua fundação em 1954, até 1960, desempenhando um papel marcante na amostragem de filmes que estavam excluídos do circuito comercial; teve também um papel influente na programação de cinema da Associação Académica de Espinho, nas décadas de 60/70. Grande coleccionador de banda desenhada, publicou ainda, em 2000, o livro História do Cinema Português de Animação – contributos, também disponível numa edição em CD.
>>> A 22 de Janeiro de 2012, António Gaio foi homenageado no Centro Multimeios de Espinho — na altura, foi projectada esta curta-metragem documental da Espinho TV, recordando os momentos marcantes da sua vida.
Um anúncio sobre segurança
Por uma vez, a noção de segurança (neste caso, na condução de um automóvel) não é encenada através de um discurso de perverso alarmismo, desqualificando qualquer comportamento humano. Concebido pelo departamento de Istambul da agência Leo Burnett, esta anúncio da Fiat constitui um pequeno prodígio de intensidade, contundência e insólito humanismo — vale a pena fazer click na imagem e ver um pouco maior.
Tati: as longas através das curtas
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AS AULAS NOCTURNAS (1967) |
O ciclo Jacques Tati, apresentado pela Leopardo Filmes, inclui todas as longas e curtas-metragens que dirigiu, escreveu e interpretou (sendo algumas das curtas assinadas por outros realizadores), em versões digitais restauradas. Em Lisboa, no Espaço Nimas, entre 20 de Agosto e 16 de Setembro; no Porto, no Teatro Municipal Campo Alegre, com início agendado para 1 de Setembro — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 Agosto), com o título 'O bloco de apontamentos do humor'.
* * * * *
O ciclo dedicado a Jacques Tati (1907-1982) inclui, como fundamental apêndice, as suas curtas-metragens. É quase inevitável sentirmos que a sua brevidade natural serviu de ensaio para as proezas das longas (um pouco como os programas de televisão que Jerry Lewis, outro génio da comédia, fez ao longo da década de 60) — dir-se-ia o bloco de apontamentos de um conceito de humor que sempre exigiu a procura de composições, durações e ritmos muito precisos.
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1949 |
Os dois filmes mais recentes, Especialidade da Casa (1978) e Força, Bastia (2002) serão os mais atípicos: o primeiro é, de facto, uma realização da filha de Tati, Sophie Tatischeff (1946-2001), colaboradora na montagem de vários filmes do pai; o segundo, terminado por ela quase vinte anos depois da morte de Tati, organiza imagens que ele registou (chegaram a ser consideradas perdidas) do jogo da primeira mão da final da Taça UEFA, em 1978, entre Bastia e PSV Eindhoven — foi o próprio presidente do Bastia que o convidou para tal tarefa.
Depois, há quatro preciosidades escritas e interpretadas por Tati, sendo apenas a última dirigida por ele: Procura-se Brutamontes (Charles Barrois, 1934), sobre um candidato a actor envolvido num combate de boxe; Domingo Animado (Jacques Berr, 1935), centrado numa caricata excursão rural; Cuida do Teu Gancho Esquerdo (René Clément, 1936), com um empregado de uma quinta também “empurrado” para o mundo do boxe; enfim, A Escola de Carteiros (1947), que serviu a Tati de ensaio da personagem do carteiro que se desloca de bicicleta, depois central na sua primeira longa-metragem, Há Festa na Aldeia (1949).
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1967 |
Dir-se-ia até que As Aulas Nocturnas corresponde a uma assumida “revisão da matéria dada”, uma vez que Tati vai pontuando a sessão na sala de aula com “visões” do exterior (convocando os alunos para a janela) que citam a sua própria obra: por exemplo, uma nova encenação da sessão de aprendizagem de A Escola dos Carteiros e o treino do tenista, obviamente reminiscente de As Férias do Sr. Hulot (1953). Tal como Chaplin, Keaton ou Lewis, Tati foi um paciente e obsessivo encenador dos seus “gags”, sempre à procura da perfeição.
quinta-feira, agosto 20, 2015
10 minutos com Anna von Hausswolff
Que relações existem entre a sonoridade religiosa de um órgão e a electricidade do heavy metal? Digamos que a cantora e compositora sueca Anna von Hausswolff estabeleceu a sua própria teoria sobre o assunto em Come Wander With Me/Deliverance — sugere-se ao ouvinte que não ceda às pressas do quotidiano, quanto mais não seja porque ela ocupa 10 exuberantes minutos a expor os seus argumentos, desembocando num encantamento agreste que rentabiliza ao máximo a envolvência sonora proporcionada pela sala Acusticum, na cidade de Piteå.
Depois de Ceremony (2013), estes são os primeiros sons de The Miraculous, terceiro álbum de Anna von Hausswolff, a ser lançado em Novembro, com chancela da City Slang.
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