sexta-feira, outubro 05, 2012

It was 50 years ago today...

Dois aniversários num mesmo dia. Um deles assinala a estreia em disco de uma das mais importantes obras de todos os tempos. Foi a 5 de outubro de 1962 que, com o selo Parlophone, saía o single Love Me Do, dos Beatles (com P.S. I Love You no lado B). A gravação nascera de três sessões registadas entre Abbey Road e St. John’s Woods entre julho e setembro de 1962. O single usava em concreto uma gravação, com Ringo Starr na bateria, registada a 4 de setembro (a sessão de julho, com Pete Best, ouve-se em Anthology, a de 11 de setembro, quando George Martin resolveu trocar Ringo por Andy White, um baterista “profissional” acabou no álbum Please Please Me). O single atingiu um discreto nº 17 no top britânico. Mas dava o primeiro passo numa obra que, semanas depois, ao som de Please Please Me, conheceria outros vôos...

Também hoje passam 50 anos sobre outra estreia: a de James Bond. Foi a 5 de outubro de 1962 que o agente secreto 007, criado nove anos antes por Ian Flemming, chegou aos ecrãs de cinema pela primeira vez. Quem lhe vestia a pele era então o ator Sean Connery. O filme chamava-se Dr. No, e entre nós estreou como O Agente Secreto 007. Em 50 anos outros atores passaram pelo mesmo papel. George Lanzenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e, agora, Daniel Craig. Este último regressará aos ecrãs dia 25, quando entre nós estrear o novo 007 Skyfall.

De regresso a Berlim, com Isherwood

A Queztal continua a editar as obras de Christopher Isherwood. E, depois de Um Homem Singular, Adeus a Berlim e Encontro À Beira Rio, eis que lança entre nós Mister Norris Muda de Comboio. Este texto foi originalmente publicado no DN a 2 de outubro com o título Ecos da agitação política na Berlim dos anos 30.

Regressamos, pelas palavras de Christopher Isherwood, a Berlim, em março de 1933, onde o incêndio do Reichstag “tinha derretido a neve”. Hitler, que fora nomeado chanceler semanas antes, usou o momento para solicitar ao presidente Hindenburg poderes especiais, um decreto emitido a 23 de março conferindo- lhe um novo estatuto. E é por essa Berlim onde “nazis fardados entravam e saíam” de uma gelataria “com cara séria, como se andassem a fazer recados difíceis” que Christopher Isherwood projeta as páginas finais de Mister Norris Muda de Comboio, romance originalmente publicado em 1935 e que, mais ainda do que o posterior Adeus a Berlim, de 1939, retrata o clima político que a cidade vivia em vésperas da ascensão ao poder de Hitler.

Isherwood centra a atenção da narrativa num obscuro homem de negócios (o Arthur Norris do título), observado por um outro inglês, William Bradshaw, também residente em Berlim. Conhecem- se num comboio, tornam- se amigos, tendo a cidade e agitação política como cenários.

Ainda a quase dois anos da vitória dos nacionais- socialistas nas eleições de 1932, Isherwood mostra- nos uma Berlim “num clima de guerra civil”, mergulhada num ambiente onde “o ódio explodia subitamente, sem aviso (...) nas esquinas das ruas, nos restaurantes, nos cinemas, nos salões de baile”. Como descreve, “sacava- se das navalhas, agredia- se com soqueiras, canecas de cerveja, pernas de cadeiras ou tacos de chumbo”... E entre as reuniões do Partido Comunista, onde numa ocasião Norris chega a discursar sobre o “imperialismo britânico” e uma visita ao Hotel Kaiserhof( onde se concentravam os apoiantes de Hitler), a narrativa acompanha os sinais instáveis de uma cidade agitada e em tempo de mudanças que se avistam no horizonte.

Como é frequente na escrita de Isherwood, a narrativa de ficção tem uma relação profunda com factos e figuras reais. William, o narrador, acaba por ser uma projeção natural do próprio escritor, que viveu na cidade entre 1929 e 1933. De resto, o seu nome não é senão parte do nome completo do autor: Christopher William Bradshaw Isherwood. Já a figura de Arthur Norris é inspirada por Gerald Hamilton, autor sobretudo de ensaios sobre história e política (nas memórias que assinou em 1956 como Mr. Norris and I chegou mesmo a recordar a sua amizade com Isherwood e como a sua figura inspirara o romance). Ecos da Berlim noturna e figuras com histórias turvas passam ainda por este livro, embora sem a relevância com que marcariam depois Adeus a Berlim. Em conjunto estes dois romances “berlinenses” são referência maior na obra de Isherwood.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Um elefante de alta voltagem

Cruzar ecos de um gosto pelas memórias de um garage rock (de escola psicadélica) com uma dinâmica que lembra, a momentos, o viço elétrico do glam rock... É o que encontramos em Elephant, um dos temas que encontramos em Lonerism, novo álbum dos Tame Impala. O teledisco é ideia no patamar da video art, assinado por Yoshi Sodeoka.

Discos pe(r)didos:
Tle Lilac Time, The Lilac Time


The Lilac Time 
“The Lilac Time” 
Swordfish Records 
(1987)

O nome da banda surgiu de uma referência numa canção de Nick Drake. E foi de uma nascente igualmente relacionada com tradições folk que a música ganhou forma. Mas o protagonista da aventura chama-se Stephen Duffy, doseando aqui ocasionais instantes de luminosidade pop entre a candura de alma folk das suas canções. Bem antes de Simon Le Bon, Stephen Duffy fora o primeiro vocalista dos Duran Duran (com Nick Rhodes gravando, bem mais tarde, e sob a designação The Devils, as canções em que então ali tinha trabalhado). Militou no projeto Dr. Calculus. Estreou-se depois a solo. Mas na reta final dos oitentas teve outra visão e, ao formar os Lilac Time, encontrou um dos mais inspirados episódios da sua carreira, sobretudo num primeiro álbum originalmente editado em 1987 numa pequena independente e, um ano depois, reeditado no catálogo da Fontana Records, para o qual ainda gravariam mais dois discos. Apesar de disponível numa edição com som remasterizado e com alguns extras, o álbum de estreia, simplesmente intitulado The Lilac Time, é peça hoje relativamente esquecida. É certo que não gerou os “êxitos” mais evidentes (coisa de Top 30, mas nada por aí além, é certo) que nasceriam dos alinhamentos de Paradise Circus (1989) e & Love For All (1990). Mas é um disco mais intuitivo, menos dado aos cuidados de produção mais polida que caracterizaria esses dois outros álbuns, a simplicidade das linhas e dos arranjos acolhendo a voz suave e macia de Stephen Duffy em canções que sugerem cenografia rural, cruzando calendários entre ecos de outros tempos e o presente em que tudo acontecia. Porém, e apesar do brilho folk pop que anima trovas como Return To Yesterday ou You Got To Love, um clima ameno e sereno atravessa o disco, sugerindo uma paz que concilia melancolia e o esboçar de sorrisos. Peças maiores como Black Velvet, The Road To Happiness ou Love Becomes A Savage destacam o saber na escrita de um autor que, com o tempo, acabaria a descobrir na escrita para terceiros uma das suas principais atividades. Já Rockland ou And The Ship Sails On acentuam afinidades com os domínios pop/rock de costela indie, o primeiro partilhando terreno com as pontes entre a tradição acústica e a nova música elétrica que então ouvíamos nuns House of Love, o segundo ensaiando a assimilação (discreta) de electrónicas (que viriam a dar frutos no quarto álbum, Astronauts, editado em 1992 pela Creation Records).

Philip Glass, segundo Beck

Sai no próximo dia 23 o muito aguardado disco de remisturas de obras de Philip Glass com, curadoria de Beck. E como aperitivo, já em tempo de contagem decrescente, aqui fica, precisamente, a contribuição de Beck: uma colagem de cerca de 20 minutos que cruza elementos de várias peças de várias épocas. É um espantoso olhar que concilia ao mesmo tempo uma visão autoral (a de Beck) e um sentido de síntese (na forma de focar atenções nos elementos da música de Glass que chama a esta colagem). Agora é esperar por dia 23 para ouvir o resto.

River Phoenix, 2012


Estreou no passado dia 27, no festival de Utrecht, na Holanda, o filme Dark Blood, no qual River Phoenix trabalhava quando nos deixou. Na altura faltavam ainda dias de rodagem, que acabou por não ser concluída, o projeto deixado em aberto durante anos a fio, pelo caminho tendo havido mesmo uma contenda entre a produção e a família do jovem ator entretanto falecido. Há poucos meses, contudo, o realizador George Sluizer anunciou que tinha regressado aos material filmado e que preparava uma montagem do filme com vista à sua apresentação pública. Assim foi, Dark Blood tendo já sido apresentado perante convidados em Utrecht, não se sabendo contudo que destino o espera, se entre mais passagens pelo circuito dos festivais de rumo a uma eventual estreia comercial e/ou edição em DVD e Blu-ray.

Segundo nos relata o texto que podemos ler no The Guardian, o filme usa uma estratégia de contador de histórias para relatar os pedaços em falta, o realizador lendo-nos o que não podemos ver. O artigo de Geoffrey McNabb descreve o filme como fragmentário e desequilibrado, referindo contudo que é o próprio realizador quem começa por nos alertar para o facto deste ser um filme incompleto, comparando-o a uma cadeira à qual falta a quarta perna “mas que se consegue aguentar em pé”. Quanto à interpretação de River Phoenix descreve-a como sendo tão “fragmentaria e desequilibrada como o filme”, mas que dá conta “de uma energia” que, no fim, nos “lembra do que parecia ser uma presença bem distinta” que tinha no ecrã.

Podem ler aqui a crítica do Guardian.

E aqui uma outra opinião sobre o filme, no site Twitch

E aqui podem ver o trailer do filme

50 anos de James Bond
Tom Jones, 1965


Foi atribulada a história da canção para o quarto filme de James Bond, em 1965. Inspirada numa expressão usada por um jornalista italiano por ocasião da estreia do primeiro filme, uma canção com o título Mr Kiss Kiss Bang Bang foi composta, chegando mesmo a conhecer gravações nas vozes de Shirley Bassey e Dionne Warwick, mas que acabaram então na prateleira. Johnny Cash tinha submetido uma proposta que ficou, igualmente, por usar. Já com a estreia na linha do horizonte, uma nova canção foi criada (com música de John Barry, que também assinava a banda sonora) usando Thunderball, o mesmo título do filme. E acabou entregue a Tom Jones.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Por Nova Iorque, com Tori Amos

É certamente um dos grandes acontecimentos discográficos do ano, a edição de Gold Dust, o álbum que celebra os 20 anos de carreira em nome própria de Tori Amos com um ciclo de canções revisitadas com orquestra. E como cartão de visita neste Flavor, com teledisco que podemos ver no DVD na edição especial do álbum.

Novas edições:
The Killers, Battle Born

 
The Killers 
“Battle Born”
Island / Universal
1 / 5

Quantas obras promissoras eram coisa constrangedora e inconsequente ao quarto álbum? Muitas... Alguns exemplos? Veja-se o caso de uns Spandau Ballet que, apenas quatro anos depois do viço pop anguloso (em clima new romantic) de Journeys To Glory, nos davam em Parade uma mão cheia de nada. Ou os Culture Club que, revelados no marcante Kissing To Be Clever (1982) mostravam em From Luxury To Hertache (1986) uma coleção de canções absolutamente desinteressantes. Ou uns Dead or Alive, cujo Nude (de 1989) pouco mais partilhava que o nome da banda e seus elementos quando comparado com as visões pop talhadas a electro funk e hi-nrg da estreia de Sophisticated Boom Boom, de 1983... Estamos propositadamente a falar de bandas com perfil mainstream mas de génese em espaços algo... alternativos. E todas elas nascidas do fulgor new wave, o mesmo que, redescoberto na alvorada do novo milénio, animou a música dos The Killers que, em Hot Fuss (2004) mostravam ser dos primeiros a encontrar em ecos dessa mesma new wave as formas, tons e cores para canções capazes de estabelecer diálogos entre as electrónicas e as guitarras e entendimentos entre o apelo melodista da canção pop e os desafios dos grandes estádios (que desde logo se adivinhavam no horizonte). Cedo dividiram opiniões, certo sendo que Hot Fuss ficou mesmo na história dos feitos pop dos anos zero (nem que pela forma como, antes de tantos outros, redescobriu uma forma de fazer pop que ecoava feitos de inícios dos oitentas). Quiseram ser mais “americanos” no relativamente decepcionante Sam’s Town (2006), procuraram retomar as linhas primordiais do primeiro disco em Day & Age (2008). E agora, depois de uma medíocre estreia a solo do vocalista Brandon Flowers, chegados a Battle Born são banda com o norte perdido... Sem querer abdicar da relação com as electrónicas, mas procurando ao mesmo tempo um reencontro com uma dimensão americana à la Springsteen, as faixas que se sucedem no alinhamento são uma entediante repetição de modelos de produção grandiosa (e tecnicamente competente, é certo) mas para a qual faltam... canções. Som e mais som. Sempre a subir, sempre a crescer, voz e acompanhamento instrumental a trepar escada acima em busca de um clímax que, na verdade, já ficou uns andares abaixo. Mas continuamos a subir... Divididos entre o seu próprio passado (que visitam de certa forma em Flesh and Bone, embora com tempero Alphaville) e uma encruzilhada de caminhos (dúvida que se materializa na multidão de produtores convocados, de Daniel Lanois a Steve Lillywhite, de Stuart Price a Damian Taylor), os Killers de 2012 são uma banda que quer manter ecos da sua genética indie e não quer abdicar do estatuto que as digressões por estádios já lhes deu, mas que na verdade não sabe bem para onde quer ir. O público mais dado a coisa indie (que mesmo assim não os acolheu com unanimidade nos primeiros tempos) vê-os como coisa uncool. Mas ao mesmo tempo fica claro que aqui não temos disco (nem banda) à altura de uns U2... Destinado a uma terra de ninguém, talvez colhendo ainda os entusiasmos do público mainstream aprofundados pelo disco anterior, Battle Born é pálido eco das potencialidades que os The Killers em tempo mostraram. Na remistura de Jacques Lu Cont para Flesh and Bone (servido como bónus) mostram a melhor das ideias aqui registadas. Já nos dias de Sam’s Town conheceram um dos seus melhores momentos quando chamaram os Pet Shop Boys para os remisturar. Não conseguirão ver que, mesmo sem repetir glórias passadas, aqui ao menos havia um caminho?...

O Natal, segundo Sufjan Stevens

Seis anos depois de nos ter dado uma caixa com cinco EPs de canções de Natal, Sufjan Stevens anuncia, para este ano (edição a 13 de novembro), uma continuação desse seu projeto. Com o título Silver and Gold: Songs For Christmas Vols. 6-10, uma nova caixa vai juntar os EPs 6 a 10, cada qual com uma mão cheia de canções de Natal. O projeto envolve colaborações várias, entre as quais as de Aaron e Bryce Dessner dos The National, Richard Parry dos Arcade Fire ou Cat Martino, colaborador em The Age of Adz. Além dos EPs (cada qual com a respetiva capa), a caixa vai inclui um livro para colorir, autocolantes, tatuagens temporárias, um ornamento de Natal, partituras, fotos, texto de apresentação e um poster. A abrir este post apresentamos imagens de três das capas dos cinco EPs que poderemos encontrar na caixa de Sufjan Stevens.

A seguir, fica o excerto de uma das canções

E aqui podem encontrar informação sobre o alinhamento deste lançamento