Quem pode garantir que um filme nos vai surpreender apenas através do que nos foi dado ver no respectivo trailer? Ninguém, claro... Em todo o caso, por vezes, há trailers que conseguem reunir alguns breves elementos que nos levam a perguntar, curiosos: o que é "isto" que estou a ver? Será esse o caso de The Drama, centrado num par interpretado por Zendaya e Robert Pattinson, sob a direção de Kristoffer Borgli. A estreia está marcada para abril de 2026 — para já, digamos que temos uma sugestiva curta-muito-curta metragem.
sound + vision
quarta-feira, dezembro 31, 2025
segunda-feira, dezembro 29, 2025
10 filmes de 2025 [4]
* JUVENTUDE, Wang Bing
Autor do inesquecível Três Irmãs (2012), Wang Bing continua a ser um metódico observador das dinâmicas sociais da China, neste caso tendo como ponto de partida um grupo de jovens com empregos precários no têxtil. Estamos perante o olhar documental na sua máxima energia dramática: a organização do filme em três partes — "Primavera", "Tempos Difíceis" e "Regresso a Casa" (num total perto das dez horas) — gera uma percepção dos acontecimentos que, sendo eminentemente prática, se vai transfigurando em celebração da dimensão tão sagrada quanto cruel do tempo. Um pouco à maneira do americano Frederick Wiseman, Wang Bing é um filósofo do tempo que passa, quer dizer, das aventuras humanas no interior da sua implacável irreversibilidade.
[ Sorry, Baby ] [ Depois da Caçada ] [ A House of Dynamite ]
10 discos de 2025 [4]
* FOREVER IS A FEELING: THE ARCHIVES, Lucy Dacus
[ Patti Smith ] [ Taylor Swift ] [ Ryan Adams ]
Em 2025, celebrou 30 anos e lançou o seu quarto álbum (quatro anos depois do magnífico Home Video). A americana Lucy Dacus pertence a uma galeria de cantoras, também compositoras, em que a precisão dos detalhes afectivos vai a par de uma espécie de apagamento que resiste a qualquer facilidade confessional — por alguma razão, ela formou com Julien Baker e Phoebe Bridgers o grupo Boygenius sem que qualquer delas emergisse como líder (gostam até de escrever o nome da banda com minúscula: boygenius). Lançado em outubro, Forever Is a Feeling: The Archives é a edição "ampliada" de Forever Is a Feeling, surgido em março — uma coleção de discreta sofisticação poética e instrumental de que a canção Best Guess, serena deambulação masculino/feminino, pode ser o símbolo adequado.
[ Patti Smith ] [ Taylor Swift ] [ Ryan Adams ]
Bardot / Godard — memórias de 1963
Na série de programas de rádio A Década de Todos os Filmes (Antena 1), o episódio dedicado ao ano de 1963 tem, naturalmente, o filme de Jean-Luc Godard com Brigitte Bardot — O Desprezo — como uma referência central. O programa está disponível a partir deste link. Aqui em baixo podemos ver dois trailers do filme: o original e o da cópia restaurada, lançada em 2023.
Brigitte Bardot (1934 - 2025)
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| O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard |
Falecida no dia 28 de dezembro de 2025, contava 91 anos, Brigitte Bardot deixa o legado de alguém que nunca encarou o cinema como um "destino" (afinal de contas, abandonou os filmes em 1973, para se dedicar à defesa dos direitos dos animais). O que, entenda-se, não a impediu de ficar ligada a um símbolo das transfigurações do feminino nas décadas de 1950/60, através do filme E Deus Criou a Mulher (1956), de Roger Vadim; e também de encarnar uma figura etérea e indecifrável no filme da Nouvelle Vague que mais e melhor condensou a nostalgia dos clássicos e as convulsões da modernidade, ou seja, O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard. A sua personagem chamava-se Camille e este é o "Thème de Camille", da banda sonora original composta por Georges Delerue — Orquestra Nacional de Lille, maestro Dirk Brossé.
>>> Site oficial da Fundação Brigitte Bardot.
>>> Memórias na revista Elle.
>>> Obituário no jornal The Guardian.
>>> Evocação de Brigitte Bardot no Diário de Notícias [JL].
sábado, dezembro 27, 2025
10 filmes de 2025 [3]
* A HOUSE OF DYNAMITE, Kathryn Bigelow
Assim vai o mundo, quer dizer, o entendimento do mundo do cinema pela Netflix. Por um lado, a plataforma vai gerando filmes que, pela sua intensidade dramática e vibração visual, pertencem ao grande ecrã; por outro lado, muitos desses filmes surgem discretamente num pequeno número de salas (select theatres), sendo-nos servidos nos limites dos nossos espaços caseiros. Neste caso, com uma ironia cruel: esta hstória de um míssil anónimo (?) que está prestes a destruir a cidade de Chicago "passa" como se fosse um vulgar thriller de guerra, mas daqui a dez ou vinte anos será consagrada como uma das mais subtis ficções sobre o imaginário político da era Trump... Com um pormenor nada secundário: é mesmo um "thriller" de guerra, mas nada vulgar, para mais com uma notável coleção de actores — Idris Elba, Rebecca Ferguson, Tracy Letts, etc. —, sempre impecáveis, mesmo quando se limitam a pontuar uma cena.
[ Sorry, Baby ] [ Depois da Caçada ]
sexta-feira, dezembro 26, 2025
10 discos de 2025 [3]
* SELF PORTRAIT, Ryan Adams
[ Patti Smith ] [ Taylor Swift ]
Os tempos não são simpáticos para os trovadores. Entenda-se: para aqueles que cantam as secretas emoções dos amantes e outros nómadas sociais, sem fingirem que têm alguma terapia mediática para partilhar connosco. Depois de 2024, ano em que lançou cinco álbuns, Ryan Adams cumpriu 2025 "apenas" com a edição comemorativa dos 25 anos de Heartbreaker e este contido e, claro, trovadoresco Self Portrait (ouça-se o emblemático Fool's Game). Definitivamente inclassificável, Ryan Adams não desiste do maravilhoso escândalo que consiste em declarar que a música popular parou no tempo — aliás, o tempo pára com ela.
[ Patti Smith ] [ Taylor Swift ]
quinta-feira, dezembro 25, 2025
10 filmes de 2025 [2]
* DEPOIS DA CAÇADA, Luca Guadagnino
Num balanço aberto a tudo aquilo que nos filmes deixa marcas que transcendem a "acção" e as suas "explicações" mais ou menos deterministas, este After the Hunt teria um trunfo radical para não ser esquecido. A saber: a linha de diálogo com que a personagem de Julia Roberts responde a uma jovem "desconfortável" porque o mundo não se adequa à sua pobre mentalidade politcamente correcta. Lembremos: "Nem tudo é suposto fazer-te sentir confortável." Um filme capaz de expor o imaginário social que sustenta tudo isso, ao mesmo tempo preservando as regras clássicas do melodrama — e, mais do que isso, a espessura existencial das palavras —, eis uma verdadera bênção cinematográfica. Com um elenco realmente excepcional, incluindo o sempre esquecido (e sempre admirável) Michael Stuhlbarg.
[ Sorry, Baby ]
quarta-feira, dezembro 24, 2025
10 discos de 2025 [2]
* THE LIFE OF A SHOWGIRL, Taylor Swift
[ Patti Smith ]
Para uma estrela pop pós-Madonna, a "introspeção" criativa passou a ser uma espécie de obrigação moral que, em boa verdade, se resume muitas vezes a um banal caderno de encargos mediático. Em vez de se desviar dessa maldição conceptual, Taylor Swift decide olhá-la de frente para a virar do avesso. Daí que a sugestão de auto-retrato desta vida de uma "showgirl" tenha tanto de confessional como de irónico, além do mais denunciando a moda da "apatia" imposta pela Net (escute-se Eldest Daughter). A recordação de Elizabeth Taylor (na canção homónima) possui, por isso, a energia de um verdadeiro "statement" artístico e, porque não dizê-lo, cinéfilo.
[ Patti Smith ]
sábado, dezembro 20, 2025
10 filmes de 2025 [1]
* SORRY, BABY, Eva Victor
Se qualquer balanço de um ano de cinema deve dar alguma atenção aos estreantes, então esta primeira longa-metragem da franco-americana Eva Victor merece um destaque muito especial. Para lá dos estafados dramas de uma "juventude" à procura da sua identidade, ela constrói uma genuína deambulação emocional por um universo de solidões partilhadas em que vida e morte se entrelaçam de forma suave — com ternura, se é que podemos arriscar tal palavra. A própria realizadora assume o papel central, propondo na cena final (que justifica o título) as certezas e dúvidas de uma verdadeira filosofia existencial.
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