Na nossa sessão da FNAC dedicada a James Dean e ao Actors Studio não podíamos deixar de evocar a personalidade emblemática de James Lipton (1926-2020), escritor, actor, apresentador da notável série de conversas Inside the Actors Studio (1994-2018). Em destaque esteve em particular o ritual das 10 perguntas com que Lipton iniciava as conversas com os seus 277 convidados. Aqui fica uma breve evocação de Lipton, no momento do seu desaparecimento, nos ecrãs da NBC (3 março 2020).
sound + vision
sábado, outubro 18, 2025
James Dean: a herança do Actors Studio
* SOUND + VISION Magazine / FNAC [ hoje, 18 out. ]
Símbolo lendário da revolução do Actors Studio em Hollywood, James Dean morreu há 70 anos — Nuno Galopim e João Lopes revisitam a sua época e a sua herança.
>>> FNAC Chiado — hoje, dia 18 outubro, 17h00.
sexta-feira, outubro 17, 2025
A herança de James Dean
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[Rebel without a Cause, 1955] |
Setenta anos depois da sua morte, James Dean continua a ser uma referência em que tudo se cruza, memória e simbologia, cinema e mitologia — este texto foi publicado na revista METROPOLIS (nº 122, setembro).
Há setenta anos — mais exactamente, no dia 30 de setembro de 1955 — James Dean morreu num acidente com o seu Porsche 550 Spyder, na zona de Cholame, uma pequena comunidade californiana — contava 24 anos. Na sua curta filmografia, além de uma série de papéis realmente secundários, três filmes bastaram para afirmar o seu talento invulgar e alimentar a sua aura lendária: A Leste do Paraíso, de Elia Kazan, Fúria de Viver, de Nicholas Ray, e O Gigante, de George Stevens.
No plano profissional, a brusquidão da sua morte impediu-o de conhecer a espectacular dimensão, não só do seu sucesso, mas também, e sobretudo, do seu impacto cultural e mitológico. Quando morreu, apenas A Leste do Paraíso, baseado no romance de John Steinbeck, tinha chegado às salas de cinema, a 9 de março de 1955. Fúria de Viver estreou-se menos de um mês depois do seu trágico acidente, a 27 de outubro, enquanto O Gigante surgiu quase um ano mais tarde, a 10 de outubro de 1956.
A sua herança é indissociável de uma genuína revolução formal que começou a acontecer no teatro, mais especificamente através do Actors Studio, esse verdadeiro “estúdio dos actores” fundado em 1947 por Elia Kazan, Cheryl Crawford e Robert Lewis — sem esquecer o papel fundamental que Lee Strasberg viria a desempenhar quando assumiu a respectiva direção.
Marlon Brando impôs-se, obviamente, como o primeiro e monumental símbolo do novo sistema de representação, o Método, enraizado nos ensinamentos do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) — Um Eléctrico Chamado Desejo (1951), de Kazan, pode mesmo ser definido como o título de “entrada” do Método na organização artística de Hollywood. Entre os nomes ligados a tal começo, e para lá de James Dean, encontramos, entre muitos outros, Montgomery Clift, Julie Harris (que integrou o elenco de A Leste do Paraíso), Kim Hunter (que contracenou com Brando em Um Eléctrico Chamado Desejo), Martin Landau, Karl Malden, Paul Newman, Shelley Winters e Joanne Woodward.
Com as interpretações de James Dean, intensificavam-se os sinais de uma juventude que já não reproduzia os padrões dos adultos, de alguma maneira ilustrando a máxima do título original de Fúria de Viver. Ou seja: Rebel Without a Cause. Somos, afinal, herdeiros desses rebeldes sem causa cujos sobressaltos vividos continham, directa ou simbolicamente, um prenúncio de morte. Ficou a solidão que poucos actores exprimiram com tamanha vibração emocional e comovente vulnerabilidade.
Pensar [citação]
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philomag.com |
>>> O simples facto de pensar é, em si mesmo, um empreendimento muito perigoso.
[...] Mas não pensar é ainda mais perigoso.
HANNAH ARENDT
(entrevista televisiva com Roger Errera,
ORTF, outubro 1973)
quarta-feira, outubro 15, 2025
The Antlers, Opus 7
Se há bandas indie que justificam o epíteto, os novaiorquinos The Antlers são, seguramente, um dos exemplos mais sólidos e coerentes. Aí está a renovada afirmação das suas singularidades poéticas e melódicas: chama-se Blight e é o sétimo álbum de estúdio da banda liderada por Peter Silberman — eis o lyric video de Carnage.
segunda-feira, outubro 13, 2025
Este é o país onde a televisão nunca existiu...
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"Zen for TV", Nam June Paik, versão de 1976 [ © Nam June Paik Estate ] |
Em Portugal quase ninguém arrisca pensar o imenso poder cultural das televisões. Até quando? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 outubro), com o título 'A televisão nunca existiu'.
Pergunto-me muitas vezes porque é que, sendo Portugal um país que tem um território televisivo saturado de ficções totalmente formatadas (novelas e afins), contaminado por um desavergonhado anti-humanistmo (Big Brother e derivados), enfim, um território que promove jogadores, treinadores e dirigentes do futebol a filósofos quotidianos de coisa nenhuma (jogo a jogo), porque é que num país assim ocupado por tanto mediocridade comunicacional as reflexões sobre o papel social da televisão quase desapareceram do espaço mediático. Repito (para não confundir nem melindrar os que, com todo o mérito, continuam a reflectir sobre o assunto): quase desapareceram...
Há pouco mais de trinta anos, no período de afirmação dos canais privados, alguém com importantes responsabilidades editoriais explicava-me que era assim porque “os críticos de cinema não percebem nada de televisão”. Recordo com humor tal invectiva. Aliás, agora, com a proliferação exponencial de “influencers” que se apresentam como críticos de cinema, até poderíamos acrescentar, com propriedade, que há um sector imenso de críticos de cinema que não percebem nada de... cinema.
Não estou a caricaturar. Porquê? Porque tudo isto, das tendências mais esmagadoras aos detalhes mais irónicos, decorre de algo muito mais fundo, bastante mais gravoso para as nossas vidas e, para usar uma expressão voluntariamente majestosa, para a nossa consciência colectiva. A resistência a debater as muitas atribulações do espaço televisivo não pode ser dissociada de uma demissão (quase) global da discussão da cultura em geral, logo também da educação — até porque, mesmo não esquecendo as coisas inteligentes que (ainda) podemos consumir, estamos a ser deseducados por muitas formas de fazer televisão.
Observe-se, a esse propósito, a indiferença global da classe política, direitas e esquerdas confundidas. Para lá da pequena agitação anual em torno das percentagens decimais que se acrescentam (ou retiram) ao orçamento da cultura, o pensamento político não dá mostras de reconhecer que os valores culturais dominantes passaram a ser encaminhados, por vezes impostos, pelos valores que dominam a própria actividade televisiva. Essa indiferença resulta, aliás, de uma crescente dependência dos discursos políticos em relação às suas formas de representação televisiva. No limite mais obsceno de tais práticas, há muitas intervenções de políticos que, no pequeno ecrã, elaboram as suas ideias (ou a falta delas) a partir de referências a intervenções de outros políticos... noutros momentos televisivos.
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Série documental da BBC (2020-21) |
Os gritos histéricos em defesa da “liberdade de expressão” são escassos (mesmo quando servem de munição para alguns clips televisivos). O que tem acontecido nos EUA, com o afastamento de figuras emblemáticas dos “talk-shows” mais críticos da administração Trump, está muito longe de ser um bailado de piadas mais ou menos provocatórias, ou um mero jogo de vaidades. Afinal de contas, Trump chegou onde chegou em grande parte através de muitos anos de uma presença insinuante no pequeno ecrã — entenda-se: em todo o tecido social americano.
Não que o protagonismo televisivo seja um método de fabricação de ditadores. Sugerir isso seria duplicar o maniqueísmo compulsivo que passou a contaminar muitos “debates” televisivos. Em todo o caso, seria tempo de perguntarmos se só nos restam políticos que concebem a sua presença televisiva como um teatro cínico para conquistar os eleitores. Ou se ainda há políticos com serenidade para pensar, e ajudar a superar, o esvaziamento cultural do país — sem esquecer que não é possível fazê-lo sem pensar também o papel fulcral da televisão.
Diane Keaton (1946 - 2025)
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INTERIORS / Intimidade (1978), de Woody Allen |
Será preciso relembrar que representar é desistir de algo que existe no actor/actriz, refazendo-o no corpo da personagem? Assim era Diane Keaton, falecida a 11 de outubro — contava 79 anos.
>>> No programa de Johnny Carson (28 dez. 1972).
>>> Annie Hall (1977), a cena com Marshall McLuhan.
>>> Com Warren Beatty, Reds (1981).
>>> Trailer de O Padrinho - Parte III.
>>> O Misterioso Assassínio em Manhattan (1993), última colaboração com Woody Allen.
sexta-feira, outubro 10, 2025
Martin Scorsese por Rebecca Miller
"A história por trás do contador de histórias", eis a sugestiva frase de apresentação da mini-série de Rebecca Miller sobre Martin Scorsese — Mr. Scorsese é um conteúdo da AppleTV+ e apresenta-se com este magnífico trailer.
quarta-feira, outubro 08, 2025
Heroes, com Martha Wainwright
Eis uma referência lendária, vinda do outro lado do mundo: RockWiz, programa australiano de televisão, existiu regularmente entre 2005 e 2016, coleccionando uma galeria mais que respeitável de visitantes. Agora, (re)apareceu no YouTube uma gravação de 2006 em que Martha Wainwright e Adrian Belew (que colaborou com Frank Zappa, Talking Heads, Laurie Anderson, etc.) recriam o clássico Heroes, de David Bowie — 4 minutinhos de telvisão comme il faut.
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