sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Animal Collective com novo EP

Chama-se Water Curses, chega aos escaparates a 5 de Maio, e é um novo EP de quatro temas dos Animal Collective. Três das gravações são ainda provenientes das sessões que geraram o álbum de 2007 Strawberry Jam. O disco chegará dias antes de novas passagens do grupo por palcos portugueses, agendadas para os dias 27 e 28 de Maio, respectivamente no Porto (Cinema Batalha) e Lisboa (Lux).

Em conversa: Osvaldo Golijov (3)

Concluímos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com o compositor argentino Osvaldo Golijov, que serviu de base a um artigo publicado no DN.

Ayre, o ciclo de canções que assinalou em 2005 a sua estreia na Deutsche Grammophon, reflecte uma música com uma geografia, mas que cruza tempos.
A minha ideia foi, contudo, desde o início a de não procurar fazer daquele ciclo um exercício académico de história. Tem mais a ver com uma ideia de presente, e de nos ajudar a perceber quem somos. A voz de Dawn Upshaw depois ajuda, porque é incrível.

Já fez várias gravações com Dawn Upshaw. É uma musa sua?
Sem dúvida. Gosto muito dela. Gosto de trabalhar com vozes da música popular porque sabem mentir... Mas o problema com estas vozes é, habitualmente, a sua limitação naquilo que posso pedir delas. A Dawn Upshaw consegue ter o tom e o poder emocional da música popular, mas pode fazer o que quiser com a sua voz. Ou seja, posso escrever o que quer que entenda para a sua voz.

Quando compôs a sua ópera Ainadamar já pensava que seria ela a voz protagonista?
Sim, pensava. Não necessariamente como um costureiro...

Quando fez a sua ópera colaborou na encenação?
Queria que a música tivesse uma personalidade teatral logo desde o início. Mas não dei ideias de encenação específicas. A música tem a sua noção de teatro já em si... Mas fico sempre espantado com o que conseguem depois fazer num palco, a partir daquela música...

Foi uma aventura?
Sim. Até aí não sabia o que era fazer uma ópera! Para a próxima, para o melhor ou o pior, creio que terei mais noções concretas do que tenho de fazer.

Gosta de ópera contemporânea?
Sim, gosto... É um formato com o potencial espantoso. Vou escrever uma nova ópera para a Metropolitan Opera...

E porque procurou a brasileira Luciana Souza para Oceana?
Descobri-a na rádio. Tinha de compor uma canta, e a ideia que trabalhei levava Bach para a América. Por isso não queria uma voz habituada à música clássica. Ouvi a voz de Luciana e pareceu-me espantosa. Convenci-a a cantar...

E como se lembrou de usar um poema de Neruda para essa cantata?
Sou judeu. Bach escreveu uma série de cantatas sagradas incríveis.... Mas escrever uma canta judaica sobre a América seria estranho. Somos poucos na América latina... Escrever uma cantata cristã também seria pouco natural, simplesmente porque não sou cristão. Assim procurei um texto que tivesse uma noção de sagrado, mas sem o contexto religioso. Neruda é assombroso... É sagrado e secular ao mesmo tempo.

Regravou recentemente a sua La Pasión Según San Marcos, que a Deutsche Grammophon editará ainda este ano. Como foi regressar a uma obra que gravou originalmente em 2000?
É diferente. Passaram sete anos... Foi uma gravação de estúdio e não ao vivo... Creio que se atingiu uma emotividade mais profunda.

O que sente por estar hoje integrado num catálogo como o da Deutsche Grammophon, com todo o peso histórico que carrega?
Sinto-me pequeno!

Tem trabalhado para o cinema. Philip Glass disse, recentemente, que muitas pessoas ligadas aos espaços da música clássica vêm o trabalho no cinema com algum cepticismo...
Concordo... Mas o incrível é que tive a sorte de trabalhar com Coppola. E ele encorajou-me a não evitar a vontade de experimentar. Foi divertido. Ele foi muito aberto a todas as sugestões. É muito bom poder trabalhar com um realizador visionário como ele. Senti-me como se fosse outra vez um aluno de escola.

Cederia música sua para instalações ou mesmo filmes experimentais?
Sim, sem dúvida. Seria espantoso.

Fez arranjos para música de Carlos Paredes [para um disco do Kronos Quartet]. Como foi?
Adorei! Foi espantoso trabalhar a sua música! Por vezes há mais emoção nessas pequenas peças que numa ópera. Aprendi muito com a música dele.

O que admirou mais em Paredes?
A emoção... E há um sentido estranho de virtuosismo nele. Não é aquele virtuosismo tradicional. É táctil... Como Neruda na poesia. Cheira-se, sente-se... Não só na escrita como na interpretação.

Conhece outros artistas portugueses?
Admiro muito a obra de Amália Rodrigues, claro... Conheço também Dulce Pontes. E não muito mais. Confesso...

O clássico que nasceu numa tarde

Editado em Maio de 1982, Hungry Like The Wolf foi o definitivo cartão de visita para os Duran Duran no mercado norte-americano e, consequentemente, a peça-chave para o início de uma etapa de popularidade global que lhes deu sucessivos êxitos de primeiro plano até meados de 1985. O êxito do single deveu muito à aposta nele feita pela MTV que, recentemente inaugurada, encontrou no luxuriante teledisco que acompanhava a canção, um dos seus primeiros sucessos (o teledisco é o 15º mais rodado da história da estação televisiva). Uma das mais populares canções dos Duran Duran, Hungry Like The Wolf nasceu, na verdade, de uma experiência com nova tecnologia, numa tarde da Primavera de 1982, no estúdio da cave da sede londrina da EMI. Ao manipular uma caixa de ritmos Roland 808, um sequenciador e um teclado Roland Jupiter 8, o grupo acabou por criar uma base à qual rapidamente acrescentaram uma linha de guitarra herdeira de Marc Bolan, baixo e bateria. A letra, escrita por Simon Le Bon, inspirada no conto do Capuchinho Vermelho, foi escrita ao fim da tarde. E, num dia, a canção estava pronta, sendo depois regravada, nos Air Studios, com o produtor Colin Thurston. A popularidade do single justificou as inúmeras versões dele já gravadas ou apresentadas em concerto, por nomes que vão das Hole e Incubus aos Gnarls Barkley. No lado B do single foi incluída a primeira gravação ao vivo da discografia dos Duran Duran: Careless Memories, captada em Dezembro de 1981 num concerto no Hammersmith Odeon, em Londres. O single foi o segundo top 5 dos Duran Duran no Reino Unido e, apesar de ignorado na sua primeira edição americana, ao ser relançado em Dezembro de 1982 atingiu o top 3 nos EUA.




O teledisco de Hungry Like The Wolf é um dos mais representativos da videografia do grupo e um dos mais recordados da pop de 80. Foi o primeiro de três telediscos filmados no Sri Lanka, na Primavera de 1982, com Russel Mulcahy na realização. Pensado à imagem dos ambientes de Os Salteadores da Arca Pedida, de Steven Spielberg, usa os elementos do grupo numa breve narrativa de acção entre a selva, um rio, um mercado ao ar livre e as ruas de uma cidade. Nick Rhodes tem presença fugaz no teledisco, uma vez que ficou em Londres a terminar as misturas do álbum Rio, tendo-se juntado aos quatro outros elementos do grupo já na recta final das filmagens.

Salazar a cores (parte II)

Já aqui comentei a campanha de lançamento de uma série de livros sobre Salazar. De tão óbvio, faltou referir um conceito expresso nos textos promocionais, sintomático da visão "cândida" da história que marca toda a campanha. Assim, como uma espécie de subtítulo de Os Anos de Salazar, surge esta frase exemplar: 'O que se contava e ocultava durante o Estado Novo'. Que quer isto dizer? Que o Estado Novo tinha uma censura? Sim, claro: a repressão de muitas actividades, do jornalismo aos discursos artísticos, é uma componente essencial para compreendermos a dinâmica da ditadura salazarista. Em todo o caso, insisto, vale a pena atentarmos no que aquela frase diz, não sobre o Estado Novo, mas sim sobre o entendimento filosófico do nosso presente.
Em boa verdade, estamos perante a mais linear mentalidade televisiva, alicerçada num infantil jogo de escondidas. De acordo com este discurso, conhecer — e, em particular, conhecer a história colectiva — é apenas "destapar" o que estava "tapado". Assim se promovem duas ilusões muito comuns, presentes tanto no voluntarismo bem intencionado de alguns telejornais como na encenação pornográfica do Big Brother — primeira ilusão: o passado é apenas um território de coisas "visíveis" e outras "por mostrar", sendo indiferente a especificidade do olhar que a ele regressa; segunda ilusão: quando se "mostra" o que permanecera "invisível", emerge uma espécie de verdade apaziguada.
Na prática, esta é uma filosofia da transcendência mais equívoca. O que nela se recalca é que não existem factos que não sejam factos filtrados/revistos/pensados por algum olhar, quer dizer, por algum sujeito histórico. Como diria o grande Renoir, chacun a ses raisons.

Cinema irlandês a (re)descobrir

Depois de uma carreira de sucesso em vários festivais internacionais, Garage, de Lenny Abrahamson, estreia entre nós poucos dias depois de ter arrebatado vários prémios da produção irlandesa, incluindo o de melhor filme de 2007 — nas salas inglesas, por exemplo, só será estreado a 7 de Março. Centrado no dia a dia de um pobre homem que toma conta de uma garagem, eis um filme que parte de um realismo aparentemente "anedótico" para, a pouco e pouco, sugerir as linhas de força (morais, em particular) de uma pequena comunidade. Se outras razões não houvesse para descobrir Garage, bastaria a composição de Pat Shortt (eleito melhor actor irlandês do ano): vindo da área da comédia, ele apresenta-se aqui num registo de paradoxal dramatismo, tão subtil quanto pungente.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Discos da semana, 25 de Fevereiro

Em 2004 o regresso dos American Music Club, após dez anos de silêncio, brotou de amargas e tensas visões de uma América entregue a uma guerra contra a qual esta não foi a única banda a se pronunciar. Passaram quatro anos e, no reencontro com os American Music Club voltamos a constatar o gosto de Mark Eitzel em reflectir sobre o espaço que é o seu palco de vida, porém retomando, de forma igualmente pessoal, outros ângulos de visão, outro patamar emocional, outro tom. The Golden Age assinala, musicalmente, uma continuidade forma face ao que os American Music Club nos deram na sua mais dourada etapa musical. Ou seja, o período entre 1991 e 1994 no qual gravaram três álbuns, dois deles (Mercury, de 1993 e San Francisco, de 1994) representando as mais inesquecíveis colecções de canções que Eitzel escreveu e gravou em grupo. Em The Golden Age encontramos o grupo num outro momento de grande forma, entregue a canções nas quais o encanto aparente das notas tocas e cantadas contrasta com um desencanto que molda muitas das histórias contadas, das visões da Nova Iorque pré-11 de Setembro em Windows Of The World a uma já conhecida relação crítica com a instituição militar, em The Dance. Uma profunda melancolia perpassa todas estas canções, cantos de uma terra desencantada e magoada que Eitzel encara sem filtros em palavras que não temem o expressar do que há de frágil em quem as canta. Outonal, contemplativo, traduzindo a cada vez mais clara e cuidada escrita do celebrado autor/compositor, este é um disco que, ostensivamente avesso a modas e tendências, e sem desejo de traçar entre o seu alinhamento uma qualquer agenda sociológica, não deixa contudo de ser um claro fruto dos tempos que vivemos.
American Music Club
“The Golden Age”

Cooking Vinyl
4 / 5
Para ouvir: MySpace


Porque são os editores portugueses (salvo raras excepções), incapazes de assumir a edição de música exterior ao alinhamento de um álbum sem ter de o fazer usando, re-usando, voltando a insistir, e mais uma vez ainda, no estafado modelo do “repackage”? Ou, por outras palavras, o “baralha e volta a dar”. Poderá haver, eventualmente, situações em que semelhante modelo se justifique. Mas, salvo em pontuais excepções, os repackages que vemos editados em Portugal não são mais que o álbum (antes editado), ao qual se soma um EP... É o que se passa com a Tour Edition do álbum de David Fonseca que, para desfrutar das novas faixas ao vivo inclusas no CD2, obrigam o comprador a levar para casa, uma vez mais, o disco que, eventualmente, comprou há poucos meses. Porque não se editou, contudo, e em separado, um eventual Tour EP? Mais barato e, naturalmente, complementar ao que já se tinha em casa? Podendo apresentar-se ao mercado, como alternativa, o pacote duplo, ou seja, o tal repackage... De Dreams In Colour, nesta edição, nada a acrescentar. É o melhor disco da carreira de David Fonseca, sublinhando um sonho de versatilidade que finalmente sai do armário. E o EP? Ou, perdão, o CD 2, o tal que sublinha o sub-título Tour Edition? Gravado ao vivo, recolhe um inédito e quatro versões, estas contudo longe de mostrar a selecção das melhores que o músico já apresentou em palco. As abordagens a Tim Buckley e Bryan Ferry mostram paixão e capacidade de reinvenção. Mas, perante as potencialidades já exibidas de David Fonseca neste departamento, o extra desta ‘Tour Edition’ é encore de dieta...
David Fonseca
'Dreams In Colour – Tour Edition'
Universal
3 / 5
Para ouvir: MySpace


Já lhes chamaram o “super-grupo” indie escocês... Tudo porque o quarteto, Correcto de nome, inclui o baterista dos Franz Ferdinand (Paul Thompson) e o ex-baixista dos extintos The Royal We (Patrick Doyle). Animados pelo viço pop do single de estreia, Joni, e pelo entusiasmo da mais recente recepção ao seu sucessor, Do It Better, eis que nos brindam com um álbum de estreia que, contudo, está longe de manter alta a fasquia que esses cartões de visita faziam antever. A luz pop de Joni e a angulosidade dançável de Do it Better já faziam esperar por um álbum empenhado na redescoberta de mecânicas e formas clássicas herdadas do punk britânico (dos Buzzcocks aos Sex Pistols), em canções onde, contudo, o tempero da diferença se fazia pela consulta igualmente estimulante de outra escola brit, em concreto a memória pop de uns Kinks. O álbum, contudo, pouco parece querer acrescentar aos singles. E a surpresa irrompe apenas a momentos, sobretudo quando o pólo pop, em clima mid tempo, parece dominar os cenários, como se escuta em Save Your Sorrow, New Capitals ou Walking To Town. Longe de ser uma desilusão, Correcto é um álbum que quase corre o risco de ser inconsequente face aos singles que o grupo nos deu já. Melhor, contudo, que o frágil e já esquecido álbum do projecto Box Codax, do também Franz Ferdinand Nick McCarthy.
Correcto
‘Correcto’

Domino / Edel
3 / 5
Para ouvir: MySpace


Nem sempre o chamado regresso à casa partida resulta enquanto opção numa carreira na música. E o que escutamos em Seventh Tree, o quarto álbum de Goldfrapp, em tudo dá razão a quem teme os perigos dessa opção. Depois de uma espantosa estreia em Felt Mountain, disco no qual se encontrava uma nova expressão, na era do digital, para uma certa alma pop pastoral, o grupo descobriu os prazeres da dança, do apelo sexy, da noite, do corpo. As opiniões dividiram-se, naturalmente, entre os partidários da etapa inicial e os convertidos por Black Cherry e Supernature. Seventh Tree, de certo modo, apela directamente a espaços semelhantes aos que se escutaram em Felt Mountain. Mas, ao contrário do que se escutou nessa soberba estreia, as canções são desinspiradas, lentas porque lentas, sem o sentimento de arrepio que soprava nas entrelinhas de verdadeiras pelas de filigrana pop como o foram Lovely Head ou Utopia. A&E, o single de avanço, revelou-se deslaçado empadão feito com o desejo de repetir sabores, mas sem os mesmos condimentos, nem a mesma atitude gourmet. Apesar de pontuais instantes de beleza pop (como o é Caravan Girl), o álbum pouco parece querer acrescentar ao que o single exibiu, repetindo lógica semelhante por um alinhamento que acaba cansativo. Desapontante. Surpreendentemente desapontante.
Goldfrapp
‘Seventh Tree’
Mute / EMI Music Portugal
2/5
Para ouvir: MySpace


Os discos de tributo são espaços nos quais, salvo em raras excepções, verificamos como os admiradores levam dez a zero dos respectivos admirados. A surpresa é, ocasionalmente, o motivo que pode fazer a diferença pelo que, não é invulgar vermos, entre a multidão de inevitáveis ou óbvios fãs, uma aparente carta fora do baralho. E, quase sempre, é por aí que muitas vezes se revelam os episódios de excepção. Há casos e casos, é verdade, com tributos como I’m Your Fan (dedicado a Leonard Cohen) ou This Is Where I Belong (Ray Davies) a mostrar invulgares alinhamentos feitos de invulgarmente coesas e interessantes versões. Controversy, tributo dedicado à música de Prince, não é, todavia, um desses casos notáveis. O que, todavia, não quer dizer que aqui não encontremos pontuais focos de interesse. As tais cartas fora do baralho, neste caso sendo elas Stina Nordenstam, Susanna & The Magical Orchestra, dão-nos momentos interessantes, todavia longe de surpreendentes, revisitando, respectivamente, Purple Rain e Condition Of The Heart. Os discípulos mais evidentes, D’Angelo ou Rob Mello, dão conta do recado, mas revelam-se igualmente pouco capazes de reinventar She’s Always In My Hair e Critical. Num mar morno de versões apenas satisfatórias, acabam por de destacar, apenas, Peaches (com 7 Hurtz) em Sexy Dancer e os Souwax em Starfish & Coffee... Prince merecia mais. Muito mais...
Vários
'Controversy'

Rapster / Popstock
2 / 5
Para saber mais: MySpace


Também esta semana:
Triffids (reedições), Envelopes, Gary Numan (reedição),

Brevemente:
3 de Março: Bauhaus, Nick Cave & The Bad Seeds, Billy Bragg, OMD (reedição)
10 de Março: MGMT (ed internacional), The Kills, Young Knives, Vicious 5, Hercules & Love Affair
17 de Março: Soft Cell (reedição), The Teenagers, Elbow, Stephen Malkmus

Março: B-52’s, Moby, R.E.M., Guillemots, Beck (reedição), Foals, Elf Power, The Whip, Supergrass, Faces (reedições), Devotchka, Daft Punk, Young Knives, Zombies (reedição), John Tavener, Philip Glass (BSO), The Grid, Super Nada, Guillemots, The La’s (reedição), Cinematic Orchestra (live), We Are Scientists, Why?, Cut Copy, Baumer, Joy Division (best of)
Abril: Portishead, Madonna, The Teenagers, Breeders, The Presets, M83, Air (reedição), UHF (reedição), Petrus Castrus (reedição), Quinteto Académico + 2 (reedição), Telectu (reedição), Quarteto 1111 (reedição), Duran Duran (reedições – três primeiros álbuns numa caixa), Rita Redshoes, Camané, Mesa, OMD (live), Kooks

Salazar a cores

Subitamente, o nosso quotidiano surgiu invadido por imagens de António de Oliveira Salazar (1889-1970). Mais concretamente, em muitos painéis publicitários, em particular nas paragens de autocarros, o rosto de Salazar apareceu com um tratamento cromático "warholiano". A qualidade formal do trabalho é apenas curiosa, fechada como está num gesto muito básico de "citação/imitação" — seja como for, na sua simples existência há algo de suavemente libertador. Um pouco como quando um sólido trabalho de investigação ou ficção (literária, cinematográfica, etc.) consegue contrariar as resistências à abordagem do Holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial.

Neste caso, na sua bizarra solidão semiológica, as imagens conseguem superar uma certa paralisia iconográfica — afectiva, política e, em última instância, filosófica — ainda alicerçada nos discursos de libertação da ditadura (salazarista, precisamente), discursos gerados com o 25 de Abril de 1974. Dito de outro modo: muitas vias correntes de abordagem da figura histórica de Salazar continuam dependentes de maniqueísmos ideológicos que, ainda há pouco tempo, desembocaram nesse lamentável fenómeno de "entretenimento" que foi o concurso Os Grandes Portugueses.

Estas imagens servem para promover Os Anos de Salazar, colecção de livros a ser lançada pelo Correio da Manhã. Impossível dizer seja o que for sobre tal iniciativa, a não ser que o seu leque de colaboradores — jornalistas, historiadores, professores, etc. — se apresenta imenso, imensamente rico e diversificado [NOTA: na respectiva ficha, o jornalista identificado como 'João Lopes' não é o redactor deste post e co-autor deste blog].

Seja como for, vale a pena referir que o discurso de apresentação da obra é muito menos interessante que as imagens que a estão a promover. Repare-se neste texto:

"A verdade histórica não é negra nem é branca e não conhece cores políticas. A informação rigorosa também não. É isenta e imparcial, mas fornece todos os tons e todos os factos para que seja você a decidir, a pensar, a ter uma opinião. Os Anos de Salazar é uma colecção inédita que pode despertar ódios antigos e paixões reprimidas, mas que vai certamente ajudar a compreender a política, a cultura, a economia e a sociedade de um dos períodos mais controversos da nossa história. Só assim, mantendo o passado bem presente, se constrói o futuro."

Insolitamente, até mesmo no seu catastrofismo "psicanalítico" (ódios antigos e paixões reprimidas), este é um discurso tocado por um mitologia muito típica do imaginário do pós-25 de Abril, imaginário jornalístico nas suas raízes, sobretudo televisivo na sua prática ideológica. Em que consiste tal mitologia? Na promoção da crença de que, apesar das convulsões da história (e sobretudo perante essas convulsões), é possível abordar os factos a partir de uma espécie de castidade ontológica que possuiria a virtude, tendencialmente divina, de doar em estado de imaculada virgindade historiográfica todos os ruídos e silêncios da própria história colectiva — "para que seja você a decidir", como em qualquer banal forum televisivo.

Insolitamente, insisto, este é um discurso casto e auto-reprimido, em tudo e por tudo contrastante com a agressividade formal da campanha promocional da própria obra. Em boa verdade, semelhante contraste apenas confirma que, para o melhor e para o pior, um dos terrenos sociais em que tudo é pensado de forma ideológica é a publicidade. Afinal de contas, a campanha diz algo de muito simples, porventura essencial para lidarmos com a herança de Salazar e do Estado Novo. A saber: nenhuma imagem é tabu, nem mesmo a imagem infinitamente polémica de Salazar. Exactamente o contrário da atitude que preside ao enunciado beatificador de isenção e imparcialidade.

Como é óbvio, não está em causa a honestidade da obra e dos seus autores. Como não se duvida da possibilidade de Os Anos de Salazar vir a desempenhar um papel importante no muito necessário trabalho de revisitação, releitura e reavaliação do nosso século XX. O que importa discutir também é esta idealização pueril que transfere para "você" (o sujeito que supostamente decide) todo o trabalho de construção/desconstrução da história.

De facto, a história não é uma paisagem transparente que baste "fotografar" e "reproduzir". Aliás, como qualquer historiador sabe — e qualquer jornalista pode confirmar —, a simples escolha de um lugar para pousar a "máquina fotográfica" arrasta consequências específicas. Mudar esse lugar é sempre, literalmente, mudar o ponto de vista, isto é, gerar uma imagem diferente. Tudo isso faz parte do risco de fazer história, isto é, de a desejar.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Futebol sem público

Fim de tarde, princípio de noite do dia 27 de Fevereiro de 2008. Vendo algumas imagens televisivas dos jogos de futebol dos quartos de final da Taça de Portugal, aliás confirmadas por informações difundidas nas rádios, era fácil detectar um ponto comum a todos eles: a extrema escassez de espectadores nas bancadas (por vezes alguns pouquíssimos milhares em estádios com lotação superior a 50 mil lugares).
Irónico, sem dúvida. Muitos cidadãos do nosso país, alguns com responsabilidades mediáticas, gostam de proclamar, por exemplo, que "ninguém" vai ver filmes portugueses e outras manifestações artísticas... Entretanto, nunca se fala das limitações financeiras da produção do cinema português (literalmente miserável face aos milhões que o futebol movimenta). Nada se diz do quase nulo investimento na sua difusão e promoção (enquanto o futebol é objecto de divulgação maciça, diária, quase instante a instante). Ironia ainda maior se nos lembrarmos que os jogos citados envolviam três equipas "grandes" e, dessas três, apenas uma teve direito a transmissão televisiva: ao contrário do que acontece, por exemplo, em Inglaterra, não há uma cultura desportiva consistente que garanta uma popularidade global do futebol — apenas fenómenos de concentração de espectadores em alguns jogos.
Nada tenho contra o futebol e a sua magia enquanto jogo. Sou, aliás, um consumidor regular e interessado do futebol televisivo. Em situações como a desta quarta-feira, apenas acho que falta imaginação colectiva aos... cineastas portugueses! Sendo a sua actividade tão vulgarmente massacrada por muitos lugares-comuns, uns equívocos, outros simplesmente mentirosos, por que não dizem alguma coisa sobre estado de coisas? Era, pelo menos, uma maneira de deslocar o debate e introduzir algumas ideias frescas.
(Como se isto não bastasse, a jornada de quarta-feira foi, em termos puramente futebolísticos, um imenso e deprimente desastre...)

Hard Candy by Madonna

Desta vez é a sério. O novo álbum de Madonna, derradeiro do seu contrato com a Warner Bros., já tem título: Hard Candy. Razões para a escolha? Uma musical: Candy Store é um dos títulos do respectivo alinhamento. Outra pessoal: de acordo com uma declaração de Liz Rosenberg, relações públicas de Madonna, ela "adora bombons" [candy]. Seja como for, o site oficial de Madonna dá a notícia, oferecendo-nos apenas esta esclarecedora imagem. Hard Candy vai chegar às lojas no dia 29 de Abril; o primeiro single, Four Minutes, surgirá em finais de Março.
PS - Vale a pena lembrar que, já na festa de apresentação do álbum aos funcionários da Warner, não tinham faltado as guloseimas.

Crianças & adultos

Não é todos os dias que um filme "acumula" canções pré-existentes sem se limitar a propor uma banal hit list, antes servindo os propósitos dramáticos e as ambiências emocionais desse mesmo filme. Acontece com a banda sonora de Juno, de Jason Reitman (Oscar de melhor argumento original para Diablo Cody), preciosa antologia em que se cruzam The Kinks e Cat Power, Buddy Holly e The Velvet Underground — e ainda Barry Louis Polisar, compositor e intérprete muito popular nos EUA, em particular ligado à pedagogia musical junto das crianças; é dele o tema All I Want Is You que se escuta no delicioso genérico "filmado/desenhado" de Juno: vale a pena recordar.

Rebuçados da Dinamarca

O segundo single do recente Lust, Lust, Lust é mais um exemplo da forma como os dinamarqueses Raveonettes cruzam referências e tempos, nomeadamente a memória garage de alguma pop de 60 e o som intenso da geração shogaze de 90. Aqui fica You Want The Candy.


Em conversa: Osvaldo Golijov (2)

Continuamos aqui a publicação da versão integral de uma entrevista com o compositor argentino Osvaldo Golijov, que serviu de base a um artigo publicado no DN.

Tem tempo para ouvir o que acontece na música actual, nas mais diversas áreas? Compra discos?
Sim... Apesar das lojas de música estarem a desaparecer, compro discos. Preciso estar informado sobre o que está a acontecer.

Quando entra numa loja vai directamente à secção de música clássica?
Não, não. Naturalmente venho da clássica e escuto mais clássica que outro tipo de música. Mas gosto também de jazz, de world music...

Que disco ou artista o entusiasmou mais nos últimos tempos?
Há uma figura, na composição, que admiro muito: a Maria Schneider. Tem um disco chamado Sky Blue... É uma música belíssima.

Costuma pensar como serviriam a sua música os instrumentistas e as vozes que ouve nos discos que compra?
Não. Escuto-os por prazer. Não penso logo no trabalho. Nisso sou um amador...

Em que momento na sua vida a música começou a ser algo especial para si?
A minha mãe era pianista. E assim sendo creio que gostei de ouvir música desde que nasci. Tocava e até escreva música em criança. Mas a mudança deu-se quando vi, ao vivo, Piazzolla, quando tinha uns dez anos... Nem dormi nessa noite! Foi um momento muito especial. Toda a música que tinha ouvido até aí tinha sido descoberta nos discos que ouvia ou nas partituras que tínhamos em casa, sobre o piano. De Bartók a Mozart... Mas ter à frente dos meus olhos uma pessoa a tocar uma música que sob si tinha Bach e Bartók, mas também a forma como as pessoas falavam, andavam e riam na sua... Foi uma experiência assombrosa.

A sua música herdou talvez essa lição de Piazzolla. Ou seja, a consciência de uma herança clássica, mas também um sentido vivencial, integrado no mundo real onde vive...
Sem dúvida! Piazzolla para mim foi um modelo. Estabeleceu um rumo... Um certo tipo de ligações... E quando uso instrumentos locais não pelo travo exótico que possam dar à música o sentido de verdade dessas ferramentas. Como Piazzolla fez com o bandoneón... Tem a ver com a maneira de trabalhar do artesão...

A sua música é também, além dessa história vivencial, um fruto de um conjunto de heranças familiares, nomeadamente a tradição judaica...
É verdade.

Como é que se projecta essa genética familiar numa obra?
Não é um exercício consciente, não é uma decisão intelectual. É algo natural. É quem sou. Tem a ver com o equilíbrio daquilo que sou. Essas referências trazem marcas de uma certa nostalgia. E há verdade nessa nostalgia... Por exemplo, não creio que Fellini ou Almodóvar seriam o que são sem o catolicismo. Respeito e amo as minhas heranças, mas não quero fazer uma música que sirva apenas para fazer os meus avós felizes.
(continua)

Joy Division por Grant Gee

Grant Gee, que há dez anos apresentou Meeting People Is Easy, documentário sobre a vida dos Radiohead na estrada, tem pronto um novo filme. Trata-se de Joy Division, documentário que conta com imagens inéditas da banda, assim como entrevistas, expressamente realizadas para o filme, com Tony Wilson, a belga Annik Honoré e os antigos elementos da banda. Joy Division tem estreia marcada para 2 de Maio, nas salas de cinema do Reino Unido.

Paisagens americanas (6)

É conhecido o cliché iconográfico e ideológico do western e dos tradicionais filmes de cavalaria: algures, lá ao longe, o exército surge como uma mancha enorme e coesa, eventualmente cenografado pelo som das trombetas — vai começar o ataque redentor das tropas, isto é, assistimos à história na sua (im)pura dimensão épica.
Ao dirigir, produzir e interpretar Danças com Lobos (1990), Kevin Costner como que "virou do avesso" essa lógica, aliás retomando a herança de vários westerns críticos dos anos 60/70 (Peckinpah, Polonsky, etc.). A ponto de, numa cena como esta, elaborar a própria crítica formal do dispositivo mais tradicional. Assim, o tenente Dunbar (Costner) penetra sozinho na paisagem, como uma personagem, não conquistadora, mas sobrevivente: embora do lado vencedor da União (veja-se a bandeira), passou a ser um indivíduo solitário, sem terra própria; além do mais, vêmo-lo como aquele que parte para a paisagem, de costas para a própria câmara, isto é, sem mais-valia mitológica automaticamente garantida.
A beleza desta nova disponibilidade para contemplar/filmar o horizonte é tanto mais forte quanto Danças com Lobos mantém uma relação criativa com o mais genuíno património espectacular de Hollywood — o uso do formato largo (scope) funciona também como o estabelecimento de uma relação directa com a crença nunca vencida na transcendência latente do espaço.

> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem / Haverá Sangue / Apocalypse Now.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Teledisco de palco

Ano Madonna - 13
Mer Girl, Drowned World Tour (2001)

Com a evolução tecnológica e as muitas modas do "video" e do
"multimedia", o ecrã de video tornou-se peça fulcral de muitos palcos. Da inovação ao lugar-comum, o caminho foi curto e rápido, de tal modo que, hoje em dia, muitas vezes, se reduz a um acessório "decorativo". Madonna, não exactamente um exemplo de seguidismo das modas dos outros, tem sabido utilizar os ecrãs como elementos eminentemente criativos dos seus espectáculos. Na Drowned World Tour — iniciada a 9 de Junho de 2001, no Palau San Jordi (voltaremos ao assunto) — avançou com um novo conceito. A saber: o teledisco composto para o palco. Assim, em passagens de um quadro para outro, os ecrãs funcionaram como "intervalos" onde pudemos assistir a materiais especificamente concebidos para as suas superfícies: em pose de gueixa nostálgica, com Paradise (Not For Me) [foto de cima], e em gueixa literalmente descomposta, com Mer Girl, mas conservando sempre o privilégio da derradeira ironia — dirigido por Dago Gonzalez, é este o video.

A nova pop dos camponeses

Chamam-se Los Campesinos, vêm do País de Gales e acabam de editar, para já apenas em formato digital, o seu álbum de estreia, Hold On Youngster. Para decobrir uma nova ementa pop revigorante e sem corantes nem conservantes, aqui fica o teledisco de You! Me! Dancing!

Em conversa: Osvaldo Golijov (1)

Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com o compositor argentino Osvaldo Golijov, que serviu de base a um artigo publicado no DN.

Há que o considere o primeiro compositor do século XXI. O que quer isto dizer?
Não faço a mínima ideia... Talvez seja uma ideia que tenha mais a ver com um conceito de remissão que até de evolução. Talvez eu esteja mais próximo do conceito do artesão musical da Idade Média que do compositor romântico e do paradigma do génio... Tem a ver também com ser-se conhecido pela obra, e não pelo nome. Como nas grandes catedrais medievais, em que uma pessoa fez o dragão, outra esculpiu. Se eu for o que fez o dragão ou o anjo na catedral, fico bem. Por outras, palavras, sinto que, daqui a 100 anos, o que vai interessar não será o testamento deixado por um gigante, mas antes uma ideia do que era o som do nosso tempo.

Não há lugar para o paradigma do génio no mundo actual?
Acredito que haverá sempre espaço para um Leonardo da Vinci, um Einstein, um Beethoven. Mas, se não se é um Beethoven, é preferível agir como um grande realizador de cinema, como Fellini, e sentir o que se passa à nossa volta, criando trabalhos que são quase como um organismo. É claro que somos nós quem dirige, quem molda, quem esculpe. Mas não vivemos fechados num quarto, surdos ao mundo lá fora. Isso é o que estou a fazer. E talvez esta ideia explique esse conceito.

Sente-se um homem do nosso tempo? Ou seja, um compositor que traduz o que é viver o nosso tempo...
Sim, nesse sentido concordo com a ideia. Pessoalmente, o que faço não se aproxima em nada a um Beethoven. Mas o meu trabalho tem a verdade do nosso tempo. Naturalmente, se um novo Beethoven surgir, serei o primeiro a reconhecer a honra de viver no seu tempo. O que se fala hoje é do confronto entre o modelo do génio solitário e do artista que vive a sociedade do seu tempo.

Esse espaço de solidão do génio, como sugere, seria possível nesta idade da comunicação global?
É por isso que me parece pouco possível... E é também por isso que os grandes avanços a que temos assistido têm mais a ver com trabalhos de colaboração, de comunicação. Há mais redes de comunicação que isolamento. É claro que haverá quem tente fazer o contrário... Mas veja-se o cinema. Não se faz sozinho. Precisamos de actores, câmaras, tantas coisas...

E a música?
Está a acontecer tanto ao nível dos diversos grupos humanos... Nos tempos de Beethoven, ou mais ainda, Mozart, era possível representar o espectro integral das emoções humanas. Hoje, dizer que um compositor de música erudita pode fazer isso é, no mínimo, presunção. Mesmo que tenha um conhecimento sobre o tango, o flamenco, o jazz, mesmo que consiga grandes feitos individuais (como o fizeram um Duke Ellington ou um Miles Davis), o que realmente interessa é o que a humanidade tem para dizer. Isto obriga a uma certa humildade. A acreditar nessa humildade...

E como podemos nós explicar a alguém qual é esse som da humanidade, nos dias em que vivemos?
Essa é uma magnífica questão! Que música poderíamos nós mostrar a visitantes de um outro planeta? A questão é mesmo tremenda... Diria que a possibilidade de cada um poder criar é talvez o que caracteriza a música do presente. Há cem anos havia um piano em cada grande casa. Há 30 anos as pessoas que gostavam de música já quase só a consumiam. Agora, com o computador, tudo mudou novamente. Vejo miúdos a tocar em bandas na escola, a fazer a sua própria música. Creio que, nesse sentido, a música vive um novo tempo de liberdade e cada um pode fazer música. Isso é o que de mais belo há na música de hoje. Houve esse tempo em que a maioria do mundo era ouvinte... É claro que sempre houve muita gente a cantar. Em casa, no campo, em festas, em funerais... Mas durante muito tempo poucos eram os profissionais da música. E hoje qualquer um pode fazer música...
(continua)

Duran Duran em documentário

Tem por título Something You Should Know e é um documentário essencialmente centrado na relação dos fãs dos Duran Duran com a banda que admiram. Realizado por M Douglas Silverstein (naquela que será a sua primeira experiência na realização), o filme deverá contar com a presença de alguns fãs de vulto, entre os quais os Scissor Sisters, No Doubt e Dido. Não há ainda data de estreia para o filme que, muito certamente, deverá eventualmente correr apenas o circuito dos festivais para, depois, ter edição em DVD.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Sob o olhar de Herb Ritts

Ano Madonna - 12
Foto de Herb Ritts para a capa de True Blue (1986)

É um momento definidor na trajectória de qualquer estrela. Ou seja: aquele em que uma imagem consegue condensar todas as ambivalências do seu próprio apelo mitológico, afirmando a estrela como aquela que oscila entre a exposição transparente e o enigma para sempre suspenso.
No álbum de infinitas imagens que (também) é a carreira de Madonna, esta poderá ser tida como essa imagem que, num momento muito preciso, a veio celebrar como entidade que já se libertou de qualquer dependência em relação às imagens dos/das outros/outras (mesmo que, depois disso, possa ter recorrido múltiplas vezes a essas imagens, "copiando-as" e reinventando-as). A fotografia de Herb Ritts para a capa do ábum True Blue (lançado a 30 de Junho de 1986) corresponde, além do mais, a laços de criatividade e amizade encetados durante a rodagem de Desesperadamente Procurando Susana (1985), ambiente em que Madonna também por ele foi fotografada. Aliás, na sua curta, mas significativa, actividade como realizador, Ritts viria a estrear-se com Madonna, dirigindo o teledisco de Cherish (1989), uma muito simples, mas tocante, fábula à beira-mar [aqui em baixo]. Faleceu em 2002, vitimado por sida, contava 50 anos.

Anti-Coen

Se se tratava de escolher entre os irmãos Coen e Paul Thomas Anderson, os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinemato-gráficas de Hollywood arrastam necessariamente um importante efeito simbólico: o formalismo dos primeiros sobrepôs-se à dimensão épica do segundo.
Estou, então, "contra" os Oscars? Bem pelo contrário: foi um espectáculo magnífico, espelho ambivalente do presente — cine-matográfico, tecnológico e político — e genuína celebração de Hollywood com todas as suas diferenças e contradições. Além do mais, mesmo declarando a minha paixão por Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson, não tenho a mínima pretensão de "julgar" a escolha de Este País Não É Para Velhos, de Joel e Ethan Coen, como melhor filme de 2007 (são sempre patéticos os discursos que tentam "acusar" a Academia por não coincidir com as "minhas" preferências).
Se algum objecto é visado nestas linhas é, tão só no plano estético, o edifício formal que, pacientemente, os Coen vão gerindo, em boa verdade desde a sua primeira longa-metragem, Blood Simple (1984), porventura, na minha perspectiva, o melhor dos seus filmes. Dito de outro modo: o seu cinema decorre de três princípios básicos:
— uma reconversão abstracta dos códigos de determinados géneros (do filme negro à comédia, passando pelo western);
— a redução temática desses géneros a um dispositivo automático de insistente misantropia;
— a prática de um sistema de auto-ironia que, em boa verdade, se transformou na componente vital de todas as cenas dos seus filmes.
Que me leva, então, a preferir a dramaturgia de Paul Thomas Anderson e, em particular, as convulsões emo-cionais de Haverá Sangue [na imagem, em cima: Daniel Day-Lewis]? Acima de tudo, e esquematizando, a carnalidade da sua relação com tudo aquilo que filma. Tudo aquilo que os Coen encenam como proeza formal(ista), incluindo o lugar da violência no imaginário icono-gráfico da América, ressurge em Paul Thomas Anderson como inextricável teia de corpos, geografias e ideologias.
No limite, a história de Haverá Sangue confunde-se com a saga mitológica da própria terra — cada personagem é uma peça irredutível de uma comunidade, em boa verdade uma nação, nunca aquietada na sua atracção contraditória pelo poder económico (o sangue da terra) e o impulso religioso (o sangue de Cristo). Nos Coen, o sangue é um adereço de luxúria formal: desfrutamo-lo como uma espécie de complemento de um "verismo" que nasce do esvaziamento da história colectiva. No filme de Paul Thomas Anderson, (re)formula-se a hipótese de um realismo colado à materialidade perturbante dos corpos.
A meu ver, o cinema dos Coen é um sucedâneo menor, mas de superfícies inegavelmente sedutoras, do trabalho que, nos anos 60/70, foi feito por autores como o italiano Sergio Leone. Ou seja: esvaziar a história e promover os sabores da retórica. Paul Thomas Anderson remete-nos para o património radical dos pioneiros, inclusivé para o realismo alucinado (ou alucinatório) de Eric Von Stroheim e do emblemático Greed [foto em baixo], datado de 1924. Que ambos se tenham cruzado de forma tão tensa e intensa na cerimónia dos Oscars, eis, em última instância, uma magnífica demonstração da vitalidade de Hollywood.

A consagração esperada dos Coen

Não foi surpresa. Este País Não É Para Velhos, de Joel e Ethan Coen sagrou-se o grande vencedor na cerimónia de entrega dos Oscares em Hollywood. O filme, que hoje assinala a abertura do Fantasporto e, quinta-feira, estreia nas salas portuguesas, somou quatro vitórias, mais concretamente nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado (a partir de um romance de Cormac McCarthy) e Melhor Actor Secundário (Javier Bardem). Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson, somou apenas duas estatuetas, uma para Melhor Fotografia, a outra para Melhor Actor (Daniel Day Lewis). Marion Cotillard (pela recriação de Edith Piaf em La Vie en Rose) venceu, também sem surpresa, a categoria de Melhor Actriz e Tilda Swinton, em Michael Clayton, arrebatou o Oscar para Melhor Actriz Secundária. Ratatouille, também era esperado, venceu como Melhor Longa Metragem de Animação... Da música, é melhor nem falar... A lista completa dos vencedores podem encontá-la aqui.

domingo, fevereiro 24, 2008

Bostridge: entre Schumann e Brahms

No Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, o Ciclo Ian Bostridge encerrou (domingo, 24 Fev., 19h00) com a revisitação de algumas peças de dois compositores alemães do século XIX — Robert Schumann e Johannes Brahms —, num recital em que imperou a sofisticação da relação do tenor inglês com o pianista, também inglês, Julius Drake. O menos que se pode dizer é que a herança romântica se expôs em toda a sua gama de contrastes e emoções, particularmente sensível no Lieder und Gesänge (Brahms) com que Bostridge terminou o concerto (que teria ainda três encores). Senhor de uma depurada técnica, Bostridge, acima de tudo, sabe expor a teatralidade intrínseca de cada frase, numa pose que lhe empresta uma discreta vulnerabilidade, enigmática e tocante. Bostridge estará de volta à Gulbenkian, a 12 de Maio, para uma récita do Idomeneo, de Mozart, em versão de concerto.

Músicas deste mundo

Em 2005, o Kronos Quartet solicitou a Terry Riley a composição de uma nova peça para assinalar o 70º aniversário do compositor. Assim surgiu The Cusp Of Magic (ed. Nonesuch), uma das mais ecléticas entre as obras recentes de Tery Riley, cruzando uma série de tradições e linguagens, nomeadamente referências de escolas ocidentais e elementos “exóticos” escutados em geografias e culturas diversas, com particular incidência nas heranças da música nativa norte-americana. A presença, com relativo protagonismo de Wu Man como solista abre mais ainda o mapa de eventos que Riley junta numa obra de evidente coesão musical. The Cusp of Magic é banda sonora para um rito estival, sugerindo o título, precisamente, o momento do solestício. O mundo prosaico, o da luz e do real, toma os acontecimentos, suplantando assim o fantástico e o reino das sombras. Dos quatro “pilares” de referência do minimalismo norte-americano (os outros três sendo La Monte Young, Steve Reich e Philip Glass), Tery Riley foi o que mais se afastou das linguagens e princípios que ajudou a definir nos anos 60. The Cusp Of Magic usa a repetição como uma das suas marcas de personalidade, mas em nada esse recurso é projecção da escola minimalista acima citada. Há, antes, aqui, uma assimilação de sugestões de transe e hipnotismo que provém de tradições mais remotas e menos vanguardistas, nomeadamente da música nativa norte-americana. É essa assimilação de marcas da terra, naturais num espírito com raizes californianas que, juntamente com a pipa de Wu Man e uma voz que sublinha esta outra geografia oriental, fazem de The Cusp Of Magic uma expressão interessante de uma expressão de identidade global. Na verdade, esta obra segue em tudo os vários caminhos já antes sugeridos na escrita de Riley, salvo apenas a curiosidade pelo jazz, aqui ausente. O encontro de culturas (e suas musicologias) serve de pretexto para, no fim, mais uma reflexão sobre a espiritualidade, esta talvez a mais constante marca de identidade ao longo de toda a obra do compositor.


A mais recente gravação da Kremetata Baltica, sob direcção de Gidon Kremer, para a ECM, reúne duas obras tardias de compositores marcantes na música do século XX. De Mahler apresenta-se o adágio da sua décima sinfonia, que deixou incompleta, em 1910. De Shostakovich, a 14ª, sinfonia que compôs em 1969 julgando então ser essa, muito possivelmente, a sua derradeira obra (na verdade viria a compor mais uma sinfonia, dois anos depois). É aqui particularmente arrepiante a abordagem a Mahler, numa leitura intensa, profundamente emocional, de uma obra que parece traduzir uma sensação de despedida. A abordagem de Kremer difere de outros arranjos já gravados da obra incompleta de Mahler, sugerindo a gravação um intenso assumir do adeus, que todavia termina sob marcas de irrevogável resignação.


Uma das gravações de música do século XX mais elogiadas de 2007 reúne uma série de obras de Francis Poulenc (1899-1963), entre si revelando sinais de busca pelo bucolismo perdido para ouvidos da grande cidade. Les Animaux Modèles, de 1940, foi o seu terceiro e último bailado, nascido de uma série de recontextualização de heróis de velhas fábulas de La Fontaine, humanizando-os, retratando-os no papel de camponeses. O campo é também cenário em Concert Champêtre, de 1926, havendo todavia quem descreva o “campestre” do título mais como uma alusão a tempos perdidos, que concretamente a uma geografia rural. Stefano Bolani (piano) é nestas duas gravações solista, à frente da Filarmionica ‘900 Del Teatro Regio di Torino, dirigida por Jan Latham-Koenig. Edição de autor, assegurada pela própria orquestra.

A IMAGEM: Alfred Eisenstaedt, 1952

Alfred Eisenstaedt
Marilyn Monroe [imagem reenquadrada], 1952

"Cherie"

Ano Madonna - 11
Vanity Fair, Abril 1991

A obsessão por Marilyn Monroe (1926-1962) funciona também como uma rejeição do silêncio imposto pela tragédia. Não se trata de a "copiar", mas de a citar — sabemos, de Picasso a Godard, que a prática da citação é uma componente vital da arte do nosso tempo. Em Abril de 1991, na Vanity Fair, Madonna surgia assim, apropriando-se da pose, do vestido e da aura de Marilyn em Bus Stop/Paragem de Autocarro (1956), de Joshua Logan — era uma de nove imagens [outra aqui em baixo], todas inspiradas em Marilyn, assinadas por Steven Meisel. No filme de Logan, ela chamava-se "Cherie"; um mês depois destas fotografias, era lançado o documentário Truth or Dare/Na Cama com Madonna.

sábado, fevereiro 23, 2008

Paisagens americanas (5)

Quando começa Apocalypse Now (1979), o rosto do capitão Willard (Martin Sheen) surge sobreposto às imagens de destruição que, por sua vez, se apresentam impregnadas pela voz de Jim Morrison e a música dos Doors — This is the end... são as primeiras palavras que ouvimos. Quando Willard se levanta da cama e espreita pela janela do seu quarto, diz: "Saigão".
Neste contexto, "Saigão" significa também: "Isto não é o meu país." No fundo, Francis Ford Coppola filma o exílio trágico dos americanos no Vietname, numa mudança de paisagem que envolve um processo de visceral esquizofrenia: por um lado, as personagens vivem a exterioridade do seu corpo face ao espaço que atravessam; por outro lado, a utopia matricial (regressar a casa) parece cada vez mais impossível de formular. Aliás, à medida que se aproxima do seu destino/alvo — o coronel Kurtz (Marlon Brando) —, Willard vai intuindo aquilo que, em boa verdade, todos sabemos desde o começo: Kurtz é tão só o espelho cruel do próprio Willard, quer dizer, a expressão delirante do mesmo vazio em que ambos se igualam. Daí o desespero que banha esta cena de abertura [aqui em baixo] de Apocalypse Now — o sangue de Willard, quando dá um soco no espelho, é verdadeiro.



> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem / Haverá Sangue.

La Graine et le Mulet: 4 x César

O filme La Graine et le Mulet foi o grande vencedor dos César, prémios do cinema francês. Realizado por Abdellatif Kechiche (A Esquiva), La Graine et le Mulet, uma produção de Claude Berri cujo realismo intimista já lhe valeu algumas comparações com a obra de Maurice Pialat, obteve quatro prémios: melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original (também de Kechiche) e melhor esperança feminina (Hafsia Herzi — foto).
Em destaque também no palmarés da Academia Francesa surgem, entre outros títulos, La Môme/La Vie en Rose (que valeu mais um prémio de melhor actriz a Marion Cotillard), Persepolis (melhor primeira obra e melhor argumento adadptado) e As Vidas dos Outros (melhor filme estrangeiro). La Graine et le Mulet tem estreia portuguesa prevista para o mês de Maio.

O regresso dos Spiritualized

Tem finalmente data de edição o sucessor do magnífico Amazing Grace (2003). O novo álbum dos Spiritualized vai ter por título Songs in A & E e chegará ao mercado a 19 de Maio. Antes, um cartão de visita será apresentado na forma do single Soul on Fire. Para acompanhar o lançamento do álbum o grupo reunir-se-á para alguns concertos ao vivo, estando já marcados cinco, em finais de Maio, todos eles no Reino Unido. O álbum apresentará um total de 18 faixas, seis das quais são interlúdios, todos eles identificados como "harmony".

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

O segundo Oscar?

Que acontece quando uma estrela de cinema é tão liberal que nem sequer convida o jornalista para ir a sua casa? Ou seja: que acontece quando a estrela aceita o convite para ir jantar... a casa do jornalista? Foi essa experiência que Joel Stein viveu, com resultados gastronómicos não muito brilhantes, mas produzindo uma bela peça jornalística, ao mesmo tempo reportagem na primeira pessoa, retrato de um actor que não tem medo de se rir de si próprio e reflexão sobre o que significa, hoje em dia, ser uma star. Está tudo no próximo número da Time (data: 3 Março; chega a Portugal na segunda-feira) e vale a pena ler. E, já agora, especular um pouco, admitindo que este pode ser um sinal fortemente simbólico de um Oscar de melhor actor (o segundo, depois do de melhor secundário, há dois anos, em Syriana) pela fabulosa interpretação de Michael Clayton. Sem ofensa para Daniel Day-Lewis.

Uma menina no (seu) país

Com carreira notável no circuito dos festivais, e nomeado na categoria de Melhor Longa Metrage, de Animação para os Oscares deste ano, Persépolis é um dos mais interessantes filmes de animação dos últimos tempos. Não é mais que o resultado da adaptação ao cinema da graphic novel autobiográfica da iraniana Marjane Satrapi (publicada em dois volumes entre 2003 e 2005), mantendo o traço, a narrativa, a sua verve crítica e clara contextualização política. O filme apresenta-se essencialmente a preto e branco, a cor assinalando apenas as cenas presentes a partir das quais a protagonista lança as memórias que depois recorda.
Realizado pela própria Marjane Satrapi, em colaboração com Vincent Paronnaud, Persépolis tem o cuidado de assegurar a necessária contextualização política e social que, no fundo, é mais que mero cenário onde evolui a narrativa que acompanhamos e cujo centro gira em volta da família de Marjane, típico exemplo de classe média urbana e instruída, sonhando com a mudança, sob o regime do Xá.
As revoltas que estalam e desencadeiam a queda da monarquia, a libertação de presos e uma atmosfera de esperança são parte da história da infância da pequena Marjane. O seu tio, assim como outros ideólogos e activistas de esquerda, estarão contudo entre as primeiras vítimas da revolução islâmica que, ao olhar da menina iraniana, levam o país de um regime repressivo a outro não muito diferente. As mudanças, sobretudo de comportamentos, decretadas pelo regime islâmico, em nada encaixam no espírito rebelde da pequena Marjane, agora uma estudante liceal, que um dia sai para a rua de blusão onde se lê “Punk is not ded” (sim, "ded"), procurando música no mercado negro, acabando por comprar uma cassete dos Iron Maiden. Duas mulheres interceptam-na, criticam os seus modos ousados, que reprovam e preparam para castigar. Parte da vida de Marjane Satrapi passou também pela cidade de Viena, na Áustria, seguindo o filme esse percurso. Aí encontra outros obstáculos, outras incompreensões e uma série de desgostos de amor que a levam a querer regressar ao seu país natal que, todavia, torna depois, e definitivamente, a abandonar. Apesar do contexto histórico e político, o cerne da acção de Persépolis gira em torno de Marjane, da sua transformação de menina em mulher e do acompanhar da sua família que, mesmo sob adverso clima político, não deixa nunca o seu país. Um elenco de peso dá voz a todas estas personagens. Chiara Mastroiani é Marjane. Catherine Deneuve interpreta a sua mãe e Danielle Darrieux a avó.
PS. Versão editada de texto publicado no DN

O 'disco' mal amado pela banda

Discografia Duran Duran - 6
'My Own Way' (single), 1981

O quarto single dos Duran Duran, lançado em Novembro de 1981, representou a partida para o seu segundo álbum, que seria apenas lançado quase seis meses depois. Gravado em Outubro, ou seja, muito antes das demais canções que depois surgiriam em Rio, My Own Way assinalava evidente afastamento do som apresentado no álbum de estreia, apostando numa revinvenção do legado do disco na forma de uma canção pop rápida e melodiosa, destacando-se na sua estrutura uma camada de ‘disco strings’ tocadas nos teclados pelo próprio Nick Rhodes. No lado B era incluído Like An Angel, tema mid tempo que pisca o olho ao tom delicado do som contemporâneo dos Roxy Music. O single ficou aquém do esperado, atingindo apenas o número 14 no Reino Unido. Em Portugal foi, contudo, um dos maiores sucessos dos Duran Duran, tendo-se mantido por sete semanas no primeiro lugar. Houve, inclusivamente, uma edição especial do single para o mercado português (ver abaixo). O grupo, aparentemente, desenvolveu uma má relação com My Own Way, nunca tendo incluído o single nas compilações ‘oficiais’ Decade ou Greatest.




O teledisco de My Own Way, realizado por Russel Mulcahy, é um dos mais invisíveis dos Duran Duran na história da MTV ou VH1. Todavia, foi presença regular na televisão portuguesa entre 1981 e 82. Com cenário e banda a preto, branco e vermelho, é integralmente rodado em estúdio, juntando aos músicos dançarinos de qualquer coisa parecida com flamenco (aceitando assim a sugestão do grafismo da capa do single) e um papagaio vermelho, que se passeia sobre o teclado de Nick Rhodes.

Houve uma edição especial, com capa diferente, da versão sete polegadas de My Own Way para o mercado português (o máxi-single nunca teve lançamento local). Com uma foto da banda na capa, o single incluía o mesmo alinhamento da edição oficial internacional. Além da capa diferente, um extra desta edição portuguesa era um autocolante, com a mesma foto da banda, incluso no disco. Uma edição portuguesa completa (ou seja, com o autocolante), pode ter algum valor no circuito do coleccionismo.

Air reeditam 'Moon Safari'

A assinalar os dez anos da edição de Moon Safari, os Air vão reeditar o seu álbum de estreia a 31 de Março. A reedição surgirá num formato de CD duplo, apresentando o CD2 uma série de temas gravados ao vivo em sessões de rádio (na BBC e KCRW), remisturas (uma delas de Beck) e demos.

Inédito de José Cardoso Pires

A notícia, para já: José Cardoso Pires (1925-1998) volta a marcar a actualidade literária portuguesa, graças à edição do inédito Lavagante. Elaborado ao longo de vários anos (cerca de 1963-68), uma versão ainda muito reduzida foi objecto de publicação na revista O Tempo e o Modo (nº 11, Dez. 1963). Agora, Lavagante, já em segunda edição, é a primeira aposta forte das Edições: Nelson de Matos.

Tradição liberal

No filme Michael Clayton, ao contracenar com Sydney Pollack, George Clooney cumpre uma espécie de viagem simbólica eminentemente cinéfila e visceralmente americana. Dito de outro modo: o filme escrito e dirigido por Tony Gilroy é um herdeiro muito directo de uma tradição liberal que, justamente, tem em Pollack uma referência vital.
Basta lembrar títulos alguns títulos realizados por Pollack, como o melodrama The Way We Were/O Nosso Amor de Ontem (1973), o "thriller" Os Três Dias do Condor (1975) ou o drama de tribunal Absence of Malice/A Calúnia (1981) — o que os une é o conflito entre o individual e o colectivo, num processo contraditório de revelação da consciência ética de cada um, justamente uma matriz decisiva daquela tradição. E raras vezes vimos, como em Michael Clayton, uma tão subtil capacidade de expor todos esses problemas num espaço eminentemente moderno: o das alianças entre a advocacia e as grandes corporações económicas. Para que todas estas coisas façam (ainda mais) sentido, Pollack é também produtor de Michael Clayton, através da empresa de que é sócio, a Mirage Enterprises.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Bowie canta com Scarlett Johansson

David Bowie vai cantar em dois temas do álbum da actriz Scarlett Johansson, que tem data de edição marcada para 20 de Maio. O disco, com o título Anywhere I Lay My Head é essencialmente um álbum de versões de canções de Tom Waits, às quais se junta o original Song For Jo. A produção está a cargo de Dave Sitek, dos TV On The Radio.

No centro da Europa

Os Get Well Soon são, sob a liderança de Konstantin Gropper, um colectivo dividido em volta das cidades de Berlim, Londres, Manheim e Dublin, mas com sede essencialmente localizada na Alemanha onde, de resto, darão em Abril extensa digressão de suporte ao lançamento do álbum Rest Now, Weary Head! You Will Get Well Soon. Para descobrir o álbum, aqui fica o single Christmas In Adventure Parks.