Ao menos a tragédia de Os Grandes Portugueses trouxe algumas ideias para a praça pública sobre as muitas dificuldades (sociais e institucionais) que temos em lidar com o nosso passado recente. Ainda bem: perante uma televisão que repele o desejo de pensar, ao menos que se pense.
No entanto, importa rejeitar o maniqueísmo que rapidamente muitos quiseram favorecer (incluindo o discurso oficial da RTP). Assim, o que está em causa não é um jogo entre duas únicas vias de pensamento: de um lado estariam os que se revoltam contra o peso de "Salazar" no nosso imaginário político e moral; do outro ficariam os que querem "culpar" a RTP de todos os males do país.
Importa, sobretudo, reagir ao infantilismo que semelhante dicotomia quer favorecer. Primeiro, porque a necessidade de lidarmos com o nosso passado e, em particular, com a ditadura salazarista é muito anterior a este (dito) concurso — é mesmo um dos impasses que, infelizmente, a nossa democracia não tem sabido resolver. Depois porque não se trata de responsabilizar a RTP pela "vitória" de Salazar. Nada disso: trata-se, sim, de responsabilizar a RTP por gastar o seu/nosso tempo com iniciativas como esta que, em nome do "divertimento", reduzem a nossa complexa e dolorosa história colectiva a um jogo anedótico de chamadas de valor acrescentado.
Não é um campeonato que interessa discutir. Não podemos fixar os problemas no "campeão" de tão disparatado aparato colectivo. Houve mesmo quem, muito antes do final, tivesse sublinhado que perderíamos todos, fosse qual fosse o resultado. Já agora, que a RTP não se atreva também a reduzir o mundo à sua volta aos "debates" de prós e contras que tanto gosta de promover. Neste país ainda há quem tenha cabeça para pensar sem pedir licença à televisão — chama-se a isso democracia.
No entanto, importa rejeitar o maniqueísmo que rapidamente muitos quiseram favorecer (incluindo o discurso oficial da RTP). Assim, o que está em causa não é um jogo entre duas únicas vias de pensamento: de um lado estariam os que se revoltam contra o peso de "Salazar" no nosso imaginário político e moral; do outro ficariam os que querem "culpar" a RTP de todos os males do país.
Importa, sobretudo, reagir ao infantilismo que semelhante dicotomia quer favorecer. Primeiro, porque a necessidade de lidarmos com o nosso passado e, em particular, com a ditadura salazarista é muito anterior a este (dito) concurso — é mesmo um dos impasses que, infelizmente, a nossa democracia não tem sabido resolver. Depois porque não se trata de responsabilizar a RTP pela "vitória" de Salazar. Nada disso: trata-se, sim, de responsabilizar a RTP por gastar o seu/nosso tempo com iniciativas como esta que, em nome do "divertimento", reduzem a nossa complexa e dolorosa história colectiva a um jogo anedótico de chamadas de valor acrescentado.
Não é um campeonato que interessa discutir. Não podemos fixar os problemas no "campeão" de tão disparatado aparato colectivo. Houve mesmo quem, muito antes do final, tivesse sublinhado que perderíamos todos, fosse qual fosse o resultado. Já agora, que a RTP não se atreva também a reduzir o mundo à sua volta aos "debates" de prós e contras que tanto gosta de promover. Neste país ainda há quem tenha cabeça para pensar sem pedir licença à televisão — chama-se a isso democracia.