Realizado pela própria Marjane Satrapi, em colaboração com Vincent Paronnaud, Persépolis tem o cuidado de assegurar a necessária contextualização política e social que, no fundo, é mais que mero cenário onde evolui a narrativa que acompanhamos e cujo centro gira em volta da família de Marjane, típico exemplo de classe média urbana e instruída, sonhando com a mudança, sob o regime do Xá.
As revoltas que estalam e desencadeiam a queda da monarquia, a libertação de presos e uma atmosfera de esperança são parte da história da infância da pequena Marjane. O seu tio, assim como outros ideólogos e activistas de esquerda, estarão contudo entre as primeiras vítimas da revolução islâmica que, ao olhar da menina iraniana, levam o país de um regime repressivo a outro não muito diferente. As mudanças, sobretudo de comportamentos, decretadas pelo regime islâmico, em nada encaixam no espírito rebelde da pequena Marjane, agora uma estudante liceal, que um dia sai para a rua de blusão onde se lê “Punk is not ded” (sim, "ded"), procurando música no mercado negro, acabando por comprar uma cassete dos Iron Maiden. Duas mulheres interceptam-na, criticam os seus modos ousados, que reprovam e preparam para castigar. Parte da vida de Marjane Satrapi passou também pela cidade de Viena, na Áustria, seguindo o filme esse percurso. Aí encontra outros obstáculos, outras incompreensões e uma série de desgostos de amor que a levam a querer regressar ao seu país natal que, todavia, torna depois, e definitivamente, a abandonar. Apesar do contexto histórico e político, o cerne da acção de Persépolis gira em torno de Marjane, da sua transformação de menina em mulher e do acompanhar da sua família que, mesmo sob adverso clima político, não deixa nunca o seu país. Um elenco de peso dá voz a todas estas personagens. Chiara Mastroiani é Marjane. Catherine Deneuve interpreta a sua mãe e Danielle Darrieux a avó.
PS. Versão editada de texto publicado no DN