
Irónico, sem dúvida. Muitos cidadãos do nosso país, alguns com responsabilidades mediáticas, gostam de proclamar, por exemplo, que "ninguém" vai ver filmes portugueses e outras manifestações artísticas... Entretanto, nunca se fala das limitações financeiras da produção do cinema português (literalmente miserável face aos milhões que o futebol movimenta). Nada se diz do quase nulo investimento na sua difusão e promoção (enquanto o futebol é objecto de divulgação maciça, diária, quase instante a instante). Ironia ainda maior se nos lembrarmos que os jogos citados envolviam três equipas "grandes" e, dessas três, apenas uma teve direito a transmissão televisiva: ao contrário do que acontece, por exemplo, em Inglaterra, não há uma cultura desportiva consistente que garanta uma popularidade global do futebol — apenas fenómenos de concentração de espectadores em alguns jogos.
Nada tenho contra o futebol e a sua magia enquanto jogo. Sou, aliás, um consumidor regular e interessado do futebol televisivo. Em situações como a desta quarta-feira, apenas acho que falta imaginação colectiva aos... cineastas portugueses! Sendo a sua actividade tão vulgarmente massacrada por muitos lugares-comuns, uns equívocos, outros simplesmente mentirosos, por que não dizem alguma coisa sobre estado de coisas? Era, pelo menos, uma maneira de deslocar o debate e introduzir algumas ideias frescas.
(Como se isto não bastasse, a jornada de quarta-feira foi, em termos puramente futebolísticos, um imenso e deprimente desastre...)