terça-feira, maio 30, 2006

Final Fantasy no Sudoeste

O projecto Final Fantasy, de Owen Palett, é mais um dos nomes certos no palco secundário na edição deste ano do Festival Sudoeste. A notícia foi-me dada pelo próprio Owen, a manager ao lado a garantir a confirmação. Owen deverá apresentar um concerto certamente baseado no novo, e soberbo, He Poos Clouds, até ao momento um entre os três melhores discos do ano.

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Gnarls Barkley "apagam" single

A dupla Gnarls Barkley vai voltar a fazer história. Depois de terem assegurado, com Crazy, a primeira inscrição de uma single no primeiro lugar da tabela de singles britânica apenas com downloads, e de terem permanecido naquele lugar por nove semanas (a mais longa presença no número um desde 1994, então com os inenarráveis Wet Wet Wet), acabaram de “apagar” o single Crazy (que se pode continuar a comprar, apenas, como parte do seu álbum de estreia). A ideia, que acaba imediatamente com a carreira no top do seu single, tem como justificação a vontade dos Gnarls Barkley concentrarem as atenções no seu segundo single, Smiley Fever, a editar no próximo dia 17 de Julho. A idade do "delete" chegou à música!

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Singles: Archies, 1969

Em 1968, para dar vida e som a um desenho animado televisivo, foram criados os Archies, cujo sucesso global de um primeiro single, Sugar Sugar e, logo depois, Jingle Jangle, obrigou a ter vida mais longa que o originalmente previsto. O grupo foi criado pelo produtor Don Kirshner, que já tinha trabalhado com os Monkees, com o propósito original de gravar uma canção, semanalmente, para os desenhos animados do canal da CBS, The Archie Show. O sucesso dos discos deu-lhes pontualmente amplitude maior, sobretudo na rádio. Nascera, portanto, como uma cartoon band (a primeira da história), mas o sucesso dos desenhos animados e, mais ainda, do single que editaram em 1969, deles fez um inesperado fenómeno global, o seu nome a extravazar, rapidamente, o espaço do pequeno ecrã e a instalar-se, sobretudo, nas rádios. Contudo, e ao contrário dos Gorillaz (a mais bem sucedida cartoon band da história), os Archies nunca usaram as suas identidades em promoção na imprensa, nem a sua fisionomia na imagem dos cartoons. Foram, sempre, uma cartoon band, capas dos discos entregues sistematicamente a desenhos ou fotos de outros que não os “membros” de um grupo que na verdade nunca o foi, Don Kishner a assegurar a presença habitual de um conjunto fixo de músicos de estúdio, nenhum deles com sonho permitido de futuro enquanto banda, sem a caução do desenho animado que lhe dava nome e razão de ser. Contudo, quando Sugar Sugar rompe o espaço televisivo e se transforma num êxito planetário, a tentação de rentabilizar a receita de sucesso quase perverteu a intenção original do projecto. A consciência que se tratava de um caso de one-hit wonder, apesar do ainda visível impacte (menor) do sucessor Jingle Jangle, chegou logo depois, e o nome dos Archies rapidamente saiu do mapa. Dois anos depois tudo não passava de memória. E os músicos (de estúdio) que tinham gravado os discos dos Archies estavam entregues a outras sessões.
Esta canção traz-me uma história pessoal de bastidores. Em Alvalade, 1997, numa sala do backstage do concerto dos U2, estava em conversa com The Edge (juntamente com o meu tio LPA e a Teresa Lage), quando sugeri ao guitarrista dos U2 que, entre a selecção de temas que podia tocar no seu número de karaoke, a meio do concerto, Sugar Sugar talvez fosse o mais familiar da plateia lisboeta. Assim foi.

THE ARCHIES “Sugar Sugar” (RCA, 1969)
Lado A: Sugar Sugar (Barry/Kim)
Lado B: Melody Hill (Barkon/Adams)
Produção: Don Kirshner
Posição mais alta na tabela inglesa: 1

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segunda-feira, maio 29, 2006

Discos da Semana, 29 de Maio

Tom Verlaine “Songs And Other Things”
14 anos depois de The Wonder (e 12 volvidos sobre o mais recente Warm And Cool, registo de instrumentais), Tom Verlaine regressa com um dos seus melhores álbuns de sempre. O seu estilo vocal mantém intactas as idiossincrasias dos dias de 70, mas ganhou características nasaladas, e seu tom desceu, uma tranquilidade narrativa acompanhando hoje as suas palavras (sempre crípticas, não menos difíceis de descodificar que outrora). O jazz atravessa por vezes, sempre discreto, um terreno essencialmente feito de canções pop mid-tempo onde as guitarras e a voz de Verlaine partilham protagonismo com uma ambição que faltara ao belo, mas pouco marcante The Wonder. As canções são perfeitos exemplos de uma composição de autor onde a personalidade é claramente demarcada, a interpretação, sobretudo a guitarra, sublinhando mais ainda as marcas de identidade de um grande autor. Os dois discos que agora edita não representam necessariamente um desejo de regresso às origens, nem mesmo traduzem uma via para reclamar para si as atenções justificadas perante um pedestal do legado punk nova-iorquino, em tempo de muitos novos ouvidos ali apontados. Mas ninguém o impediu de recuperar alguns parceiros desses tempos, nomeadamente o baterista de Patti Smith, Jay Dee Daugherty, e o baixista dos Television, Fred Smith, em Songs And Other Things e o baterista dos Television, Bill Ficca, em Around.

Tom Verlaine “Around”
Around, o álbum de instrumentais, é algo completamente diferente. Não se trata exactamente de um sucessor de Warm And Cool, parecendo antes mais próximo de ideias de paisagismo áudio próximas do que algumas imagens de cinema possam solicitar a um compositor. Acontece que, em disco, a imagem não mora, acabando a música por soar sempre a uma peça incompleta. Sugerem-se quadros impressionistas que nos projectam para uma mítica América industrial feita de máquinas e corpos gastos pelo tempo. Mas a maior parte dos temas não passam de ideias soltas, vinhetas alongadas, que raramente acabam por definir um chão coeso. Agradável, sem dúvida, mas longe de arrepiante, mais pano de fundo que corpo que se sente.

Stuart Staples “Leaving Songs”
Depois de um disco de estreia a solo que mais não era que uma colecção de sessões avulsas transformado num alinhamento sob um mesmo título, este disco corresponde agora, de facto, a um disco em nome próprio, com principio, meio e fim. Começa bem, com um flirt curioso com a herança de Leonard Cohen. Acaba bem com uma balada sussurrada com travo a maresia (que a capa do disco logo sugere). Mas o “meio” é comprido, monótono, em novas doses de mais do mesmo, Tindersticks ainda bem evidentes em tudo o que é escrita, arranjo e interpretação. Há duetos interessantes com Lhasa de Sela e Maria McKee, mas fora dessas excepções, o disco é morno, dormente, lusco-fusco de acontecimentos onde a luz ameaça mas nunca entra. O que não será necessariamente mau agoiro para os admiradores de Stuart Staples, que aqui o reencontrarão, como sempre, igual a si mesmo. Por mim, contudo, passo…

You Should Go Ahead “You Should Go Ahead”
Houve duas grandes revelações no primeiro TMN Garage Sessions em 2005. Os Woman In Panic (decididamente os musicalmente mais visionários e promissores dos projectos a concurso) e os You Should Go Ahead, bandas que partilhavam, curiosamente, um mesmo vocalista e timoneiro. Um ano depois da promessa, os You Should Go Ahead editam um álbum no qual projectam um rock animado a heranças captadas na escola pós-punk de finais de 70, referências dos Gang Of Four a Wire (de primeira etapa) evidentes num conjunto de canções que se enquadram perfeitamente num quadro “novo rock” que nos chega de cada vez mais origens. Estão no tempo certo, com o tempo certo, um conjunto interessante de canções (Like When I Was Seventeen a mais conhecida, outras a merecer sê-lo também), e a melhor capa que a pop portuguesa viu nos últimos anos.

Señor Coconut “Yellow Fever!”
Atom Heart continua a saga “salsera” em redor de ícones da música electrónica. Desta vez esteve na sua mira o legado fundamental da Yellow Magic Orchestra, num trabalho que aceitou parcerias, dos Mouse On Mars a Towa Tei, de Burnt Fridman a Schneider TM e, surpresa das surpresas, os próprios Yellow Magic Orchestra (Sakamoto, Takahashi e Osono), cada qual em sua peça distinta. Apesar de uma mais evidente condimentação lounge, a lógica transformista mantém-se igual, por vezes repetitiva. Mas não falta a boa sobremesa, como se escuta em Mambo Numerique, raro travo de novidade numa receita de sabor já gasto

Também esta semana: Expensive Soul, Clear Static, Radio 4, Frank Black, Spiritualized, Death From Above 1979, Can (reedições), Paul Simon, Neil Young

Brevemente:
5 Junho: Sonic Youth, Primal Scream, Scritti Politti, Feist (remisturas), Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens, Velvet Underground (antologia), Kudu, Ed Harcourt
10 Junho: Daniel Johnston, Infadels, The Upper Room, Catpeople, Whitest Boy Alive

Discos novos ainda este ano: Woman In Panic, U-Clic, GNR (best of com inéditos, em Junho) Muse, Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, maio 28, 2006

Postal de Cannes, 28 de Maio de 2006 (2)

Assim vai o mundo. Num festival onde, para além de uma competição com alguns filmes muito discutíveis (francamente menos ricos, temática e formalmente, que vários outros vistos nas secções paralelas), o júri, presidido por Wang Kar-Wai, preferiu optar pelos terrenos seguros do academismo "a la BBC" — resultado: Palma de Ouro para The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach.
Nada contra Loach, entenda-se, que é uma referência incontornável do cinema britânico, nomeadamente nos anos 60/70 com o relançamento da sua nobilíssima tradição realista. Nada também contra o valor didáctico deste filme que, à boa maneira de um telefilme politicamente correcto, nos fornece informações úteis sobre a evolução da luta dos católicos contra o exército inglês, na Irlanda de 1920. O problema é outro: que foi feito, por exemplo, de Il Caimano, de Nanni Moretti, ou Juventude em Marcha, de Pedro Costa (na foto), sem dúvida dois trabalhos que não dão o cinema como adquirido, antes o forçam a interrogar e discutir as nossas formas de percepção e leitura do mundo? Resposta: pura e simplesmente, ficaram fora dos prémios.
E que dizer da opção por prémios colectivos (?) nas categorias de interpretação? Muito provavelmente, a organização do festival ver-se-á compelida a alterar os seus regulamentos, de modo a evitar estas "abrangências" tão gratuitas quanto, inclusivamente, inadequadas à imagem pública dos filmes.
Para a história, como se costuma dizer, ficam os prémios. Mas podemos apostar que algo da história futura do cinema se vai fazer com nomes e referências que passaram por Cannes mas não estão neste palmares.

* PALMA DE OURO — The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach (Gra-Bretanha)
* GRANDE PRÉMIO — Flandres, de Bruno Dumont (Franca)
* INTERPRETAÇÃO FEMININA — Elenco: Penelope Cruz, Carmen Maura, Lola Duenas, Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave de Volver, de Pedro Almodovar (Espanha)
* INTERPRETAÇÃO MASCULINA — Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila e Bernard Blancan de Indigenes, de Rachid Bouchareb (Franca)
* REALIZAÇÃO — Alejandro Gonzalez Inarritu (Mexico), por Babel
* ARGUMENTO — Pedro Almodovar, por Volver
* PRÉMIO DO JÚRI — Red Road, de Andrea Arnold (Espanha)

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Postal de Cannes, 28 de Maio de 2006 (1)

Subitamente, compreendemos que a história do cinema tem tanto de projecção nas sombras do futuro como de revisitação das iluminações do passado. A encerrar a secção "Cannes Classics", o festival deu a ver uma esplendorosa cópia restaurada de Cabiria (1914), de Giovanni Pastrone, título clássico do cinema italiano e, um ano antes de O Nascimento de uma Nação (Griffith), um momento absolutamente decisivo no desenvolvimento da gramática cinematográfica — mais do que isso: um filme de elaboração de um olhar especificamente cinematográfico (e épico), liberto de qualquer dependência teatral.
A cópia foi restaura pelo Museo Nazional del Cinema (Turim) e surge com o patrocínio de Martin Scorsese. Embora ainda sem data anunciada, deverá ser objecto de uma edição especial em DVD, com a chancela da Criterion Collection.

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Retrovisor Tour 06: Matosinhos

O lançamento do livro Retrovisor, biografia musical de Sérgio Godinho, tem hoje lugar em sessão na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos, pelas 18.00. Estaremos presentes, eu e o Sérgio, para falar do livro... Os primeiros exemplares do Retrovisor estarão ali disponíveis. E, ainda hoje, deverão, também, começar hoje a chegar às bancas das feiras do livro de Lisboa e Porto.

Lisboa: A apresentação do livro, originalmente marcada para terça-feira, foi entretanto adiada para domingo, dia 4 de Junho, pelas 21.00. O lançamento do livro em Lisboa decorrerá no Auditório da Feira do Livro.

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sábado, maio 27, 2006

Postal de Cannes, 27 de Maio de 2006

Nanni Moretti dirigindo Margherita Buy: é uma magnífica foto de rodagem (de Il Caimano, um dos mais belos filmes da competição) e também uma imagem que pode resumir o essencial de um festival em que, de facto, o factor humano pesou. Das facilidades retóricas do filme de abertura (O Código Da Vinci) até à ostentação gratuita do mais corrente cinema tecnológico (sensível, uma vez mais, no derradeiro título a concurso: El Labirinto del Fauno, de Guillermo Del Toro), o cinema mais formatado foi sempre superado pelos filmes que arriscam na instabilidade do humano, na insuficiência das ideologias e na ambivalência das emoções.
Amanhã, domingo, pelas 18h30 (hora portuguesa), saberemos qual as escolhas do júri presidido por Wang Kar-Wai. Para além das inevitáveis, e salutares, subjectividades que um palmarés sempre implica, esperemos, sobretudo, que o leque de premiados possa reflectir a pluralidade criativa que, à margem do imediatismo mediático e do marketing, acabou por prevalecer em Cannes. Nesta perspectiva, permito-me ceder a um exercício benigno que, esclareça-se, não tem nem pretende ter nada de "previsão". Ou seja: apenas aqueles que seriam os prémios principais do "meu" palmarés, tentando combinar o gosto pessoal com uma visão abrangente da própria diversidade do certame:

* Palma de Ouro: Babel, de Alejandro Ganzalez Inarritu
* Grande Prémio: Juventude em Marcha, de Pedro Costa
* Actor: Gérard Depardieu, em Quand J'étais Chanteur
* Actriz: Hao Lei, em Summer Palace

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Discos Voadores, 27 de Maio

No momento em que chegam aos nossos escaparates dois novos discos de Tom Verlaine, uma viagem pela sua obra, recordando também parceiros dos dias em que o músico se revelava, com os Television, na Nova Iorque de meados de 70.

Elephant “Sirens”
The Idle Hands “Loaded”
The CatPeople “Everyone Can Tell You”
Forward Russia! “Nine”
Spartak “Spartak!One”
The Raconteurs “Broken Boy Soldier”
Tom Verlaine “Documentary”
Wordsong “Opiário”
Feist “Mushaboom (Postal Service Remix)”
Fiery Furnaces “I’m Waiting To Know You”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
The Knife “Marble House”
Jona Lewie “You’ll Always Find Me In The Kitchen At Parties”
Mates Of State “Fraud In The 80’s”

Final Fantasy “Arctic Circle”
Sufjan Stevens “Variations On Comemorative Transfiguration & Communion At Magruder Park”
Dead Combo “Ai Que Vida!”
Tom Verlaine “A Stroll”
Tom Verlaine “Pillow”
Tom Verlaine “Heavenly Charm”
Television “See No Evil”
Richard Hell & The Voidoids “Love Comes In Spurs”
Jonathan Richman & The Modern Lovers “Roadrunner”
Tom Verlaine “The Earth Is In The Sky”
Patti Smith “Mother Rose”
David Byrne “Glass, Concrete And Stone”
Television “Beauty Trip”
Daniel Johnston “Lonely Song”
Houdini Blues “Bailare”

Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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O adeus ao 'rei do ska'

Morreu o “rei do ska”. Desmond Dekker, o único nome da música jamaicana a gozar de uma dimensão global ao nível de Bob Marley, contudo sem a sua carga mitológica (e consequente construção de identidade icónica, que se projecta viva nas gerações seguintes), e com uma vida pública sobretudo visível em duas épocas distintas de presença influente, uma em finais de 60, a outra dez anos depois. Foi o primeiro a levar uma canção jamaicana pura (The Israelites) ao top ten norte-americano, portas para si abertas a um mercado até então quase alheado à música da sua ilha natal. E será eternamente reconhecido como uma das mais criativas forças do ska.
Desmond Adolphus Dacres nasceu num arredor de Kingston, na Jamaica, a 16 de Julho de 1942. Órfão muito cedo, trabalhou como soldador, cantando para os colegas nas horas de pausa, o que os levou a encorajá-lo a fazer audições junto de editores locais. Assim foi, cantando em 1961 perante Coxsone Dodd (Studio One) e Duke Reid (Treasure Isle), nenhum deles particularmente impressionado com a sua performance. Melhor sorte teve nos estúdios da Beverly, quando cantou para Leslie Young, a grande estrela da editora Derrick Morgan presente na sala nesse instante decisivo. Foi a insistência de Morgan que lhe garantiu o arranque de carreira que, mesmo assim, esperou dois anos, Leslie Young em busca da canção certa para o lançar. A canção, Honour Your Father and Mother, chegou em 1963. Êxito imediato, somando dois outros logo a seguir. Dacres muda de nome para Dekker e, em 1964, grava o decisivo single King Of Ska, com os Maytals, canção que anos depois lhe assentou que nem luva ao receber, de mérito próprio, a designação de rei do ska na imprensa britânica. Pouco depois formaria os Aces, com quem gravaria discos inesquecíveis.

A Inglaterra de finais de 60, em plena euforia mod, acolheu-o como um dos seus quando o seu single 007 (Shanty Town), que assinalava uma mudança de atitude e imagem, ali chegou, subindo ao top 20. Em 1967 visitou Londres e outras cidades inglesas numa primeira digressão, seguida fielmente por legiões de mods, que ali encontravam um novo ícone “pop” a seguir. A sua consagração internacional chegaria meses depois quando The Israelites atingiu o primeiro lugar em Inglaterra e entrou, inesperadamente, pelos lugares cimeiros da tabela de vendas americanas. O sucesso de Dekker era visível, abrindo portas das atenções para inúmeros outros jamaicanos, difundindo singles de ska pelo velho e novo mundo.
A década de 70 viu-o essencialmente sediado em Inglaterra, editando alguns discos interessantes pela Trojan, mas sem a mesma visibilidade, a nova geração reggae (Bob Marley, Peter Tosh, Horace Andy) somando agora o grosso das atenções. Todavia, na recta final da década, um surto de interesse pela redescoberta do ska, que surgiu associado às muitas manifestações de descendência da revolução punk, devolveu-o às luzes. Em pleno movimento Two Tone, patrono evidente de nomes como os Specials, The Beat, Madness ou The Selecter, Desmond Dekker assinou pela Stiff Records, Desmond Dekker voltou a ganhar notoriedade, os seus discos todavia não reflectindo a mesma luz e génio de outrora.
A década de 80 voltou a silenciá-lo, os anos 90 devolvendo-o ao circuito mais vivo dos discos e concertos, sobretudo depois da curiosa experiência de colaboração com os Specials no álbum de 1995 The King Of Kings.
Nos últimos anos tinha mantido regular actividade editorial, e a sua agenda de espectáculos apontava, para o mês de Junho, uma série de concertos na Suiça, Irlanda e Polónia, aos quais se seguiriam actuações na Bélgica, Reino Unido e Alemanha, datas marcadas até meados de Novembro. Desmond Dekker morreu ontem, em sua casa, no Surerey (Reino Undio). Tinha 64 anos.

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sexta-feira, maio 26, 2006

Postal de Cannes, 26 de Maio de 2006

Como já é da tradição, Cannes voltou a dar uma atenção muito particular aos documentários (afinal de contas, foi aqui que, há dois anos, um juri presidido por Quentin Tarantino deu a sua Palma de Ouro a Fahrenheit 9/11, de Michael Moore). Este ano, um dos momentos mais fortes dessa zona da programação foi a passagem de John Wayne/John Ford: The Filmmaker and the Legend, uma realização de Sam Pollard que comete a proeza de reunir, entre os seus entrevistados, uma lista de notáveis, incluindo Peter Bogdanovich, Robert Parrish, Mark Rydell, Richard Schickel (crítico da revista Time), Martin Scorsese e David Thomson (historiador). É um filme que obedece a uma estrutura clássica, combinando imagens dos filmes com documentos (filmes e fotografias), em permanente articulação com as entrevistas. Acima de tudo, trata-se de um trabalho que prova que e possível aplicar essa estrutura sem cair num academismo "cinéfilo" que tudo reduz a verdades adquiridas. Nada disso: estamos perante uma evocação das relações de trabalho entre Wayne e Ford (na foto) que é tambem uma sugestiva viagem pela história do western, uma reflexão sobre as convulsões de uma amizade nada linear e ainda um subtil ensaio em torno das filmografias do actor e do realizador e as suas ligações com cada momento da conjuntura política dos EUA — particularmente sugestiva é a análise da produção e dos temas de O Homem que Matou Liberty Valance (1962) que, numa afirmação absolutamente ponderada, Bogdanovich define como o "derradeiro filme" do calssicismo americano. Vale a pena lembrar que o documentário de Sam Pollard tem a chancela da PBS, pertencendo à série American Masters — ou seja: a televisão pública americana a apoiar a defesa do património cinematográfico e promovendo o saudável culto da memória. Dá que pensar... MAIL

Radar com blogue













A radar já tem frequência aberta na blogosfera. O blogue Radar vai apresentar, regularmente, toda a informação sobre os programas da estação, destaques sobre as rubricas diárias e o que mais acontecer em 97.8 FM.
Ali podemos saber com quem “ela” fala, que família passa pelo “álbum”, que discos “voam”… Claro, ao fim de semana revela-se o OK Computador da semana. E por ali passarão, também, os Lado(s) A (e às vezes lado B)…

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Postal de Cannes, 25 de Maio de 2006

Cada imagem do novo filme de Pedro Costa — Juventude em Marcha (selecção oficial, competição) — possui esta intensidade de um monumento em que a pedra parece fundir-se com a carne, em que a volatilidade de todas as memórias e todas as utopias se cristaliza na mágoa irrefutável do presente. Estamos perante um prolongamento de Ossos (1997) e No Quarto da Vanda (2000), ambos resultantes da relação do realizador com os habitantes do bairro das Fontainhas. Agora, com o bairro desmantelado e as pessoas a serem transferidas para habitações sociais, Pedro Costa elabora uma fábula realista (ou será um realismo tendencialmente fabuloso?) através do qual deparamos com a transparência de todas as dores que persistem, vivendo e falando. Sim, falando, ja que desta vez a palavra adquire a singularidade poética de algo que vem do real e, ao mesmo tempo, se liberta de todas as suas barreiras fisícas e simbólicas. Juventude em Marcha é um filme de escuta: da sua contemplação nasce uma ética que devolve o cinema à sua dimensão primitiva de cerimónia íntima, inevitavelmente religiosa.

quinta-feira, maio 25, 2006

O trailer de 'World Trade Center'

Está já online o trailer do muito aguardado World Trade Center, de Oliver Stone. O filme, ainda não montado na íntegra (pelo que o visionamento em Cannes não pode mostrar mais que 20 minutos de imagens) é o segundo a abordar directamente os atentados de 11 de Setembro. Há poucas semanas, com ante-estreia no Tribeca Film Festival, chegou às salas nos EUA o filme United 93, sobre o voo que se despenhou na Pensilvânia depois de uma revolta dos passageiros contra os terroristas que haviam sequestrado o avião. O arrepiante trailer de World Trade Center deixa muito impressão, mas não deixa de nos fazer recordar aquele dia que fez o mundo parar. Podem vê-lo aqui.

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Retrovisor Tour 06: Porto

Hoje à noite tem lugar a primeira apresentação pública do livro Retrovisor, biografia de Sérgio Godinho que a Assírio & Alvim lança na próxima semana. A sessão tem lugar no Café Literário da Feira do Livro do Porto, pelas 21.30, sob o mote “Escritores de Canções”. Trata-se de um debate, moderado por Álvaro Costa, no qual estarei presente, juntamente com Sérgio Godinho e Jorge Palma.

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Primeira audição do álbum de Thom Yorke

O sempre activo site Pitchfork já ouviu o disco a solo de Thom Yorke, e confirma que, tal e qual as palavras do músico anunciavam há dias, The Eraser é de facto um álbum de canções, dominado pelas electrónicas e batidas programadas. As faixas são, ao que parece, de duração convencional, raramente ultrapassando os quatro minutos. Não há instrumentais e nota-se a já característica riqueza textural dos Radiohead e do seu parceiro Nigel Godrich, que produz o disco. A música é dominada por pianos planantes, sintetizadores com alma sombria, guitarras e batidas programadas. As letras falam de uma vida sob pressão e paranóia como consequência da fama e expectativas que se criam em redor de quem tem vida criativa sob grande exposição. Este conjunto de postais confessionais tem edição marcada para Julho, pela XL Records.
Os interessados podem ler a descrição dos temas, faixa a faixa, aqui. E, eventualmente, espreitar o site oficial do álbum, no qual se escutam alguns fundos digitais, acompanhados com imagens do design do álbum (e pouco mais...).

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quarta-feira, maio 24, 2006

Postal de Cannes, 24 de Maio de 2006

Bela foto, não é? Kirsten Dunst no papel central de Marie Antoinette, o novo filme de Sofia Coppola em competição em Cannes. Ao mesmo tempo, trata-se de uma imagem sintomática do drama interior deste filme — uma personagem devorada pelo look do cenário — que encantara alguns, deixando outros (entre os quais me incluo) com a sensação amarga de que se falhou a possibilidade de construção de uma narrativa em que a revisitação da história acontecesse para além dos clichés tradicionais de abordagem da pré-Revoluçao Francesa.
Dir-se-ia que estamos perante um sofisticado portfolio da Vogue: trata-se de criar uma espécie de imenso palco de aparências em que, para além das memórias da história, tudo se torna possível (incluindo a integração de canções dos Phoenix, New Order, The Cure, Aphex Twin, The Strokes, Kevin Shields, etc.). A liberdade de mobilizaçao das referências é interessante, mas instala um sentimento de arbitrariedade que contamina todo o filme. Incapaz de pensar/mostrar o exterior de Versalhes, o filme faz da história um compêndio mecânico para "justificar" uma deambulação pela superfície dos factos e das memórias. Não é um filme que nos revolte (antes fosse...). Apenas um objecto com dificuldade em convencer-nos de que foi gerado por alguma visão estruturada. Acontece aos melhores.

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Gary Numan com os Depeche Mode

Já se sabia que as primeiras partes do concerto dos Depeche Mode a 28 de Julho em Alvalade seriam recomendáveis. Dos Raveonettes já se escutara a notícia há dias. Agora confirma-se também a presença de Gary Numan.
Acontece que ontem, ao dar a notícia a uma amiga, ela muito simplesmente me respondia: “E quem é Gary Numan”? Acreditando que, dada a inexistência de real consequência na sua música desde 1982, e reconhecendo que nunca teve uma carreira de visibilidade entre nós, a saudável dúvida pode morar também em outras almas. Aqui vão algumas ideias para ajudar:

Gary Numan foi um dos mais importantes nomes do pós-punk britânico, sobretudo em terreno de experimentação das emergentes electrónicas. Foi, de resto, o primeiro a chegar ao primeiro lugar em Inglaterra com uma canção dominada apenas por sintetizadores, o que aconteceu em 1979 com Are Friends Electric? Começou por se apresentar com os Tubeway Army (nova vida da sua velha banda punk, os The Lasers), editando um disco de estreia em regime new wave em 1978, descobrindo no ano seguinte uma identidade mais bem definida, criando em seu redor uma atmosfera herdeira dos Kraftwerk, David Bowie (berlinense) e Brian Eno no som (no qual se detecta ainda uma velha admiração pelo glam rock) e repleta de referências sci-fi (sobretudo com alusões a Philip K. Dick) nas letras. Entre 1979 e 1980 edita três álbuns fundamentais, experimentando a canção em laboratórios electrónicos, contemporâneo portanto dos Human League, OMD ou Yellow Magic Orchestra, mas decididamente mais sombrio e, dada a popularidade que então vive, ostensivamente mais espectacular em grandes produções ao vivo (recentemente a Popstock reeditou, entre nós, os álbuns ao vivo relativos às digressões de 1979, 1980 e 1981).
Em 1982 a sua música começou a perder rumo, e as más opções suplantaram as boas canções, eventualmente conduzindo-o a uma rota de esquecimento. O tom sombrio da sua pop electrónica conquistou, contudo, uma nova geração de admiradores na fornalha industrial de 90, com figuras como Trent Reznor e Marilyn Manson a reconhecer a sua influência. Numan, que nunca deixara de editar e tocar ao vivo, rejuvenesceu o seu som, ensopando-o em marcas do som industrial que o aclamava… E é neste registo que nos visita, pelo que vamos passar o concerto à espera de uma ou outra cedência à memória, pedindo pelos santinhos que toque menos das novas canções e mais clássicos como Cars, We Are Glass, Down In The Park, This Wreckage ou, claro, Are Friends Electric?
Para mais informações, aconselha-se uma visita ao seu site oficial. Mas cuidado com o excesso de loas pelo presente, que de Gary Numan o que vale a pena recordar é mesmo a música que gravou até 1982!

A ouvir:
1979. Tubeway Army “Replicas”
1979. Gary Numan “The Pleasure Principle”
1980. Gary Numan “Telekon”

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Os 78 rotações de John Peel

John Peel vai ter mais uma compilação póstuma editada. Trata-se, desta vez, de The Pig’s Big 78s, uma reunião de alguns dos velhos discos de 78 rotações que a sua mulher, Sheila, apresentava numa rubrica do seu programa na BBC. A compilação não pretende ser antologia de coisa alguma. É, apenas, a concretização de um projecto em que Peel e Sheila trabalhavam quando o radialista morreu. E junta peças que se destacam pela raridade ou estranheza, de bandas de sopros a rock’n’roll de primeira geração, yodeling ou mesmo música tradicional da China ou África… O título do álbum deve-se ao nome carinhoso pelo qual John Peel tratava a sua mulher... The Pig!...

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Este fim de semana na Radar

Fala com Ela. Esta semana a conversa está por conta de José Peixoto, guitarrista dos Madredeus que recentemente gravou mais um álbum a solo, desta vez em colaboração com Maria João.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00

Álbum de Família. O histórico 16 Lovers Lane, dos Go Betweens (1988), em jeito de homenagem ao recentemente desaparecido Grant McLennan.
Domingo 12.00

Discos Voadores. No momento da edição de dois álbuns de Tom Verlaine, o reencontro com uma das figuras centrais da Nova Iorque de meados de 70, espreitando também por onde andam os seus velhos parceiros.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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Postal de Cannes, 23 de Maio de 2006

* Brad Pitt (na foto) — é um dos nomes do elenco de Babel (competição), a par de Cate Blanchett, Gael Garcia Bernal, Koji Yakusho e ainda a impecável Elle Fanning, tão discreta e brilhante quanto a irmã (Dakota Fanning). O novo filme de Alejandro Gonzalez Inarritu (Amor Cão, 21 Gramas), de novo escrito pelo seu fiel colaborador Guillermo Arriaga, funciona como uma tremenda máquina de curto-circuitos factuais e simbólicos, concretos e abstractos: a história comeca em Marrocos, ecoa nos EUA, relança-se para o México, deriva para o Japão... Uma teia fascinante sobre o admirável mundo novo em que vivemos : toda a proximidade e distância, toda a distância e envolvimento... E atenção: mais uma bela banda sonora assinada por Gustavo Santaolalla.

* Ana Moreira - a actriz de Os Mutantes (1998), de Teresa Villaverde, volta a ser o núcleo forte do novo e magnífico filme da realizadora portuguesa: Transe (Quinzena dos Realizadores). Uma história de tráfico de mulheres que não pode ser lida como mero exercício sociológico: Villaverde consegue filmar uma tenacidade de viver que emerge como o desesperado resto de pequenas e grandes tragédias que assombram a nossa Europa — e, nesse sentido, um filme que inventa uma nova geografia afectiva para os nossos medos e culpas.

* Lucas Belvaux - actor e cineasta belga (autor de uma trilogia ja estreada em Portugal: Um Casal Encantador, Em Fuga, Depois da Vida) que volta a surpreender (competição) com La Raison du Plus Faible, um policial que combina uma aguda visão social com a recuperação de códigos que vêm tanto da tradição francesa como das memórias de Hollywood. Um belo filme a provar que algum cinema europeu continua a saber reescrever, sem modernismos postiços, as suas referências mais populares.

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terça-feira, maio 23, 2006

Confissões numa cruz

A Confessions Tour, de Madonna, deu já os primeiros passos com um concerto na noite deste domingo em Los Angeles. Como se esperava, o alinhamento do concerto (publicado no Tour Book) é dominado por canções do álbum do ano passado, Confessions On A Dance Floor (tocado na íntegra salvo dois temas), com inevitável intromissão de I Feel Love, de Donna Summer em Future Lovers. Contudo, as páginas dos jornais que já publicaram textos e imagens da estreia da digressão concentraram as atenções na provocação aos líderes mundiais em Sorry e, sobretudo, na encenação que acompanha a actuação de Live To Tell, durante a qual Madonna surge crucificada numa cruz de espelhos… Nem faltam as comparações a, imagine-se, Marilyn Manson! Importante, para estes lados, é contudo o alinhamento do concerto que, até ao momento, não tem data marcada para Portugal. Passou por aqui o rumor que Lisboa e Barcelona terão disputado uma data, em jeito de mega-leilão. Quem deu mais, se é que assim foi? Rumor? Ou facto à espera de ser notícia?... Por enquanto, o melhor que se arranja são quarto noites em Paris, entre 27 e 30 de Agosto… Até lá, fica a lista das canções em palco:

Future Lovers
I Feel Love
Get Together
Like A Virgin
Jump
Live To Tell
Forbidden Love
Isaac
Sorry
Like It Or Not
I Love New York
Ray Of Light
Let It Will Be
Drowned World
Paradise (Not For Me)
Music Inferno
Erotica
La Isla Bonita
Lucky Star
Hung Up

'Retrovisor' em lançamento

Estão já marcadas as três primeiras sessões públicas de apresentação do Retrovisor, biografia musical de Sérgio Godinho a lançar pela Assírio & Alvim no próximo dia 28.

Dia 25. Café Literário da Feira do Livro do Porto, 21.30
Entrevista conduzida por Álvaro Costa. Com Nuno Galopim, Sérgio Godinho e Jorge Palma.

Dia 28. Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, 18.00
Lançamento do livro com NG e SG

Dia 30. Auditório da Feira do Livro de Lisboa, 21.00
Apresentação do livro com NG e SG

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Singles: Sigue Sigue Sputnik, 1986

Quando entraram no mapa das atenções, em finais de 1985, rapidamente dominaram páginas de noticiário (com grandes fotos) na imprensa musical. A imagem era possante, o discurso provocador feito de slogans estrategicamente lançados em entrevistas e T-shirts e a sua irónica auto-proclamação como quinta geração do rock’n’roll só podia gerar controvérsia. E a música? Bom, ninguém a tinha escutado, limitando-se as expectativas a acreditar na genealogia pop do guitarrista Tony James (ex-Generation X) e na conhecida rodagem do vocalista Martin Degville, um velho habituée das noites neo-românticas de alguns anos antes. Como nunca se tinha visto antes, lançaram uma mega-campanha por um acordo discográfico, à qual a EMI respondeu, com números apontados bem acima da média… Com entusiasmo de uns e sob o cepticismo de outros, e sempre sob uma constante cascata de comunicação pela imagem, pelo slogan, os Sigue Sigue Sputnik estrearam-se finalmente em disco em inícios de 1986 com Love Missile F1-11, uma canção claramente diferente das que estávamos habituados a escutar. Sustida por uma colagem de módulos electrónicos repetidos à exaustão, adornada por samples de filmes como Blade Runner, Scarface ou A Laranja Mecânica, sons de explosões, pedaços de outras músicas, letra sci-fi e atitude de puro showbiz pop (patente num teledisco tão ingénuo quanto bom feito publicitário), a canção marcou, de facto o seu tempo. Em 30 anos de rock’n’roll nunca se tinha ouvido (nem visto) nada assim e, apesar do nariz torcido de alguns, a expectativa projectou-se em frente, aguardando as cenas dos próximos capítulos. Acontece que, editado meses depois, 21st Century Boy era duplicado, a papel químico, da fórmula do primeiro single. E o álbum, Flaunt It, apesar de algumas boas ideias (uma delas a venda de espaço publicitário entre as canções), não revolucionou muito mais… E a quinta geração acabou ali mesmo… Curiosamente, entre os revivalismos recentes, do electro ao novo rock, sentem-se por vezes afinidades com a ideia original (a musical, claro) dos Sigue Sigue Sputnik. Não são Messias incompreendidos (nem os burlões rock como então eram classificados). Mas este é um single a recuperar.

SIGUE SIGUE SPUTNIK “Love Missile F1-11” (Parlophone, 1986)
Lado A: Love Missile F1-11 (Degville/James/Withmore)
Lado B: Hack Attack (Degville/James/Withmore)
Produção: Giorgio Moroder
Posição mais alta na tabela inglesa: 2

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Postal de Cannes, 22 de Maio de 2006

A esquerda, Nanni Moretti ri, talvez, dos diálogos do seu filme Il Caimano — ou apenas de uma boa ideia para retratar a sua Itália que é também, helas!, a Itália de Berloscuni. À direita, Silvio Orlando poderá estar a atender uma chamada particular, mas a sua pose (e a ligeira ânsia que nela pressentimos) também encaixa na personagem que interpreta em Il Caimano: um simpático produtor de "serie B" que, por distracção, embarca no projecto de um filme sobre... Berloscuni. Il Caimano é, muito simplesmente, um dos filmes maiores deste ano, em Cannes: um conto político em que o realismo contundente se cruza com a lógica da parabola social, tudo num tom que recorda o melhor da grande tradição da comédia a italiana.

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segunda-feira, maio 22, 2006

Discos da semana, 22 de Maio

Pet Shop Boys “Fundamental”
Apesar de estarm tranquilamente habituados a ver o soberbo best of de 2003 Pop Art ser habitualmente apontado como o seu disco de referência (o que não mais traduz que uma sólida herança de uma identidade pop nascida e criada em singles), os Pet Shop Boys também contam na sua já longa discografia de mais de 20 anos com uma pequena mão-cheia de álbuns absolutamente clássicos. São eles Behaviour (1990), Very (1993) e Nightlife (1999). Um trio ao qual se junta onovo e magnífico Fundamental, o seu melhor disco em mais de dez anos.
Gravado em parceria com Trevor Horn, repleto de exemplos de uma escrita clássica, inteligente e segura, capaz de suportar uma agenda de ideias onde a crítica se desenha essencialmente pela ironia, o álbum é monumento coeso dividido entre épicos de grandiosidade sinfonista (na melhor tradição com raiz num It’s A Sin ou Left To My Own Devices), ora procura a placidez de ambientes capazes de suportar histórias para ler (ou, antes, cantar) devagar.
Apesar deste sólido sentido de unidade que o todo sugere este é o álbum no qual o duo apresenta a sua maior e melhor colecção de singles potenciais desde o vitaminado Very. Se I’m With Stupid (evidente caricatura da relação entre Blair e Bush, projectada na pele aparente de um qualquer casal) a eficácia do refrão se escuta como o grupo não nos dava há muito, em Sodom And Gomorrah Show, Minimal ou Integral revelam-se canções na melhor tradição “simplesmente pop”, às quais Trevor Horn concedeu moldura imponente, quase a lembrar a grandiosidade garrida que há 22 anos concedeu à histórica estreia dos Frankie Goes To Hollywood. Depois há uma outra face, tranquila, mas plena de sentidos e humor, que fazem deste disco uma peça pop irresistible.

Hot Chip “The Warning”
The Warning é um depoimento seguro das suas estruturas electrónicas, mas igualmente firme na vontade de captar traços de fragilidade humana, aí sendo protagonistas as vozes de Alexis Taylor e Joe Goddard, que já lhes mereceram comparações (em jeito de carteira de afinidades) a nomes como os de Jeff Buckley, Beth Orton e… Nick Drake. Este último parece, de resto, correr nas entrelinhas de alguns temas onde aflora uma certa ingenuidade melodista pastoral, criando possíveis proximidades com o que recentemente escutámos no belíssimo Love Songs Of The Hanging Gardens, de Kelley Polar. As premissas estruturais antes encontradas preferencialmente na “bíblia” electro de Prince, Dirty Mind, dão lugar a diálogos com versáteis heranças que não escondem passagens por discos dos Devo, Beach Boys, Giorgio Moroder, Portsihead, Neil Young ou Madlib.O álbum reforça um sentido estético que opta pelo deleite perante o detalhe, mesmo que imperfeito e não virtuoso, heranças lo-fi que aqui são já princípio assente. O som, apesar de dominado pelas electrónicas, traduz uma vivência “caseira” em regime “faça você mesmo”, que permite às composições um processo de criação e evolução quase carnal, humana. Ou seja, apesar da evidente presença de computadores, uma pulsão humana nada “kraftwerkiana” acaba por dominar a arte final. Assim, sobre a solidez estrutural do geometrismo digital que coordena a construção das canções, há por aqui mais proximidade para com um apelo de vida não maquinal apendido a ouvir pop e folk, assim como uma subtil delicadeza para zeros e uns como a que recordamos no magnífico, mas ignorado, Folly do projecto Fort Dax.

Houdini Blues “F de Falso”
Ao terceiro álbum os Houdini Blues começam a deixar claro um caminho na primeira pessoa. Versátil na escrita, inteligente na interpretação, ousado nos arranjos, certeiro nas colaborações (sobretudo na oportuna presença de Adolfo Luxúria Canibal em Bailare), o disco é tudo menos falso. É um herdeiro de um sentido de demanda de personalidade e voz própria dentro do contexto da canção que convoca saudáveis memórias dos dias dos Rock Rendez Vouz, Mão Morta e Pop Dell’Arte como exemplos, nunca enquanto caminhos definidos e únicos a tomar. Pelo contrário, sentem-se já as marcas de autor e encenador neste disco, prova de que uma ideia por vezes exige tempo, e ensaios anteriores, para se começar a materializar. Sem dúvida, uma das poucas boas notícias da música portuguesa neste semestre de magra colheita.

Hugo Largo “Drum”
Editado em 1987, Drum revelou um grupo de personalidade única e uma música suave, elegante, austera na instrumentação e capaz de contemplar o sublime. Dissipada a euforia no wave que se seguira às influentes marés punk e new wave que haviam dominado as atenções da produção musical da cidade entre finais de 70 e inícios de 80, a baixa de Nova Iorque de meados de 90 era sobretudo um terreno de ensaio de uma nova música na qual o volume sonoro suplantava outras intensidades possíveis. É em nítida oposição a esta tendência que surgem os Hugo Largo. O grupo optou por uma formação que, desde logo, lhe permitiria afirmar uma identidade diferente, nomeadamente ao abdicar da tradicional presença de uma guitarra em favor de dois baixos, um violino e uma voz. A música dos Hugo Largo depressa atraiu atenções e gerou culto assim que foi editado o seu EP de estreia, produzido em 1987 por Michael Stipe, quatro temas sob o título Drum que, pouco depois, acabariam todas elas integradas no alinhamento de um curto álbum, com o mesmo título. A sensibilidade art rock que brotava das canções, a sua elegante instrumentação austera mas nem por isso despida de espiritualidade, pontuais laivos de minimalismo, texturas sugerindo espaço e, sobretudo, a voz teatral, cativante, de grande personalidade e sentido de liberdade de Mimi Goese, traduziam todavia um sentido de irreverência muito característico do meio em que esta música nascia, uma vivência entre espaços de afinidade com a cultura rock e as galerias de arte onde se revelavam visões de vanguarda. Uma obra-prima indie de finais de 80!

Também esta semana: Boy Kill Boy, Futureheads, Sex Pistols (reedição), William Orbit

Brevemente:
29 Maio: You Should Go Ahead, Expensive Soul, Clear Static, Radio 4, Frank Black, Spiritualized, Death From Above 1979, Velvet Underground (antologia), Matthew Herbert, Can (reedições), Stuart Staples
5 Junho: Sonic Youth, Primal Scream, Scritti Politti, Feist (remisturas), Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens

Discos novos ainda este ano: Woman In Panic, U-Clic, Muse, Lisa Germano (Julho), Whitest Boy Alive (Junho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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domingo, maio 21, 2006

Postal de Cannes, 21 de Maio de 2006

Não é bem uma notícia de Cannes, mas fica um pouco mais ao norte... Em Paris, no Centro Pompidou, está a decorrer uma restrospectiva integral de Jean-Luc Godard que inclui uma exposição intitulada "Voyage(s) en utopie, Jean-Luc Godard 1946-2006". Foi editado um livro, Documents, imenso e multifacetado (448 pags., textos críticos, sinposes, argumentos, cartas, pressbooks, etc.), e é um acontecimento marcante, a decorrer ate 24 de Agosto.
O que não deixará muitas marcas é o filme Daft Punk's Electroma, visto na Quinzena dos Realizadores. O duo das electrónicas mais dancantes — Guy Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter — vem contar-nos a história de dois robots que querem adquirir aparência humana num tom mais ou menos futurista que, eventualmente, nos pode remeter para algumas referências fortes (George Lucas e THX 1138, Gus Van Sant e Gerry). O certo é que as ideias são escassas para sustentar uma longa-metragem (ainda que de apenas 75 minutos) e fica-se com a sensação de que os Daft Punk nem sequer encontraram uma relação estimulante entre música e imagens.
Maior desilusão do festival: Southland Tales, o novo de Richard Kelly (Donnie Darko), penosa e pomposa fábula futurista que confunde "agitação" de teledisco com construção de emoção e suspense.
Melhor filme visto até agora (apresentado na secção "Un Certain Regard"): Il Regista di Matrimonio, de Marco Bellocchio, um conto moral, rigoroso e implacável, sobre o cinema italiano e a Itália contemporânea.

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Monstros e companhia

Foi o pior Festival da Eurovisão que alguma vez vi! Parece que digo isto todos os anos, mas é mesmo verdade! Não havia uma… Nem sequer uma única canção que se aproveitasse… Mesmo assim, foi o mais divertido da década. A vitória dos monstros finlandeses deixou a sala onde se realizava a votação simplesmente atónita, e a soma dos pontos (em desinteressante ritmo fast forward) não causou qualquer vaga de emoção senão um gelo de espanto… A vitória é fácil de explicar. Num ano com total falta de canções, ganha a melhor (ou pelo menos a menos banal) encenação. E melhor paródia bem humorada dos excessos teatrais do hard rock, facção “gore e outros terrores” não podia ter sido ali mostrada. A canção era um perfeito pavor! Hard rock de dieta, melodia banal e refrão quase a lembrar o mau azeite (leia-se óleo) dos Scorpions e afins… Mas eram a única coisa diferente.
O pobre Eládio Clímaco, que não deve ter achado grande piada à canção, começou a comentar a votação a dar valente pancada no mau gosto dos votantes, que era coisa da juventude e mais não sei quê. Mas lá se rendeu à maioria mostrenga, sem nunca deixar de demonstrar a sua profunda desilusão… Coitado… Só se esqueceu do seu típico momento poético de descrição da letra, com dois ou três versos depois traduzidos para português… Mas, vá lá, não se enganou nunca, não confundindo a coisa com os Jogos Sem Fronteiras, não anunciando nunca que nenhum país jogava o Joker…
Com a vitória dos monstrinhos, alguma coisa vai mudar neste concurso em vias de extinção? Não creio. O festival hoje é longínquo pasto de entusiasmo (e troca de votos) apenas a Leste. Ex-repúblicas soviéticas trocam mimos (leia-se pontos) entre si. O mesmo acontecendo entre estados escandinavos. E ex-membros da Jugoslávia… Para este lado, a velha Europa não leva nada. Nem mesmo o Reino Unido, com uma pop actual, de tempero hip hop, decentezita (mesmo que fraquinha), chama já o televoto eurovisivo.
Hard RockVision 2007? Seria engraçado. Mas qualquer comparação entre o que os monstrinhos caseiros finlandeses tocaram e o hard rock que por aí se faz e vende discos, é pura coincidência. Podem usar umas máscaras de Slipknot mansinhos, com tempero Jeepers Creepers, uma pitada de He-Man, com teclista orc, mas assustam tanto como os Bros… Ou até menos… Sempre podemos enviar em 2007 uma das nossas muitas bandas de metal do subúrbio... Ou desistir de vez, se a RTP não decidir encarar a sério, e com vontade estratégica, um concurso que entre nós não motiva músicos e letristas profissionais de primeira linha há já muitos, muitos, muitos anos…
Mas na verdade, nem com um triunfo thrash metal a Eurovisão se safa… Ou mudam critérios de votação (os países com voto tradicional, de júri de sala, não deram um único ponto à Finlândia nem trocaram pontos com os vizinhos), ou acabam com a formatação que obrigou a uma normalização tipo MTV dos pobrezinhos com (quase) tudo a cantar em inglês, ou a coisa afunda de vez.
PS. A canção portuguesa somou magrinhos 26 pontinhos e um 19º lugar na semi-final… 7 pontos da Suíça, 7 de França e 12 de Andorra. Não fossem os emigrantes e os amigos vizinhos, quem votaria naquilo?

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sábado, maio 20, 2006

Postal de Cannes, 20 de Maio de 2006

O rosto à direita é o de uma personagem chamada Sofia (Sook-Yin Lee). No exercício da sua profissão de consultora sexual, recebe dois homens a quem acaba por confessar que a sua própria vida sexual é "feliz", embora se defina como uma pessoa pré-orgástica. "Está à beira de ter um orgasmo?", pergunta um deles; ao que ela responde: "Não, nunca tive um." Eis uma execlente ironia que diz bem da heterodoxia que marca o novo filme do realizador de Hedwig (2001), John Cameron Mitchell — chama-se Shortbus (está na selecção oficial, extra-competição) e é uma espécie de retrato das diferenças (e feéricas coexistências) de todas as orientações sexuais em cenários de Nova Iorque subtilmente marcados pelas angústias do pós-11 de Setembro.
Em todo o caso, não se pense que Shortbus funciona com uma mera comédia de costumes. Nada disso. Sob uma capa aparentemente ligeira e festiva, Cameron Mitchell vai construindo uma teia de muitas e dilaceradas solidões, tendo mesmo uma espantosa personagem, James (Paul Dawson), cujas componentes suicidas inscrevem no filme uma dor e uma transparência que, em última instância, nos esclarecem sobre o seu tema nuclear: a demanda do amor.
Com banda sonora dominada pelos Yo la Tengo, Shortbus é um caso exemplar de um cinema das margens que, em boa verdade, tem a capacidade para tocar algumas das questões mais delicadas do presente. A saber: a definição da identidade muito para além das ilusões de uma sexualidade "transparente". E ainda a actual conjuntura made in USA, devorada pelo desencanto gerado pelos seus próprios fantasmas colectivos.

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Discos Voadores, 20 de Maio

Esta semana, à boleia da reedição do histórico Drum, dos Hugo Largo (1987), um olhar pela Nova Iorque art rock de finais de 80, e por afinidades que chegavam do lado de cá do Atlântico.

Wordsong “Opiário”
Fiery Furnaces “I’m Waiting To Know You”
Ladytron “Nothing To Hide”
The Sounds “Painted By Numbers”
Yeah Yeah Yeahs “Dudley”
World Leader Pretend “Lovey Dovey”
Hugo Largo “Second Skin”
Secret Machines “Lightning Blue Eyes”
Elephant “Uh Oh Hello”
You Should Go Ahead “Like When I was Seventeen (remix)”
White Rose Movement “Test Card Girl”
U-Clic “Like”
Sigue Sigue Sputnik “Love Missile F1-11”
Forward Russia! “Nine”
Infadels “Reality TV”

Houdini Blues “Bailare”
BC Camplight “Suffer For Two”
Final Fantasy “Arctic Circle”
Hugo Largo “Fancy”
Hugo Largo “Turtle Song”
Sonic Youth “Little Trouble Girl”
Galaxie 500 “Blue Thunder”
Bel Canto “White Out Conditions”
Dead Can Dance “The Host Of Seraphim”
Hugo Largo “Scream Tall”
Mimi “Fire And Roses”
Moby + Mimi “When It’s Cold I’d Like To Die”
Hugo Largo “Grow Wild”
Dead Combo “After Peace, Swim Twice”

Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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sexta-feira, maio 19, 2006

Postal de Cannes, 19 Maio de 2006

Este é o actor hungaro Marc Bischoff — a personagem que representa é especialista em técnicas de embalsamamento de animais e, a certa altura, aplica-as a si próprio... Nao levem a mal, mas peço licença para usar uma daquelas frases feitas que tendemos a aplicar quando nos falta energia para descrever algo de radical. Ou seja: nunca viram nada assim. De facto, é esse o sentimento que se instala quando descobrimos Taxidermia, filme de György Palfi apresentado na secção "Un Certain Regard": o de estarmos perante uma experiência, certamente capaz de dividir os seus espectadores, mas genuinamente radical.
Em termos simples (?), digamos que o filme conta a história do comunismo na Hungria, visto e revisto através de três gerações. Mas não é uma crónica histórica, muito menos uma evocação factual. É antes a memória dantesca de um país a viver sob uma miragem colectiva de progresso e crescimento — em sentido literal: o atletismo prepara enormes atletas para terríveis concursos de... comida (o vencedor é aquele que comer mais quilos de sopas e outros pratos de aspecto não muito recomendável).
Imaginem, por isso, o que seria um filme-ópera de Marilyn Manson com a crueza carnal de Cronenberg e o sentido festivo de Fellini. Esperemos, no minimo, que o mercado português nao deixe este filme entregue à imaginação dos seus espectadores.

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O 'punk' também sabe nadar

Larry Clarke regressa às ruas, desta vez acompanhando durante dois dias um grupo de adolescentes latinos do bairro degradado de South Central, em Los Angeles. Como em Kids, o filme vive sem a necessidade de uma sólida lógica narrativa, bastando-se quase exclusivamente das histórias pessoais das personagens (reais) e do que decorre da sua deambulação pelas ruas enquanto a câmara os acompanha. Mas, ao contrário de Kids, com argumento elaborado e fruto de um trabalho com uma série de actores (muitos deles profissionais ou futuros profissionais), Desafios da Rua é um retrato quase feito de realidades, sob ténue condicionamento um plano narrativo que Larry Clark ia desenhando intuitivamente, quase em jeito de improvisação, procurando, mais que em qualquer dos seus filmes anteriores, um quase retrato do espaço físico e humano que “fotografava”. Ou, como chegou a explicar, quase criando um documentário que não é um documentário… Porque, justificou, não faz documentários.
A ideia para o filme partiu da simples observação de uma realidade, tendo a sua construção procurado como meta a apresentação de um conjunto de miúdos que o realizador descreve e nos mostra, quase carinhosamente, como “simplesmente normais”. Porquê normais? Porque, como deixa claro na entrevista usada para efeitos de notas de produção que podemos ler no site oficial, não fumam, não tomam drogas, não bebem álcool, não ouvem hip hop como os que os rodeiam. E residem em South Central, bairro onde se desencadearam os tumultos que fizeram história em 1992 e a comunidade latina vive sucessivas situações de confronto com a comunidade negra, por espaços, por empregos...
A sequência que abre o filme, uma entrevista do líder do grupo Jonathan a Larry Clark, coloca-nos nessa fronteira entre o documentário e a ficção na qual caminha todo o filme. Segue-se uma apresentação do seu espaço, das suas roupas justas, das suas relações com as raparigas do bairro, a música punk que ouvem (derivados latinos dos Suicidal Tendencies) e os ensaios anárquicos com a banda em casa… Só na segunda parte do filme se sugere uma história, numa longa jornada que começa num carro no qual partem rumo aos “nove degraus” da Beverly Hills High, onde querem praticar saltos com os seus skates.

A música tem mais protagonismo na caracterização das personagens de Desafios da Rua que propriamente um papel determinante na acção. Há uma relativamente longa (e intreessante) cena de ensaio da banda dos jovens latinos protagonistas, uma outra de passeio de skate pelas ruas de South Central ao som de punk rock (facção hardcore) e, claro, uma identidade das personagens que decorre da sua afirmação como rockers (como contraponto a um cenário envolvente onde predomina o hip hop), daí mesmo o título original Wassup Rockers (e sublinhe-se aqui o péssimo título traduzido com o qual estreia entre nós). Mesmo assim, este é um filme que nos remete para episódios recentes da vida musical da cidade de Los Angeles, através de um jogo de observações sobre as identificações entre modos de vida e estilos de música que as tribos locais podem tomar como marcas de afirmação de personalidade. Mostra-nos snais de descendência punk e hardcore entre a comunidade latina de South Central, que partilha geografia com um bairro onde domina o hip hop (como recentemente vimos documentado no soberbo Rize, de David LaChapelle). E usa como banda sonora uma série de gravações de bandas punk locais, a maior parte cantando em espanhol. Todavia, não está editada, servindo o filme de documento único de uma música que, convenhamos, pouco interesse teria fora de contexto (leia-se sem as imagens).
Este post é uma versão editada de textos publicados no DN.

O merecido chumbo eurovisivo

A 10 de Março deste ano, antes mesmo de ver a (horrenda) edição 2006 do Festival RTP da Canção, escrevi este curto texto de opinião no DN, com o título O que Foi Não Volta a Ser:

“Falar, hoje, do Festival da Canção ou é coisa de nostalgia, com um bom lote de memórias para evocar, ou serve para encolher os ombros e seguir em frente, que não é assunto do presente. De facto, e apesar das tentativas de socorrismo da RTP, tentando reanimar uma ideia que deslassou há muito tempo, o Festival da Canção saiu da carteira das preocupações dos músicos, dos editores... e dos espectadores.
Começou, em 1964, por manifestar vontade de integração numa realidade europeia. O Festival da Eurovisão, de resto, nasceu em 1956 como a primeira manifestação cultural "ligeira" de uma identidade europeia moderna em construção. Depois de um arranque modesto, Portugal ali conheceu importante rampa de lançamento de êxitos, e até mesmo plataforma de revelação de novas vozes e autores. Assim foi, representando o maior acontecimento anual da música ligeira entre meados de 60 e inícios de 80. E com algumas canções inesquecíveis.
Mas a explosão rock, a revolução pop e o amadurecimento da cultura musical do país seguiu outros destinos. E o festival, ao contrário do que se viu noutros países, teimou em manter-se fiel a regras clássicas, antigas, desbotadas, progressivamente inconsequente musical e editorialmente.
Hoje, os músicos com carreiras seguras fogem dele. Os que se querem revelar temem ser ali estigmatizados. Para quê, então, fingir que ainda é um acontecimento?”


À noite, em directo, o João Gobern, que se sentou num júri (no qual eu declinei estar presente), falou em registo paternalista e moralista. E, depois de dizer que havia alguns equívocos nas canções apresentadas (alguns é favor, e equívoco não é bem a palavra), deu-me um puxãozinho de orelhas, referindo que o DN tinha publicado o texto onde se dizia que o festival estava morto e o que mais ali se lia… Dando então a gala (gala?) que tínhamos acabado de ver como exemplo do contrário. Faltou sonotone? Óculos? Ou estará o João com síndroma O Sexto Sentido (“I see dead people”, lembram-se?).
Agora, 70 dias depois, aqui está a definitiva prova de falta de vida das potencialidades eurovisivas do Festival da RTP. Um chumbo merecido às inqualificáveis Non Stop (na imagem) e à sua canção que faz dos D’Zrt verdadeira música de elite, na pior selecção de canções eurovisivas alguma vez vista… Não havia uma única que se aproveitasse, mas a nossa ainda assim conseguia ser das piores… Reze-se missa de 70º dia. Ou então celebre-se a coisa ao jeito zombie, que aquilo está mesmo morto.

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Maria Antonieta com travo 'punk'?

A banda sonora de Marie Antoniette, de Sofia Coppola, já faz correr tinta antes mesmo do filme ter a sua primeira apresentação nesta edição do festival de Cannes. Sabe-se que Kevin Shields (dos My Bloody Valentine), que já trabalhou em Lost In Translation, foi desafiado a participar, nomeadamente através da remistura de I Want Candy e Fools Rush In dos Bow Wow Wow, banda cujo Aphrodisiac surge na sua versão integral na mesma banda sonora. Estão oficialmente confirmadas as presenças da música dos Air, Phoenix e Windsor For The Derby. E diz-se por aí que no filme se escutará ainda música dos Adam And The Ants, Gang Of Four, Radio Dept, Aphex Twin, Siouxsie & The Banshees, Cure, The Strokes, Squarepusher e New Order, estes últimos tendo já visto um dos seus temas, Age Of Consent, ser usado no trailer… O fim do Antigo Regime ao som de “orquestra” pós-punk? Parece boa ideia. Resta ver como resulta.

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Beastie Boys em filme

Continua em alta a maré de estreias de filmes documentais sobre a nova música popular. O filme dos Beastie Boys vai ter primeira exibição em Londres nos próximos dias, restando-nos depois esperar por eventual passagem por estes lados num festival ou, quem sabe, em eventual estreia em sala… O filme, Awsome: I Fuckin Shot That foi realizado pelo próprio Adam Yauch, mas contou com um método de rodagem nada canónico. O grupo distribuiu 50 câmaras vídeo digitais entre os fãs que enchiam a plateia e cadeiras laterais do seu concerto no Madison Square Garden, em Nova Iorque, em 2004. Como única instrução aos cameramen inesperados, foi dada a seguinte regra: “do what you want, just keep shooting”… O filme nasce, assim, da edição dessas filmagens sem plano. Promete…

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Este fim de semana na Radar

Fala Com Ela. À conversa com Serge Trefaut, o realizador que recentemente estreou nos cinemas o documentário Lisboetas, sobre a nova imigração na capital portuguesa.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00

Álbum de Família. À escuta o clássico Catch A Fire, álbum de 1973 de Bob Marley
Domingo 12.00

Discos Voadores. Aproveitando a reedição do histórico Drum dos Hugo Largo, um olhar sobre a carreira do grupo, da sua vocalista e de alguns contemporâneos seus.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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quinta-feira, maio 18, 2006

Postal de Cannes, 18 Maio de 2006

Efeito "Da Vinci": no mercado de Cannes começam ja a surgir os filmes que, tal como na área dos livros, tentam tirar partido imediato da nova franchise — qualquer coisa como "Mona-Lisa-tutti-frutti". Assim, ontem, na capa da edição exclusiva para Cannes de The Hollywood Reporter, é a Mona Lisa que, de facto, surge em destaque, mas num registo perversamente banal. Trata-se de um anúncio a um thriller que dá pelo nome de Stealing the Mona Lisa — nenhum nome conhecido e uma chancela que diz bem do "mundo paralelo" que gravita em torno do calendário das salas: America Video Films (certamente para lançamento directo em vídeo/DVD).
Moral da história: a série B, outrora um espaço de invenção e risco, transformou-se numa imitação acomodada das proezas das grandes produções. À sua maneira, é também um sinal das muitas crises que rasgam o espaço tradicional do cinema. Dir-se-ia que muitos filmes contemporâneos, apesar da pompa que os envolve, têm dificuldade em relançar um dos valores mais primitivos do cinema: o de ser uma ponte instável entre a realidade e a sua representação, entre as ilusões da evidência e a verdade inusitada da ficção.
Daí que valha a pena sublinhar a súbita actualidade das fotografias de Cindy Sherman, uma verdadeira autobiografia construida dentro do cinema, com a autora a assumir-se como personagem imaginária da própria imaginação cinematográfica. Tais fotografias são matéria de destaque nos principais jornais e revistas de França, uma vez que a galeria Jeu de Paume, em Paris, inaugurou uma enorme exposição dedicada à sua obra. Reveja-se, por exemplo, esta admirável imagem (Untitled Film Still #48, 1979) — o cinema é, aqui, memória e delírio, certeza e sonho.
Tais palavras convinham bem ao primeiro titulo realmente forte da competiçao: Fast Food Nation, ou Richard Linklater (Antes do Anoitecer) a construir uma visão ao mesmo tempo didáctica e vertiginosa de um país em que a máquina de produção de fast food reproduz toda uma lógica social de massificação e consequente perda de identidade(s). Adaptado do livro homónimo de Eric Schlosser (vale a pena ler um extracto), trata-se de um caso exemplar de um cinema genuinamente politico, muito para além de qualquer facilidade panfletária.

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O código da banalidade

Não li O Código Da Vinci. Nunca tive vontade de o ler. E agora não preciso mesmo de o fazer… Não gosto de policiais. Salvo excepções (raras) a sua escrita não me cativa. Mas ao ver o filme compreendi porque o livro de Dan Brown cativou tanta gente. E confesso que até me pareceu interessante a forma como engendrou a trama histórica que suporta a acção. A ideia de Jesus ter tido descendência, a existência de uma tradição de guardiães para esse segredo, de sucessivas tentativas de um conselho da Igreja que procura apagar do mapa esse potencial perigo, e a mais justificações históricas que tece, do reinado de Constantino à matança dos Templários, é matéria narrativa suculenta, incomoda e agarra atenções, mais que o jogo do gato e do rato que corre a história de fio a pavio. Contudo, já em A Última Tentação de Cristo, Martin Scorsese tinha levantado um cenário alternativo à vida de Cristo, que também ali casava e tinha filhos. Sendo que, a rematar o filme, Scoresese o devolvia à cruz, nunca explicada a sequência de vida “familiar” posterior à memória bíblica, se breve sonho de segundos, se facto rejeitado ao fim de anos, aceitando um destino maior, se mera tentação do diabo…
Agora há um mar de ideias e génio a separar Scorsese do “certinho” e flácido Ron Howard. E convenhamos que há mais matéria para reflexão e debate sobre a figura de Cristo e as fundações da fé cristã nesse filme de Scorsese que no livro de Dan Brown e sua (dizem-me) literal adaptação ao cimema. É claro que vai haver instituições incomodadas, almas incomodadas… Mas enquanto a proposta de Dan Brown/Ron Howard é mero exercício de ficção usando como matéria prima alguns pedaços de referências na história da Igreja, A Última Tentação de Cristo, que não deixa de ter o seu cunho ficcional, é antes uma visão pessoal sobre um homem, as suas dúvidas, as suas tentações, sem psicologia barata de self help, antes colocando perante nós a humanidade que certamente houve em Cristo e uma natural atitude de demanda interior, sem respostas fáceis.
E o novo filme? É apenas banal. Uma história com todos os ingredientes para garantir coices de atenção de cinco em cinco minutos, uma trama com o seu interesse, um elenco notável, imagens captadas em lugares que garantem pompa e circunstância (nunca contestando a identidade europeia da acção), todas as maravilhas de uma produção ensopada em muitos dólares… Mas uma realização ensopada em lugares comuns, frouxa e despida de personalidade. E uma banda sonora insuportavelmente fácil. Banal… Mas já vi bem pior este ano. Bem pior…

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Novo disco dos Loto promete...

Escutei ontem três temas do novo álbum dos Loto. Referências mais alargadas. Som mais encorpado (o baixo mais carnal). E boa composição pop… Promete… lá para o fim do Verão…

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quarta-feira, maio 17, 2006

Postal de Cannes, 17 Maio de 2006

A avalancha Codigo Da Vinci é um daqueles fenómenos que geram o seu próprio teste de resistência. Que é como quem diz: o filme chega a Cannes com uma hiper-mega-avassaladora operação de marketing, certamente legítima e profissionalmenete muito bem orquestrada... mas que onde esta o cinema? Resposta: ficou esquecido nos planos de trabalho de um conceito burocrático de produção que (e é esse o ponto fulcral) tende a menosprezar a arte da narrativa.
Daí que vos peça para olhar para a pose angustiada de Hao Lei — ela é a primeira genuína surpresa deste festival, protagonizando (juntamente com o também excelente Guo Xiaodong) Summer Palace, do chinês Ye Lou, uma convulsiva história de amor que revê de forma subtil, e carregada de emoções, as memórias de Tianamen. Na inevitável bolsa das apostas, Hao Lei fica, desde já, como a primeira séria candidata ao prémio de melhor interpretação feminina.
Entretanto, se me permitem a sugestão de uma bela frase para resumir os poderes específicos do cinema, vale a pena ir buscá-la à entrevista de Nanni Moretti ao suplemento especial do "Le Monde" sobre o festival. Falando do seu filme Il Caimano (selecçã oficial/competição), Moretti confirma que quis elaborar um discurso eminentemente crítico sobre Silvio Berlusconi, mas recusa qualquer relação de causa a efeito entre o filme e as escolhas de voto dos respectivos espectadores. E lembra: "A força do cinema consiste antes em sugerir, através das personagens e de uma história, que a ordem do mundo não é imutável."
... capicce?


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Filme dos Daft Punk em Cannes

O novo filme dos Daft Punk vai passar na Quinzena dos Realizadores em Cannes. Realizado pelos próprios elementos do duo, Thomas Banggalter e Guy-Manuel de Homem Christo, Electroma foi descrito já na imprensa como uma odisseia psicadélica musical e visual que acompanha a história e o destino de dois robots em busca da humanidade… Resta saber se terão mais sorte que o pequeno robot de A.I. Inteligência Artificial, de Spielberg… Quem viu já imagens do filme falou em afinidades com a face asceta visual do THX-1138 de George Lucas e uma condimentos “estranhos” ao jeito de The Man Who Fell To Earth de Nicholas Roeg… Esta é segunda experiência dos Daft Punk nas longas metragens para cinema, a primeira tendo sido o desenho animado realizado por Leiji Matsumoto Interstella 5555, para o qual usaram a música do seu segundo álbum.
Entretanto, os Daft Punk estão na estrada, com três concertos relativamente perto de nós:

30 de Junho: BelFest, em França
14 de Julho: Barcelona
15 de Julho: Madrid

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Creative em guerra contra a Apple

A Creative está em pé de guerra contra a Apple e apresentou queixa contra o iPod, afirmando que o seu menu navegacional viola a patente que a Creative apresentou em 2001 e que lhe foi atribuída em 2005. O patrão da Creative, Sim Wong Hoo afirmou à BBC que vai combater esta causa com agressividade, e revelou ainda que pediu que se averiguasse sobre eventuais ilegalidades nas importações de iPod e iPod Nano junto do US Trade Commerce. Ao que parece, Sim Wong Hoo e Steve Jobs (da Apple) chegaram a ter encontros de trabalho em 2001 com vista a trabalhos conjuntos, mas a Creative terá então rejeitado as propostas da Apple. Neste momento a Apple detém 72% do mercado norte-americano e a Creative apenas dez.

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Nick Rhodes e John Taylor em podcast

A compilação Only After Dark, reunião de pérolas pós-punk que Nick Rhodes e John Taylor juntaram num disco no qual documentam o ambiente da cena nocturna do clube em Birmingham onde nasceram os Duran Duran em finais de 70, está a merecer honras de destaque por todo o lado (o que não surpreende dada a belíssima selecção que o disco propõe e ser este o momento certo para reavivar a memória desses feitos fundamentais que a pop viveu depois da revolução punk). Este é o alinhamento:

The Human League “Being Boiled”
Yellow Magic Orchestra “Computer Game”
David Bowie “Always Crashing In The Same Car”
Psychedelic Furs “Sister Europe”
Simple Minds “Changeling”
Mick Ronson “Only After Dark”
John Foxx “Underpass”
The Normal “Warm Leatherette”
Bryan Ferry “In Crowd”
Brian Eno “The Tree Wheel”
Tubeway Army “Are Friends Electric?”
Kraftwerk “The Robots”
Donna Summer “I Feel Love”
Wire “I Am The Fly”
Magazine “Shot By Both Sides”
Grace Jones “Private Life”
Iggy Pop “The Passenger”
Ultravox “Slow Motion”


Para acompanhar a promoção do álbum, Nick Rhodes e John Taylor aproveitaram as folgas do trabalho em estúdio na gravação de um novo álbum dos Duran Duran (previsto para o Verão) e deram algumas entrevistas, uma delas para o The Guardian, que a colocou disponível em Podcast no seu site. De resto, este Podcast de Nick Rhodes e John Taylor (que cruza as memórias das canções do disco com factos do início da vida dos Duran Duran) foi o primeiro a ter conteúdos musicais oficialmente aprovados. Mais uma “primeira vez” para a banda que, entre outras estreias foi a primeira a:

1. Fazer um teledisco para uma versão máxi de um tema seu, com Girls On Film em 1981
2. Filmar telediscos em exteriores, nos locais onde a acção decorre, o que aconteceu em 1982 com Hungry Like The Wolf, Save a Prayer e Lonely In Your Nightmare no Sri Lanka e com Rio e Nightboat, em Antígua.
3. Usar ecrãs com projecções vídeo captadas em directo do palco durante uma digressão, nos EUA em 1984
4. Vender uma canção por download antes da sua disponibilização em disco “convencional”, com Electric Barbarella em 1997
5. Fazer um teledisco com tecnologia flash, em Someone Else Not Me, em 2000.

Quem quiser escutar estes podcasts pode descarregar aqui a parte 1 e a parte 2.

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Patrick Wolf com Marianne Faithfull

Patrick Wolf está a terminar os trabalhos de gravação do seu terceiro álbum, que tem data de edição prevista para o mês de Julho. O disco terá por título The Magic Position, e promete ser o mais ambicioso desafio do músico até à data. Em Novembro do ano passado, Patrick Wolf esteve em Viena, onde gravou com um quarteto de cordas, um vibrafone e mais uma parafernália de instrumentos, com uma série de músicos convidados. Esteve depois em Manhattan onde captou sons ambiente para a cenografia de algumas canções. E regressou a Londres, onde gravou já com Marianne Faithfull o seu primeiro dueto. O álbum será o primeiro disco de Patrick Wolf para uma multinacional.

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terça-feira, maio 16, 2006

Terrível solidão

De repente, a estrela está só. Inapelavelmente, sem energia transfiguradora nem poesia redentora. A sua Missão Impossível III acumula milhões, mas são as contas relativas que importa fazer: no primeiro fim de semana, os analistas de Hollywood esperavam (e exigiam) 70 milhões de dólares, o filme ficou-se pelos 48; no segundo, a descida de rendimento é quase metade (47,6%). Com custos de produção de 150 milhões, M:I III é, para já, um modesto objecto de mercado.
Para completar o quadro pessimista, a demarcação simbólica veio de onde, talvez, menos fosse esperada. George Lucas — que não poderá ser acusado de ser um homem indiferente às convulsões técnicas e financeiras da indústria — veio lançar achas para a fogueira, declarando à MTV: "Penso que Tom Cruise provou que as pessoas estão a ficar cansadas deste tipo de produto. Querem ver algo diferente e, convenhamos, Indiana Jones é sempre diferente." Lucas estava, como é óbvio, a defender o Indiana Jones 4 (previsto para 2007) que ele próprio irá escrever e produzir, de novo ao serviço de Harrison Ford e Steven Spielberg. Em todo o caso, convém não reduzir estas trocas de galhardetes a meros conflitos de egos: Lucas sabe que Hollywood vive um processo de reconversão de todo o seu aparato tecnológico & narrativo, sabendo também, por isso mesmo, que a nobre arte de contar histórias não se pode perder nas mãos dos burocratas de efeitos especiais que conseguiram reduzir Tom Cruise a um triste boneco animado de duas dimensões.
Daí que importe recordar o que não está na moda e que toda uma imprensa de "sensações" gratuitas se empenha em esquecer. A saber: que Cruise pode ser um notável actor, capaz dos confrontos mais difíceis (com Paul Newman, em A Cor do Dinheiro; com Dustin Hoffman, em Rain Man) e também de experiências limite que definem toda uma carreira e, no limite, toda uma existência (De Olhos Bem Fechados, feito com Kidman e Kubrick). No fundo, Cruise está a protagonizar um dos mais difíceis papéis da sua vida: o de uma star que parece estar a perder o cinema capaz de o valorizar. Por vezes, a solidão é boa conselheira.

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