quarta-feira, maio 17, 2006

Postal de Cannes, 17 Maio de 2006

A avalancha Codigo Da Vinci é um daqueles fenómenos que geram o seu próprio teste de resistência. Que é como quem diz: o filme chega a Cannes com uma hiper-mega-avassaladora operação de marketing, certamente legítima e profissionalmenete muito bem orquestrada... mas que onde esta o cinema? Resposta: ficou esquecido nos planos de trabalho de um conceito burocrático de produção que (e é esse o ponto fulcral) tende a menosprezar a arte da narrativa.
Daí que vos peça para olhar para a pose angustiada de Hao Lei — ela é a primeira genuína surpresa deste festival, protagonizando (juntamente com o também excelente Guo Xiaodong) Summer Palace, do chinês Ye Lou, uma convulsiva história de amor que revê de forma subtil, e carregada de emoções, as memórias de Tianamen. Na inevitável bolsa das apostas, Hao Lei fica, desde já, como a primeira séria candidata ao prémio de melhor interpretação feminina.
Entretanto, se me permitem a sugestão de uma bela frase para resumir os poderes específicos do cinema, vale a pena ir buscá-la à entrevista de Nanni Moretti ao suplemento especial do "Le Monde" sobre o festival. Falando do seu filme Il Caimano (selecçã oficial/competição), Moretti confirma que quis elaborar um discurso eminentemente crítico sobre Silvio Berlusconi, mas recusa qualquer relação de causa a efeito entre o filme e as escolhas de voto dos respectivos espectadores. E lembra: "A força do cinema consiste antes em sugerir, através das personagens e de uma história, que a ordem do mundo não é imutável."
... capicce?


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