
Em todo o caso, não se pense que Shortbus funciona com uma mera comédia de costumes. Nada disso. Sob uma capa aparentemente ligeira e festiva, Cameron Mitchell vai construindo uma teia de muitas e dilaceradas solidões, tendo mesmo uma espantosa personagem, James (Paul Dawson), cujas componentes suicidas inscrevem no filme uma dor e uma transparência que, em última instância, nos esclarecem sobre o seu tema nuclear: a demanda do amor.
Com banda sonora dominada pelos Yo la Tengo, Shortbus é um caso exemplar de um cinema das margens que, em boa verdade, tem a capacidade para tocar algumas das questões mais delicadas do presente. A saber: a definição da identidade muito para além das ilusões de uma sexualidade "transparente". E ainda a actual conjuntura made in USA, devorada pelo desencanto gerado pelos seus próprios fantasmas colectivos.