sexta-feira, maio 19, 2006

Postal de Cannes, 19 Maio de 2006

Este é o actor hungaro Marc Bischoff — a personagem que representa é especialista em técnicas de embalsamamento de animais e, a certa altura, aplica-as a si próprio... Nao levem a mal, mas peço licença para usar uma daquelas frases feitas que tendemos a aplicar quando nos falta energia para descrever algo de radical. Ou seja: nunca viram nada assim. De facto, é esse o sentimento que se instala quando descobrimos Taxidermia, filme de György Palfi apresentado na secção "Un Certain Regard": o de estarmos perante uma experiência, certamente capaz de dividir os seus espectadores, mas genuinamente radical.
Em termos simples (?), digamos que o filme conta a história do comunismo na Hungria, visto e revisto através de três gerações. Mas não é uma crónica histórica, muito menos uma evocação factual. É antes a memória dantesca de um país a viver sob uma miragem colectiva de progresso e crescimento — em sentido literal: o atletismo prepara enormes atletas para terríveis concursos de... comida (o vencedor é aquele que comer mais quilos de sopas e outros pratos de aspecto não muito recomendável).
Imaginem, por isso, o que seria um filme-ópera de Marilyn Manson com a crueza carnal de Cronenberg e o sentido festivo de Fellini. Esperemos, no minimo, que o mercado português nao deixe este filme entregue à imaginação dos seus espectadores.

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