Assim vai o mundo. Num festival onde, para além de uma competição com alguns filmes muito discutíveis (francamente menos ricos, temática e formalmente, que vários outros vistos nas secções paralelas), o júri, presidido por Wang Kar-Wai, preferiu optar pelos terrenos seguros do academismo "a la BBC" — resultado: Palma de Ouro para The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach.
Nada contra Loach, entenda-se, que é uma referência incontornável do cinema britânico, nomeadamente nos anos 60/70 com o relançamento da sua nobilíssima tradição realista. Nada também contra o valor didáctico deste filme que, à boa maneira de um telefilme politicamente correcto, nos fornece informações úteis sobre a evolução da luta dos católicos contra o exército inglês, na Irlanda de 1920. O problema é outro: que foi feito, por exemplo, de Il Caimano, de Nanni Moretti, ou Juventude em Marcha, de Pedro Costa (na foto), sem dúvida dois trabalhos que não dão o cinema como adquirido, antes o forçam a interrogar e discutir as nossas formas de percepção e leitura do mundo? Resposta: pura e simplesmente, ficaram fora dos prémios.
E que dizer da opção por prémios colectivos (?) nas categorias de interpretação? Muito provavelmente, a organização do festival ver-se-á compelida a alterar os seus regulamentos, de modo a evitar estas "abrangências" tão gratuitas quanto, inclusivamente, inadequadas à imagem pública dos filmes.
Para a história, como se costuma dizer, ficam os prémios. Mas podemos apostar que algo da história futura do cinema se vai fazer com nomes e referências que passaram por Cannes mas não estão neste palmares.
* PALMA DE OURO — The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach (Gra-Bretanha)
* GRANDE PRÉMIO — Flandres, de Bruno Dumont (Franca)
* INTERPRETAÇÃO FEMININA — Elenco: Penelope Cruz, Carmen Maura, Lola Duenas, Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave de Volver, de Pedro Almodovar (Espanha)
* INTERPRETAÇÃO MASCULINA — Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila e Bernard Blancan de Indigenes, de Rachid Bouchareb (Franca)
* REALIZAÇÃO — Alejandro Gonzalez Inarritu (Mexico), por Babel
* ARGUMENTO — Pedro Almodovar, por Volver
* PRÉMIO DO JÚRI — Red Road, de Andrea Arnold (Espanha)
MAIL
Nada contra Loach, entenda-se, que é uma referência incontornável do cinema britânico, nomeadamente nos anos 60/70 com o relançamento da sua nobilíssima tradição realista. Nada também contra o valor didáctico deste filme que, à boa maneira de um telefilme politicamente correcto, nos fornece informações úteis sobre a evolução da luta dos católicos contra o exército inglês, na Irlanda de 1920. O problema é outro: que foi feito, por exemplo, de Il Caimano, de Nanni Moretti, ou Juventude em Marcha, de Pedro Costa (na foto), sem dúvida dois trabalhos que não dão o cinema como adquirido, antes o forçam a interrogar e discutir as nossas formas de percepção e leitura do mundo? Resposta: pura e simplesmente, ficaram fora dos prémios.
E que dizer da opção por prémios colectivos (?) nas categorias de interpretação? Muito provavelmente, a organização do festival ver-se-á compelida a alterar os seus regulamentos, de modo a evitar estas "abrangências" tão gratuitas quanto, inclusivamente, inadequadas à imagem pública dos filmes.
Para a história, como se costuma dizer, ficam os prémios. Mas podemos apostar que algo da história futura do cinema se vai fazer com nomes e referências que passaram por Cannes mas não estão neste palmares.
* PALMA DE OURO — The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach (Gra-Bretanha)
* GRANDE PRÉMIO — Flandres, de Bruno Dumont (Franca)
* INTERPRETAÇÃO FEMININA — Elenco: Penelope Cruz, Carmen Maura, Lola Duenas, Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave de Volver, de Pedro Almodovar (Espanha)
* INTERPRETAÇÃO MASCULINA — Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila e Bernard Blancan de Indigenes, de Rachid Bouchareb (Franca)
* REALIZAÇÃO — Alejandro Gonzalez Inarritu (Mexico), por Babel
* ARGUMENTO — Pedro Almodovar, por Volver
* PRÉMIO DO JÚRI — Red Road, de Andrea Arnold (Espanha)