“Falar, hoje, do Festival da Canção ou é coisa de nostalgia, com um bom lote de memórias para evocar, ou serve para encolher os ombros e seguir em frente, que não é assunto do presente. De facto, e apesar das tentativas de socorrismo da RTP, tentando reanimar uma ideia que deslassou há muito tempo, o Festival da Canção saiu da carteira das preocupações dos músicos, dos editores... e dos espectadores.
Começou, em 1964, por manifestar vontade de integração numa realidade europeia. O Festival da Eurovisão, de resto, nasceu em 1956 como a primeira manifestação cultural "ligeira" de uma identidade europeia moderna em construção. Depois de um arranque modesto, Portugal ali conheceu importante rampa de lançamento de êxitos, e até mesmo plataforma de revelação de novas vozes e autores. Assim foi, representando o maior acontecimento anual da música ligeira entre meados de 60 e inícios de 80. E com algumas canções inesquecíveis.
Mas a explosão rock, a revolução pop e o amadurecimento da cultura musical do país seguiu outros destinos. E o festival, ao contrário do que se viu noutros países, teimou em manter-se fiel a regras clássicas, antigas, desbotadas, progressivamente inconsequente musical e editorialmente.
Hoje, os músicos com carreiras seguras fogem dele. Os que se querem revelar temem ser ali estigmatizados. Para quê, então, fingir que ainda é um acontecimento?”
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Agora, 70 dias depois, aqui está a definitiva prova de falta de vida das potencialidades eurovisivas do Festival da RTP. Um chumbo merecido às inqualificáveis Non Stop (na imagem) e à sua canção que faz dos D’Zrt verdadeira música de elite, na pior selecção de canções eurovisivas alguma vez vista… Não havia uma única que se aproveitasse, mas a nossa ainda assim conseguia ser das piores… Reze-se missa de 70º dia. Ou então celebre-se a coisa ao jeito zombie, que aquilo está mesmo morto.