Tom Verlaine “Songs And Other Things”
14 anos depois de The Wonder (e 12 volvidos sobre o mais recente Warm And Cool, registo de instrumentais), Tom Verlaine regressa com um dos seus melhores álbuns de sempre. O seu estilo vocal mantém intactas as idiossincrasias dos dias de 70, mas ganhou características nasaladas, e seu tom desceu, uma tranquilidade narrativa acompanhando hoje as suas palavras (sempre crípticas, não menos difíceis de descodificar que outrora). O jazz atravessa por vezes, sempre discreto, um terreno essencialmente feito de canções pop mid-tempo onde as guitarras e a voz de Verlaine partilham protagonismo com uma ambição que faltara ao belo, mas pouco marcante The Wonder. As canções são perfeitos exemplos de uma composição de autor onde a personalidade é claramente demarcada, a interpretação, sobretudo a guitarra, sublinhando mais ainda as marcas de identidade de um grande autor. Os dois discos que agora edita não representam necessariamente um desejo de regresso às origens, nem mesmo traduzem uma via para reclamar para si as atenções justificadas perante um pedestal do legado punk nova-iorquino, em tempo de muitos novos ouvidos ali apontados. Mas ninguém o impediu de recuperar alguns parceiros desses tempos, nomeadamente o baterista de Patti Smith, Jay Dee Daugherty, e o baixista dos Television, Fred Smith, em Songs And Other Things e o baterista dos Television, Bill Ficca, em Around.
Tom Verlaine “Around”
Around, o álbum de instrumentais, é algo completamente diferente. Não se trata exactamente de um sucessor de Warm And Cool, parecendo antes mais próximo de ideias de paisagismo áudio próximas do que algumas imagens de cinema possam solicitar a um compositor. Acontece que, em disco, a imagem não mora, acabando a música por soar sempre a uma peça incompleta. Sugerem-se quadros impressionistas que nos projectam para uma mítica América industrial feita de máquinas e corpos gastos pelo tempo. Mas a maior parte dos temas não passam de ideias soltas, vinhetas alongadas, que raramente acabam por definir um chão coeso. Agradável, sem dúvida, mas longe de arrepiante, mais pano de fundo que corpo que se sente.
Stuart Staples “Leaving Songs”
Depois de um disco de estreia a solo que mais não era que uma colecção de sessões avulsas transformado num alinhamento sob um mesmo título, este disco corresponde agora, de facto, a um disco em nome próprio, com principio, meio e fim. Começa bem, com um flirt curioso com a herança de Leonard Cohen. Acaba bem com uma balada sussurrada com travo a maresia (que a capa do disco logo sugere). Mas o “meio” é comprido, monótono, em novas doses de mais do mesmo, Tindersticks ainda bem evidentes em tudo o que é escrita, arranjo e interpretação. Há duetos interessantes com Lhasa de Sela e Maria McKee, mas fora dessas excepções, o disco é morno, dormente, lusco-fusco de acontecimentos onde a luz ameaça mas nunca entra. O que não será necessariamente mau agoiro para os admiradores de Stuart Staples, que aqui o reencontrarão, como sempre, igual a si mesmo. Por mim, contudo, passo…
You Should Go Ahead “You Should Go Ahead”
Houve duas grandes revelações no primeiro TMN Garage Sessions em 2005. Os Woman In Panic (decididamente os musicalmente mais visionários e promissores dos projectos a concurso) e os You Should Go Ahead, bandas que partilhavam, curiosamente, um mesmo vocalista e timoneiro. Um ano depois da promessa, os You Should Go Ahead editam um álbum no qual projectam um rock animado a heranças captadas na escola pós-punk de finais de 70, referências dos Gang Of Four a Wire (de primeira etapa) evidentes num conjunto de canções que se enquadram perfeitamente num quadro “novo rock” que nos chega de cada vez mais origens. Estão no tempo certo, com o tempo certo, um conjunto interessante de canções (Like When I Was Seventeen a mais conhecida, outras a merecer sê-lo também), e a melhor capa que a pop portuguesa viu nos últimos anos.
Señor Coconut “Yellow Fever!”
Atom Heart continua a saga “salsera” em redor de ícones da música electrónica. Desta vez esteve na sua mira o legado fundamental da Yellow Magic Orchestra, num trabalho que aceitou parcerias, dos Mouse On Mars a Towa Tei, de Burnt Fridman a Schneider TM e, surpresa das surpresas, os próprios Yellow Magic Orchestra (Sakamoto, Takahashi e Osono), cada qual em sua peça distinta. Apesar de uma mais evidente condimentação lounge, a lógica transformista mantém-se igual, por vezes repetitiva. Mas não falta a boa sobremesa, como se escuta em Mambo Numerique, raro travo de novidade numa receita de sabor já gasto
Também esta semana: Expensive Soul, Clear Static, Radio 4, Frank Black, Spiritualized, Death From Above 1979, Can (reedições), Paul Simon, Neil Young
Brevemente:
5 Junho: Sonic Youth, Primal Scream, Scritti Politti, Feist (remisturas), Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens, Velvet Underground (antologia), Kudu, Ed Harcourt
10 Junho: Daniel Johnston, Infadels, The Upper Room, Catpeople, Whitest Boy Alive
Discos novos ainda este ano: Woman In Panic, U-Clic, GNR (best of com inéditos, em Junho) Muse, Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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