terça-feira, janeiro 31, 2006

Oscars: Spielberg com 5 nomeações

... E Munique obteve cinco-nomeações-cinco para os Oscars referentes à produção de 2005, incluindo melhor filme e melhor realização. Quer isto dizer que o filme de Steven Spielberg sobre os atentados terroristas dos Jogos Olímpicos de 1972 resistiu aos muitos ataques contra ele dirigidos dentro dos EUA, superando inclusivamente o aparente pessimismo comercial do mercado americano que, na última semana, o retirou de mais de 400 salas (o que, certamente, agora será corrigido). Como se esperava, Brokeback Mountain, de Ang Lee, foi o mais citado, com um total de oito nomeações, incluindo melhor filme, melhor realizador, melhor actor (Heath Ledger) e melhor actor secundário (Jake Gyllenhaal) — a subtil revisão melodramática da mitologia dos "cowboys"é, até agora, o filme mais premiado e o candidato mais óbvio à distinção máxima.
Olhando para a lista oficial das nomeações Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, talvez o mais surpreendente seja o facto de, entre os cinco candidatos a melhor filme, apenas um (Munique, precisamente) ser um produto directo dos grandes estúdios. Todos os outros — incluindo ainda Capote, de Bennett Miller, Colisão, de Paul Haggis, e Good Night, and Good Luck., de George Clooney — são provenientes de pequenos estúdios e foram gerados na área tradicionalmente classificada como independente. O caso de Capote, através do qual Philip Seymour Hoffman (no papel do escritor Truman Capote) se perfila como o vencedor "antecipado" do Oscar de melhor actor, é tanto mais surpreendente quanto a sua carreira discreta, num pequeno número de salas (embora, em termos relativos, também muito segura), não sugeria a possibilidade de tantas e tão importantes nomeações: cinco, incluindo melhor realização. Dado curioso deste ano é a total coincidência entre títulos para melhor filme e respectivos realizadores: os cinco realizadores nomeados são os dos cinco candidatos à estatueta máxima.

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segunda-feira, janeiro 30, 2006

Nam June Paik (1932-2006)

TV Buddha, 1974
Foi em 1974, num relatório encomendado pela Fundação Rockefeller, que Nam June Paik se referiu à rede de telecomunicações do futuro como uma "Super Autoestrada Electrónica", prevendo que tal rede se transformaria na "fonte de novos e surpreendentes empreendimentos humanos". Cerca de vinte anos mais tarde, perante a vulgarização da expressão "super-autoestrada da informação", Paik não deixou de comentar: "Bill Clinton roubou-me a ideia." Era assim Nam June Paik: visionário e bem humorado — morreu de causas naturais no dia 29 de Janeiro, no seu apartamento em Miami, Florida.
Artista americano dos mais emblemáticos da segunda metade do século XX, Paik nasceu a 20 de Julho de 1932, na Coreia do Sul. Formado na Universidade Tóquio, mudou-se para a Alemanha, em 1956, trabalhando na Universidade de Munique. Aí, os contactos com as experiências dos compositores Karlheinz Stockhausen e John Cage levaram-no a interessar-se pela integração das electrónicas no mundo artístico. Ligou-se ao grupo Fluxus, de George Maciunas, desenvolvendo as possibilidades de ligação das artes visuais com a música e a literatura. Em 1963, a sua exposição de Music-Electronic Television, em Wiesbaden (Alemanha de Leste), combinava 12 televisores com imagens manipuladas — eram os primeiros gestos daquilo que viria a chamar-se Video Art. Em Nova Iorque a partir de 1964, Nam June Paik foi desenvolvendo múltiplas formas de intervenção, a meio caminho entre a instalação e a escultura, empenhadas em desconstruir e satirizar o nosso mundo saturado de imagens e canais de comunicação. A sua arte, amplamente documentada no seu site oficial, envolveu sempre um cepticismo central face à abundância contemporânea da informação, ao mesmo tempo que lidava com essa abundância com um permanente sentido lúdico de observação. No ano 2000, Paik foi objecto de uma grande retrospectiva no Museu Guggenheim de Nova Iorque. Em Kyonggi, na Coreia, existe, um museu dedicado à obra de Nam June Paik.

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Discos da semana, 30 de Janeiro

Clap Your Hands Say Yeah “Clap Your Hands Say Yeah”
Eis mais um exemplo capaz de demonstrar como a Internet é já hoje um meio capaz de protagonismo no lançamento e divulgação de novas bandas. Começaram por ser palavra corrente entre bloggers e daí cresceram entusiasmos que asseguram agora, com a edição de um primeiro álbum, visibilidade global bem acima da média para uma banda que optou por não ter editora. Mas não é apenas a dinâmica de exposição que justifica a força com que este disco está a arrebatar opiniões, não são sendo, todavia, caso de unanimidade como o foi, no ano passado, a estreia dos Arcade Fire. Mesmo assim, Clap Your Hands Say Yeah é um álbum que em muito se assemelha ao que esses canadianos nos deram em 2005. É um híbrido estimulante, feito de pedaços de referências e ideias devidamente reunidas sob uma identidade que se começa a afirmar. Na medula de toda a música deste álbum corre uma identificação com os magistrais Neutral Milk Hotel (cada vez menos obscuros, tantas que têm sido as jovens bandas a mostrá-los como referência). Somamos um pedaço de Talking Heads (com atitude vocal que frequentemente lembra o próprio David Byrne), e, depois, afinidades com Arcade Fire, Modest Mouse ou Pixies. E, ainda, muita personalidade.Um rock de vistas largas, ousado e melodista, entusiasmado e cativante, a descobrir já!

Röyksopp “Röyksopp’s Night Out”
Os noruegueses, que protagonizaram a maré de encantos nórdicos que tomou a Europa de surpresa em 2001 viveram em estado de graça depois de um belíssimo álbum de estreia, mas no ano passado foram autores de uma das desilusões mais evidentes, num segundo disco claramente encostado a soluções fáceis e pouco imaginativas. Agora editam um álbum ao vivo que, mais atento ao segundo álbum que ao primeiro, enferma de matéria-prima menor. Salvam-se alguns olhares para trás, mas não se vence nunca a mediania em que parecem mergulhados.

Coldcut “Sound Mirrors”
Após nove anos de silêncio, regressa uma das duplas mais influentes da história da música de dança e da feliz aplicação de técnicas de corte e colagem. O trabalho extra-Coldcut de Jonathan Moore e Matt Black (como editores, produtores, DJs ou mesmo como inventores de software) manteve-os na linha da frente das ideias, mas desta feita o som dos Coldcut não procura lançar pistas nem revoluções. Aposta antes na afirmação de rotas de identidade e referências pessoais de ambos os seus elementos, num curiosos cocktail de hip hop, soul, dancehall, rock, house e até mesmo indie folk

Também esta semana: Devine & Statton (reedição), Isobel Campbell + Mark Lanegan, Johnny Cash (reedições), The Doors (ao vivo), BSO Walk The Line, Nick Cave (DVD), Varttina, Quantic

6 Fevereiro: Tiga, Sparks, Belle & Sebastian, Chumbawamba, Calla, William Orbit, The Czars, Ride (reedições)
13 Fevereiro: Beth Orton, Talking Heads (reedições), Larry Levan, Los Lobos, David Bowie (live EP), Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição), The Tommy Boy Story (compilação)
20 Fevereiro: Eels (ao vivo + DVD), The Architects, Wonderstuff, Anouk, 12”/80s Dance

Brevemente:
Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Hero, Arab Strap, Jane’s Addiction, Moby (ao vivo), Pharrell Williams, Madonna (DVD), Elvis Costello, homenagem aos GNR, Burt Bacharah, Jacinta, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar)
Março: White Rose Movement, Protocol, Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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"Crash" distinguido pela Screen Actors Guild

Por vezes, lendo, ouvindo ou vendo algumas notícias sobre a temporada (de prémios) antes dos Oscars, ficamos com a sensação de que há jornalistas que julgam que há em tudo isto algo de "científico" ou que, em última instância, as distinções acabarão por confirmar um qualquer "destino" (que eles souberam antecipar) — parece que há quem se sinta melhor a fingir-se de profeta do que a sentir o prazer dos próprios filmes...
Vem isto a propósito da distinção principal atribuída pela associação de actores do EUA — Screen Actors Guild (SAG) — na sua cerimónia (na madrugada de domingo para segunda-feira). Assim, o prémio para o melhor elenco foi para Colisão/Crash, de Paul Haggis, um filme de que pouco se tem falado neste período de antecipação dos Oscars. De facto, o filme de Haggis corresponde a uma brilhante materialização da noção de ensemble cast e faz todo o sentido que a própria profissão o distinga, independentemente de isso "confirmar" ou não as tendências dos Oscars. Philip Seymour Hoffman (Capote) foi eleito melhor actor e Reese Witherspoon (Walk the Line) melhor actriz. Ainda no cinema, Paul Giamatti (Cinderella Man) e Rachel Weisz (O Fiel Jardineiro) ganharam as categorias secundárias. Para além dos prémios na área da televisão, a SAG homenageou ainda a actriz Shirley Temple naquele que foi o momento mais vibrante da noite, por um lado revisitando memórias de Hollywood nos anos 30/40, por outro lado através do discurso de apresentação impecavelmente lido por outra espantosa actriz-criança: Dakota Fanning.

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domingo, janeiro 29, 2006

Discos Voadores, 28 de Janeiro

Esta semana os Discos Voadores viajaram através do universo de afinidades dos Clap Your Hands Say Yeah, tanto no campo das referências musicais como no das suas formas de estar na música.

Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
Tiga “Burning Down The House”
Depeche Mode “Suffer Well”
Cindy Kat “Polaroide”
Sparks “There’s No Such Thing As Aliens”
World Leader Pretend “Lovey Dovey”
Três Tristes Tigres “Anormal”
New Pornographers “Three Or Four”
Clap Your Hands Say Yeah “The Skin Of My Yellow Country Teeth”
Franz Ferdinand “You’re The Reason I’m Leaving”
Shout Out Louds “The Comeback”
Cut Copy “Going Nowhere”
Killing Joke “Love Like Blood”
She Wants Revenge “These Things”
White Rose Movement “Alsatian”

Pop Dell’Arte “Stranger Than Summertime”
Richard Swift “The Novelist”
The Strokes “Ask Me Anything”
Clap Your Hands Say Yeah “Heavy Metal”
Arcade Fire “Neigborhood #1”
Talking Heads “Warning Sign”
Neutral Milk Hotel “The Kings Of Carrots Flower – parts 2 & 3”
Modest Mouse “Float On”
Pixies “Caribou”
Philip Glass “Changing Opinion”
Clap Your Hands Say Yeah “Is This Love?”
The Gift “Changes”
Arctic Monkeys “Mardy Bum”

Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM


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Como vai ser regulada a comunicação social?

David Cronenberg: Videodrome (1983)
A nova Entidade Reguladora da Comunicação Social está na ordem do dia. Porquê? Porque nela — e através dela — será possível contribuir para uma regulação, realmente exigente e genuinamente democrática, do espaço mediático português e, em particular, da sua área televisiva. Estão já escolhidos quatro dos seus membros: Estrela Serrano, Rui de Assis Ferreira, Elísio Cabral de Oliveira e Luís Gonçalves (que a Assembleia da República deverá confirmar a 2 de Fevereiro). De acordo com a legislação vigente, cabe-lhes cooptar o quinto membro. Acontece que, seguindo a trajectória bizarra de algumas notícias recentes, esse quinto membro (que seria Azeredo Lopes) parece ter sido antecipadamente "negociado" pelas cúpulas dos dois maiores partidos (PS e PSD), desautorizando implicitamente a decisão que pertence, por lei, aos outros quatro membros. Quem nos chama a atenção para a estranheza deste processo é Francisco Rui Cádima, no seu blog irreal tv. Vale a pena ler a sua Carta Aberta aos Provedores do Público, Diário de Notícias e Jornal de Notícias: nela se colocam algumas questões pertinentes que importa avaliar e discutir, não só pelas dúvidas processuais que suscitam, mas também pelo seu efeito, a curto ou médio prazo, na dinâmica política que enquadra os meios de comunicação.

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Bettie Page (aliás, Gretchen Mol)

Nascida no Canadá, em 1956, educada em Inglaterra (Oxford), Mary Harron é uma espécie de figura «não-alinhada» do cinema americano contemporâneo. Basta lembrar as suas duas espantosas longas-metragens: I Shot Andy Warhol (1966), subtil evocação de Valerie Solanas, personagem das franjas da «contra-cultura» dos anos 60 que tentou matar Warhol a tiro, e American Psycho (2000), que consuma a tarefa «impossível» de transpor para cinema o romance homónimo de Bret Easton Ellis. Além do mais, Harron tem mantido uma actividade regular na televisão, dirigindo vários episódios de séries como Homicide, The L Word e Sete Palmos de Terra.
Na sua terceira longa-metragem — The Notorious Bettie Page — Mary Harron evoca nada mais nada menos que a mulher que se tornou um dos primeiros ícones sexuais da América, rainha clássica das pin-ups: Bettie Page (n. 1923), a lendária playmate da edição de Janeiro de 1955 da revista Playboy.
Bettie Page surge interpretada por Gretchen Mol, actriz que vimos, por exemplo, sob a direcção de Abel Ferrara (O Funeral, 1996), ou Woody Allen (Através da Noite, 1999). O argumento é da responsabilidade da própria realizadora e Guinevere Turner (ambas tinham já assinado a adaptação de American Psycho). A produção possui as marcas de uma origem genuinamente independente: por um lado, porque a ela está associada uma pequena companhia como a Killer Films, também ligada a projectos tão originais como Hedwig - A Origem do Amor (2001), de John Cameron Mitchell, e Câmara Indiscreta (2002), de Mark Romanek; por outro lado, porque se trata de um projecto apoiado pela HBO, a televisão que tanto produz séries do calibre de Os Sopranos ou Sete Palmos de Terra, como filmes com as características de Elephant (2003), de Gus Van Sant, ou Maria Cheia de Graça (2004), de Joshua Marston. Lançado no Festival de Toronto de 2005, The Notorious Bettie Page vai estrear em Abril, nos EUA — para já, não consta de nenhuma lista dos distribuidores portugueses.

* O trailer de The Notorious Bettie Page está disponível nas páginas de cinema da Apple.
* Sobre Mary Harron, sugerimos uma consulta de
Salon.com.
* Em Setembro/Outubro de 2005, a produtora Killer Films foi objecto de uma retrospectiva no
MoMA.

sábado, janeiro 28, 2006

Filme de Julien Temple sobre Glastonbury

O filme de Julien Temple sobre o festival de Glastonbury tem estreia marcada para as salas inglesas a 14 de Abril, mas marca antes presença nas programações dos festivais de Sundance e Berilm. Glastonbury é um documentário de 135 minutos no qual o realizador reúne as imagens que recolheu nas edições de 2002 a 2005 do festival, juntando-lhes excertos de filmes rodados durante edições anteriores, das históricas filmagens de Nicolas Roeg em 1971 a muitas captações de amadores. Ao todo, Julien Temple teve em mãos 700 horas de material filmado, a maior recolha já feita sobre este festival. Entre as actuações que surgirão no ecrã contam-se as de nomes como os Velvet Underground, Primal Scream, Billy Bragg, Cypress Hill, Scissor Sisters, Radiohead e David Bowie. Julien Temple é um realizador veterano em lides rock, com filmes como The Great Rock’N’Roll Swindle (1980), Absolute Beginers (1986) ou The Filth And The Fury (documentário sobre os Sex Pistols, de 2000) na sua filmografia mais feita de telediscos que de longas metragens.

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Concerto de versões dos Depeche Mode

O Culto Club, em Cacilhas, propõe hoje, pelas 22 horas, uma noite de aquecimento para o regresso a Portugal dos Depeche Mode (em concerto esgotado, no próximo dia 8, no Pavilhão Atlântico). Em palco os Astrobots, banda de covers dos Depeche Mode. O concerto tem o apoio do clube de fãs português dos DM.

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SINGLES: Falco, 1985

Os 250 anos do nascimento de Mozart estão, naturalmente, a levantar todas as mais diversas manifestações, desde publicações especiais a edições discográficas, de programas de música ao vivo a toda a mais incrível oferta de merchandise que se possa imaginar (em Salzburgo até há Mozarts fluorescentes, tipo santinhas)… O Sound + Vision optou por começar a evocar a figura do grande compositor através da memória de um single que, musicalmente, nada lhe deve, mas que usou o seu nome (e a ligação directa ao seu baú de lendas e mitos levantado pelo biopic de Milos Forman, Amadeus), para se afirmar como um dos maiores êxitos pop produzidos pela Europa continental em 1985. Trata-se de Rock Me Amadeus, do austríaco Falco, uma canção fácil, banal mesmo, acompanhada com teledisco onde o presente se cruzava com trajes e cenários do tempo de Mozart, criando um espaço de fantasia pop que conquistou o mercado pop(ularucho) da época e garantiu a Falco o maior êxito da sua carreira (quando, na verdade, o seu melhor single de sempre foi o histórico Der Komissar, de 1981). Aqui nada mais acontece que um momento de afirmação de um europop FM de melodia simples e refrão repetido à exaustão… Este foi um claro exemplo da força da imagem, via teledisco, ao serviço da construção de um fenómeno de sucesso global. O seu sucessor, Vienna Calling, não segurou contudo o estatuto conquistado. E, dois singles depois, o medíocre Jeanny só garantiu holofotes na Alemanha e Áustria.

FALCO “Rock Me Amadeus” (A&M, 1985)
Lado A: Rock Me Amadeus (Bollond)
Lado B: Urban Tropical (Falco)
Produção: Bollond
Posição mais alta no Reino Unido: 1
Editado em Portugal pela PolyGram

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David Bowie em novo single dos Kashmir

Os dinamarqueses Kashmir, que David Bowie tem apadrinhado nos últimos meses (foram a sua descoberta depois dos Arcade Fire) acabam de editar em single, em alguns mercados europeus, o single The Cynic, dueto gravado com o velho mestre. Além de partilhar o protagonismo vocal da canção com os Kashmir, Bowie entra também no fabuloso teledisco, híbrido de imagem real e animação na linha do design da capa do álbum do ano passado do grupo dinamarquês, No Plaance Palace. No teledisco, Bowie veste a perversa e sombria figura que surge para se revelar, afinal, uma espécie de anjo da morte… O teledisco pode ser visto no site oficial do grupo. O álbum, produzido por Tony Visconti, está disponível em algumas lojas online europeias. O single, em versão digital, ocupa o primeiro lugar no top de downloads sueco…

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quinta-feira, janeiro 26, 2006

Chabrol: 51ª longa-metragem

O novo filme de Claude Chabrol vai ter a sua estreia mundial no 56º Festival de Cinema de Berlim (9/19 Fev.) — chama-se L'Ivresse du Pouvoir e nele se narra o drama de uma juíza (Isabelle Huppert) empenhada em desmantelar uma rede de corrupção apoiada pelo império de um magnate (François Berléand) da grande indústria. É a sétima vez que Chabrol dirige Huppert — a primeira foi em Violette Nozière (1978). É ainda a quinta vez que o realizador conta com o português Eduardo Serra como director de fotografia — a anterior foi em A Dama de Honor (2004), também o último título de Chabrol a ter estreia comercial no nosso país. Ainda sem distribuição portuguesa anunciada, L'Ivresse du Pouvoir é a 51ª longa-metragem de Chabrol, nos anos 1950/60 um dos nomes centrais do movimento da Nova Vaga francesa.

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Chéreau + Huppert + Greggory

Acontece de vez em quando: um filme que nos faz sentir que o cinema é (ou pode ser) uma admirável síntese das outras artes e, ao mesmo tempo, a afirmação de um modo singular, fascinante e irredutível de olhar o mundo, contemplando e refazendo os enigmas das relações humanas. Chegou um desses filmes: chama-se Gabrielle, foi realizado por Patrice Chéreau e, se é preciso algum tom panfletário para sublinhar a sua excelência, eu diria que este é, desde já, um dos acontecimentos maiores no nosso ano cinematográfico de 2006.
Quase sempre se sublinha o facto de Chéreau, nome incontornável do moderno teatro francês, ser um realizador que transporta para os filmes, transfigurando-as, as marcas da sua experiência teatral. Assim é, sem dúvida, e bastará recordar o magnífico A Rainha Margot (1994) para o confirmar. Mas não há dúvida que a rodagem (britânica) de Intimidade (2001) trouxe algo de novo à criatividade de Chéreau: um apurado gosto realista insinuou-se na teatralidade das cenas e dos gestos, de tal modo que talvez possamos definir Gabrielle como a sublime combinação dessas duas vertentes, agora para contar uma história situada em cenários franceses do começo do século XX. Trata-se, em boa verdade, da transposição de um conto inglês, de Joseph Conrad (The Return, 1898), sobre a crise de um casal, desencadeada pelo facto de, um dia, a mulher sair de casa (com uma contundente carta de despedida), regressando na noite do mesmo dia... Isabelle Huppert e Pascal Greggory compõem essas duas personagens como quem faz uma síntese do mais extremo delírio emocional e da mais contida escalpelização psicológica e moral: Gabrielle é uma travessia do espaço conjugal que se transforma numa imensa decomposição analítica daquilo que pode aproximar (ou afastar) dois seres humanos — é um filme de crua, e também muito terna, contemplação da verdade mais indizível dos gestos amorosos.

* No Classic Reader, pode ler-se o conto The Return, de Joseph Conrad.
* Biofilmografia de Patrice Chéreau na
Wikipedia.
* Site não oficial dedicado a
Isabelle Huppert.

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Disney compra os estúdios Pixar

A Walt Disney comprou, por seis mil milhões de euros, a Pixar, o estúdio especializado em animação digital que nos últimos anos garantiu ao gigante do entretenimento “familiar” os seus maiores êxitos, com filmes como Toy Story, Vida de Insecto, Monstros e Companhia, À Procura de Nemo ou Os Super-Heróis. O negócio prevê, além da compra, a integração na administração da Disney de Steve Jobs (o presidente da Pixar e também reconhecido responsável máximo da Apple, e grande dinamizador da explosão global do fenómeno iPod). Nos últimos anos, com a progressiva perda de terreno na área da animação convencional (o último grande sucesso, Tarzan, data já de 1999), com Chicken Little (o primeiro filme digital da Disney sem intervenção da Pixar) a ficar muito aquém nos lucros, e sob evidente concorrência da animação digital dos estúdios DreamWorks (recentemente adquiridos pela Paramount), que produziu sucessos como Shrek, O Gang dos Tubarões e Madagáscar, a Pixar era, pois, vista como fundamental para a saúde da companhia. Perante o iminente fim do contrato de distribuição que ligava a Pixar à Disney - e que termina com Cars, a estrear este ano - a compra tornara-se a única saída viável. Robert Iger, que desde Outubro assumira o leme na Disney, explicou que, com este negócio fechado, poderá devolver os estúdios à sua grandiosidade. Iger e Jobs já deixaram claro que esta aquisição não ameaçará a identidade de uma certa cultura muito própria que a Pixar toma como fundamental na sua afirmação pessoal. A dança das cadeiras já começou, entretanto, com os directores da Disney a ceder lugar na direcção geral de animação, na chefia criativa e até mesmo na consultoria para parques temáticos, agora entregues a figuras de destaque na Pixar.
A Pixar tem, entretanto, e até dia 6 de Fevereiro, uma exposição sobre os seus 20 anos de actividade patente no MoMA, em Nova Iorque. Um catálogo e uma descrição da exposição encontram-se aqui.

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Filme de Cocteau com ópera de Glass

A Criterion lançou uma nova edição do clássico de 1943 de Jean Cocteau La Belle et La Bête. A grande novidade desta edição é a inclusão, numa pista áudio extra, da ópera que Philip Glass compôs para acompanhar, em sincronismo, a projecção deste filme (ao jeito do que havia feito já no Drácula de Todd Browning e na trilogia que o compositor rodou com Godfrey Reggio). Apesar de há muito editada em disco, a ópera ganha outra dimensão ao ser apresentada na sua forma audiovisual pretendida por Philip Glass. A música segue a sua linguagem habitual, apesar de dominada por um classicismo que muito deve à criação de uma encenação de época, segundo a visão de Cocteau. As vozes são impressionantemente apontadas aos movimentos das falas originais, integralmente substituídas por canto nesta versão alternativa. Esta é uma das três óperas de uma trilogia que Philip Glass compôs inspirada em filmes de Jean Cocteau, e a única pensada para exibição síncrona com o filme. As duas outras são Les Enfants Terribles, exibida há alguns anos no CCB e recentemente editada em CD duplo pela Orange Mountain Music (a editora de Glass), e Orphée, ainda à espera de edição em disco.

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"Senso", de Visconti: hoje na Cinemateca

Alguma vez o cinema conseguiu fundir o maravilhoso do teatro com a complexidade do romance, a exuberância da ópera com a intimidade de um exercício confessional? A resposta é optimista: sim, algumas vezes... E se for preciso um só exemplo, belíssimo e inapagável, podemos encontrá-lo em Senso (1954), o filme em que Luchino Visconti colocou em cena a convulsiva história de amor de uma italiana, a condessa Livia Serpieri (Alida Valli), e um austríaco, o tenente Franz Mahler (Farley Granger), tendo por pano de fundo a Itália de 1866 e os derradeiros dias da ocupação austríaca — esse filme está de volta, hoje, às 19h30, à sala da Cinemateca. É uma oportunidade tanto mais interessante de descoberta ou revisão da obra-prima de Visconti, quanto outro dos seus filmes marcantes sobre a história italiana — O Leopardo (1963) — vai ser reposto na sala lisboeta do Nimas, a partir do dia 2 de Fevereiro.

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Kanye "Jesus" West

Muitas vezes citado como um das poucas revelações genuínas do hip-hop destes primeiros anos do século XXI, Kanye West é tema de capa da edição da Rolling Stone, a sair com data de 9 de Fevereiro. Fotografado por David LaChapelle, West surge com uma coroa de espinhos, numa pose crística onde o que mais conta é a sugestão "passional" que, aliás, faz o título principal da revista: "The passion of Kanye West". Em artigo assinado por Lola Ogunnaike, West pondera os prós e contras da sua fulgurante ascenção, tendo por pano de fundo a próxima cerimónia dos Grammys (8 de Fevereiro), para a qual ele parte com oito nomeações relativa ao álbum Late Registration (2005). Parte do artigo pode ser lida no site da revista. Informações, canções e vídeos estão disponíveis no site oficial de Kanye West — sugerimos, em particular, a descoberta do teledisco de Heard’ em Say, com a sua combinação, a preto e branco, de imagem real e animação.

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Jonathan Demme filma Neil Young

Será, nos EUA, um dos lançamentos dis-cretos da época pré-Oscars , mas pode ser também um iminente objecto de culto: um documentário sobre Neil Young em concerto, com assinatura de Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes, O Candidato da Verdade). Chama-se Heart of Gold e resulta do registo de dois concertos — centrados em canções do álbum Prairie Wind (2005) — do lendário criador de Rust Never Sleeps; os concertos realizaram-se no Ryman Auditorium, em Nashville, a 18 e 19 de Agosto de 2005. Com produção da companhia do próprio Demme (Clinica Estetico Ltd.), e Emmylou Harris entre os convidados, Heart of Gold não tem ainda distribuição anunciada em Portugal. Esperemos que seja possível vê-lo em sala e também que o mercado discográfico esteja atento à respectiva banda sonora. Entretanto, o trailer está disponível no site da Apple.

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quarta-feira, janeiro 25, 2006

Woody Allen made in Europe

Quem se entrega a quem? Quem foge de quem? Onde está a verdade do amor?
Provavelmente, são estas perguntas singelas — e infinitamente complexas — que ajudam a explicar o acolhimento caloroso (podemos senti-lo em todo o lado) de que está a ser objecto o novo filme de Woody Allen: Match Point, a história de um amor/desamor londrino protagonizada pelos magníficos Jonathan Rhys Meyers e Scarlett Johansson— ela é magnífica e terá, muito provavelmente, uma nomeação para Oscar de melhor actriz secundária; mas não é também verdade que ele, na corda bamba da verdade e da traição, tem uma das mais espantosas composições da produção cinematográfica de 2005?
Woody Allen inicia, assim, um périplo europeu (cujo segundo título, Scoop, também com Scarlett Johansson, poderá estar no Festival de Veneza), tanto mais surpreendente quanto a sua relação com a América — e, em particular, com Nova Iorque — parecia insubstituível. O certo é que Match Point tem o fulgor de um realismo dos estados de alma que, de Ana e as Suas Irmãs (1986) a Celebridades (1998), faz da sua obra um dos mais fascinantes universos romanescos do moderno cinema americano.

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terça-feira, janeiro 24, 2006

Massive Attack lançam antologia em Março

Os Massive Attack confirmaram a edição, a 27 de Março, de uma antologia que percorrerá os seus 15 primeiros anos de gravações. Collected terá uma edição corrente e uma outra, especial, na qual a antologia será acompanhada por um Dual Disc de bónus. Este disco adicional incluirá, num dos lados, um registo em CD de temas raros e novas versões e remisturas. O outro lado do disco é um DVD, com todos os telediscos do grupo, incluindo o do novo single Live With Me (com a participação de Terry Callier), realizado por Jonathan Glazer.

Aqui fica o alinhamento integral de Collected:
CD1: Safe From Harm, Karmacoma, Angel, Teardrop, Inertia Creeps, Protection, Butterfly Caught, Unfinished Sympathy, Risingson, Future Proof, Five Man Army, What Your Soul Sings, Sly e Live With Me
CD2: False Flags, Incantations, Silent Spring, Bullet Boy, Black Melt, Joy Luck Club, Small Time Shoot Em Up, I Against I, I Want You e Danny The Dog
DVD: Daydreaming, Unfinished Sympathy, Safe From Harm, Be Thankful For What You've Got, Sly, Protection, Karmacoma, Risingson, Teardrop, Angel, Inertia Creeps, Special Cases, Butterfly Caught, Live With Me e
Live With Me (Terry Version)

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Flaming Lips editam a 4 de Abril

Os Flaming Lips divulgaram finalmente o alinhamento do muito esperado At War With The Mystics, o successor do magnífico Yoshimi Battles The Pink Robots, de 2002. O álbum sai a 4 de Abril, em diversas edições, uma regular e uma outra limitada, que incluirá faixas extra, vídeos e mistura áudio em 5.1. O alinhamento apresenta um total de 12 faixas (algumas delas compósitas), entre as quais figura Mr Ambulance Driver, usada na banda sonora de The Wedding Crashers no ano passado. Antes da edição do álbum o grupo regressará à estrada para uma série de concertos, com primeira data num festival na Florida a 11 de Março.
Para os interessados, aqui fica o alinhamento completo de At War With The Mystics: The Yeah Yeah Yeah Song, Free Radicals, The Sound of Failure/It's Dark...Is It Always This Dark??, My Cosmic Autumn Rebellion, Vein of Stars, The Wizard Turns On..., It Overtakes Me/The Stars Are So Big, I Am So Small...Do I Stand a Chance?, Mr. Ambulance Driver, Haven't Got a Clue, The W.A.N.D., Pompeii Am Gotterdammerung e Goin' On.

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SINGLES: David Bowie, 1983

É unânime o reconhecimento de um evidente flirt com o mainstream por parte de David Bowie nos anos 80, do qual se saldou um álbum notável (Let’s Dance, de 1983), um mediano (Tonight, de 1984) e um medíocre (Never Let Me Down, de 1987). Let’s Dance surgiu em 1983 sob uma evidente vontade de reorientar rumos depois de quase 15 anos de ininterrupto protagonismo visionário sob a aclamação de melómanos e do grande público. Depois de uma súmula de ideias recentes no soberbo Scarry Monsters (1980) e de uma pausa nos dois anos que se seguiram (nos quais editou apenas singles, duetos e experimentou outras artes), Bowie recrutou o guitarrista dos Chic Nile Rogers para com ele criar um híbrido pop/rock com travo dançável (de notória afinidade disco) e com intenções de chegar mais longe que a mítica primeira experiência de contacto com certas dinâmicas rítmicas de escola negra que havia registado no álbum Young Americans, de 1975. Let’s Dance correspondeu em pleno ao que se desejava, tendo gerado três êxitos globais para Bowie com o tema-título, uma versão do seu China Girl (antes cantado por Iggy Pop) e o irresistível Modern Love. Seguiu-se a planetária Serious Moonlight Tour, que afirmou pela primeira vez Bowie como estrela pop mainstream global. Para fechar o bouquet, a editora norte-americana quis editar um quarto single do álbum. Escolheu Without You, faixa atípica do som do álbum, mais na linha do que os Roxy Music haviam feito na etapa Manifesto / Flesh And Blood, e que conta com a participação, no baixo, de Bernard Edwards (dos Chic). É uma bela canção, mas acabou ignorada depois de tão gigantes êxitos globais. No lado B servia-se uma versão de Criminal World, dos Metro. Para a capa, Keith Haring criou uma ilustração inédita. O single foi apenas editado nos EUA, Japão, Holanda e Espanha.

David Bowie “Without You” (EMI América, 1983)
Lado A: Without You (Bowie)
Lado B: Criminal World (Browne, Godwin, Lyons)
Produção: Nile Rogers
Não entrou nas tabelas de vendas


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A-ha dão música a 'O Código Da Vinci'

Os A-ha foram escolhidos para a banda sonora de O Código Da Vinci, a adaptação ao cinema do best seller de Dan Brown que Ron Howard dirigiu com um elenco onde figuram nomes como Tom Hanks, Ian McKellan, Jean Reno ou Audrey Tatou. Os Guns’N’Roses estiveram originalmente na mira da produção, mas os noruegueses acabaram por ser os escolhidos, mais concretamente a canção Celice, do seu discreto (para não dizer muito mais…) álbum de 2005. Esta não é a primeira vez que os A-ha dão canções ao cinema, tendo sido um dos seus maiores êxitos o tema The Living Daylights que gravaram para a banda sonora do filme James Bond de 1987, o primeiro com Timothy Dalton no papel de 007. O Código Da Vinci tem estreia mundial marcada para 19 de Maio, mas terá anteestreia na abertura oficial da edição deste ano do Festival de Cannes.

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segunda-feira, janeiro 23, 2006

Discos da semana, 23 Janeiro

Arctic Monkeys “Whatever People Say That I Am, That’s What I’m Not”
Não há como a imprensa musical britânica para criar o fenómeno do mês e eleger, a cada esquina, a next big thing. Clientes da velha máxima “rei-morto, rei-posto”, os ingleses não perdem tempo e, quando o poder vacila, logo encontram quem se segue… E como entram em cena os Arctic Monkeys? Pela Internet, num 2005 feito de muitos pequenos concertos e de ficheiros mp3 com maquetes oficialmente oferecidas, que abriram apetites e estimularam primeiros entusiasmos. Entraram da maneira certa na altura certa, respondendo com mais firmeza e fé em si mesmos que os demais candidatos a ocupar o lugar deixado vago pelos Libertines. Perante a reacção pouco entusiasmada da multidão face aos Art Brut (criticados por demasiado intelectuais, o que nem faz muito sentido, mas, enfim, quando um rótulo se cola não há como tirá-lo), o fracasso evidente dos Babyshambles e a pouca vontade de outros (como os The Rakes) em se cingir a este espaço, os Arctic Monkeys chegaram e venceram. Os primeiros sinais de promessa foram assinados com o single I Bet You Look Good On The Dance Floor, poderoso motor de entusiasmo rock para dançar, que os levou ao número um britânico em finais de 2005. Agora, o álbum mostra o que os mais cépticos esperavam: uma mão cheia de boas canções, mas mais parra que uva e mais entusiasmo prometido que feitos concretizados. O disco mostra uma materialização da equação clássica do sucesso indie inglês, com doses evidentes de punk de arestas limadas, melodismo de estádio, golpes de humor brit, queda para a dança e um sentido de discurso directo às massas populares. Como que, juntando num caldeirão só os Sex Pistols, os Oasis, os Smiths, os Stone Roses e os Libertines. Porém, estes últimos pesam excessivamente em algumas das canções, nivelando por baixo o que, noutros momentos, os Arctic Monkeys mostram saber fazer bem melhor, libertando-se momentaneamente da carga referencial destes heróis por meia dúzia de meses que, fora da ilha, e dentro de poucos anos, serão tão ilustres esquecidos. Alex Turner, o vocalista, tem verdadeiro sentido de humor, mas falta-lhe uma capacidade em dirigi-lo por palavras mais pessoais e inteligentes como o fez um Jarvis Cocker ou mesmo… os Art Brut. Há aqui belíssimos momentos. Além do fabuloso single que abriu apetites em 2005, recomendam-se a pop de Mardy Bum ou o travo ska em A Certain Romance. Mas o entusiasmo de papel de lustro da imprensa inglesa está a fazer do álbum (e da banda) mais que o que realmente a coisa é. E pode contribuir para que a sua evolução, sob holofotes constantes, se afirme por caminhos perversos… Sendo necessário “inventar” sucessor dentro de pouco tempo... O que nos deixa a pensar se publicações como o NME (o principal instigador destas modinhas) querem mesmo vender discos… ou jornais.

Beck “Guerolito”
Editado discretamente, este é um disco de remisturas de temas de Guero, o sólido álbum de síntese de rotas e destinos que Beck lançou em 2005. O disco recolhe algumas contribuições de vulto, de Adrock (dos Beastie Boys) aos Air (que em Heaven Hammer assinam o melhor momento do disco), dos Boards of Canada a Diplo, mas nada de substancial acontece. Habitualmente, estas revisões servem-se em CD singles, tendo aqui Beck tomado a opção (mais popular) de as juntar num disco só. Uma curiosidade apenas, para fãs. Não está mal, mas não acrescenta nada de fundamental…

Heaven 17 “Before After”
Apesar da separação em 1990, a carreira dos Heaven 17 já enfermava de falta de viço desde 1984, quando as premissas fundamentais da sua linguagem (um encontro das electrónicas com admiração evidente pelas escolas da soul de 60 e 70) deslaçaram e começaram a dar lugar a uma pop inconsequente. A reunião, em finais de 90, trouxe-os de regresso aos discos e, pela primeira vez, aos palcos. Mas só agora voltam a gravar um álbum ao nível do que nos mostram em inícios de 80. Este não é um Penthouse And Pavement 2, mas procura nesse clássico de 1981 as linhas estruturais de referência, voltando a inventar uma pop feita de electrónicas e soul, juntando às memórias de há 25 anos algumas marcas de actualidade, seja nos registos rítmicos, seja no estilo de produção. E assim editam um dos melhores discos da sua carreira.

Aldina Duarte “Crua”
Depois de uma promissora estreia, Aldina Duarte volta a mostrar uma segurança quase clássica na definição de um fado firme nos seus princípios fundamentais. Sem devaneios, sem extras, fixo num bom diálogo entre a voz e o acompanhamento, sob a atenção total de João Monge como letrista. Depois de um 2005 musicalmente salvo pelo fado por estes lados, 2006 começa bem…

Também esta semana: Broken Social Scene, Cat Power, Richard Ashcroft, Stereo MC’s (DVD), Jens Leckman, Talking Heads (reedições)

Brevemente:
30 Janeiro: Clap Your Hands Say Yeah, Coldcut, Devine & Statton (reedição), Isobel Campbell + Mark Lanegan, Johnny Cash (reedições), Royksopp (ao vivo), The Doors (ao vivo), BSO Walk The Line, Nick Cave (DVD), Varttina, Quantic
6 Fevereiro: Sparks, Belle & Sebastian, Tiga, Chumbawamba, Calla, William Orbit, The Czars, Ride (reedições)
13 Fevereiro: Beth Orton, Talking Heads (reedições), Larry Levan, Los Lobos, David Bowie (live EP), Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição),

Fevereiro: Cindy Kat, 4Hero, Arab Strap, Jane’s Addiction, Moby (ao vivo), Pharrell Williams, Sparks, Madonna (DVD), Eels (ao vivo), Elvis Costello, homenagem aos GNR, Burt Bacharah, Wonderstuff, Jacinta
Março: White Rose Movement, Protocol, Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, janeiro 22, 2006

Lou Reed expõe fotografia em Nova Iorque

Lou Reed acaba de inaugurar duas exposições de fotografia em Nova Iorque, uma na loja da Hermes na Madison Avenue, a outra na Steven Kasher Gallery, na West 23rd Street. Ambas as exposições mostram alguma da sua mais recente produção fotográfica digital, olhares invariavelmente postos sobre a sua cidade (Nova Iorque). As exposições servem também de apresentação ao livro de fotografia de Lou Reed, Lou Reed’s New York, 128 páginas de imagens que podem, para já, ser encomendadas através do site da galeria que as expõe.
A ilustrar este post, uma das fotografias em exposição: Inteligent Design, de 2005.

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Vendas digitais triplicaram em 2005

As vendas de música digital triplicaram em 2005. Segundo números divulgados pela associação fonográfica inglesa, foram vendidos 1,1 mil milhões de dólares de canções através das novas vias digitais, o que corresponde a seis por cento do total global do mercado musical. 60 por cento da música digital vendida provém de sites na Intrernet, 40 por cento é adquirida via telemóvel. Ao todo foram vendidos 420 milhões de downloads (20 vezes mais que em 2003, quando o negócio despontou). O país que mais comprou online foram os Estados Unidos, com 353 milhões de downloads. Seguiram-se o Reino Unido (26,4 milhões), Alemanha (21 milhões) e a França (8 milhões).

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Depeche Mode 06: primeiras impressões

Em jeito de antecipação ao concerto que nos visita nos primeiros dias de Fevereiro, no Pavilhão Atlântico, uma delegação de jornalistas portugueses foram ver como é a actual digressão dos Depeche Mode. Das opiniões publicadas parece ser evidente estarmos perante um alinhamento best of no qual o recente Playing The Angel não rouba protagonismos. Palco visualmente apelativo, espaço e movimentos estudados, e partilha de holofotes entre Dave Gahan e Martin Gore, num concerto que, já abre o apetite… Aqui ficam algumas das palavras de Davide Pinhiero, enviado do DN a Dusseldorf, hoje publicadas no jornal: “A maneira como o alinhamento é gerido revela um grupo ciente do seu percurso e do género de público que tem lotado os seus espectáculos. Há espaço para as canções do último álbum, Playing The Angel, mas, salvo o exemplo do single Precious, estas são aqui parentes pobres face a temas históricos como Never Let Me Down ou Question of Time. Serviu-se alinhamento não muito diferente, portanto, dos dias de 101 (acrescentando momentos dos anos 90), ou não se sentisse que esta digressão vai também resultar num álbum ao vivo. (…) Não há lugar para falhas nem ousadias. Tudo é pensado até ao último pormenor, sem espaço para improvisos. Desde as luzes que transmitem tons alegres em temas mais "coloridos", como Just Can't Get Enough, até aos ambientes negros de Behind The Wheel, ao mesmo tempo que uma bola gigante colocada num dos cantos do palco vai transmitindo mensagem alusivas à canção do momento.”

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Discos Voadores, 22 de Janeiro

Os Discos Voadores aproveitaram, esta semana, a edição de uma antologia dos Mano Negra para revisitar espaços híbridos de miscigenação entre gentes, geografias e culturas na pop actual.

Richard Swift “Losing Sleep”
Rufus Wainwright “Chelsea Hotel”
Clearlake “You Can’t have Me”
Clap Your Hands Say Yeah “Details Of The War”
Cloud Room “Beautiful Mess”
Strokes “Heart In A Cage”
World Leader Pretend “Bang Theory”
Pop Dell’Arte “Poppa Mundi”
Woman In Panic “A Forest”
Kelley Polar “My Beauty Without Tears”
Beck “Heaven Hammer”
Ultravox “New Europeans”
Every Move A Picture “Signs Of Life”
Baumer ”How The West 1”

KNX Crew “Pourquoi Un Titre?”
Arthur H “Est’ce Que Tu Aimes?”
Mathieu Persan “Does It Make You Feel Sad?”
Mano Negra “Mala Vida”
Les Negresses Vertes “Zobi La Mouche”
Hedningarna “Chicago”
Sétima Legião “A Volta do Mundo”
Amina “Diggé”
Gorán Bregovic + Ofra Haza “Elo Hi”
Bally Sagoo “Tum Bin Jiya”
Mler Ife Dada “À Sombra Desta Pirâmide”
Transglobal Underground “I, Voyager”
Mano Negra “Sidi’N’Bibi”
The Rakes “22 Grand Job”


Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM


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sábado, janeiro 21, 2006

RETRO: Ultravox, 1978

A evocação dos Ultravox como força determinante da chamada geração neo-romântica britânica é de tremenda injustiça para com a primeira etapa de vida do grupo, precisamente aquela em que representou uma lebre visionária pós-punk, cruzando a assimilação da ansiedade do punk com a emergente admiração pelas novas tecnologias electrónicas, gerando um dos mais espantosos depoimentos de personalidade híbrida entre as guitarras e os sintetizadores em finais de 70, num registo que lhes mereceu por vezes o rótulo cold wave dado o tom distante, monocórdico e pasticamente bem colocado do vocalista John Foxx. De facto, houve interessantíssima produção musical entre os Ultravox antes da chegada de Midge Ure (e da sua mais clara aproximação a uma pop mais acessível e a um evidente gosto por um certo barroquismo). Formados em 1974 sob evidente presença de admirações maiores pelas músicas de David Bowie e Roxy Music, gravaram um primeiro álbum em 1977 sob produção de Brian Eno. O aprumar da sua linguagem acontece, um ano depois, no terceiro álbum, Systems Of Romance, produzido por Conny Plank e hoje claro momento de referência quando se procura a fronteira entre as heranças rock e a emergência dos sintetizadores na primeira geração pós-punk britânica.
Concebido com a consciência laboratorial de quem trabalhava a construção de um híbrido (como que a sonhar, a médio prazo, com a diluição das partes convocadas num todo), o álbum surge divido em duas etapas evidentes, uma primeira sob protagonismo da genética rock que lhes era natural, a segunda entregue ao ensaio das novas ferramentas e formas electrónicas. O resultado fez de System Of Romance um disco tão apelativo quanto intrigante. Todavia, só o tempo lhe fez justiça e, na época, passou despercebido à margem das atenções, o que levou a editora a despedir a banda e a própria formação a desmembrar-se, com o vocalista John Foxx a partir para uma carreira a solo e o guitarrista Steve Shears a juntar-se aos Magazine. A remodelação do grupo, sob liderança de Midge Ure, chegou na hora certa no lugar certo e Vienna, o álbum que se seguiu, em 1980, foi um dos maiores êxitos do seu tempo.
Hoje, Systems of Romance é evocado como uma pérola que muito contribuiu para a invenção do futuro que se lhe seguiu. Apesar de ignorado pela multidão, o registo híbrido aqui ensaiado foi linguagem franca nos primeiros anos da década de 80, e serve hoje de motor a redescobertas com evidente presença em novas bandas que têm emergido sob mote encontrado no legado pós-punk.
Ultravox, "Systems Of Romance" (Island, 1978)

Se gostar do disco, escute depois:
Tubeway Army “Replicas” (1979)
The Associates “The Affectionate Punch” (1980)
The Killers "Hot Fuss" (2004)


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Desilusão no novo álbum dos Sparks

É uma inesperada desilusão o novo álbum dos Sparks. Hello Young Lovers é editado a 6 de Fevereiro e revela, apesar de um ou outro grande momento, uma banda ainda ofuscada pelo efeito sinfonista do assombroso (e genial) Lil’Beethoven, e incapaz de fugir à sua sombra, juntando-lhe temperos colhidos no seu passado, sobretudo nos dias de meados de 70. Não é uma desgraça, mas depois de um álbum como Lil’Beethoven esperava-se bem melhor. Todavia, nada de novo numa banda que, ao longo da sua obra, oscilou entre o melhor e o... menos bom.

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Festival Coachella em filme

O festival Coachella, espaço anualmente dedicado ao rock alternativo num desolado vale nas imediações desérticas de Los Angeles é protagonista de um documentário que chega ao circuito de salas (nos EUA) na próxima semana. O filme, realizado por Drew Thomas, chama-se, muito simplesmente, Coachella, e inclui actuações captadas nos palcos do festival ao long dos últimos seis anos, num alinhamento que reúne nomes como os Arcade Fire, Beck, Belle & Sebastian, Björk, Bright Eyes, Chemical Brothers, Fischerspooner, Flaming Lips, Iggy & the Stooges, Mars Volta, Morrisey, Oasis, Pixies, the Polyphonic Spree, Prodigy, Radiohead, Red Hot Chili Peppers, Roni Size, The White Stripes e Zero 7, entre outros. Sobre a vida posterior deste documentário nada se sabe, sendo mais certo esperar pela sua chegada até nós via DVD (certamente por importação). Quanto ao festival, terá a sua edição 2006 entre os dias 29 e 30 de Abril, com os Depeche Mode como único nome confirmado até ao momento. Os bilhetes são postos à venda a 4 de Fevereiro.
No site oficial do festival há galerias de imagens, informações adicionais sobre o filme e acesso directo às bilheteiras.

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sexta-feira, janeiro 20, 2006

Imagens reais com sabor a pop

Não é novidade a produção de fotografias cruzando imagens pop com figuras anónimas, criando híbridos estimulantes. Eis mais um exemplo. Vem de um site holandês e mostra online uma produção amadora de fotografias que diluem capas de discos na paisagem real. Lou Reed, Kim Wilde, Velvet Undreground, Bod Dylan e Bowie, muito Bowie, numa experiência que junta, na perfeição, a essência da ideia Sound + Vision.

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Mutantes reunem-se em Fevereiro

Mantendo vivos hábitos que vêm dos últimos anos, também 2006 vai assitir a reuniões de bandas em tempos dadas como definitivamente separadas. A mais espantosa das reuniões já anunciadas (segundo a revista Mojo) será a dos Mutantes, banda fundamental da história do psicadelismo pop (berço artístico de Rita Lee e uma das mais vivas forças criativas do Brasil musical), que se junta para actuar no festival Tropicalia, no Barbican Centre (Londres), em Fevereiro. A ocasião é aguardada com expectativa, sobretudo porque a cantora não fala com os restantes elementos da banda desde 1974! Entre as demais reuniões que se espera sejam confirmadas este ano contam-se os Smashing Pumpkins (na sequência de uma declaração recente de Billy Corgan, que desejava ver a sua banda e os seus sonhos de volta), os Throbbing Gristle, os mais dispensáveis Icicle Works e... os Genesis (com Peter Gabriel, pois está claro).

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'6ª', 20 de Janeiro

O número 2 da revista ‘6ª’, saiu hoje, com o Diário de Notícias. Entre os destaques:

Cinema:
Match Point, de Woody Allen
Onde Está a Verdade?, de Atom Egoyan
Orgulho e Preconceito, de Joe Wright
Primer, de Shane Carruth
DVD: Mar Adentro, de Alejandro Amenábar; Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Tim Burton, Little Britain (série dois)

Música:
Aldina Duarte. Entrevista e crítica a Crua
Heaven 17. Entrevista e crítica a Before After
Richard Ashcroft. Crítica a Keys To The World
Discos: Kelley Polar (destaque), Baumer, If Lucy Fell, Nikka Costa e Jan Jelinek, entre outros
DVD: Aimee Mann
World: Ronda dos Quatro Caminhos
Clássica: Paride ed Welena de Gluck e A Flauta Mágica de Mozart (DVD)
Reedições: Neu!

Livros:
Colecções sobre religião
Os Emigrantes, de W.G. Sebald
Poesia Reunida 1990-2005, de Ana Luísa Amaral
Fotobiografia de António Ramos Rosa, de Ana Paula Coutinho Mendes
Multidão, de António Negri e Michael Hard
O Sentimento de Um Ocidental, de Cesário Verde
BD: Aïeïa de Aldaal, de François Bourgeon

Escolhas:
Mercado
, em Lisboa
Uma Laranja Mecânica, na Culturgest (Lisboa)

Trailer:
Livros sobre António Variações em Março

Crónicas de:
David Fonseca, Salman Rushdie

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quinta-feira, janeiro 19, 2006

Nova homenagem a Serge Gainsbourg

Está em preparação um disco de tributo às canções de Serge Gainsbourg. O álbum terá edição internacional a 27 de Fevereiro, e é todo ele constituído por versões em inglês do autor mais mitificado da história pop/rock francesa. Neste tributo encontraremos versões de Gainsbourg pelos Franz Ferdinand, Carla Bruni, The Rakes, Marianne Faithfull, The Kills, Michael Stipe, Placebo, Jarvis Cocker, Portishead e Tricky. Um elenco de luxo num tributo que promete ser um dos discos de versões do ano, e que certamente ultrapassará os resultados do inesperadamente mediano Pop Sessions e do mais interessante I Love Serge. Pop Sessions, editado em 2001, foi o primeiro tributo a Gainsbourg, incluindo versões de nomes franceses como, entre outros, Rachid Taha, Etienne Daho, Les Rita Mitsouko, Françoise Hardy, Faudel e, claro Jane Birkin. I Love Serge, também de 2001, apontou azimutes às electrónicas com versões assinadas por nomes como Howie B, Faze Action, Herbert, Dzian & Kamien, The Orb ou Bob Sinclair.

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Depeche Mode incansáveis em 2006

Os Depeche Mode vão ter um ano cheio de acontecimentos. Além da digressão mundial, que os fará passar por Portugal nos primeiros dias de Fevereiro, apresentam um extenso calendário de edições (que o Planeta Pop revelou). Assim, além de mais dois singles a extrair de Playing The Angel (o terceiro, Suffer Well, em Fevereiro, o quarto, John The Revelator em Maio), o grupo vai reeditar toda a sua discografia de álbuns em Super Audio CD, prevendo ainda para 29 de Setembro o lançamento de um DVD que documentará a presente digressão e, a 2 de Novembro, um novo best of (CD e DVD). O plano de edições em SACD inicia-se em Março com Speak & Spell (1981), Music For The Masses (1987) e Violator (1990). Seguem-se, em Abril, A Broken Frame (1982), Construction Time Again (1983) e Some Great Reward (1984). Em Junho saem Black Celebration (1986), Songs Of Faith And Devotion (1993) e Songs Of Faith And Devotion Live (1993). A campanha fecha, em Agosto, com Ultra (1997) e Exciter (2001). Falta o excelente registo ao vivo, e banda sonora do filme de D.A. Pennebaker, 101

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SINGLES: Heaven 17, 1983

De uma cisão dos Human League, em 1980, nasceram duas facções que divergiram claramente entre si. Por seu lado, Phil Oakey conduziu o mais importante grupo pioneiro da história pós punk de Sheffield rumo a uma pop electrónica mais luminosa e acessível, com resultados logo evidentes no histórico álbum Dare!, de 1981. Ao mesmo tempo, os dissidentes Martyn Ware e Ian Craig Marsh juntavam-se a Glenn Gregory para, no âmbito da por si criada B.E.F. (British Electric Foundation), fazer nascer uma banda que cruzasse a sua linguagem estrutural electrónica com paixões pessoais bem evidentes pelas músicas negras. Surgiram assim os Heaven 17, com depoimento de afirmação de personalidade revelado no álbum de estreia Penthouse And Pavement, de 1981. Ali juntavam, precisamente, lógicas de construção de uma pop electrónica firme numa identidade rítmica metronómica e puslante, sobre ela lançando linhas vocais ricas em vitaminas negras. Porém, só no segundo álbum encontraram o híbrido perfeito entre os dois mundos que se propunham cruzar. Sob uma atmosfera de alguma pompa sinfónica, elaboraram em The Luxury Gap um álbum de continuidade no qual, apesar de um alinhamento menos poderoso que o do disco anterior, fizeram nascer um dos hinos de referência da sua carreira. Bissectriz perfeita entre pop electrónica e a canção soul, Temptation é um dos mais bem nascidos frutos da revolução pop que as bandas herdeiras da revolução kraftwerkiana lançaram na Inglaterra de finais de 70 e inícios de 80. O cuzamento da voz grave e possante de Glenn Gregory com a pujança soul da cantora convidada Karol Kenyon, e a sobreposição das electrónicas de Ware e Marsh com a força carnal de uma orquestra sinfónica geraram aqui um clássico.

HEAVEN 17 “Temptation” (Virgin, 1983)
Lado A: Temptation (Gregory/Marsh/Ware)
Lado B: We Live So Fast (Gregory/Marsh/Ware)
Produção: B.E.F./Greg Walsh
Posição mais alta no Reino Unido: 2
Editado em Portugal pela Edisom


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Portugueses na 'Les Inrocks'

A última edição da Les Inrockuptibles dá mais evidentes sinais da (nova) boa relação entre a cultura “alternativa” francesa e Portugal. A revista dedica quatro páginas à recente estreia francesa do filme Odete, de João Pedro Rodrigues, incluindo uma entrevista com o realizador, descrevendo o filme no texto principal como “nos antípodas do cinema de autor francês”, aceitando-o como um desafio, procurando ainda descodificar em si heranças do melodrama segundo Douglas Sirk ou de uma ideia de fábula teórica ao jeito de um Pasolini… A mesma edição da revista apresenta uma extensa crítica ao disco de tributo a Scott Walker, Angels Of Ashes, que a Transformadores lançou entre nós há quase um ano e que agora, em parceria com uma etiqueta francesa, edita por aqueles lados. O texto elogia sobretudo as leituras dos Plaza, Xana, Flak, BCN e Raindogs. E dá mais justificada visibilidade a este disco que muitas outras rádios, televisões e publicações aqui do burgo o fizeram. Dá para pensar…

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terça-feira, janeiro 17, 2006

Globos de Ouro para filme de Ang Lee

O filme de Ang Lee Brokeback Mountain (na versão portuguesa O Segredo de Brokeback Mountain), que venceu a edição 2005 do Festival de Veneza, e tem estreia nacional marcada para 9 de Fevereiro, foi o grande vencedor da edição deste ano dos Globos de Ouro (que muitas vezes dão pistas certeiras sobre eventuais nomeações e mesmo triunfos nos Óscares). O filme (que o Sound + Vision já viu e, garante, é arrebatador) conquistou os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento e Melhor Canção Original. O outro grande vencedor desta noite foi o também recomendado Walk The Line, biopic sobre Johnny Cash (estreia a 16 de Fevereiro), premiado como Melhor Filme (Comédia ou musical), e entregando a Joaquin Phoenix o Globo para Melhor Actor (comédia ou musical) e a Reese Witherspoon o de Melhor Actriz (comédia ou musical). A banda sonora eleita pelos jornalistas estrangeiros residentes em Los Angeles (quem escolhe, afinal, os Globos de Ouro) foi parar às mãos de John Williams pela vulgar quiche de música japonesa e sinfonismo de ir às lágrimas do medíocre Memórias de Uma Geisha (estreia dia 26 deste mês).
Para os interessados em detelhes, aqui fica a lista completa dos vencedores:

CINEMA
Melhor Filme: O segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee
Melhor realizador: Ang Lee, O segredo de Brokeback Mountain
Actriz (drama): Felicity Huffman, Transamerica
Actor (drama): Philip Seymour Hoffman, Capote
Actriz (comédia ou musical): Reese Witherspoon, Walk the line
Actor (comédia ou musical): Joaquin Phoenix,
Walk the line
Actriz secundária: Rachel Weisz, O Fiel Jardineiro
Actor secundário: George Clooney, Syriana
Melhor filme (comédia ou musical): Walk the Line
Melhor filme estrangeiro: Paradise Now, Hany Abu-Assad (Palestina)
Melhor argumento: O segredo de Brokeback Mountain, por Larry McMurtry e Diana Ossana
Canção original: A love that will never grow old, de Gustavo Santaolalla, de O segredo de Brokeback Mountain
Banda sonora: Memórias de uma Geisha, John Williams


TELEVISÃO
Actriz (drama): Geena Davis, Commander in Chief
Actor (drama): Hugh Laurie, House
Actriz (comédia ou filme musical): Mary-Louise Parker, Weeds
Actor (comédia ou filme musical): Steve Carell,
The Office
Actriz (mini-série ou filme): S. Epatha Merkerson,
Lackawanna Blues
Actor (mini-série ou filme): Jonathan Rhys Meyers, Elvis
Actriz secundária (série, mini-série ou filme): Sandra Oh, Grey’s Anatomy
Actor secundário (série, mini-série ou filme): Paul Newman, Empire Falls
Série: Donas de Casa desesperadas
Série (drama): Perdidos
Mini-série ou filme: Empire Falls


Prémio de carreira Cecil B. DeMille: Anthony Hopkins

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Os pioneiros da música electrónica

Foi lançada, em edição especial (pela Ellipsis Arts), a caixa OHM + The Early Gurus Of Electronic Music, uma antologia sobre a história da música electrónica e dos seus pioneiros, nas mais variadas frentes, entre 1942 e 1980. Trata-se de um CD triplo, com um DVD de bónus e um livro de 112 páginas dedicado a nomes como Olivier Messiaen, John Cage, Pierce Schaeffer, Edgar Varèse, Karlheinz Stochkausen, Raymond Scott, Steve Reich, Terry Riley, Holgar Czukay, Iannis Xenakis, La Monte Young, Klaus Shulze, Jon Hassell ou Brian Eno, entre muitos mais. O Disco inclui 48 temas gravados, e o DVD duas horas de excertos de actuações, de entrevistas e documentários (entre os quais vemos Theremin a dar uma explicação sobre como funciona a sua invenção, um excerto de Three Tales, de Steve Reich, ou John Cage a tocar Attention). Uma antologia traçada entre tecnologias de agora e do passado, entre fitas magnéticas, transístores, osciladores, amplificadores ou geradores. Entre theremins, ondas martenot e sintetizadores moog… Ou seja, a pré-história do futuro da música.

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Prémio para música alternativa nos EUA

Foi criado um novo prémio para distinguir discos que não tenham sequer vendido 500 mil unidades nos Estados Unidos. Chama-se New Pantheon Award e foi moldado à imagem do inglês Mercury Prize. A lista de nomeados foi já divulgada, sendo constituída pelos álbuns Extraordinary Machine de Fiona Apple, Funeral dos Arcade Fire, Feels dos Animal Collective, I’m A Bird Now de Antony And The Johnsons, Silent Alarm dos Bloc Party, Plans dos Death Cab For Cutie, Picaresque dos Decembrists, Aha Shake Headbreak dos Kings Of Leon, Arular de MIA e Illionoise de Sufjan Stevens. O vencedor é anunciado a 6 de Fevereiro em Los Angeles.

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segunda-feira, janeiro 16, 2006

Discos da semana, 16 de Janeiro

Kelley Polar “Love Songs Of The Hanging Gardens”
Depois de uma carreira feita, até aqui, de colaborações no projecto Metro Area, tocando em quartetos de cordas (a troco de ordenado para pagar a renda da casa), e alguns máxis em pequenas independentes nova iorquinas, eis que se estreia em álbum o violetista Kelley Polar, com aquele que promete ser um dos mais atraentes depoimentos pop do ano. O álbum é um pequeno laboratório de felizes experiências de pop electrónica, nas quais o músico concilia velhos gostos por modelos de finais de 70 e inícios de 80 (de Moroder a Prince, mas com os Kraftwerk como presença mais evidente) com o apelo pastoral de canções que olham para lá da cidade. Este é um álbum de aparentes opostos unidos por uma voz suave e pela sólida escrita pop de um croata que há muito vive na América e tem história pessoal feita de episódios curiosos, um dos quais a sua expulsão da Juliard School. Love Songs Of The Hanging Gardens é um dos melhores discos de electrónicas em formato de canção que escutámos nos últimos tempos e mais um belo cartão de visita para um ano que começa bem.

Pop Dell’Arte “POPlastik”
Aos 20 anos de carreira, um balanço com sabor a desejos de futuro. Num só disco os Pop Dell’Arte apresentam três inéditos e convocam depois mais 17 temas de uma história que começou com o sonho de uma participação no concurso de música moderna do Rock Rendez Vous em 1985 e acabou por se transformar numa das mais visionárias e interessantes carreiras da pop portuguesa. Apesar da intermitência, a obra do grupo sempre se fez de surpresa e inovação, cruzando premissas pop com linguagens colhidas noutras formas de arte, da colagem ao ready made. Este best of consegue ilustrar bem todas as etapas da vida do grupo, das ideias mais experimentalistas dos primeiros tempos ao patamar de reflexão sobre o futuro em que hoje residem, através de temas fundamentais na história pop dos últimos 20 anos como Sonhos Pop, Querelle, Illogik Plastic, Rio Line, 2002, Poppa Mundi ou So Goodnight. Um balanço justo e oportuno, a pensar que há ainda história por fazer…

Também esta semana: Blue Aeroplanes (reedição), Regina Spektor, Miss Kittin, Tortoise + Bonnie Prince Billy

Brevemente:
23 Janeiro: Arctic Monkeys, Aldina Duarte, Beck, Broken Social Scene, Cat Power, Clap Your Hands say Yeah, Richard Ashcroft, Stereo MC’s (DVD), Jens Leckman, Ride (reedição), Talking Heads (reedição), Heaven 17
30 Janeiro: Coldcut, Devine & Statton (reedição), Isobel Campbell + Mark Lanegan, Johnny Cash (reedições), Royksopp (ao vivo), The Doors (ao vivo), BSO Walk The Line, Jacinta

Fevereiro: Cindy Kat, 4Hero, Arab Strap, Belle & Sebastian, Jane’s Addiction, Moby (ao vivo), Pharrell Williams, Sparks, White Rose Movement, Madonna (DVD), Eels (ao vivo), Elvis Costello, homenagem aos GNR, Burt Bacharah, Wonderstuff
Março: Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, janeiro 15, 2006

'Les Inrocks' revela novos talentos

A revista francesa Les Inrockuptibles dedicou uma edição à apresentação de novos talentos musicais franceses que possam, potencialmente, vir a ser notícia em 2006. O texto vem acompanhado de um CD (com o título Ceux Qu’il Faut Decouvrir) com uma canção para cada um dos 20 nomes revelados, alguns deles já com singles editados em 2005, todos ainda à espera de um primeiro álbum, muitos ainda à espera de editora. A audição do disco revela, contudo, e sobretudo entre as primeiras dez faixas, uma desoladora decepção. A esmagadora maioria das canções circula entre o medíocre e mediano, quase todas elas em jeito de pastiche aos modelos que parecem admirar, de Aimee Mann aos Mazzy Star, de Yann Tiersen a outros valores transversais das actuais cenas alternativas. Há, contudo, algumas boas surpresas. O colectivo KNX Crew, de Saint Etienne, com ares de squatters e alma que traduz o ecumenismo além-género da França multicultural actual, cruza hip hop com uma boa dinâmica de canção e espantoso sentido de encenação, utilizando com inteligência novas ferramentas ao serviço do som, sobretudo as que permitem boas acções de corte e costura. Além destes, devemos estar atentos aos In The Club (os Every Move A Picture franceses), aos Motel (boa melancolia indie), a Angine 3 (um bom laboratório de novas ideias pop) e, sobretudo, ao cantautor com gostos eléctricos, Mathieu Persan.

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SINGLES: Blur, 1991

Antes de se falar em brit pop, antes da reinvenção do grupo como inventivos experimentadores indie rock, muito antes de aventuras paralelas com hip hop e outras contaminações, os Blur eram, em finais de 80, jovens aspirantes a um lugar ao Sol num panorama pop alternativo britânico que, apesar das boas prestações dos House of Love, Ride ou Stone Roses, ainda não tinha encontrado uma banda capaz de repetir o protagonismo dos Smiths. Em 1989, quando surgiram, chamavam-se ainda Seymour, e depois de alguns concertos, e de um rápido contrato com a Food Records (subsidiária com espírito indie da EMI), mudaram de nome para Blur, editando como single de estreia o soberbo She’s So High, que levou muitos a confundi-los com a vaga shoegazer que proliferava na altura. Mas os Blur tinham outras referências nas suas memórias musicais pessoais, cruzando o som indie de finais de 80 (o novo apelo dançável em terreno pop/rock e as então redescobertas vitaminas criativas do psicadelismo) com paixões que mais tarde se revelariam evidentes, dos Kinks aos Madness, do punk (escola Jam) aos Small Faces, não esquecendo naturalmente os Smiths. O segundo single dos Blur, There’s No Other Way, catapultou-os imediatamente para um patamar de protagonismo numa cena pop que então procurava alimento na euforia do Madchester (com a qual a banda foi também confundida). A estrutura rítmica da canção sugeria essa afinidade (apenas pontual, como depois se constataria), mas o melodismo exibia uma alma herdeira de várias histórias pop inglesas de 60 e 70 que definiriam, mais tarde, o caminho de demanda de personalidade daquela que se afirmaria, dez anos depois, como a melhor banda britânica da geração de 90. Apesar de datado e relativamente incaracterístico no seio da obra total do grupo, There’s No Other Way foi a canção que colocou o grupo no mapa e, sem dúvida, um dos melhres singles de 1991.

BLUR “There’s No Other Way” (Food, 1991)
Lado A: There’s No Other Way” (Albarn/Albarn, Coxon, James, Rowntree)
Lado B: Inertia (Albarn/Albarn, Coxon, James, Rowntree)
Produção: Stephen Street e Blur
Posição mais alta no Reino Unido: 11


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Discos Voadores, 14 de Janeiro

Depois de feitas as contas sobre 2005, os Discos Voadores começaram, este fim de semana, a espreitar os discos e rumos pelos quais se faz a história do novo ano. Em destaque esteve Richard Swift, os seus dois primeiros álbuns (agora reunidos num só), o seu universo de referências (Dylan, Tom Waits, Van Dyke Parks, Kinks) e alguns casos de afinidade de género no presente.

Kelley Polar “My Beauty In The Moon”
Depeche Mode “A Pain I’m Used To (Telex Remix)”
Woman In Panic “ASDF”
Cut Copy “Going Nowhere”
Cindy Kat “Polaroide”
Protocol “She Waits For Me”
Baumer “How The West 1”
Every Move A Picture “Signs Of Life”
Shamen “Jesus Loves Amerika”
Pop Dell’Arte “J’Ai Oublié (All My Life)”
Cloud Room “Beautiful Mess”
The Strokes “You Only Live Once”
Magazine “Shot By Both Sides”
Arctic Monkeys “I Bet You Look Good On The Dance Floor”
The Rakes “22 Grand Job”

David Fonseca “Cold Heart”
Neutral Milk Hotel “King Of The Carrots Flower”
Architecture In Helsinki “It’s 5!”
Belle & Sebastian “Funny Little Frog”
Richard Swift “Losing Sleep”
Bright Eyes “At The Bottom Of Everything (live)”
Sufjan Stevens “John Gacey Jr”
Richard Swift “Beautiful Heart”
Richard Swift “The Novelist”
Tom Waits “Alice”
Rufus Wainwright “Chelsea Hotel”
Bob Dylan “I Want You”
Kinks “A Well Respected Man”
Van Dyke Parks “The Eagle And Me”
Belle Chase Hotel “Goldfinger”
Arthur H “Est’ce Que Tu Aimes”
Beck “Heaven Hammer”


Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM

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Uma adaptação "impossível"?

Como adaptar ao cinema esse incontornável antepassado do moderno romance que é Tristram Shandy, ou melhor, The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman, de Laurence Sterne (1713-1768)? É bem verdade que estamos perante um daqueles objectos literários tradicionalmente carimbados de "impossíveis" para cinema. Seja como for, o filme está pronto: chama-se Tristram Shandy: A Cock & Bull Story e, de acordo com as informações (e imagens) disponíveis, encena o protagonista como personagem de um filme que está a ser rodado. O autor da proposta é nada mais nada menos que Michael Winterbottom, o mesmo de 24 Hour Party People (2002), Neste Mundo (2002) e Nove Canções (2004). Para interpretar Shandy, Winterbottom voltou a convidar Steve Coogan (que já víramos dirigido por ele em 24HPP), estando o papel do "realizador-dentro-do-filme" entregue a Jeremy Northam; Gillian Anderson e Stephen Fry são alguns dos outros protagonistas. Para já, vale a pena delicionarmo-nos com o muito sugestivo trailer, disponível na Apple ou no site oficial do próprio filme. Aliás, este site ficará por certo na história da relação filmes/Internet: concebido como uma página de entrada de um computador e integrando diversos links através de janelas de e-mails, é um exemplo brilhante de utilização das novas vias de divulgação e promoção dos filmes.

+ Tristram Shandy: A Cock & Bull Story, de Michael Winterbottom, tem música de Michael Nyman e estreia a 20 de Janeiro na Grã-Bretanha e a 27 de Janeiro nos EUA. Tendo em conta o respectivo calendário internacional, podemos supor que será um título presente no Festival de Cannes (17/28 Maio). Para já, não está anunciada a sua distribuição em Portugal.

+ Sobre Laurence Sterne, sugerimos a consulta da respectiva página na
Wikipedia; é possível também encontrar o texto integral do romance; fundamental é a passagem pela Tristram Shandy Web, concebida por Patrizia Nerozzi Bellman, professora de Literatura Inglesa da Universidade de Milão.

+ O livro de Laurence Sterne existe em versão portuguesa: A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, com tradução, prefácio e notas de Manuel Portela (ed.
Antígona).