segunda-feira, janeiro 23, 2006

Discos da semana, 23 Janeiro

Arctic Monkeys “Whatever People Say That I Am, That’s What I’m Not”
Não há como a imprensa musical britânica para criar o fenómeno do mês e eleger, a cada esquina, a next big thing. Clientes da velha máxima “rei-morto, rei-posto”, os ingleses não perdem tempo e, quando o poder vacila, logo encontram quem se segue… E como entram em cena os Arctic Monkeys? Pela Internet, num 2005 feito de muitos pequenos concertos e de ficheiros mp3 com maquetes oficialmente oferecidas, que abriram apetites e estimularam primeiros entusiasmos. Entraram da maneira certa na altura certa, respondendo com mais firmeza e fé em si mesmos que os demais candidatos a ocupar o lugar deixado vago pelos Libertines. Perante a reacção pouco entusiasmada da multidão face aos Art Brut (criticados por demasiado intelectuais, o que nem faz muito sentido, mas, enfim, quando um rótulo se cola não há como tirá-lo), o fracasso evidente dos Babyshambles e a pouca vontade de outros (como os The Rakes) em se cingir a este espaço, os Arctic Monkeys chegaram e venceram. Os primeiros sinais de promessa foram assinados com o single I Bet You Look Good On The Dance Floor, poderoso motor de entusiasmo rock para dançar, que os levou ao número um britânico em finais de 2005. Agora, o álbum mostra o que os mais cépticos esperavam: uma mão cheia de boas canções, mas mais parra que uva e mais entusiasmo prometido que feitos concretizados. O disco mostra uma materialização da equação clássica do sucesso indie inglês, com doses evidentes de punk de arestas limadas, melodismo de estádio, golpes de humor brit, queda para a dança e um sentido de discurso directo às massas populares. Como que, juntando num caldeirão só os Sex Pistols, os Oasis, os Smiths, os Stone Roses e os Libertines. Porém, estes últimos pesam excessivamente em algumas das canções, nivelando por baixo o que, noutros momentos, os Arctic Monkeys mostram saber fazer bem melhor, libertando-se momentaneamente da carga referencial destes heróis por meia dúzia de meses que, fora da ilha, e dentro de poucos anos, serão tão ilustres esquecidos. Alex Turner, o vocalista, tem verdadeiro sentido de humor, mas falta-lhe uma capacidade em dirigi-lo por palavras mais pessoais e inteligentes como o fez um Jarvis Cocker ou mesmo… os Art Brut. Há aqui belíssimos momentos. Além do fabuloso single que abriu apetites em 2005, recomendam-se a pop de Mardy Bum ou o travo ska em A Certain Romance. Mas o entusiasmo de papel de lustro da imprensa inglesa está a fazer do álbum (e da banda) mais que o que realmente a coisa é. E pode contribuir para que a sua evolução, sob holofotes constantes, se afirme por caminhos perversos… Sendo necessário “inventar” sucessor dentro de pouco tempo... O que nos deixa a pensar se publicações como o NME (o principal instigador destas modinhas) querem mesmo vender discos… ou jornais.

Beck “Guerolito”
Editado discretamente, este é um disco de remisturas de temas de Guero, o sólido álbum de síntese de rotas e destinos que Beck lançou em 2005. O disco recolhe algumas contribuições de vulto, de Adrock (dos Beastie Boys) aos Air (que em Heaven Hammer assinam o melhor momento do disco), dos Boards of Canada a Diplo, mas nada de substancial acontece. Habitualmente, estas revisões servem-se em CD singles, tendo aqui Beck tomado a opção (mais popular) de as juntar num disco só. Uma curiosidade apenas, para fãs. Não está mal, mas não acrescenta nada de fundamental…

Heaven 17 “Before After”
Apesar da separação em 1990, a carreira dos Heaven 17 já enfermava de falta de viço desde 1984, quando as premissas fundamentais da sua linguagem (um encontro das electrónicas com admiração evidente pelas escolas da soul de 60 e 70) deslaçaram e começaram a dar lugar a uma pop inconsequente. A reunião, em finais de 90, trouxe-os de regresso aos discos e, pela primeira vez, aos palcos. Mas só agora voltam a gravar um álbum ao nível do que nos mostram em inícios de 80. Este não é um Penthouse And Pavement 2, mas procura nesse clássico de 1981 as linhas estruturais de referência, voltando a inventar uma pop feita de electrónicas e soul, juntando às memórias de há 25 anos algumas marcas de actualidade, seja nos registos rítmicos, seja no estilo de produção. E assim editam um dos melhores discos da sua carreira.

Aldina Duarte “Crua”
Depois de uma promissora estreia, Aldina Duarte volta a mostrar uma segurança quase clássica na definição de um fado firme nos seus princípios fundamentais. Sem devaneios, sem extras, fixo num bom diálogo entre a voz e o acompanhamento, sob a atenção total de João Monge como letrista. Depois de um 2005 musicalmente salvo pelo fado por estes lados, 2006 começa bem…

Também esta semana: Broken Social Scene, Cat Power, Richard Ashcroft, Stereo MC’s (DVD), Jens Leckman, Talking Heads (reedições)

Brevemente:
30 Janeiro: Clap Your Hands Say Yeah, Coldcut, Devine & Statton (reedição), Isobel Campbell + Mark Lanegan, Johnny Cash (reedições), Royksopp (ao vivo), The Doors (ao vivo), BSO Walk The Line, Nick Cave (DVD), Varttina, Quantic
6 Fevereiro: Sparks, Belle & Sebastian, Tiga, Chumbawamba, Calla, William Orbit, The Czars, Ride (reedições)
13 Fevereiro: Beth Orton, Talking Heads (reedições), Larry Levan, Los Lobos, David Bowie (live EP), Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição),

Fevereiro: Cindy Kat, 4Hero, Arab Strap, Jane’s Addiction, Moby (ao vivo), Pharrell Williams, Sparks, Madonna (DVD), Eels (ao vivo), Elvis Costello, homenagem aos GNR, Burt Bacharah, Wonderstuff, Jacinta
Março: White Rose Movement, Protocol, Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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