quarta-feira, novembro 30, 2005

Londres 05: Heaven 17 + The Modern

Com novo album de originais a lançar entre nós em Janeiro, pela Ananana, os Heaven 17, veteranos da geração pop electrónica que emergiu em Sheffield entre finais de 70 e inícios de 80, assinalaram ontem o regresso à actividade com um concerto no Scala, um velho teatro londrino na zona de King’s Cross.
A noite, serviu de estreia de palco para uma série de ideias, das novas canções de Before After (quatro apenas, quase todas bem acolhidas pela plateia que enchia a sala) a muitas revisões e adaptações aos tempos modernos de uma série de clássicos da sua longa careira, sobretudo colhidos nas memórias mais suculentas dos dois primeiros albuns, respectivamente Penthouse and Pavement (fundamental estreia, em 1981) e The Luxury Gap (1983). Geisha Boys And Temple Girls, que pela primeira vez subiu a um palco, respira electrónicas actuais, todavia claras sendo as marcas de um registo retro que evoca as raízes do grupo. O tema-título do primeiro álbum, Penthouse And Pavement, foi reinventado em regime deep house para festa total da plateia, Glenn Gregory tambem em elegante pezinho de dança. Temptation cruzou formas originais com estruturas house, contando com a colaborção das três cantoras convidadas. Crushed By The Wheels Of Industry é agora ainda mais maquinal que na origem. E We Don’t Need This Fascist Groove Thing surge cantado como hino que volta a fazer sentido no cenário actual (o grupo, de resto, pondera a sua regravação com nova letra). Já o tranquilo Come Live With Me teve direito a evocação na sua forma original. No encore, além de um soberbo Do I Belive?, uma justificada versão (não muito distante do original) do histórico Being Boiled, o single de estreia dos Human League. Nada de estranho nesta escolha para fim de alinhamento, já que o tema foi assinado por Ian Craig Marsh e Martyn Ware, desde 1980 nos Heaven 17, mas fundadores, anos antes, dos Human League.
Na primeira parte actuou mais uma banda herdeira da geração pop que viu nascer os Heaven 17, Human League, Blondie e Duran Duran. Chamam-se The Modern, e têm nestas duas últimas referências o seu bem evidente livro de estilo. Como tantos parceiros desta nova geração (Protocol, White Rose Movement, Every Move A Picture), cruzam guitaras pós-punk com sintetizadores analógicos com 25 anos de idade e reinventam uma pop que acredita em refrões, imagem polida e maquilhagem quanto baste. Boas ideias apenas, mas uma ou outra canção que abre apetites para um álbum de estreia a editar em Fevereiro, pela Mercury.
A saída, a equipa da empresa Live Here Now vendia o CD (duplo) com a gravação do concerto que o Scala acabara de ver. Uma ideia que os The Gift ja aplicaram em Portugal na digressao deste ano, mas com o valor acrescentado de uma capa em digipack (imagem neste post) que dá outro aspecto a coisa...

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terça-feira, novembro 29, 2005

Matt Damon visto por Martin Scorsese

Matt Damon é Collin Sullivan, elemento da polícia de Boston, envolvido numa trama de sucessivos confrontos com a mafia irlandesa. É assim que o vamos ver em The Departed, o novo filme de Martin Scorsese, em fase de pós-produção, com lançamento americano previsto para Agosto de 2006. Damon é apenas um dos nomes sonantes de um elenco que inclui ainda Leonardo DiCaprio, Jack Nicholson, Martin Sheen e Vera Farmiga (que vimos em O Candidato da Verdade, de Jonathan Demme). Inspirado na produção de Hong Kong Infernal Affairs (2002), The Departed foi escrito por William Monahan, argumentista de Reino dos Céus, de Ridley Scott. Scorsese reencontra alguns colaboradores de eleição, incluindo Michael Ballhaus (fotografia), Howard Shore (música) e Telma Schoonmaker (montagem).

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Reality TV: o vazio *

O actual reality show da Ende-mol, 1ª Companhia, está a conseguir a proeza de banalizar o lugar simbólico da instituição militar na memória nacional e no imaginário português. Todos os dias, na TVI, podemos assistir a longos minutos (por vezes horas) de emissão em que, metodicamente, se reduzem as referências militares a mero pretexto para fazer valer a cultura do “divertimento” que, com armas e bagagens, tomou o poder no espaço televisivo, incluindo na televisão dita do Estado.
Claro que a instituição militar não pode ser dispensada de nenhum olhar crítico ou artístico. Aliás, a história ensina que os militares estão ligados às convulsões mais sublimes e mais tenebrosas da humanidade. O cinema, em particular, tem sabido reflectir tal complexidade, desde a luminosidade de A Grande Ilusão (Jean Renoir, 1937) até ao negrume de O Pianista (Roman Polanski, 2002), passando pela crueldade burlesca de Onde Fica a Guerra? (Jerry Lewis, 1970). A própria televisão pode ter um papel importante nessa abordagem: recordemos o caso recente de Irmãos de Armas (2001), série a cuja produção estão ligados Steven Spielberg e Tom Hanks.
No site português da Endemol, a empresa lembra que “entrou no 3º milénio com uma revolução chamada ‘Big Brother’”. A afirmação não poderia ser mais justa. De facto, os reality shows impuseram uma ideologia apoiada em duas formas de violência mediática: primeiro, o ser humano “deve” aceitar passivamente todas as imagens que sobre ele se possam produzir; segundo, não existem verdadeiros laços sociais porque, em última instância, “todas” as imagens são frívolas e promovem a irresponsabilidade do olhar. O problema não está, por isso, em que se façam “caricaturas” dos militares. O problema está em que aqueles patéticos “famosos” estejam a esvaziar toda a simbologia histórica que convocam.
Que isto aconteça perante o imenso silêncio de militares e políticos, eis o que diz bem do entorpecimento social que a televisão instalou. Não que fosse importante que um qualquer estado-maior abrisse um inquérito. Nem se deseja que alguém apele a proibições ou limitações à liberdade de expressão. Mas é, no mínimo, terrível que, face a 1ª Companhia, não haja um único sinal institucional dessa salutar virtude humana que é a indignação.
A mentalidade triunfante conseguiu até impor a ideia de que a “crítica” apenas pretende encher os horários nobres de coisas esquisitas como… filmes de Ingmar Bergman. Acontece que os críticos não são um rebanho de estúpidos: para além das suas muitas diferenças, nunca ninguém escreveu qualquer dislate do género. Em todo o caso, quem quiser sustentar tal argumentação, terá que começar por defender a inteligência da 1ª Companhia contra a mediocridade de Bergman. Estamos todos ansiosos.
* Este texto foi publicado no "Diário de Notícias" (27 Nov.), com o título O entorpecimento.

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Londres 05: Protocol + The Bravery

Depois de uma relativa desilusão com os White Rose Movement (que, na passada sexta-feira, não mostraram no Ministry Of Sound mais trunfos que os que tem, ou vão ter, em single), os Protocol, outra das novas bandas londrinas claramente nascidas sob a influência estimulante de memórias colhidas no pós-punk britânico, deram sinais que a sua estreia em álbum, marcada para a Primavera de 2006 (Island Records), poderá deles fazer um dos nomes a seguir com atenção no ano que aí vem. O concerto que deram ontem à noite na Brixton Academy (na primeira parte dos Bravery) mostrou que são uma banda coesa no som, na imagem, na atitude em palco e com uma bela mão cheia de canções que fazem do single de estreia, o belíssimo She Waits For Me, apenas um bom momento entre um álbum que parece estar cheio de ideias pop, na mais tradicional acepção da palavra.
Os Protocol são cinco londrinos na casa dos vinte e poucos, e assumem-se admiradores dos Sex Pistols, Madonna, Depeche Mode, David Bowie, Roxy Music ou Blondie. Acabaram com este concerto em Londres uma digressão de suporte aos Bravery em solo britânico, escolha natural não só pelas afinidades de som e referências, mas também pelo facto de partilharem uma mesma editora. Em Outubro editaram o single de estreia She Waits For Me, que às referências acima citadas junta Joy Division e Duran Duran. Esse foi, naturalmente, o tema que fechou em glória a actuação de perto de 40 minutos na Brixton Academy. Uma canção viciante, suportada por um baixo marcante e com um refrão que se cola as orelhas. De resto, as restantes canções deixaram claro que os Protocol sabem encontrar bons refrões para as suas canções. Que o diga, sobretudo, o próximo single, Where’s The Pleasure?, a editar em Fevereiro, tema de estrutura clássica (verso, ponte e refrão) que lembra o belíssimo Come On Home dos Franz Ferdinad mas juntando um refrão viciante que lhe garante identidade própria e, haja rádio atenta, boa vida no FM de 2006. Boas pistas colhidas ainda em canções como Headaches Hertbreaks (escola Joy Division bem evidente), Love Is My Drug e Beautiful Girlfriend, todas elas em diálogo entre uma força rock para guitarras, decorações electrónicas para teclados com 25 anos e uma alma pop que faz das canções pequenos rebuçados que dão vontade de se saborear muitas vezes. Esperemos, então, por Rules Of Engagement, o álbum a editar em 2006...
Apesar das boas novas dos Protocol, a noite foi dos Bravery, que em nada mostraram ser a banda de equívocos (ou má sorte?) que não contagiou quem os viu em Agosto, em Paredes de Coura. Correram essencialmente sobre as canções do seu álbum de estreia, coesos e com garra, arrebatando o entusiasmo de uma Brixton Academy cheia. Momentos altos em An Honest Mistake (em versão longa, que não disfarça a alma protectora dos New Order), Tyrant, Out Of Line e Public Service Anouncement. Estrearam o novo Angelina, mediano pastiche de Psychedelic Furs dos primeiros tempos, ainda a precisar de mais meses na incubadora. Os Bravery nao são uns Killers (duelos e controvérsias à parte) mas mostraram ser uma segura banda representante desta escola norte-americana novo rock assente sobre pistas colhidas na Inglatera de finais de 70 e inícios de 80.
Houve ainda uma terceira banda no mesmo concerto. Chamam-se Paddigntons e, com ares de heróis locais eleitos em bares de 20 ou 30 amigos e pouco mais, são uma entre as 386 bandas surgidas no último ano em busca do trono punk-30-anos-depois deixado vazio pelos Libertines (e com cada vez mais sérios pretendentes nos Arctic Monkeys). Com um vocalista mais para lá que para cá, não mostram mais que vulgaridade rock’n’roll em registo punk indigente sem qualquer marca de personalidade. Para esquecer.

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"Joana D'Arc" (1948) em DVD

Está longe de ser uma referência histo-ricamente tão importante como A Paixão de Joana D'Arc (1928), do dinamarquês Carl Th. Dreyer. Em todo o caso, a Joana D'Arc (1948), de Victor Fleming, constitui um intererssante exemplo de uma produção clássica americana em que as regras do drama histórico se aliavam a todo um aparato espectacular indissociável do fulgor das imagens em technicolor — o filme está, finalmente, disponível em edição portuguesa de DVD, com chancela da editora Costa do Castelo.
Curiosamente, esta Joana D'Arc não é um produto directo dos grandes estúdios de Hollywood, tendo nascido do empenho da protagonista, Ingrid Bergman, na altura já com uma carreira perfeitamente consolidada — e também um primeiro Oscar, pela sua interpretação em Gaslight (1944), sob a direcção de George Cukor. Bergman, o produtor Walter Wanger e o realizador Victor Fleming (O Feiticeiro de Oz, E Tudo o Vento Levou) formaram mesmo uma companhia, Sierra Pictures, para concretizar o projecto, sendo o argumento escrito por Maxwell Anderson, a partir da sua peça Joan of Lorraine. A distribuição foi da RKO Pictures, na altura sob a alçada do milionário Howard Hughes.

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segunda-feira, novembro 28, 2005

'Stoned': primeiras impressões

Brian Jones foi um dos mais espantosos visionários pop de 60. Mas o Brian Jones de Stoned parece apenas um ser alienado e deprimido, alheado e musicalmente inconsequente. Estreia na realização de Stephen Wooley, Stoned centra as atenções nos últimos três meses de vida de Brian Jones, pontualmente usando o flash back para justificar a sua rebeldia musical contra a lógica conservadora familiar, um passado pop que foi fruto de muito labor e fé, e sobretudo uma vida feita de excessos de sexo e drogas. O melhor do filme são precisamente estes episódios em flash back, nos quais o realizador recorre a texturas de imagem distintas para sugerir vários tempos e lugares, particularmente inspirado quando tenta traduzir as viagens interiores estimuladas pelo LSD em colagens de luz, forma, corpos, visões e música. Todavia, apesar destas ocasionais (e não são muitas) incursões pelo passado, em nada o realizador usa as pistas colhidas na história em favor da construção nem de uma personagem nem da sua justificação como ícone pop de grande carisma que, supostamente, justificaria um biopic em torno da sua vida. Em vez disso, procura apenas o passado como caução para justificar uma vida que divergiu do trabalho, dos amigos e da realidade, e se entrega, agora terminal, a sexo e drogas, com final infeliz, por afogamento numa piscina, aos 27 anos de idade.
Nos flash backs quase somos conquistados. Vemos os Rolling Stones nos seus primeiros concertos ensopados a blues, as suas sessões de estúdio, espectáculos mais adiante, sob gritaria de fãs, ou a viagem a Marrocos onde Jones perde para Keith Richards a namorada sueca, mas ganha uma sessão de gravações com os Master Musicians of Jajouka (de onde nasceria o primeiro disco de world music enquanto espaço de curiosidade musical exótica). A recriação histórica (guarda roupa, cenografia, banda sonora) é notável. O próprio Leo Gregory faz um Brian Jones visualmente convincente ao primeiro olhar, contudo falta-lhe o carisma que o músico exalava e, culpa do argumento, não nos permite um mergulho interior na figura que retrata, tendo o espectador de se contentar com um resvalar de imagens de superfície.
Baseado no recentemente publicado Who Killed Christopher Robin? (Brian Jones vivia na mansão onde nasceram as histórias de Winnie The Pooh), de Terry Rawlings, o filme aceita a tese do assassinato de Brian Jones por Frank Thorogood, que este terá confessado no leito de morte, em 1993. Pouca surpresa, num filme que deveria ter contado ao mundo o génio musical de um dos grandes da pop de 60. De resto, quem vir o filme sem saber da história dos Rolling Stones ficará a pensar que Brian Jones era uma figura secundária e musicalmente inconsequente no seio da banda e não entenderá como certas drogas tiveram consequência num desviar do rumo da música dos Rolling Stones, entre 1965 e 67. Ou seja, uma oportunidade perdida. Não admira que, ao cabo de duas semanas, o filme esteja ja de saída das salas londrinas...

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Londres 05: rever Diane Arbus

DIANE ARBUS, Sem título 6 (1970-71)

Diane Arbus (1923-1971) é uma referência mágica na história da fotografia do século XX — mágica porque o maravilhoso pode nascer, nas suas imagens, dos extremos mais opostos, incluindo a monstruosidade; mágica porque a sua vida breve, concluída pelo suicídio aos 48 anos, é também um romance vivido na verdade, e pela verdade, da arte como reapropriação festiva do mundo. Discípula de Richard Avedon, formada no fotojornalismo (New York Times, Esquire, Harper's Bazaar, etc.), as suas imagens mais célebres, quase sempre no clássico formato quadrado, são de personagens marginalizadas pela pobreza ou pela doença, personagens a que ela reconhece uma grandiosidade tocante, tecida de ternura e fragilidade. Disse ela, uma vez: "A maior parte das pessoas atravessam a vida receando ter uma experiência traumática. Os 'freaks' já nasceram com o seu trauma. Já passaram o seu teste na vida. São aristocratas."
2006 vai ser, seguramente, um ano de revisitação e redescoberta da espantosa obra de Arbus, uma vez que se anuncia (EUA, Outubro) o lançamento do filme Fur, de Steven Shainberg (A Secretária), com Nicole Kidman a assumir a personagem da fotógrafa — Fur baseia-se no livro Diane Arbus: A Biography, escrito por Patricia Bosworth. Para já, algumas das suas imagens estão expostas em Londres — Nuno Galopim passou por lá.
N.G.: No Victoria & Albert está em exibição Diane Arbus: Revelations, a primeira exposição de grande envergadura da obra fotográfica de Diane Arbus em 30 anos. São três enormes salas com mais de 200 fotografias nas quais tomamos contacto com as linhas mestras da sua obra, a preto e branco, realista e espantosamente envolvente. Do registo full frontal de personagens de Nova Iorque (gente comum, damas decadentes, velhos e novos, casais, travestis, miúdos) a casais em retiros de nudistas, de escritores e gente famosa (Norman Mailer, Jorge Luis Borges, Mae West) a incógnitos num hospital psiquiátrico... A exposição inclui inúmeras peças da sua vida quotidiana e profissional, máquinas fotográficas, instrumentos de laboratório, livros da sua biblioteca e blocos com anotações. Uma paragem obrigatória para qualquer viagem a Londres — até 15 de Janeiro de 2006.
* Quem passar por esta exposição pode aproveitar o momento para entrar na sala ao lado, onde se mostra uma espantosa selecção de nova fotografia e video da China actual. Imagens de corpos, figuras e espaços que desconstroem velhos ícones (dos mais tradicionais aos motivos da revolução cultural), num espantoso olhar por imagens de uma China nova, ainda por descobrir.

Nicholas Ray (raríssimo): hoje na Cinemateca

É hoje, na sala Luís de Pina, da Cinemateca Portuguesa — uma oportunidade para ver um dos títulos mais míticos, e mais raros, de um dos nomes chave do classicismo de Hollywood: Nicholas Ray (1911-1979). O filme chama-se We Can't Go Home Again (1976) e cor-responde àquele que é, virtualmente, o derradeiro trabalho de realização de Ray — e, mesmo assim, assombrado por problemas que só seriam resolvidos depois da sua morte, com a conclusão da versão montada por Susan Ray (mulher do cineasta) e respectiva apresentação no Festival de Roterdão de 1980.
Ray, convém lembrá-lo, tivera um lugar central na dinâmica clássica de Hollywood. A sua carreira começou em 1948, com o belíssimo Os Filhos da Noite/They Live By Night (DVD, ed. Costa do Castelo), filme sobre um casal jovem errante (Cathy O'Donnell/Farley Granger), cujo romantismo desesperado seria adoptado como herança artística por cineastas das mais diversas origens, incluindo alguns autores da Nova Vaga francesa. Depois, a filmografia de Ray contém títulos marcantes como Johnny Guitar (1954), porventura a mais lendária referência de toda a história do western, e Fúria de Viver (1955), momento emblemático na breve e fulgurante carreira de James Dean. Com a desmontagem do sistema clássico de estúdios, Ray viu-se compelido a trabalhar em registos de superprodução que lhe eram estranhos, processo que, em 1963, o conduziu a aceitar dirigir 55 Dias em Pequim. A rodagem do filme — durante a qual o realizador sofreu um ataque cardíaco — decorreu em conflito aberto com o produtor (Samuel Bronston), tornando Ray persona non grata em Hollywood.
We Can't Go Home Again é menos um filme e mais uma impressionante colecção de filmes "impossíveis", feitos por Ray, durante o ano de 1976, com a colaboração dos seus alunos da Universidade de Nova Iorque. Trata-se de uma teia de fragmentos de experimentação e reflexão existencial que, no seu carácter "desordenado", antecipa muitas experiências formais e narrativas da era digital. A montagem de Susan Ray foi feita a partir de nove horas de material rodado em diversos formatos (video e película de 35, 16, 8mm e super 8), sendo o resultado final um mosaico onde podemos sentir a energia criativa de Ray e também a imensa tristeza dos seus anos finais.
Em 1979, sofrendo de um cancro, nos seus meses finais de vida, Ray foi ainda filmado por Wim Wenders numa espécie de requiem cinematográfico nascido da cumplicidade dos dois cineastas: chama-se Lightning Over Water e, na sua assumida relação com as sombras da morte, é um objecto único em toda a história do cinema (o filme existe em DVD, ed. Atalanta Filmes, com o título Nick's Movie - Um Acto de Amor).
* Cinemateca: hoje, dia 28, 18h30

* Sobre Nicholas Ray: artigo de Jonathan Rosenbaum em Senses of Cinema

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Discos da semana: 28 de Novembro

Rufus Wainwright “Want (1+2)”
N.G.: Separados à nascença por uma política editorial que temeu o duplo álbum e apostou em fatiar em dois o que fazia sentido como um todo, eis que surge finalmente como um disco só o díptico Want de Rufus Wainwright. Trata-se de um épico pop já celebrado e aplaudido em várias sedes, e que confirmou a maturação de ideias visionárias que se mostravam já cm alguma ambição nos anteriores dois álbuns. Há diferenças entre os dois Wants, o primeiro mais fechado em domínio sinfonista, e com um olhar para fora, o segundo mais variado nas formas (representando, de resto, o melhor registo até à data deste músico canadiano) e feito de olhares interiores. A nova edição junta dois inéditos ao alinhamento. Um deles será uma versão de Chelsea Hotel, de Leonard Cohen, em gravação ao vivo captada em Brighton. O outro é In With The Ladies, tema composto em parceria com Alex Gifford, dos Propellerheads. Esta segunda canção foi gravada durante as sessões de Want mas acabou excluída do alinhamento de qualquer dos dois álbuns. Se os Outkast deram e Rufus leva a água a seu moinho, porque não fazem os Radiohead o mesmo com Kid A e Amnesiac?)…
J.L.: Provavelmente, o todo não é igual à soma das partes... No melhor sentido: a saga Want aparece reposta na sua verdade material, coisa que, não anulando todas as emoções acumuladas, faz justiça a um trabalho que merece ser (re)avaliado na sua amplitude. Ou como Rufus superou qualquer cliché de cantor+autor, para se afirmar na sua requintada vocação de épico das emoções mais secretas.

Craig Armstrong “Film Works 1990-2005”
N.G.: Muitos descobriram-no a fazer arranjos de cordas para os Massive Attack. Depis, foi a solo, que se afirmou, no ainda hoje bem recomendável Space Between Us (1998). Mas coube ao cinema a sua transformação num homem conhecido. Sinfonista clássico, mas com gosto pelas contaminações electrónicas, Craig Armstrong mostra nesta compilação alguns episódios para o grande ecrã, das boas colaborações com Baz Luhrman (Romeo + Juliet, Moulin Rouge e o anuncio da Chanel) e Jake Scotte (Plunkett & McLeane) e algumas peças menores. Intreressante, apenas…
J.L.: Colectânea útil, sobretudo, para compreender como, para além de altos e baixos, Armstrong segue a via mais interessante de relação com o cinema: não impor um "estilo" pessoal, mas tentar encontrar o registo certo para as necessidades dramatúrgicas de cada filme. É pena não haver mais edições deste género para outros nomes contemporâneos: Howard Shore, por exemplo, seria um excelente candidato.

Cocteau Twins “Lullabies to Violaine”
N.G.: Nada mais que uma completísima antologia dos temas gravados em Singles e EPs, contando uma das histórias mais notáveis, esteticamente bem demarcadas e bem sucedidas do catálogo da 4AD que agora celebra 25 anos de discos. Esta, de resto, é a mais apetitosa das edições do programa de festas da editora. Pop onírica, com sentido de espaço, teatro e ambiente, para recordar.

Rui Veloso “A Espuma das Canções”
N.G.: Primeiro álbum de originais desde Avenidas mostra um Rui Veloso versátil e animado como o não víamos desde Mingos e Samurais. O disco é talvez longo demais, irregular, mas com alguns momentos que mostram o músico como sólido autor de uma pop mainstream para gosto adulto e competente (apesar de num dos temas a alma Variações pairar por perto). As letras de Carlos Tê são mais aplaudidas que verdadeiramente interessantes. E a capa é um perfeito horror gráfico!

Também esta semana: Kaiser Chiefs (DVD), Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD), The Mood Elevator, Sam Shinazzi, Nine Inch Nails (reedição de Pretty Hate Machine) , Franz Ferdinand (DVD)

Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD),
Sem data: Camané (DVD), Madredeus (DVD), Amália Rodrigues (3CD antologia), Maria Teresa de Noronha (caixa)

Para 2006: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), X-Wife, Cindy Kat, Outkast, Pharell Williams, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur, Sparks, Every Move A Picture, White Rose Movement, Pop Dell’Arte (best of
)

As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.

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domingo, novembro 27, 2005

"Lennon lives"

Com o aproximar do 25º aniversário — a 8 de Dezembro — do assassinato de John Lennon, multiplica-se a actividade editorial em torno do primeiro Beatle que o mundo perdeu. Entre as revistas em que Lennon voltou a ser capa, vale a pena destacar a edição da Newsweek (com data de 28 de Novembro), em que um magnífico artigo de Jeff Giles, intitulado "Lennon lives", traça um retrato biográfico e artístico que é também uma análise da sua herança criativa e dos conflitos que a respectiva gestão tem suscitado.
Na abertura, o dossier apresenta uma fotografia rara (autor: Dave Pickoff) de uma pequena multidão, em 1980, em frente do edifício Dakota (local da morte de Lennon), terminando com uma cronologia dos "11 momentos" que podem simbolizar a história pessoal de Lennon. Quatro personalidades do mundo da música apresentam a sua visão do autor de Imagine: Sinead O'Connor, Brandon Flowers (The Killers), Billie Joe Armstrong (Green Day) e Chris Martin (Coldplay).

Discos Voadores, 26 de Novembro

Esta semana os Discos Voadores regressam a França. O mote é o magnífico Adieu Tristesse, novo álbum de Arthur H. Mas com ele fomos descobrir a sua principal fonte de inspiração: Serge Gainsbourg. E verificar como esse mito do rock francês tem sido sucessivamente venerado por diversas gerações de músicos. Franceses e não só…

Arcade Fire + David Bowie “Wake Up”
David Fonseca “Cold Heart”
Gravenhurst “The Velvet Cell”
Magnètphone “And May Your Last Words Be A Chance To Make Things Better”
Animal Collective “Did You See The Words”
Arthur H “Ma Dernière Nuit A New York City”
Franz Ferdinand “Walk Away”
The Could Room “Beautiful Mess”
The Smiths “Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me”
She Wants Revenge “Red Flags And Long Nights”
Woman In Panic “A Forest”
Wire “I Am The Fly”
White Rose Movement “Alsatian”
Protocol “She Waits For Me”

Depeche Mode “A pain That I’m Used To”
Cindy Kat “Polaroide”
Marbles “Out Of Zone”
Serge Gainsbourg “L’Anamour”
Howie B “Balade de Melody Nelson”
Ménelik “Initials B.B.”
MC Solaar “Nouveau Western”
Renegade Soundwave “Renegade Soundwave”
Serge Gainsbourg “Bonny & Clyde”
Arthur H “Est-Ce Que Tu Aimes”
Barry Adamson “Je T’Aime Moi Non Plus”
Dionysos “L’Homme Qui Pondait des Oeufs”
Pop Dell’Arte “Poppa Mundi”
The Wedding Present “Intersate 5”

Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM

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"Fúria de Viver": 50 anos

Fúria de Viver/Rebel Without a Cause, de Nicholas Ray, estreou-se há pouco mais de 50 anos, nos EUA — a primeira exibição foi em Nova Iorque, a 26 de Outubro de 1955. Foi um filme que surgiu para sempre assombrado pela morte de James Dean, poucas semanas antes (a 30 de Setembro), contava apenas 24 anos. A sua vocação mitológica saíria reforçada do próprio confronto com os espectadores de todo o mundo: Dean e Fúria de Viver rapidamente acederam à condição de lenda, gerando aquela que era uma nova iconografia da adolescência. Mais do que isso, a visão de Ray propunha um retrato inovador das relações pais/filhos e também das diferenças de valores e conflitos geracionais que a sociedade de consumo estava a produzir.
A preparação e rodagem de Fúria de Viver têm sido, ao longo dos anos, objecto de muitas e variadas abordagens. A gestação deste filme clássico foi marcada por muitos conflitos industriais (com Ray, no começo, a aceitar com muita relutância a imposição, por parte da Warner, da fotografia a cores) e também pelas mais extremadas convulsões passionais (incluindo o envolvimento do realizador com a protagonista feminina, Natalie Wood). Agora, surgiu Live Fast, Die Young : The Wild Ride of Making Rebel Without a Cause (Touchstone, 2005), livro já apontado como o de mais elaborada e rigorosa abordagem dos bastidores de Fúria de Viver. São seus autores Lawrence Frascella (ex-crítico do Us Magazine) e Al Weisel (jornalista da Premiere americana).

sábado, novembro 26, 2005

Fundação Fellini homenageia Scorsese

"Il Mio Fellini" — assim se chamam os dois dias (25/26 Nov.) de celebração e estudo das memórias de Federico Fellini promovidos pela Fundação Fellini, em Rimini, terra natal do cineasta de La Dolce Vita, Amarcord e E la Nave Va. Para além de conferências e projecções, o evento inclui (hoje, sábado) uma homenagem muito especial a Martin Scorsese, autor americano que sempre sublinhou a sua enorme dívida artística e moral em relação aos clássicos italianos — Scorsese é, aliás, autor da série A Minha Viagem em Itália (1999), precisamente sobre a herança cinematográfica italiana, dos tempos heróicos do neo-realismo até às grandes convulsões da década de 60 (entre nós, a série foi exibida pelo canal 2: da RTP).
Numa declaração sobre Fellini, disponível no site oficial da Fundação Fellini, Scorsese recorda: "Quando vi pela primeira vez os filmes de Fellini, gostei tanto deles que a minha resposta imediata foi tentar imitá-los. Tendo rapidamente percebido que isso era impossível, quis competir com ele. Por fim, tive de me contentar com a minha reacção inicial — a de simplesmente apreciar a sua enorme mestria, desfrutando esse universo único a que ele, como ninguém, sabe conferir vida."

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Londres 05: White Rose Movement

Nada como um concerto para verificar se uma eventual promissora banda emergente pode ser mais que apenas um bom manifesto com potencialidades de carreira e feitos à sua frente. Os White Rose Movement tocaram na noite passada (25 Nov.) no Ministry Of Sound, uma das mais famosas casas das noites dançantes londrinas que, ciente de uma movimentação de gentes e sons nas áreas do rock, abre agora espaço regular a noites para guitarras e baile geral. "Crossover" era o nome pelo qual respondia a noite onde, além dos White Rose Movement, actuaram ainda os The Bays e Coburn. Nos pratos estava de serviço Andy Rourke (sim, o Smith) que cruzou Kaiser Chiefs e Arctic Monkeys com velharias indie rock saborosas, de Pixies a Charlatans, de Primal Scream a Julian Cope... e até mesmo os Smiths, em This Charming Man.
Os White Rose Movement foram os primeiros a actuar, já depois da uma da manhã (hora inicialmente prevista 00.45, a mostrar que nem só em Portugal as coisas atrasam). E ao cabo de um set relativamente curto (perto de 40 minutos) deixaram bem claro que, apesar de terem editado dois dos mais entusiasmantes singles de 2005, não estão ainda preparados para editar um álbum à altura das expectativas que esses mesmos discos sobre eles lançaram. Caso o gravem já e encham com os inéditos que se escutaram neste concerto, o disco seguirá directamente para o baú das promessas não cumpridas e o seu nome esquecido, enquanto Belzebu esfrega o olho.
Ficou, todavia, um dado estratégico em favor dos White Rose Movement. A avaliar pelo set tocado e pelos temas até aqui gravados em single, podemos dizer que têm escolhido as melhores faixas para registar em disco. Quem nos diz se o concerto não testou novos temas, dos quais a selecção natural decretada pelo próprio grupo apenas salvará um ou outro, com os restantes a precisar de mais tempo na sala de ensaios? No final do concerto, os próprios confirmaram-me o que o concerto deu para suspeitar: o próximo single será mesmo Girls at the Back, precisamente o melhor dos inéditos que apresentaram...
De facto, até à data, o melhor dos White Rose Movement são os dois singles, Alsatian (que fechou o concerto em regime de som total, enérgico e impiedoso, com um baixo a marcar terreno sobre a guitarra) e Love Is A Number (que na versão de palco pareceu despido da arte final requintada das electrónicas, anos 80, que se escutam no single). Em alta também Pig Hale Jam, um dos Lados B do primeiro single, que abriu a noite em jeito de manifesto de intenções, mostrando estarmos perante uma banda que olha para a Joy Division e Duran Duran (sobretudo as teclas de Nick Rhodes) como inspiração, mas que herda também um sentido de urgência e descarga de energia nada amansados (talvez ainda a pedir um ano de estrada para encontrar o ponto de equilíbrio certo).
O vocalista é o centro das atenções. Parece um clone de Ian Curtis, face igual, esguio total, vestido a negro integral, e com movimentos por vezes a lembrar a dança robótica e epiléptica do frontman da Joy Division (se Anton Corbijn ainda procura protagonista para o biopic baseado em Touching From a Distance, não precisa procurar mais, tem aqui figura à altura). Ao seu lado surge uma banda com visual em típica etapa intermédia de work in progress, ainda em busca de uma identidade colectiva. A teclista é evidente herdeira do sentido cool de um Nick Rhodes, imperturbável até quando um dos sintetizadores cai do palco e se estatela no chão. O baixista parece saído de uma banda punk passada a água oxigenada. O guitarrista, mais gordinho, usa casaco new romantic e penteado anos 80. O baterista não esconde farrapos de penteado rockabilly, devidamente depurado para estilo pós-punk reinventado.
Em suma: uma noite apenas agradável, a mostrar que nos White Rose Movement podemos encontrar, em 2006, uma banda à altura de uns Editors, tenham eles sentido crítico para corrigir o que ainda precisa de mais tempo a apurar. Haja pouca pressa!

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Novo filme de Gondry só em 2006

Esta é a primeira imagem conhecida de The Science of Sleep — inicialmente previsto para o ano corrente, o novo filme de Michel Gondry apenas estreará em 2006, algures no primeiro semestre do ano (segundo informação da Gaumont, associada à Columbia/TriStar na respectiva produção). Com argumento do próprio Gondry, The Science of Sleep anuncia-se como a história mais ou menos fantástica, mais ou menos romântica, de um sonhador (Gael Garcia Bernal) que se apaixona pela vizinha (Charlotte Gainsbourg) e começa a confundir a realidade com os sonhos... Rodado em Paris, The Science of Sleep sucede-se a O Despertar da Mente/Eternal Sunshine of the Spoltless Mind (2004), com Jim Carrey e Kate Winslet. A carreira de Gondry é indissociável dos seus trabalhos na área dos telediscos onde já colaborou, entre outros, com Björk, The Chemical Brothers, The White Stripes e The Rolling Stones — é dele o célebre clip da versão dos Stones de Like a Rolling Stone (Dylan), em que Patricia Arquette é filmada como personagem dupla num universo de imagens manipuladas, a meio caminho entre o movimento cinematográfico e a quietude fotográfica.

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sexta-feira, novembro 25, 2005

Sound + Vision: a semana Beatles

O Sound + Vision e a Fnac organizam, de 1 a 8 de Dezembro, uma semana de eventos especiais dedicados à música dos Beatles e às carreiras a solo dos fab four. Esta agenda de eventos culmina com uma evocação da música, personalidade e tempo de John Lennon, no dia em que se assinala o vigésimo quinto aniversário da sua morte. Aqui está o programa que propomos:

Dia 1. Beatles em Portugal. As relações dos Beatles e da sua música com Portugal. As descendências, as heranças, as versões, as memórias, entre trocas de palavras e muita música para escutar. Nuno Galopim conversa com Tozé Brito (na qualidade de músico), Nuno Rafael (músico), Pedro Ramos (radialista) e Paulo Fernandes (EMI Music Portugal). Fnac Chiado, 21.00

Dia 2. Projecção, A Hard Day's Night, de Richard Lester (87 minutos) O primeiro filme dos Beatles. Fnac Chiado, 15.00

Dia 3. Beatles por Terceiros. Versões dos Beatles em disco e filme. Uma sessão de DJing, com apresentação de Nuno Galopim. Fnac Colombo 21.00

Dia 4. Os Beatles depois dos Beatles. Nuno Galopim e João Lopes falam das carreiras de John, Paul, George e Ringo depois do fim dos Beatles. A acompanhar com canções e imagens, entre as quais as do mais recente álbum de Paul McCartney. Fnac Chiado, 15.00

Dia 5. Projecção Yellow Submarine, de George Dunning (90 minutos) O filme de animação que fez história ao som dos Beatles. Fnac Chiado, 15.00.

Dia 6. Projecção, Get Back, de Paul McCartney (89 minutos). Um concerto polvilhado de canções dos Beatles. Fnac Colombo, 16.00

Dia 7. Projecção, Gimmie Some Truth, making of de Imagine (62 minutos). O documentário sobre a gravação do álbum Imagine, de John Lennon. Fnac Colombo, 16.00.

Dia 8. John Lennon, o homem, o músico e o seu tempo. João Lopes, Nuno Galopim e Mário Lopes falam do ex-Beatle, a sua vida e obra, a sua escrita e composição, as suas ideias e acções, os factos e os feitos. Mas também dos episódios que marcaram o seu tempo, da música à política, da religião à vida privada. Para acompanhar com som e imagem. Fnac Colombo, 18.30 Ao longo do dia, a Fnac Colombo recorda ainda a série documental Anthology, sobre os Beatles.

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DN:música, 25 de Novembro

Hoje, no suplemento DN:música do Diário de Notícias:

Da Weasel. Entrevista a Pacman e João Nobre. Apresentação do álbum gravado ao vivo no Coliseu. Discografia completa. T.P.
Adriana Partipim. Apresentação do DVD gravado ao vivo com o show baseado no último disco. J.M.T.
U2. O DVD que documenta a Vertigo Tour, gravado em Chicago. N.G.
Craig Armstrong. Entrevista com o compositor, a propósito da edição de uma antologia com o seu trabalho para cinema. N.G.
Abba. Apresentação da caixa The Complete Studio Recordings. N.G.
Discos. Magnétophone (destaque), Teresa Salgueiro, Dirty Three, Eugénia Melo e Castro, Babyshambles
DVD. Tributo a Elton John, Jethro Tull, Keane
World. Uma ronda por novos discos de música africana. J.P.O.
Digital. Um novo jogo sobre música. D.P.
Sons. J.V.H.
Disco histórico. Songs From Liquid Days, de Philip Glass (1986)

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quinta-feira, novembro 24, 2005

À espera de "Munique"

O filme de Steven Spielberg sobre o atentado terrorista palestiniano contra os Jogos Olímpicos de 1972 — Munique — promete ser um caso muito especial. Desde logo, no plano temático: embora se saiba muito pouco sobre o filme e a sua estrutura, é conhecida a intenção do realizador de A Lista de Schindler (1993) de não escamotear a violência terrorista, mas também de colocar em cena as tensões inerentes ao processo de vingança desencadeado pelas autoridades israeli-tas, mandando assassinar, um por um, os palestinianos envolvidos no atentado.
Terá sido para acentuar essa dimensão, acentuando também a interrogação filosófica e ética que a vingança desencadeia, que Spielberg convidou o dramaturgo Tony Kushner (Anjos na América) a reescrever a primeira versão do argumento do filme, assinada por Eric Roth. Aliás, para esclarecer tal opção dramatúrgica, Spielberg emitiu, há cerca de dois meses, um comunicado com aquelas que são, até agora, as suas únicas palavras oficiais sobre Munique. Dizia ele:
“Ver a resposta de Israel aos acontecimentos de Munique através dos olhos dos homens enviados para vingar aquela tragédia acrescenta uma dimensão humana a um episódio horrível que, habitualmente, apenas avaliamos em termos políticos ou militares. Acedendo ao modo como a implacável determinação desses homens, procurando ter êxito na sua missão, lentamente foi dando lugar a dúvidas perturbantes sobre o que estavam a fazer, creio que podemos aprender algo de importante sobre o trágico impasse em que, hoje, nos encontramos.”
Mas o filme será também um caso à parte no plano da divulgação, promoção e marketing. É isso, pelo menos, que anuncia o cronista Nikki Finke, personalidade muito bem informada sobre os bastidores de Hollywood, na sua coluna do “LA Weekly”, “Deadline Hollywood”. Segundo Finke, Munique não só não terá o habitual press junket (entrevistas), como não será objecto de qualquer ante-estreia. Mais ainda: embora a data da estreia americana (23 de Dezembro) seja escolhida de modo a que o filme ainda possa concorrer às nomeações para os próximos Oscars (cerimónia a 5 de Março de 2006), além dos habituais trailers e cartazes não haverá qualquer campanha específica de promoção visando os membros da Academia de Hollywood que votam para a escolha dos nomeados.
Neste momento, o site oficial do filme apenas inclui uma ficha reduzida, uma breve apresentação da história e disponibiliza o primeiro trailer. O único cartaz divulgado inclui, num dos seus formatos, esta frase: “Em 1972, o mundo assistiu ao assassinato de onze atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique — esta é a história do que aconteceu depois.”
Na sua crónica, Finke cita estas palavras emblemáticas de uma fonte do círculo spielberguiano: “A estratégia oficial é deixar o filme falar por si próprio. A única coisa que vão fazer é mostrar o filme às pessoas. É preciso ser-se Steven Spielberg para ir para a frente com isso.”
De facto, assim é. Sendo os filmes “oscarizáveis” tradicionalmente objecto de campanhas muito elaboradas, visando aqueles que irão decidir as respectivas nomeações, é preciso um poder imenso e, ao mesmo tempo, uma admirável frieza para estancar, à partida, qualquer especulação promocional — um filme é um filme é um filme.
Numa altura em que algumas formas de promoção de algumas produções americanas — incluindo nos mercados estrangeiros em que nos situamos — não primam pelo rigor informativo nem pela serenidade do estilo, o que (não) vai acontecer com Munique constitui, desde já, um exemplo notável de defesa do cinema enquanto acontecimento específico. E também um apelo a uma reflexão exigente sobre o próprio filme.
* Munique (site oficial)
* Memória das Olimpíadas de 1972 no site oficial do
Movimento Olímpico

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Bauhaus com DVD e discos ao vivo

Os Bauhaus vão editar num só DVD os conteúdos dos dois vídeos que lançaram, em formato VHS em 1984, Archive e Shadow Of Light. Ambos correspondem a excertos de gravações de um concerto no Old Vic Theatre londrino em 1982, juntando no segundo dos títulos referidos alguns telediscos. Archive, integralmente em palco, inclui, no alinhamento, Lagartija Nick, Passion Of Lovers, Kick In The Eye, God In An Alcove, Dancing, Hair Of The Dog, Stigmata Martyr, Dark Entries, We Love Our Audience e Sanity Assassin. Shadow Of Light junta imagens de palco (Bela Lugsi’s Dead, Rosegarden Funeral of Sores, In The Flat Field e Hollow Hills) aos telediscos de Telegram Sam, Mask, Spirit, Ziggy Stardust e She’s In Parties. A edição tem data apontada a 5 de Dezembro, por enquanto ainda com confirmação apenas no mercado norte-americano. Europa logo a seguir, talvez quando a nova digressão aqui chegar, em inícios de 2006.
Entretanto, através do site oficial dos Bauhaus, podem ser comprados CDs com as gravações de alguns concertos da presente digressão da banda, que passa pelo Coliseu do Porto a 17 de Fevereiro. Os concertos recentes em Nova Iorque e Boston já estão disponíveis.

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Este fim de semana na Radar

Fala Com Ela. Esta semana Inês Meneses entrevista David Fonseca. O músico, que acaba de editar Our Hearts Will Beat As One, numa conversa em azimute distante do de muitas outras falas recentes, sem o álbum no centro das atenções.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00

Álbum de Família. Esta semana escuta-se, na íntegra, o clássico Dare!, o terceiro álbum dos Human League que elevou em 1981 a emergente pop electrónica de um estatuto de culto ao sucesso global.
Domingo 12.00

Discos Voadores. À boleia da edição de Adieu Tristesse de Arthur H (ainda à espera de distribuição local, pois está claro), um mergulho pela memória da música de Serge Gainsbourg e da sua influência em sucessivas gerações de músicos. Escutam-se assim Ménelik, MC Solaar, Barry Adamson, Howie B; entre outros. Discos novos também à escuta, com David Bowie e os Arcade Fire, Magnétophone, She Wants Revenge e The Cloud Room.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

Radar 97.8 FM

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'O Feiticeiro de Oz' em DVD duplo

Chegou aos escaparates uma edição especial do clássico Feiticeiro de Oz, de Jack Haley Jr, em DVD. O filme, um dos marcos na história do cinema, que inscreveu Judy Garland (e a sua Dorothy) como um ícone em mais de uma geração de cinéfilos, surge em edição dupla, repleta de extras. Além do filme, o DVD inclui documentários sobre o restauro do filme, o elenco e o making of do film. Inclui ainda um especial televisivo ‘Memórias de Oz’, os programas ‘A Arte da Imaginação: Um Tributo a Oz’ e ‘Por Causa das Maravilhosas Coisas Que Nos faz Sentir: O Legado de Oz’. Não faltam cenas rejeittadas, outtakes, imagens de testes e ensaios. Pequenos documentários produzidos à data da estreia (1939) galerias de fotos e trailers. E seis horas de arquivos de áudio, entre os quais materiais colhidos durante a rodagem, espectáculos de rádio da época e promoções.

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The Gift editam AM/FM com telediscos

Os The Gift mudaram de distribuidora. Depois de um longo relacionamento com a Universal, através da qual colocaram nas lojas os álbuns Film (2001) e AM/FM (2004), estão agora ligados à EMI Music Portugal. A primeira edição dos The Gift através da nova editora é um repackage de AM/FM, já disco de platina na edição original, no qual vão juntar ao som a imagem dos telediscos que até aqui já realizaram para os seus singles. Ou seja, num DVD adicional juntam ao álbum, OK Do You Want Something Simple?, Waterskin, Question Of Love, Driving You Slow, 11.33 e o recente (o melhor de todos) Music. E talvez ainda mais alguns conteúdos adicionais. A edição está prevista para os primeiros dias de Dezembro.

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Liberation: especial fotografia 2005

Para os amantes da fotografia e sobretudo aqueles que acreditam que o fotojornalismo pode também ser um espaço de intervenção do fotógrafo e não é só aquela mecânica do pelotão de fuzilamento (que aponta e dispara… e já está) nem aquela obsessão crua em mostrar tudo, sem intervenção do olhar de quem está por trás da câmara (ai o realismo!, ai o realismo!), o Liberation, um dos melhores jornais do mundo (conotações políticas de lado…) colocou nas bancas uma edição especial dedicada à imagem. Vale a pena ver como a ideia do fotojornalismo se coaduna bem com certos arrojos visuais e até mesmo com a ideia da produção fotográfica (sem se confundir nunca com publicidade).

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Bowie: download número um em Portugal

O Live EP de David Bowie com os Arcade Fire lançado na segunda-feira é um esmagador sucesso global. Edição exclusiva da loja digital iTunes, está no top ten de 15 países e número um em 14, entre os quais Portugal, onde destronou o novo álbum de Madonna, Confessions On A Dance Floor!

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quarta-feira, novembro 23, 2005

Scott Walker tem novo álbum pronto!

Scott Walker já terminou as gravações do seu novo álbum de originais, o primeiro desde o monumental Tilt, de 1995. O disco que terá edição em inícios de 2006 através da mítica editora 4AD. Segundo quem o escutou já e nos revelou apenas algumas pistas, o álbum é uma obra monumental e arrebatadora, de temáticas inesperadas, e para o qual podemos ver o já referido Tilt como uma porta de entrada. Scott Walker está, neste momento, tão satisfeito com os resultados, que já avisou estar prestes a começar a trabalhar num outro disco. Para quem, desde o início dos anos 80, nos habituou a um disco por década, aplauda-se a celeridade do desejo. E espere-se que a sua concertização em disco não surja apenas em 2015!
Scott Walker é um dos mais inspirados autores e interpretes da geração de 60. Depois de sucesso teen nos Walker Brothers, assinou na recta final de 60 quatro álbuns que dele fizeram uma referência no crooning pop, apoiado por escrita notável, composição exemplar e progressivamente mais complexa e por um sentido de arte final de invulgar eloquência. Os três primeiros destes quatro álbuns (Scott, Scott 2 e Scott 3) incluíram, cada qual, três versões de originais de Jacques Brel, cantor e compositor que muitos então descobriram no mundo anglófono através de Scott Walker.

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SINGLES: Roxy Music, 1975

Depois de uma etapa de vivência muito pessoal dos prontuários glam rock entre 1972 e 73, ainda com Brian Eno a bordo, e de uma evidente inflexão rumo a um espaço art rock e a modelos de escrita mais acessíveis nos álbuns Stranded e Country Life, os Roxy Music chegam a 1975 sob clara orientação do timoneiro Bryan Ferry, entretanto feito crooner "geração de 70" através de álbuns de versões editados a solo desde 1973, nos quais lançou as primeiras bases de uma carreira em nome próprio. O crooner pop domina então a construção de um espaço mais eloquente e sofisticado no quinto (e magnífico) álbum, Siren, no qual uma produção mais polida e uma renovada postura arty definem um dos grandes momentos da discografia de 70. A antecipar o álbum editam Love Is The Drug, canção com evidente estrutura inspirada no emergente fenómeno disco e em modelos de ritmos e sopros escutados na América negra da época. Resultado imediato, o single representou o primeiro sucesso Top 40 para os Roxy Music na América e levantou pistas que o álbum depois elevava a patamares ainda mais inventivos em Both Ends Burning e Just Another High. No lado B, uma raridade demonstrativa da face mais experimentalista do grupo, com Ferry (farafisa) em devaneio abstracto por sons e texturas, em volta de um drone hipnótico.

ROXY MUSIC "Love Is The Drug" (EG, 1975)
Lado A: Love Is The Drug (Ferry/MacKay)
Lado B: Sultanesque (Ferry)
Posição mais alta no Reino Unido: 2. Nos EUA: 30
Editado em Portugal pela Phonogram

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A IMAGEM: Sigur Rós, 2005

Foto: Nuno Fox
Jonsi, vocalista dos Sigur Rós, durante a actuação no Coliseu dos Recreios (Lisboa)
20 de Novembro de 2005


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Madonna é número um em Portugal

Madonna entrou directamente para o primeiro lugar da tabela nacional de vendas de álbuns com Confessions On A Dance Floor, logo na semana de lançamento, afastando do comando Robbie Williams (boa!). A outra entrada digna de referência no Top 30 compilado pela AFP é a do álbum Diário, o novo de Mafalda Arnauth, no número 23. Os Franz Ferdinand desapareceram do Top 30. E David Fonseca cai para número 15.

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Plaza em edição especial com DVD

Os Plaza vão colocar brevemente no mercado uma edição especial do seu álbum de estreia Meeting Point, um dos grandes momentos pop portugeses de 2004 (este ano não houve disco de originais do mesmo calibre entre a parca oferta pop nacional). A reedição do álbum vai juntar ao alinhamento original do álbum uma série de remisturas, bem como um DVD contendo os telediscos já realizados para acompanhar canções da banda. Entre os clips deverá constar já o que brevemente terá estreia televisiva, para a canção On A Magazine, realizado por J. Rei Lima.

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terça-feira, novembro 22, 2005

Patti Smith fala sobre 'Horses'

Patti Smith falou ao Village Voice sobre a reedição que assinala os 30 anos do mítico Horses, o primeiro álbum a emergir do universo punk nova-iorquino. Na curta, mas deliciosa entrevista, Patti Smith recorda a dedicatória de canções como Horses ou Elegie a Jimi Hendrix, gravadas no mítico Electric Ladyland Studios, a poucos quarteirões da sua casa, então na agitada McDougal St, uma das artérias centrais do Greenwich Village. Lembra o ambiente de trabalho em estúdio “entre compatriotas”, numa “atmosfera positiva”, compara as alegadas influencias de John Coltrane e Johnny Carson sobre o disco e termina, a explicar a forma como usou a versão de My Generation, na gravação extra, ao vivo no Metldown Festival de 2005, como momento de reflexão sobre o rock’n’roll como uma voz anti-sistema ainda hoje viável: “Gostamos de passar um bom momento e festejar. Mas o rock’n’roll é a nossa voz cultural. Vi-a evoluir ao longo da minha vida – faço 59 anos em Dezembro – e era revolucionária em todas as frentes. Deu aos mais jovens um canal para extravasar toda esta nova energia que não se coadunava com as das gerações anteriores. Mas veja-se o que está a acontecer em Paris. Parte de mim deseja sair para a rua e dizer ‘aqui está um Marshall, aqui está uma Strat’… Essa é a beleza do rock’n’roll. É uma voz”.
Ler a entrevista completa no site do Village Voice
A reedição comemorativa dos 30 anos de Horses está já disponível em Portugal. É CD duplo, digipack, apresentando no CD1 o disco tal e qual o conhecemos e, no CD2, a gravação integral de Horses (mais a inevitável e histórica versão de My Generation, dos Who, como extra) tal e qual foi tocado ao vivo no concerto de Patti Smith a 25 de Junho deste ano no Meltdown Festival, em Londres. Na sua banda 05 tocaram consigo Jay Dee Daugherty, Tom Verlaine, Tony Shanahan e Flea. A edição inclui um booklet com fotos antigas e actuais, e textos sobre o álbum.

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Uma história do cinema em livro

A Plátano Editora acaba de publicar entre nós o livro de Mark Cousins Biografia do Filme. Trata-se, como o título sugere, de uma história do cinema assinada por um crítico de cinema inglês, também director do festival de Edimburgo, que em 2002 publicou o livro Scene By Scene, conversas detalhadas com realizadores sobre as suas obras. O livro propõe em mais de 500 páginas, bem ilustradas, um olhar transversal sobre a história do cinema, do mudo à aurora do digital, da América ao Irão, de Fritz Lang a Tsai Ming-Liang, de Umberto D a Matrix, com justificado foco sobre as diversas filmografias europeias. O autor corre estilos, formas, técnicas, modelos de narrativa, sentidos políticos, filosofias, num olhar que parece bem sistematizado e arrumado, sintético e completo. Resta ver, agora, o texto. E a tradução. A capa, contudo, não ajuda. Mas é igual à original…

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Um Brit para Paul Weller

Paul Weller vai receber em Fevereiro o Brit Award de carreira na cerimónia que terá lugar em Earl’s Court. Antigo vocalista dos The Jam e Style Council, com carreira a solo desde os finais dos anos 80, é um dos mais considerados e respeitados músicos da sua geração em Inglaterra. Os nomeados para os Brits 06 são revelados a 26 de Janeiro.

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David Bowie: uma reedição e um filme

David Bowie vai reeditar, em Março de 2006, o álbum de 1975 Young Americans, registo que assinalou a materialização de um interesse do músico pela soul e pela música americana em geral, resultado da sua mudança de base de Londres para os EUA depois da digressão que acompanhou Diamond Dogs. O disco inclui duas colaborações de John Lennon, uma delas uma versão de Across The Universe dos Beatles, a outra o mítico híbrido pop funk Fame, o primeiro número um de Bowie nos Estados Unidos. A reedição, que de atrasada alguns meses face ao calebdário previsto não vai respeitar o subtítulo “30th Anniversary Edition”, mas apenas “The Collectors Edition”, surge em formato duplo de CD + DVD. O CD vai juntar ao alinhamento as faixas John I’m Only dancing Again, Who Can I Be Now? e o inédito It’s Gonna Be Me, numa versão com cordas. O DVD inclui uma remistura do álbum para 5.1 feita por Tony Visconti e ainda as actuações de Young Americans e 1984 no Dick Cavett Show.
David Bowie anunciou entretanto o seu regresso ao cinema. Cinco anos depois de Mr Rice’s Secrets, vai contracenar com Michael Caine e Christian Bale no filme The Prestige, que o realizador Christopher Nolan começa a rodar em Janeiro. O filme conta a história da rivalidade entre dois inventores (e mágicos), um deles o sérvio Nikola Tesla (David Bowie), que a história registou como o autor da descoberta do campo magnético rotacional. Nolan tornou-se amigo de Bowie depois de lhe solicitar autorização para usar Something In The Air no seu Memento.
Bowie vai ainda dar a sua voz ao filme Arthur & The Minimoys, de Luc Besson.

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segunda-feira, novembro 21, 2005

Discos da Semana: 21 Novembro

Arcade Fire + David Bowie “Live EP”
Editado hoje em exclusivo pelo iTunes, o EP documenta a primeira aparição pública, em palco, de David Bowie depois do acidente em palco em finais da Reality Tour que o obrigou a submeter-se a urgente angioplastia e consequente cancelamento do resto da digressão (data portuense inclusive). Esta é também a sua primeira gravação editada depois do acidente, já que os seus últimos títulos mais não foram que reedições (dos álbuns ao vivo dos anos 70) e compilações (uma de faixas de álbuns, a outra a recente Platinum Collection). Porquê os Arcade Fire? Porque foi Bowie o seu primeiro padrinho de além-Canadá, frequente visita nas plateias dos seus concertos nova-iorquinos em 2004, elegendo então, de resto, o álbum Funeral como o seu disco do ano. Os Arcade Fire agradeceram o empurrão que os levou ao estatuto de reconhecimento global entre melómanos que hoje gozam. E ei-los que, no final do Verão, subiram ao palco do Fashion Rock, em Nova Iorque, ao lado de Bowie (o velho Camaleão, de resto, só aceitou tocar no evento se com ele estivessem em palco os Arcade Fire!). Este EP é o documento desse encontro, com um Bowie ainda longe da sua forma total (como constatámos no DVD da Reality Tour do ano passado), mas sempre cool e teatral, partilhando o protagonismo com os canadianos em Wake Up e no seu clássico Five Years. A solo, apenas acompanhado por Mike Garson ao piano, oferece-nos ainda uma leitura com travo jazzy do histórico Life On Mars?

Magnétophone “The Man Who Ate The Man”
No momento em que a editora 4AD celebra 25 anos de vida encontra num disco novo tantos motivos de celebração quanto nos concertos, edições especiais e reedições que têm ocupado a sua agenda nas últimas semanas. O disco é The Man Who Ate The Man, o segundo álbum do duo de Birmingham Magnétophone, projecto que parte de uma identidade estrutural electrónica para definir neste disco um monumento de puro deleite sonoro, de horizontes largos, aberto a experiências e referências como um romance que pede muitas personagens para contar uma boa história e caracterizar os seus ambientes. A faixa de abertura parece colocar-nos em terreno Boards of Canada, mas depressa somos levados por uma viagem de sons que tanto passa pela evocação da electrónica minimalista de Philip Glass de meados de 70, como por farrapos de folk bem assimilados, o saboroso e teatral sentido onírico de uns Cocteau Twins e, sobretudo, frequentes incursões por recursos de estilo escutados no psicaldelismo, revisitado aqui sob o suculento prisma Spacemen 3. Este é o melhor disco da 4AD em muitos anos, e, claramente, um inesperado herdeiro do sentido de assombro que se recorda do monumental Filigree And Shadow dos This Mortal Coil (1986), um dos pilares da identidade 4AD.

Cass McCombs “Perfection”
Cass McCombs é outra das jovens forças de uma 4AD em busca de novo sentido de consquência, ciente que deve estar da importância que teve nas músicas alternativas de 80 e da presença menor que desempenha nesse mesmo espaço desde inícios de 90. De berço misterioso (já o mencionou no Bronx, no Hawai ou Tahiti), Cass McCombs é um reinventor de pistas pop e, neste seu segundo álbum procura sobretudo encontrar momentos de mistério ou luminosidade em canções que não escondem heranças colhidas nas melhores escolas indie rock de finais de 80. Está, portanto, na editora certa… O título do álbum, Perefection, só pode ser um acesso de humor num espaço de som claramente não hi fi (mas não necessariamente lo fi) onde um sentido de espaço e teatro acolhe canções que nos conquistam a cada nova audição. Equinoxe, a faixa de abertura é viciante… E o resto do álbum acaba, depois, por se revelar igualmente cativante (excepto a recta final de ruídos de sonoplastia pateta que só deve ter agradado ao compositor, imaginando como poderia maçar o ouvinte depois deste ter escutado um bom disco),

Patrick & Eugene “Postcard From Summertime”
O título diz tudo: este é um perfeito postal que nos pode fazer, chuva lá fora, pensar em finais de tarde de Verão, cocktail na mão, mar em frente. Eles são um percussionista e um multi-instrumentista de sopros, e neste álbum promovem um verdadeiro encntro tutti frutti de referências, cruzando pop à la Burt Bacharach, vaudeville, dixieland, folk europeu de leste, psicadelismo, trip hop e o que mais a atenção ali detectar… Têm o hino matinal de FM perfeito em The Birds And The Bees, e momentos de delírio bem humorado em curiosas versões de Can’t Get You Out Of My Head (sim, de Kylie Minogue) e de Crazy In Love (de Beyoncé). O problema deste álbum é apenas um: entre tanta diversidade e variedade é difícil encontrar uma lógica que arrume as ideias e nos ajude a digerir tudo nas primeiras audições.

The Rolling Stones “Rarities 1971-2003”
É o que o título indica: raridades editadas entre 1971 e 2003. Uns lados B, uns máxis, algumas faixas esquecidas… Para entreter, enquanto não se estende aos anos 70 e 80 a interessante política de reedição integral do catálogo de singles que, para já, resolveu em três magníficas caixas as gravações de 60. As melhores, convenhamos, dos Rolling Stones…

Teresa Salgueiro “Obrigado”
Teresa Salgueiro há muito merecia um disco a solo. A sua voz tem potencialidades que pedem experiências além do registo Madredeus, como o ainda recente dueto com Sérgio Godinho (Pode Alguém Ser Quem Não É) deixou claro. Mas Obrigado não é ainda esse disco. Limita-se a colher medianos duetos gravados nos últimos anos, alguns deles ligados aos Madredeus, e quase todos musicalmente pobres e incapazes de pedir a uma bela voz o que ela de melhor e mais diferente poderia ter oferecido. Teresa Salgueiro merece melhor!

Abba “The Complete Studio Recordings”
Desde 1992 não tem parado a máquina! Ano sim, ano não, uma nova antologia, uma nova campanha de reedições, um DVD, um musical… e agora uma caixa. E que caixa! Todas as 133 gravações que os Abba registaram em estúdio (incluindo as canções que gravaram para o derradeiro álbum inacabado e uma série de takes alternativos), todos os telediscos (incluindo o The Last Video, com presença dos quatro elementos do grupo, gravado em 2004 para os 30 anos da vitória de Waterloo no Eurofestival), um documentário e imagens do seu derradeiro concerto, mais um livrinho com todas as letras e um outro com uma cronologia. Ou seja, nove CDs, dois DVDs, dois livros, para recordar um dos mais espantosos legados pop de 70, um monumento de invulgar profissionalismo musical, e uma colecção de canções de primeira água, entre aquelas que sabemos de cor. Uma carreira que a popularidade antes incomodava alguns (os que se incomodam com o sucesso alheio, claro), mas que o tempo elegeu, quase unanimemente como incontornável.

John Lydon “The Best Of British”
Dos Sex Pistols às colaborações mais recentes, um percurso de um inesperado ícone rock’n’roll. Estão aqui breves referências aos Sex Pistols, muitas aos Public Image Ltd, curiosidades em nome próprio e colaborações com Leftfield e Time Zone. Na edição especial do CD serve-se como extra um segundo disco com temas adicionais e algumas remisturas dos máxis da época.

Também esta semana: Rolling Stones (A Bigger Bang CD + DVD), Queen (A Night At The Opera, ed. 30 anos), Pedro Abrunhosa (DVD)

28 Novembro: Kaiser Chiefs (DVD), Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD), Rufus Wainwright (Want 1 + 2), The Mood Elevator, Sam Shinazzi, Nine Inch Nails (reedição de Pretty Hate Machine) , Franz Ferdinand (DVD), Annie (DJ Kicks)

Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast, Pharell Williams, Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa)

Sem data: Camané (DVD), Madredeus (DVD), Amália Rodrigues (3CD antologia),

Para 2006: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur, Sparks, Every Move A Picture, White Rose Movement, Pop Dell’Arte (best of)


As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.

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domingo, novembro 20, 2005

Michael Cunningham em Lisboa

Michael Cunningham estará em Lisboa esta semana para promover o seu novo romance, Dias Exemplares (no original Specimen Days), o primeiro que publica desde As Horas (1998), que em 1999 lhe valeu a conquista de uma série de prémios literários, entre os quais o Pultizer e o PEN/Faulkner. O romance, editado pela Gradiva, usa um jogo de personagens comuns (um rapaz, um homem e uma mulher) e aceita a presença transversal de referências ao poeta Walt Whitman, mas divide-se em três histórias distintas. Dentro da Máquina, a primeira, decorre entre fantasmas durante a Revolução Industrial. A segunda, A Cruzada das Crianças, tem cenário actual, narrando a perseguição a um grupo de terroristas que ameaçam Nova Iorque. A terceira, Uma Espécie de Beleza, projecta-nos numa Nova Iorque do futuro, cidade invadida por forasteiros chegados do primeiro planeta a ser contactado pela humanidade. Pelas três passa, contudo, uma ideia firme: a reflexão sobre o rumo e os significados da América.
Além de uma série de encontros com os media, Michael Cunningham estará presente no lançamento oficial do livro, dia 22 (terça-feira) no El Corte Inglês, pelas 18.30. A apresentação do livro e do autor será feita por Nuno Galopim.
No Site oficial podemos ler uma biografia do escritor, e ler excertos dos seus livros, entre os quais o ensaio de viagens Land’s End, de 2002, um olhar de Cunningham sobre Provincetown, uma das mais antigas pequenas cidades americanas. Este título, sem tradução para português, pode ser adquirido através de um link neste site.

Obra de Michael Cunningham traduzida para português:
1990. Uma Casa no Fim do Mundo
1995. Sangue do Meu Sangue
1998. As Horas
2005. Dias Exemplares


El Corte Inglês. Terça-feira, dia 22, pelas 18.30

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SINGLES: The Stone Roses, 1989

Editado na Primavera de 1989, o álbum de estreia dos Stone Roses assinalava a definitiva visibilidade de uma vontade de redescberta de pistas colhidas no psicadelismo de finais de 60 e na lógica da canção pop da altura de que, por exemplo, o ignorados álbuns de estreia dos Primal Scream e Soup Dragons tinham sido exemplos. O álbum, The Stone Roses, um dos marcos de finais de 80 não só cimentou o crescente perfil de respeito dos Stone Roses junto dos melómanos, como deles fez um fulminante caso de popularidade numa Inglaterra ainda em busca de novos heróis indie depois do desaparecimento dos Smiths, e ainda à espera de ver confirmadas as promessas de talentos emergentes como os Birdland, House Of Love ou Ride. O passo seguinte faria dos Stone Roses a banda eleita. Num single double A side, no qual a face B acabou por ser a escolhida pela multidão (que ninguém se lembra de What The World Is Waiting For), juntaram as heranças de 60 já expressas no álbum a marcas da emergente cultura de dança, criando um híbrido pop/rock dançável que começava a ganhar visibilidade sobretudo em Manchester, onde além dos Stone Roses se afirmaram logo os novos discos dos Happy Mondays e Inspiral Carpets. Tinha nascido o Madchester, com primeiro hino no viciante e imparável Fool’s Gold.

THE STONE ROSES "What The World Is Waiting For/Fools Gold" (Silvertone, 1989)
Lado A: What The World Is Waiting For (Squire/Brown)
Lado B: Fools Gold (Squire/Brown)
Produção: John Leckie
Posição mais alta no Reino Unido: 8


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'Cruel' editado em DVD

Foi esta semana editado em DVD um dos mais surpreendentes filmes que passaram pelos nossos ecrãs este ano. Filme sueco, realizado em 2003 por Mikael Hafstrom, Cruel é um retrato impressionante dos ambientes dos internatos de finais dos anos 50. Expulso de outras escolas por uma conduta violenta, Erik Ponti (Andreas Wilson) tem de terminar o liceu para entrar na universidade e, assim, conseguir a sua libertação, bem como a de sua mãe, perdida num viciado segundo casamento. É colocado num colégio onde a ordem (leia-se repressão opressiva) sobre os estudantes é garantida pelos alunos mais velhos, sob silêncio hipócrita dos professores. Erik vê a sua dignidade esvair-se, tentando evitar uma derradeira expulsão, que o impediria de seguir uma vida universitária… Realista, cru, dominado pela soberba interpretação do protagonista e por uma história revoltante, Cruel surge em DVD com alguns extras, entre os quais um making of, uma entrevista com Jan Gillou (autor do romance no qual o filme é baseado) e algumas cenas cortadas.

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Agenda de Concertos

Mais uma actualização do guia de sugestões Sound + Vision para os próximos tempos em palcos portugueses. Em diversos comprimentos de onda, muitos motivos para não ficar em casa:

NOVEMBRO
Sigur Rós. Dia 20, Coliseu dos Recreios (Lisboa). Na primeira parte Amina.
Mercury Rev. Dia 22, CCB (Lisboa)
Phono 05. Dias 22 a 26, Fonoteca Municipal (Lisboa): Eroscópio (dia 22), Orquestrinha do Terror (dia 23), Bicho de 7 Cabeças (dia 24), Novembro (dia 25) e New Connection (dia 26)
Coldplay. Dia 23, Pavilhão Atlântico (Lisboa). Goldfrapp na primeira parte
Xutos & Pontapés. Dias 24 a 26, Coliseu dos Recreios (Lisboa)
The Juan MacLean. Dia 24. Lux (Lisboa)
Rodrigo Leão + Ludovico Einaudi. Dias 24, Aula Magna (Lisboa), com Garoto na primeira parte; 25, Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra); 26, Teatro Sá Miranda(Viana do Castelo) e 30, Casa da Música (Porto)
Pop Dell'Arte. Dia 24, Centro das Artes (Sines)
Katia Guerreiro. Dia 25, Auditório da Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos (Lisboa)
Paula Oliveira + Jacinta. Dia 25, Aula Magna (Lisboa)
Bernardo Sassetti + Mário Laginha + Pedro Burmester. Dia 25, CCB (Lisboa)
Telectu. Dia 25, ZDB (Lisboa)
Cristina Branco + Camané. Dia 26, Aula Magna (Lisboa)
Bernardo Sassetti. Dia 26, Centro das Artes (Sines)
King Britt. Dia 30, Lux (Lisboa)
Loosers Dia 30, ZDB (Lisboa)

DEZEMBRO
June Tabor Dias 2 Casa das Artes (Famalicão) e 3, Cine Teatro Aveirense (Aveiro)
Ludovico Enaudi. Dia 2, Sociedade de Geografia (Lisboa)
Toumani Diabaté Dia 3 Casa das Artes (Famalicão)
dEUS. Dias 4 e 5, Aula Magna (Lisboa) e dia 6 na Casa da Música (Porto)
Post Hit. Dias 7, Santiago Alquimista (Lisboa) e 10, Sociedade Harmonia Eborense (Évora)
Electralane + Felix Kubin. Casa da Música (Porto)
Mecanosphere. Dia 15, Instituto Franco Português (Lisboa)
Adriana Patrimpim. Dia 17, Pavilhão Atlântico (Lisboa)
Yann Tiersen. Dia 20, CCB (Lisboa) e 21 na Casa das Artes (Famalicão)
Rocky Marsiano + Bullet. ZDB (Lisboa)
Woody Allen. Dia 27, CCB (Lisboa)

JANEIRO 2006
God Is An Astronaut. Dia 13, Santiago Alquimista (Lisboa)

FEVEREIRO
Depeche Mode. Dia 8, Pavilhão Atlântico (Lisboa)
Bauhaus. Dia 17, Coliseu (Porto)

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sábado, novembro 19, 2005

Discos Voadores, 19 Novembro

Esta semana os Discos Voadores estiveram por conta dos cantautores. Para mostrar aquele que foi um dos espaços mais concorridos do ano, para evocar referências do género e para mostrar que não são mais músicos de guitarra ao ombro com ideologias ou amores desfeitos para cantar. Na primeira hora, como sempre, um olhar pela novidade, com pontuais memórias (entre as quais a inevitável visita semanal à cartilha pós-punk).

White Stripes “The Denial Twist”
Cass McCombs “Equinoxe”
Patrick & Eugene “The Birds & The Bees”
Arthur H + M “Est-ce Que Tu Aimes”
David Fonseca “Our Hearts Will Beat As One”
Shout Out Louds “The Comeback”
House Of Love “Road”
Franz Ferdinand “Walk Away”
Bright Eyes “Arc Of Time”
She Wants Revenge “These Things”
Cindy Kat “Polaroide”
Protocol “She Waits For Me”
The Vapors “Turning Japanese”
White Rose Movement “Alsatian”
Duran Duran “Planet Earth (live)”

Patrick Wolf “The Libertine”
Andrew Bird “Measuring Cups”
Mark Mulcahy “Cookie Jar”
Sufjan Stevens “John Gacy”
Bright Eyes “We Are Nowhere And This Is Now”
Devendra Banhart “Long Haired Child”
Old Jerusalem “180 Days”
Nick Drake “Magic”
Leonard Cohen “Avalanche”
Jacques Brel “Les Bergers”
Sérgio Godinho “A Linda Joana”
Johnny Cash “Delia’s Gone”
Eliott Smith “Sweet Adeline”
Lloyd Cole “Butterfly”
Adam Green “Gemstones”
Final Fantasy “This Is The Dream Of Win & Regine”
Rufus Wainwright + Antony “Old Whore’s Diet”

Discos Voadores. Sábado 18.00-2000 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM

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Um monstro a pedir amigos

Com cinco álbuns editados e dez anos de vida pública, os Dionysos são hoje reconhecidos como uma das mais entusiasmantes novas bandas rock francesas. A reputação foi sobretudo construída ao vivo, mas agora acabam de editar um álbum que traduz não só a solidez de uma vivência de palco bem nutrida, como espelha capacidade de cruzamento de referências, dele fazendo um dos mais surpreendentes e inesperados discos do ano em França. O álbum, Monsters Of Love, traduz mais que nunca a forma como a banda bebe inspiração em velhos (e bons) discos dos Violent Femmes e Nick Cave, conta com a colaboração dos The Kills num dos temas e com a produção de John Parish.
Nascido entre sessões de trabalho em Marrocos e noites de gravação entre França e o Sul de Inglaterra, é um álbum de canções intensas, teatrais, de formas vivas e nada fechado em modelos e estereótipos. É um daqueles discos que se escuta com o prazer da surpresa a cada canção, com sabor a descoberta, com vontade, depois em conhecer como é esta música ao vivo… Um DVD que a edição francesa inclui sacia esta última curiosidade, com imagens de alguns temas captados ao vivo em Agosto do ano passado num festival em Sant Malo, numa altura em que começavam a experimentar, perante plateias, estas novas e magníficas canções. O DVD inclui ainda um documentário making of sobre a composição e gravação do álbum e um clip alternativo para One Child, o tema gravado em parceria com os The Kills. O disco é essencialmente cantado em francês, mas numa ou outra canção experimenta-se um delicioso inglês macarrónico, no melhor estilo Alô Alô… Prova de que, ao contrário de alguns purismos de fachada que vivemos por estes lados, os franceses estão mais preocupados em fazer música pop/rock, que concorrer para locutores da BBC.
Site oficial

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RETRO: Lou Reed, 1972

Em Agosto de 1970 depois de uma actuação no Max’s Kansas City, e a dias do lançamento do álbum Loaded, Lou Reed abandona os Velvet Underground. Inicia assim uma carreira a solo irregular, na qual fez nascer alguns álbuns fundamentais (do mítico Transformer ao mais recente e genial The Raven), cimentando em 35 anos de vida em nome próprio o estatuto de visionário rock que mereceu logo pela obra assinada antes, na banda que instalou definitivamente uma ideia de música alternativa em panorama pop/rock.
O primeiro disco a solo de Lou Reed foi editado não muitos meses depois, já em 1971, e foi em todos os planos uma desilusão. Desnorteado, recuperava essencialmente temas menores já ensaiados antes com os Velvet Underground, era pouco viçoso e em nada igualava os mesmos patamares de inventividade. O passo seguinte, contudo, mostraria Lou Reed novamente em forma, lançando definitivas bases para a afirmação de uma carreira que ainda hoje de si faz um dos mais venerados veteranos rock’n’roll. Ajudado por David Bowie, admirador confesso do sentido de dcadência e ambivalência dos Velvet Underground, e pelo seu guitarrista de então Mick Ronson, Lou Reed reinventou-se a si e ao seu som em Transformer. É certo que a luminosidade e teatralidade do glam rock ao jeito de Ziggy Stardust não assentavam bem nas canções de Reed, mas Bowie e Ronson, que produziram o disco, deram-lhe novo lustro, energia e alma, entusiasmando o roqueiro a escrever algumas das suas mais memoráveis canções de sempre, entre as quais os míticos Perfect Day, Walk On The Wild Side (com génese num velho pedido de adaptação a um musical do romance de 1956, com o mesmo título, de Nelson Algren, transformado depois numa visão sobre a Factory e a corte Warhol), Vicious ou Satellite Of Love. Lou Reed registou aqui cenas da vida e alma do outro lado de Nova Iorque, definindo retratos de uma época e de uma maneira de viver que aqui encontraram hinos de identificação. Ronson tocou guitarra em Vicious e Hangin’ Round e criou espantosos arranjos para Perfect Day, Walk On The Wild Side e Goodnight Ladies. Apesar de centrado num corpo e imagética rock’n’roll, Transformer vinca ainda as vivências de vistas mais largas que construíam já uma invulgar identidade compósita em Bowie. Essas marcas são sobretudo evidentes no discreto abraçar de heranças vaudevillescas em New Your Telephone Conversation. Transformer é também uma perfeita materialização do espírito warholiano através de um dos seus protegidos musicais, com filtro aplicado por um dos seus grandes admiradores deste lado do Atlântico. O tempo em que nasceu, o olhar maquilhado de Reed e a presença de Bowie rotularam Transformer como álbum glam rock. Porém, do glam rock o álbum herdou apenas um público que então descobriu Lou Reed e o adoptou, transformando-o numa estrela planetária. Um ano depois, no mais elaborado e sombrio Berlin, o músico seguia o seu caminho.

Se gostou, experimente:
Lou Reed “Berlin” (1973)
David Bowie “Diamond Dogs” (1974)
Morrissey “You Are The Quarry” (2004)


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