Arcade Fire + David Bowie “Live EP”
Editado hoje em exclusivo pelo iTunes, o EP documenta a primeira aparição pública, em palco, de David Bowie depois do acidente em palco em finais da Reality Tour que o obrigou a submeter-se a urgente angioplastia e consequente cancelamento do resto da digressão (data portuense inclusive). Esta é também a sua primeira gravação editada depois do acidente, já que os seus últimos títulos mais não foram que reedições (dos álbuns ao vivo dos anos 70) e compilações (uma de faixas de álbuns, a outra a recente Platinum Collection). Porquê os Arcade Fire? Porque foi Bowie o seu primeiro padrinho de além-Canadá, frequente visita nas plateias dos seus concertos nova-iorquinos em 2004, elegendo então, de resto, o álbum Funeral como o seu disco do ano. Os Arcade Fire agradeceram o empurrão que os levou ao estatuto de reconhecimento global entre melómanos que hoje gozam. E ei-los que, no final do Verão, subiram ao palco do Fashion Rock, em Nova Iorque, ao lado de Bowie (o velho Camaleão, de resto, só aceitou tocar no evento se com ele estivessem em palco os Arcade Fire!). Este EP é o documento desse encontro, com um Bowie ainda longe da sua forma total (como constatámos no DVD da Reality Tour do ano passado), mas sempre cool e teatral, partilhando o protagonismo com os canadianos em Wake Up e no seu clássico Five Years. A solo, apenas acompanhado por Mike Garson ao piano, oferece-nos ainda uma leitura com travo jazzy do histórico Life On Mars?
Magnétophone “The Man Who Ate The Man”
No momento em que a editora 4AD celebra 25 anos de vida encontra num disco novo tantos motivos de celebração quanto nos concertos, edições especiais e reedições que têm ocupado a sua agenda nas últimas semanas. O disco é The Man Who Ate The Man, o segundo álbum do duo de Birmingham Magnétophone, projecto que parte de uma identidade estrutural electrónica para definir neste disco um monumento de puro deleite sonoro, de horizontes largos, aberto a experiências e referências como um romance que pede muitas personagens para contar uma boa história e caracterizar os seus ambientes. A faixa de abertura parece colocar-nos em terreno Boards of Canada, mas depressa somos levados por uma viagem de sons que tanto passa pela evocação da electrónica minimalista de Philip Glass de meados de 70, como por farrapos de folk bem assimilados, o saboroso e teatral sentido onírico de uns Cocteau Twins e, sobretudo, frequentes incursões por recursos de estilo escutados no psicaldelismo, revisitado aqui sob o suculento prisma Spacemen 3. Este é o melhor disco da 4AD em muitos anos, e, claramente, um inesperado herdeiro do sentido de assombro que se recorda do monumental Filigree And Shadow dos This Mortal Coil (1986), um dos pilares da identidade 4AD.
Cass McCombs “Perfection”
Cass McCombs é outra das jovens forças de uma 4AD em busca de novo sentido de consquência, ciente que deve estar da importância que teve nas músicas alternativas de 80 e da presença menor que desempenha nesse mesmo espaço desde inícios de 90. De berço misterioso (já o mencionou no Bronx, no Hawai ou Tahiti), Cass McCombs é um reinventor de pistas pop e, neste seu segundo álbum procura sobretudo encontrar momentos de mistério ou luminosidade em canções que não escondem heranças colhidas nas melhores escolas indie rock de finais de 80. Está, portanto, na editora certa… O título do álbum, Perefection, só pode ser um acesso de humor num espaço de som claramente não hi fi (mas não necessariamente lo fi) onde um sentido de espaço e teatro acolhe canções que nos conquistam a cada nova audição. Equinoxe, a faixa de abertura é viciante… E o resto do álbum acaba, depois, por se revelar igualmente cativante (excepto a recta final de ruídos de sonoplastia pateta que só deve ter agradado ao compositor, imaginando como poderia maçar o ouvinte depois deste ter escutado um bom disco),
Patrick & Eugene “Postcard From Summertime”
O título diz tudo: este é um perfeito postal que nos pode fazer, chuva lá fora, pensar em finais de tarde de Verão, cocktail na mão, mar em frente. Eles são um percussionista e um multi-instrumentista de sopros, e neste álbum promovem um verdadeiro encntro tutti frutti de referências, cruzando pop à la Burt Bacharach, vaudeville, dixieland, folk europeu de leste, psicadelismo, trip hop e o que mais a atenção ali detectar… Têm o hino matinal de FM perfeito em The Birds And The Bees, e momentos de delírio bem humorado em curiosas versões de Can’t Get You Out Of My Head (sim, de Kylie Minogue) e de Crazy In Love (de Beyoncé). O problema deste álbum é apenas um: entre tanta diversidade e variedade é difícil encontrar uma lógica que arrume as ideias e nos ajude a digerir tudo nas primeiras audições.
The Rolling Stones “Rarities 1971-2003”
É o que o título indica: raridades editadas entre 1971 e 2003. Uns lados B, uns máxis, algumas faixas esquecidas… Para entreter, enquanto não se estende aos anos 70 e 80 a interessante política de reedição integral do catálogo de singles que, para já, resolveu em três magníficas caixas as gravações de 60. As melhores, convenhamos, dos Rolling Stones…
Teresa Salgueiro “Obrigado”
Teresa Salgueiro há muito merecia um disco a solo. A sua voz tem potencialidades que pedem experiências além do registo Madredeus, como o ainda recente dueto com Sérgio Godinho (Pode Alguém Ser Quem Não É) deixou claro. Mas Obrigado não é ainda esse disco. Limita-se a colher medianos duetos gravados nos últimos anos, alguns deles ligados aos Madredeus, e quase todos musicalmente pobres e incapazes de pedir a uma bela voz o que ela de melhor e mais diferente poderia ter oferecido. Teresa Salgueiro merece melhor!
Abba “The Complete Studio Recordings”
Desde 1992 não tem parado a máquina! Ano sim, ano não, uma nova antologia, uma nova campanha de reedições, um DVD, um musical… e agora uma caixa. E que caixa! Todas as 133 gravações que os Abba registaram em estúdio (incluindo as canções que gravaram para o derradeiro álbum inacabado e uma série de takes alternativos), todos os telediscos (incluindo o The Last Video, com presença dos quatro elementos do grupo, gravado em 2004 para os 30 anos da vitória de Waterloo no Eurofestival), um documentário e imagens do seu derradeiro concerto, mais um livrinho com todas as letras e um outro com uma cronologia. Ou seja, nove CDs, dois DVDs, dois livros, para recordar um dos mais espantosos legados pop de 70, um monumento de invulgar profissionalismo musical, e uma colecção de canções de primeira água, entre aquelas que sabemos de cor. Uma carreira que a popularidade antes incomodava alguns (os que se incomodam com o sucesso alheio, claro), mas que o tempo elegeu, quase unanimemente como incontornável.
John Lydon “The Best Of British”
Dos Sex Pistols às colaborações mais recentes, um percurso de um inesperado ícone rock’n’roll. Estão aqui breves referências aos Sex Pistols, muitas aos Public Image Ltd, curiosidades em nome próprio e colaborações com Leftfield e Time Zone. Na edição especial do CD serve-se como extra um segundo disco com temas adicionais e algumas remisturas dos máxis da época.
Também esta semana: Rolling Stones (A Bigger Bang CD + DVD), Queen (A Night At The Opera, ed. 30 anos), Pedro Abrunhosa (DVD)
28 Novembro: Kaiser Chiefs (DVD), Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD), Rufus Wainwright (Want 1 + 2), The Mood Elevator, Sam Shinazzi, Nine Inch Nails (reedição de Pretty Hate Machine) , Franz Ferdinand (DVD), Annie (DJ Kicks)
Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast, Pharell Williams, Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa)
Sem data: Camané (DVD), Madredeus (DVD), Amália Rodrigues (3CD antologia),
Para 2006: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur, Sparks, Every Move A Picture, White Rose Movement, Pop Dell’Arte (best of)
As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.
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