segunda-feira, novembro 28, 2005

Londres 05: rever Diane Arbus

DIANE ARBUS, Sem título 6 (1970-71)

Diane Arbus (1923-1971) é uma referência mágica na história da fotografia do século XX — mágica porque o maravilhoso pode nascer, nas suas imagens, dos extremos mais opostos, incluindo a monstruosidade; mágica porque a sua vida breve, concluída pelo suicídio aos 48 anos, é também um romance vivido na verdade, e pela verdade, da arte como reapropriação festiva do mundo. Discípula de Richard Avedon, formada no fotojornalismo (New York Times, Esquire, Harper's Bazaar, etc.), as suas imagens mais célebres, quase sempre no clássico formato quadrado, são de personagens marginalizadas pela pobreza ou pela doença, personagens a que ela reconhece uma grandiosidade tocante, tecida de ternura e fragilidade. Disse ela, uma vez: "A maior parte das pessoas atravessam a vida receando ter uma experiência traumática. Os 'freaks' já nasceram com o seu trauma. Já passaram o seu teste na vida. São aristocratas."
2006 vai ser, seguramente, um ano de revisitação e redescoberta da espantosa obra de Arbus, uma vez que se anuncia (EUA, Outubro) o lançamento do filme Fur, de Steven Shainberg (A Secretária), com Nicole Kidman a assumir a personagem da fotógrafa — Fur baseia-se no livro Diane Arbus: A Biography, escrito por Patricia Bosworth. Para já, algumas das suas imagens estão expostas em Londres — Nuno Galopim passou por lá.
N.G.: No Victoria & Albert está em exibição Diane Arbus: Revelations, a primeira exposição de grande envergadura da obra fotográfica de Diane Arbus em 30 anos. São três enormes salas com mais de 200 fotografias nas quais tomamos contacto com as linhas mestras da sua obra, a preto e branco, realista e espantosamente envolvente. Do registo full frontal de personagens de Nova Iorque (gente comum, damas decadentes, velhos e novos, casais, travestis, miúdos) a casais em retiros de nudistas, de escritores e gente famosa (Norman Mailer, Jorge Luis Borges, Mae West) a incógnitos num hospital psiquiátrico... A exposição inclui inúmeras peças da sua vida quotidiana e profissional, máquinas fotográficas, instrumentos de laboratório, livros da sua biblioteca e blocos com anotações. Uma paragem obrigatória para qualquer viagem a Londres — até 15 de Janeiro de 2006.
* Quem passar por esta exposição pode aproveitar o momento para entrar na sala ao lado, onde se mostra uma espantosa selecção de nova fotografia e video da China actual. Imagens de corpos, figuras e espaços que desconstroem velhos ícones (dos mais tradicionais aos motivos da revolução cultural), num espantoso olhar por imagens de uma China nova, ainda por descobrir.