segunda-feira, novembro 28, 2005

'Stoned': primeiras impressões

Brian Jones foi um dos mais espantosos visionários pop de 60. Mas o Brian Jones de Stoned parece apenas um ser alienado e deprimido, alheado e musicalmente inconsequente. Estreia na realização de Stephen Wooley, Stoned centra as atenções nos últimos três meses de vida de Brian Jones, pontualmente usando o flash back para justificar a sua rebeldia musical contra a lógica conservadora familiar, um passado pop que foi fruto de muito labor e fé, e sobretudo uma vida feita de excessos de sexo e drogas. O melhor do filme são precisamente estes episódios em flash back, nos quais o realizador recorre a texturas de imagem distintas para sugerir vários tempos e lugares, particularmente inspirado quando tenta traduzir as viagens interiores estimuladas pelo LSD em colagens de luz, forma, corpos, visões e música. Todavia, apesar destas ocasionais (e não são muitas) incursões pelo passado, em nada o realizador usa as pistas colhidas na história em favor da construção nem de uma personagem nem da sua justificação como ícone pop de grande carisma que, supostamente, justificaria um biopic em torno da sua vida. Em vez disso, procura apenas o passado como caução para justificar uma vida que divergiu do trabalho, dos amigos e da realidade, e se entrega, agora terminal, a sexo e drogas, com final infeliz, por afogamento numa piscina, aos 27 anos de idade.
Nos flash backs quase somos conquistados. Vemos os Rolling Stones nos seus primeiros concertos ensopados a blues, as suas sessões de estúdio, espectáculos mais adiante, sob gritaria de fãs, ou a viagem a Marrocos onde Jones perde para Keith Richards a namorada sueca, mas ganha uma sessão de gravações com os Master Musicians of Jajouka (de onde nasceria o primeiro disco de world music enquanto espaço de curiosidade musical exótica). A recriação histórica (guarda roupa, cenografia, banda sonora) é notável. O próprio Leo Gregory faz um Brian Jones visualmente convincente ao primeiro olhar, contudo falta-lhe o carisma que o músico exalava e, culpa do argumento, não nos permite um mergulho interior na figura que retrata, tendo o espectador de se contentar com um resvalar de imagens de superfície.
Baseado no recentemente publicado Who Killed Christopher Robin? (Brian Jones vivia na mansão onde nasceram as histórias de Winnie The Pooh), de Terry Rawlings, o filme aceita a tese do assassinato de Brian Jones por Frank Thorogood, que este terá confessado no leito de morte, em 1993. Pouca surpresa, num filme que deveria ter contado ao mundo o génio musical de um dos grandes da pop de 60. De resto, quem vir o filme sem saber da história dos Rolling Stones ficará a pensar que Brian Jones era uma figura secundária e musicalmente inconsequente no seio da banda e não entenderá como certas drogas tiveram consequência num desviar do rumo da música dos Rolling Stones, entre 1965 e 67. Ou seja, uma oportunidade perdida. Não admira que, ao cabo de duas semanas, o filme esteja ja de saída das salas londrinas...

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