Nada como um concerto para verificar se uma eventual promissora banda emergente pode ser mais que apenas um bom manifesto com potencialidades de carreira e feitos à sua frente. Os White Rose Movement tocaram na noite passada (25 Nov.) no Ministry Of Sound, uma das mais famosas casas das noites dançantes londrinas que, ciente de uma movimentação de gentes e sons nas áreas do rock, abre agora espaço regular a noites para guitarras e baile geral. "Crossover" era o nome pelo qual respondia a noite onde, além dos White Rose Movement, actuaram ainda os The Bays e Coburn. Nos pratos estava de serviço Andy Rourke (sim, o Smith) que cruzou Kaiser Chiefs e Arctic Monkeys com velharias indie rock saborosas, de Pixies a Charlatans, de Primal Scream a Julian Cope... e até mesmo os Smiths, em This Charming Man.
Os White Rose Movement foram os primeiros a actuar, já depois da uma da manhã (hora inicialmente prevista 00.45, a mostrar que nem só em Portugal as coisas atrasam). E ao cabo de um set relativamente curto (perto de 40 minutos) deixaram bem claro que, apesar de terem editado dois dos mais entusiasmantes singles de 2005, não estão ainda preparados para editar um álbum à altura das expectativas que esses mesmos discos sobre eles lançaram. Caso o gravem já e encham com os inéditos que se escutaram neste concerto, o disco seguirá directamente para o baú das promessas não cumpridas e o seu nome esquecido, enquanto Belzebu esfrega o olho.
Ficou, todavia, um dado estratégico em favor dos White Rose Movement. A avaliar pelo set tocado e pelos temas até aqui gravados em single, podemos dizer que têm escolhido as melhores faixas para registar em disco. Quem nos diz se o concerto não testou novos temas, dos quais a selecção natural decretada pelo próprio grupo apenas salvará um ou outro, com os restantes a precisar de mais tempo na sala de ensaios? No final do concerto, os próprios confirmaram-me o que o concerto deu para suspeitar: o próximo single será mesmo Girls at the Back, precisamente o melhor dos inéditos que apresentaram...
De facto, até à data, o melhor dos White Rose Movement são os dois singles, Alsatian (que fechou o concerto em regime de som total, enérgico e impiedoso, com um baixo a marcar terreno sobre a guitarra) e Love Is A Number (que na versão de palco pareceu despido da arte final requintada das electrónicas, anos 80, que se escutam no single). Em alta também Pig Hale Jam, um dos Lados B do primeiro single, que abriu a noite em jeito de manifesto de intenções, mostrando estarmos perante uma banda que olha para a Joy Division e Duran Duran (sobretudo as teclas de Nick Rhodes) como inspiração, mas que herda também um sentido de urgência e descarga de energia nada amansados (talvez ainda a pedir um ano de estrada para encontrar o ponto de equilíbrio certo).
O vocalista é o centro das atenções. Parece um clone de Ian Curtis, face igual, esguio total, vestido a negro integral, e com movimentos por vezes a lembrar a dança robótica e epiléptica do frontman da Joy Division (se Anton Corbijn ainda procura protagonista para o biopic baseado em Touching From a Distance, não precisa procurar mais, tem aqui figura à altura). Ao seu lado surge uma banda com visual em típica etapa intermédia de work in progress, ainda em busca de uma identidade colectiva. A teclista é evidente herdeira do sentido cool de um Nick Rhodes, imperturbável até quando um dos sintetizadores cai do palco e se estatela no chão. O baixista parece saído de uma banda punk passada a água oxigenada. O guitarrista, mais gordinho, usa casaco new romantic e penteado anos 80. O baterista não esconde farrapos de penteado rockabilly, devidamente depurado para estilo pós-punk reinventado.
Em suma: uma noite apenas agradável, a mostrar que nos White Rose Movement podemos encontrar, em 2006, uma banda à altura de uns Editors, tenham eles sentido crítico para corrigir o que ainda precisa de mais tempo a apurar. Haja pouca pressa!
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