sábado, maio 31, 2008

Um outro futebol

Perante a histeria televisiva em torno da se-lecção portuguesa de futebol, vale a pena perguntar o que se passa noutros contextos — em França, por exemplo. Este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Maio), com o título 'Futebol à francesa'.

Tal como Portugal, a França também tem a sua selecção de futebol na fase final do Euro 2008. A selecção de Makelélé, Anelka e Thierry Henry possui um curriculum invejável, incomparavelmente mais rico que o dos portugueses, tendo sido campeã da Europa por duas vezes (1984 e 2000) e do Mundo em 1998 (com Barthez, Deschamps, Zidane, etc.). Daí a pergunta: como é que os canais franceses abordam a preparação da equipa orientada por Raymond Domenech?
Tendo estado em França, no Festival de Cannes (14 a 25 de Maio), tive oportunidade de acompanhar a actualidade das televisões franceses. Mesmo tendo em conta que o certame impunha uma horário muito denso, pude fazer “zapping” sobre os principais canais, em particular durante as primeiras horas da manhã e nos horários noturnos.
Lembro três factos muito básicos: primeiro, não assisti a um único telejornal que abrisse com notícias sobre a selecção francesa nem que lhe dedicasse dezenas de minutos (a preparação da equipa era habitual tema de destaque no espaço do desporto, com reportagens de dois ou três minutos); segundo, desde o “entertainment” aos programas de debate, nunca encontrei o futebol como tema dominante (deparei mesmo com emissões de uma hora de duração em que se discutia essa coisa perigosíssima e pouco recomendável que são... os livros!); enfim, não vi nenhum político ou comentador tecer considerações “patrióticas” a pretexto da selecção de futebol (muito menos alguém a sugerir que a agenda interna do seu partido devia ter em conta o calendário do Euro).
Confirmei, assim, uma certeza. Não que a televisão francesa seja o paraíso (também vi “coisas” do mais descabelado populismo...), mas que é possível manter uma relação com o mundo em que o futebol não seja a referência condutora da informação, nem uma “religião” ditatorial destinada a enquadrar gigantescos espaços de publicidade. Além do mais, mesmo tendo em conta que a França é, historicamente, uma verdadeira potência futebolística, ninguém sustenta qualquer discurso triunfalista. São esquisitos estes franceses... até se dão ao luxo de ser sensatos.

Assim se espreitava o futuro

Hoje cruzamos Metal com pop e electrónicas. Metal como título de canção e não como sugestão de género, entenda-se... Fechamos assim um breve ciclo de memórias dos tempos da emergência da pop electrónica na Inglaterra de finais de 70, com Gary Numan na nossa mira. Este breve ciclo de recordações deveu-se à reedição de Replicas, álbum de 1979 que representou o primeiro fenómeno de atenção mediática (e de público) para com uma nova forma de usar linguagens pop através de outras ferramentas (os sintetizadores). Hoje damos um passo em frente à evocação de Replicas, com um muito rudimentar teledisco então criado para apresentar Metal, incluído no álbum The Pleasure Principle, editado poucos meses depois, em Setembro de 1979.

A sequela de 'The Stage Names'

Os Okkervil River vão lançar, a 9 de Setembro, um álbum que é apresentado como a sequela do anterior The Stage Names. Ou, por outras palavras, o segundo disco de uma ideia de álbum duplo lançado em separado. A parte dois terá por título The Stand Ins e apresentará um alinhamento de 11 temas.

Teatro na Universidade

Nos tempos que correm, promove-se muitas vezes a ideia de "marginalidade" apenas para fazer render qualquer coisa — até mesmo para vender cervejas ou telemóveis... Em todo o caso, creio que isso não nos deve fazer esquecer que as margens existem. E que, por vezes, por lá acontecem coisas que mereciam ser vistas... mais ao centro. Por razões de natureza familiar, descobri um belo espectáculo teatral feito, justamente, num desses espaços mais ou menos "ocultos". Infelizmente, só o vi no derradeiro dia de repre-sentações — 30 de Maio —, pelo que já não posso sugerir a sua descoberta. Mas creio que vale a pena registar a experiência: Máquina-Édipo foi apresentado pelo Grupo de Teatro da Nova, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL (Universidade Nova de Lisboa).
Numa encenação de Diogo Bento, 15 actores evoluem no espaço de uma garagem (literal-mente: no piso -4 da Torre Principal da UNL), habitando um universo que nasce de um riquíssimo princípio de colagem. O tema envolvente é, triplamente, Édipo: primeiro, o rei mítico de Tebas, imortalizado na tragédia de Sófocles; segundo, o modelo para a elaboração teórica do complexo de Édipo, por Sigmund Freud; terceiro, uma espécie de fantasma virado do avesso, estruturante do primeiro volume de Capitalismo e Esquizofrenia, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, sintomaticamente intitulado O Anti-Édipo (já editado em tradução portuguesa).
A encenação proposta é, de princípio a fim, um jogo de máquinas, ou seja, um labirinto de matérias em transformação — vai das acções aparentemente mais "neutras" aos gestos intencionalmente metafóricos, da ordem figurativa ao caos anímico, num happening que conserva, paradoxalmente, a coerência formal de um verdadeiro acontecimento teatral. O balanço tem algo de uma tempestade simbólica sobre o inconsciente da(s) nossa(s) vida(s) — aqui coexistem a máxima angústia e um humor sem fronteiras, a nitidez do que não é possível verbalizar e o sabor acre da liberdade.

sexta-feira, maio 30, 2008

Harvey Korman (1927 - 2008)

Era um daqueles actores que reconhecíamos sempre — e sempre com grande entusiasmo — mas cujo nome, verdade seja dita, nem sempre nos ocorria de imediato: Harvey Korman faleceu, aos 81 anos, depois de uma longa e multifacetada carreira no cinema e, sobretudo, na televisão americana. A sua imensa popularidade nos EUA nasceu, no começo da década de 60, com as participações em The Danny Kaye Show, vindo a consolidar-se, a partir de 1967, com a sua inclusão no elenco de The Carol Burnett Show — aí, o seu trabalho valeu-lhe quatro Emmys e um Globo de Ouro. Antes, dera voz a 'The Great Gazoo', na série The Flintstones (1965-66). As suas rábulas com Tim Conway [na foto, de regador na cabeça], tanto no programa de Burnett como no show do próprio Conway, são momentos clássicos do entertainment americano. No cinema, destacam-se as suas participações em quatro filmes de Mel Brooks, incluindo Balbúrdia no Oeste (1974) e Alta Ansiedade (1977). Eis um sketch, sobre a infidelidade conjugal, com Carlol Burnett e Harvey Korman.



* Obituário de Harvey Korman no USA Today.

Vampire Weekend hoje no Porto

Para quem pode por lá passar, a noite é de primeira água na Casa da Música. E aos Vampire Weekend junta os Young Marble Giants, os These New Puritans, Lightspeed Champion e algns DJs. A noite assinala a primeira passagem por estes lados de uma das bandas de quem justificadamente mais se fala em 2008: naturalmente os Vampire Weekend. Em jeito de aperitivo, aqui fica uma actuação televisiva, no programa de Jools Holland, na BBC. Como banda sonora, o novo single, Oxford Comma...

O dito pelo não dito

Julien Temple chegou a afirmar que o seu documentário sobre Joe Strummer “arrumaria” a sua antiga relação com o legado do punk. Afinal não foi bem assim. E acabou desafiado pelos Sex Pistols a realizar o documentário sobre a sua mais recente digressão. There’ll Always Be An England sai em DVD em finais de Junho e inclui, entre outras, imagens da residência do grupo na londrina Brixton Academy ou a sua passagem pelos festivais.

Tigres (para japonês ver)

Discografia Duran Duran - 17
'Tiger! Tiger!' (EP), 1984

O sucesso obtido pelos EPs Nite Versions (1982) e Carnival (1982) levou a EMI japonesa a promover idêntica proposta tendo em vista as remisturas lançadas em máxi-singles associados ao álbum Seven And The Ragged Tiger. Surge assim, com sob o conceito que havia definido esses dois discos, o EP Tiger! Tiger! que, dado o estatuto que o grupo então vivia, chegou a ser exportado para outros territórios (sempre na impressão japonesa). O alinhamento reúne as versões máxi de Union Of The Snake, New Moon On Monday e The Reflex e junta-lhes a de Is There Something I Shold Know (single que não consta do alinhamento do álbum de 1983). A fechar o alinhamento, o tema-título Tiger! Tiger! (um instrumental) surge na versão incluída no lado B do single New Moon On Monday. A capa usa uma foto promocional frequente em meados de 1984, na recta final da Sing Blue Silver Tour e associada ao lançamento da versão em single de The Reflex. Sem o impacte de Carnival (o único EP dos Duran Duran com história de presença visível em tabelas de venda internacionais), Tiger! Tiger! é hoje peça procurada por coleccionadores. Uma versão digital do EP surge na antologia dupla de EPs que a EMI japonesa editou no início dos anos 90.

O sucesso global dos Duran Duran entre 1983 e 84 permitiu alguns mais lançamentos locais que, depois, o circuito de importação e coleccionismo distribuiu por algumas outras paragens. Um exemplo digno de ser assinalado é o do EP alemão DMM Megamixes. Lançado em 1983, usando soluções gráficas semelhantes às de Is There Something I Should Know?, o EP procura alinhamento sobretudo na memória mais remota da obra gravada do grupo (leia-se 1981), reunido as versões máxi de Planet Earth e Girls On Film aos lados B Fame e Khanada (ambos do máxi de Careless Memories). De 1982 é incluído Save a Prayer.

quinta-feira, maio 29, 2008

Quase nus

Chinês, nascido em Xangai há 30 anos, Shen Wei é um valor emergente da fotografia contemporânea. No seu balanço de 2007, a revista American Photo considerou-o uma das revelações do ano. Ainda na China adquiriu experiência na área gráfica, mas foi nos EUA que se dedicou ao estudo da fotografia, desenvolvendo há quatro anos um portfolio a que deu o nome de "Almost naked" ("Quase nus"): são imagens de pose em que os retratados, com mais ou menos roupa, se expõem numa clara cumplicidade com o olhar do fotógrafo, como se se tratasse de montar uma cerimónia íntima, tão reveladora quanto pudica. Como diz o próprio Shen Wei: "Não forço nenhuma expressão nas pessoas, limito-me a esperar que as coisas aconteçam naturalmente." Em tempos de tanta e, por vezes, tão banal "invenção" digital, as suas fotografias devolvem-nos a materialidade dos corpos num estado alheio, por assim dizer anterior, a qualquer normalização dramática, iconográfica ou moral — podemos estar a assistir ao nascimento de um grande artista.

Maio e... Junho

Edição de 18 de Junho de 1968

Das ruas à universidade, das opções económicas às práticas culturais, o Maio 68 abalou todas as certezas e todas as estruturas. Quarenta anos depois, como é que o repensamos e revivemos? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Maio), com o título 'Ruas e ideias de Maio 68'.

Num texto disponível no site do jornal Libération, Eric Aeschimann resume de forma exemplar as inevitáveis ambiguidades da actual conjuntura de evocação das convulsões sociais de Maio 68, em França. Lembra ele que a data atrai três tipos de atitudes: trata-se de um “filão comercial”, suscita uma “querela de heranças” e, politicamente, explicita uma “batalha de projectos”.
Mas há mais uma derivação possível da “nostalgia” corrente de Maio 68. É algo que tem a ver com a banalização das efemérides no espaço mediático em que vivemos, em particular através das linguagens televisivas (veja-se, por exemplo, o processo de secagem ideológica a que, entre nós, foi sujeita a herança necessariamente plural e contraditória do “25 de Abril”). Assim, por vezes, a evocação de Maio 68 — e, em boa verdade, de muitas datas marcantes da história mais ou menos recente — tende a favorecer uma espécie de prolongamento do imaginário dos “famosos” imposto pela sempre conformista imprensa cor de rosa (em França, curiosamente generalizada atraves de um rótulo de raiz inglesa: “people”). No fundo, vende-se Maio 68 como um “sítio” onde alguns estiveram e que, como qualquer atracção mais ou menos turística, pode ser descrito em termos pitorescos...
O problema não está exactamente na questao de classificar Maio 68 como uma viragem “revolucionária” ou um contragolpe “conservador”. Em boa verdade, a sua contraditória vitalidade faz com tenha sido ambas as coisas (e muitas mais...). O problema, desgraçadamente típico do nosso tempo mediático e mediatizado, decorre da infinita banalização da história colectiva: promovem-se os factos históricos como se fossem obrigatórios e lineares produtores de “sentido”. No fundo, tenta-se apaziguar a dimensão irracional que a história também contém, reduzindo-a a “coisas” que significam “isto” ou “aquilo”. Neste caso, em particular, perde-se desde logo a herança mais difícil, e também mais cruel, de Maio 68. A saber: a de que a actividade humana é também feita de muitos gestos que não se esgotam em nenhum sentido linear, muito menos determinista.
Talvez resida aí um dos maiores dramas da hiper-informação em que vivemos. Claro que seria simplesmente estúpido demonizar “todo” o espaço mediático apenas porque há uma imprensa tablóide que simplifica tudo aquilo em que toca ou um estilo de fazer televisão que, dia após dia, trabalha na patética infantilização dos seus espectadores: a democratização da informação (valor inquestionável) faz-se também de muitos desequilíbrios, atrai muitas contradições e, por vezes, gera os seus próprios monstros. O drama decorre, afinal, da tipificação de comportamentos, da esquematização de situações e, enfim, da própria normalização (humana e emocional) das convulsões históricas.
Olhar para as imagens das ruas de Maio 68 é, de uma só vez, pressentir as ideias que nelas se materializaram e especular através das dúvidas e perplexidades que delas nasceram. Com alguma ironia, porventura autorizada pelo “espírito” de Maio 68, importa lembrar que nunca compreenderemos Maio se não soubermos avaliar como entrámos em... Junho.

Maio 68 - Manifestação de estudantes na rua Saint Michel

Bush vs. Bush

Josh Brolin interpreta George W. Bush no novo filme de Oliver Stone, intitulado apenas W. — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 Maio), com o título 'Bush em filme'.

Aconteça o que acontecer nas eleições presidenciais americanas, marcadas para 4 de Novembro, terminará uma era marcada pela figura de George W. Bush. Correspondendo a esse momento de viragem, Oliver Stone está a concluir um filme sobre o Presidente cessante cujo título será apenas a sua inicial intermédia: W. (estreia a 17 de Outubro). Se dúvidas ainda houvesse, e independentemente dos resultados, esta é uma prova esclarecedora da sistemática relação de Hollywood com as convulsões da história dos EUA, muito para além dessa imagem redutora da produção americana como uma máquina de “efeitos especiais”. Afinal de contas, de Young Mr. Lincoln (1939), o retrato de Abraham Lincoln por John Ford, ao novo filme de Stone, aquilo que prevalece é a capacidade de uma cinematografia manter uma relação viva, certamente plural e contraditória, com a pulsação do seu próprio país. Enquanto aguardamos, vale a pena referir que Bush será interpretado por Josh Brolin, com Tandie Newton e Scott Glenn nos papéis de Condoleezza Rice e Donald Rumsfeld, respectivamente.

Sydney Pollack, 1969

Uma pequena homenagem a Sydney Pollack: um fotograma do genérico de Os Cavalos Também se Abatem (1969), a sua magnífica adaptação do romance de Horace McCoy sobre os tempos da Depressão e, mais especificamente, sobre as maratonas de dança da época. É um caso exemplar do sentido político do trabalho de Pollack: a história colectiva surge transfigurada e, por assim dizer, intensificada através das experiências individuais. Vale a pena rever o trailer com que o filme foi lançado.



Alguns anos mais tarde, em 1987, David Bowie retomou o tema das maratonas de dança no bem chamado Never Let Me Down, incluído no álbum com o mesmo título — Joe Dalessandro, figura lendária do universo de Andy Warhol, é o mestre de cerimónias, pertencendo a realização a Jean-Baptiste Mondino.

O mundo vai passar por Sines

A edição 2008 do FMM Sines - Festival Músicas do Mundo vai celebrar o décimo aniversário deste encontro de melómanos e de músicos com uma programação que aponta aziumutes a diversas rotas e destinos. Serão 40 concertos, em dez dias, por quatro palcos entre Porto Covo e Sines. Entre os nomes que constam do cartaz, ontem anunciado, contam-se figuras como os norte-anericanos The Last Poets (na foto, figuras de importância fulcral na proto-história de uma relação da palavra com a música, que eventualmente conduziria ao hip hop), a indiana Asha Bhosle (uma das maiores "divas" de Bollywood), o chinês Cui Jian (um dos pioneiros de uma noção de "música moderna" por aquelas paragens), a Orchestra Baobab do Senegal, a cantora Hermínia (de Cabo Verde) ou os portugueses Dead Combo. Mais informação e horários no site oficial do festival.

Tribalismo de corte e colagem

Está a chegar o terceiro álbum da dupla Ratatat. LP3, a editar em inícios de Julho, parece seguir o trilho que os álbuns anteriores já indiciavam, mostrando um dos temas de avanço, Mirando, um gosto pela assimilação de elementos de cenografia tribalista. Aqui fica este tema (o single de avanço, Shiller, aparentemente, não tem teledisco), num vídeo que nasce de mecânicas de corte e colagem, tal como esta música. O vídeo, todavia, uns valentes furos abaixo da música.

Afinal não acabou...

Afinal os Gorillaz não são um projecto desactivado. Afinal havia outra ideia na manga! A BBC acaba de anunciar que desafiou o projecto Gorillaz a criar o genérico para os programas de acompanhamento televisivo das olimpíadas de Pequim. O filme, de dois minutos, é acompanhado por música dos Gorillaz e nasce sob inspiração de um conto tradicional chinês. Haverá versões mais curtas da música e clip para as diversas necessidades da BBC. Surgirá o tema em disco?

Acordar, agora a cores

Segundo acordar da Phoenix em Marte. O dia 2 da sonda viveu essencialmente de verificações técnicas, muitas delas centradas no braço robotizado que brevemente escavará o solo para colher amostras com vista às experiências programadas. A imagem, uma das raras a cores já divulgadas pela Nasa revela a planícia árctica de Marte, numa manhã de boa luminosidade. Segundo assegura a Nasa no seu site oficial, esta imagem reproduz, tão fielmente quanto possível, as cores reais da paisagem que a sonda observa ao seu redor.

quarta-feira, maio 28, 2008

Revisitando o ano de 1968

Pequeno grande livro de Raymond Depardon — entre as muitas edições que, actualmente, em França, evocam os acontecimentos de Maio 68, Depardon preferiu evocar, não o mês, mas o ano: 1968, publicado na colecção Points, é um livro de bolso que retraça o espantoso ziguzague do fotógrafo durante um ano em que foi vital o desenvolvimento da agência Gamma, por ele criada, em 1966, com Gilles Caron (mais tarde, viria a integrar a Magnum). Desde os eventos do mundo do espectáculo, como a estreia de Bonnie e Clyde em Paris, até aos momentos de maior dramatismo, como a agitadíssima convenção do Partido Democrático, em Agosto, em Chicago, marcada pelos protestos contra a guerra do Vietname [foto em baixo], Depardon apresenta um verdadeiro bloco-notas de um ano que, definitivamente, não pode ser reduzido ao pitoresco televisivo dos nossos dias.
Com alguma ironia, Depardon recorda que, na altura, o seu objectivo primeiro era fazer filmes. Assim aconteceu, de facto, e de então para cá a sua obra tem tanto de fotográfico como de cinematográfico — aliás, importa recordar que, ainda há poucos dias, no Festival de Cannes, pudemos descobrir a sua mais recente obra cinematográfica, o espantoso documentário La Vie Moderne.

Gobbledigook? Isso é... Sigur Rós...

Os Sigur Rós editam, dentro de um mês, um novo álbum de originais. Terá por título Med Sud Í Eyrum Vid Spilum Endalaust (vai ser lindo de anunciar na rádio...). Como aperitivo chega o single Gobbledigook (mais fácil de dizer...), que revela um afastamento do sinfonismo boreal dos discos anteriores rumo a um encontro com "verdades" mais primordiais... Mais ao jeito de uns Animal Collective... Aqui fica o teledisco.

R.E.M. não passam por cá...

Novas datas foram acrescentadas à digressão dos R.E.M., mas nenhuma prevê palco português. As hipóteses mais próximas para os vermos nesta digressão moram, a 5 de Julho, em Bilbao e, a 1 de Outubro, a fechar a digressão, na Praça de Touros de Madrid...

Madonna em Lisboa a 14 de Setembro

O concerto lisboeta de Madonna confirma-se, mas não no dia e local que chegaram a circular como rumor pela Internet. Data marcada para 14 de Setembro. Local: Parque da Bela Vista (o mesmo que acolhe o Rock In Rio). Os bilhetes custam 60 euros e estarão à venda a partir das dez da manhã de sábado.

Discos da semana, 26 de Maio

Um dos mais activos e bem sucedidos clãs da música popular dos nossos tempos não pára de nos surpreender. Se de Loudon Wainwright III não rezam grandes memórias musicais e das “manas” Kate & Anne McGarrigle pouco se ouviu até há poucos anos, aos rebentos mais novos da família tem cabido o papel dessas “surpresas”. Revelado em finais de 90, Rufus é hoje reconhecido como uma das estrelas maiores do firmamento pop, somando uma discografia onde ainda não mora um único tiro ao lado. Para breve espera-se a estreia em álbum da meia-irmã mais nova Lucy Wainwright Roche. Por enquanto, encontramos em I Know You’re Married But I’ve Got Feelings Too, a confirmação absoluta de Martha Wainwright como voz (inclusivamente no plano criativo). Durante anos a fio, Martha pareceu contentar-se em ser apenas uma voz amiga em cena para outros protagonistas. Passou pelos discos do pai, da mãe e tia, do mano Rufus. E de nomes como Gordon Gano, Teddy Thompson ou os Snow Patrol. Em 2005, o álbum de estreia Martha Wainwright dava primeiros sinais de que em si morava mais que uma figura votada a segundos planos. Uma presença notável no concerto de tributo a Leonard Cohen que gerou o filme I’m Your Man e uma passagem inesquecível pelos palcos em que Rufus homenageava Judy Garland (com um arrepiante Stormy Weather) vincou essas mesmas sugestões. O álbum, agora, arruma de vez as ideias: Martha é uma das mais promissoras cantoras/intérpretes da sua geração. Mais elaborado, intenso e bem escrito que o álbum de estreia, espelho de uma personalidade crítica dotada de certeiro sarcasmo na hora certa (como o título já indicia), o álbum apresenta Martha formosa e segura no seu papel de protagonista. Perante uma multidão de ilustres, e aqui colaboram nomes como Pete Townshend (The Who), Donald Fagen (Steely Dan) ou Garth Hudson (The Band), além do marido Brad Albetta e de todo o clã Wainwright, Martha apresenta uma definitiva mostra de um talento que não se esgota na (soberba) voz que lhe era já há muito elogiada. Canções pop, que sabem escutar ecos de tradições várias, da folk ao rock clássico de 70 (com Kate Bush no horizonte), com cereja sobre o bolo numa belíssima versão de See Emily Play, dos Pink Floyd (fase Syd Barrett).
Martha Wainwright
"I Know You’re Married But I’ve Got Feelings Too"
Drowned In Sound / Popstock
4/5
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A Austrália sempre foi fonte de boas surpresas pop/rock. E no presente está a revelar ser a maternidade de excepções a um filão que, no eixo Europa/América do Norte, atingiu o limiar da exaustão. Quatro anos depois de iniciada uma movimentação generalizada de redescoberta dos valores pop do suculento legado do pós-punk, raros são os grupos que, mesmo sob aclamação nas primeiras manifestações, conseguem hoje fugir aos modelos nos quais acabaram fechados, numa espécie de loop temporal. Como cogumelos em terreno húmido, multiplicaram-se bandas e discos com sabor a memórias bebidas em finais de 70 e inícios de 80. Mas o que teve graça no episódio da primeira citação transformou-se entretanto num sem-fim de repetições, que sobretudo parecem satisfazer mais a sede de nostalgia que a degustação de ideias... Nada contra, se as canções forem de primeira água (como nos deram já nomes como The Killers, White Rose Movement, The Faint, Interpol ou, sobretudo, os magníficos Franz Ferdinand). Mas até entre estes já houve tiros ao lado. E nas bandas de segunda linha (dos She Wants Revenge aos Editors da vida) os escorregões têm sido dolorosos... Da Austrália, curiosamente, chegaram nos últimos tempos dois nomes que, sob idêntica carteira de referências, revelam outra ginástica pop capaz de assegurar outras molduras e telas para essas tintas (que não deixam de ser inspiradoras, sublinhe-se). Além dos Midnight Juggernauts (cujo álbum de estreia finalmente foi editado entre nós), destaquem-se agora os Cut Copy. Depois de um álbum de estreia apenas “simpático”, mais próximo do pastiche que da real intervenção autoral, eis que mostram em In Ghost Colours um vitalidade pop que, sob sugestões colhidas nas memórias de inícios de 80, faz nascer uma música com sabor a festa presente. A diferença faz-se pela assimilação de ideias escutadas na música de dança (chamemos-lhe consciência presente na idade DFA) e pela definição de um sentido de genuíno optimismo que contrasta com as sombras das referências convocadas. Não se trata de um manifesto de revolução pop (há mais novas ideias noutros azimutes). Antes, um bom exemplo de síntese, bem ajustada ao seu tempo, capaz de mostrar que a citação é mais interessante ao ser compreendida que quando é meramente vestida em jeito de máscara.
Cut Copy
"In Ghost Colours"

Modular
4 / 5
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Agora que passou o mito (mais um na indústria discográfica portuguesa) que fazia crer, a algumas grandes editoras, que a “salvação” do negócio de vender discos de música portuguesa morava no hip hop, as coisas voltam ao estado natural. Quem quis virar estrela pop, virou... Quem julgou que enganava, afinal, não enganou... E quem optou por continuar a dar largas à criação de uma personalidade criativa, independentemente de sonhos de topes e afins, acaba por ser quem nos revela as verdades maiores de um espaço que, nascido no underground, mantém viva uma capacidade em desbravar terreno que não o eleito para deleite MTV e de modas tipo chiclete. D-Mars é, como outros dignos representantes do melhor que o hip hop nacional nos tem mostrado, um exemplo desta última atitude. E, através do alter-ego Rocky Marsiano, começa a definir um espaço de experimentação essencialmente instrumental que, juntamente como o fizeram já o projecto Bulllet ou algumas criações de Sam The Kid, define caminhos que, com base nas linguagens e ferramentas do hip hop, procuram olhares diferentes dos que dominam parte do panorama actual do género. O álbum de estreia de Rocky Marsiano, em 2005, mostrava um músico que, mais que apenas capaz de saber escutar referências, revelava inteligência na escolha e assimilação de ideias que, entretanto, fez suas. Outside The Pyramid é o passo natural que se segue. Junta às artes de corte e colagem uma noção de corpo vivo (certamente nascida da vivência de experiências em palco), intensifica a presença de músicos sobre a matriz feita de beats e samples e chega mesmo a ensaiar a canção. Na raiz da ideia continua a revelar-se um gosto reverencial pelas memórias do jazz hip hop de inícios de 90, evocando o requinte de uns A Tribe Called Quest ou elegância de uns Digable Planets. Cool!
Rocky Marsiano
"Outside The Pyramid"

Loop Recordings
3 / 5
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E eis um disco... “fracturante”, como agora se diz... Ou seja, daqueles que dividem opiniões. Até mesmo entre os que o não ouviram bem, antes de dizer de sua justiça... Antes de mais, deitemos por terra o argumento “canta mal” como motivo para levantar ou baixar o polegar à estreia em álbum de Scarlett Johansson. Quantas vozes menos encorpadas fizeram alguns dos mais marcantes momentos da história da música popular? E, no sentido oposto, quantas aves raras afinadas nos deram já algumas das mais insuportáveis canções de que há memória (Celine Dion, Mariahs e afins...)?... Scarlett Johansson pode não ter as cordas vocais e os pulmões de uma diva, mas a sua estreia na música não parece ser apenas birra criativa de uma actriz mimada. É certo que é fácil escolher um ícone incontornável para, no campeonato do “diz que gosta”, se ganhar aparente respeito enquanto melómano. Mas, mais que escolher uma mão-cheia de temas de Tom Waits, o álbum Anywhere I Lay My Head revela o entendimento da cantora-actriz com uma equipa criativa notável, capaz de reinventar as canções para delas fazer nascer um conjunto esteticamente coeso e capaz de acolher a voz de quem aqui se fala. Dave Sitek, dos TV On The Radio, é talvez a figura central neste filme, com argumento de Tom Waits, que Scarlett Johansson interpreta como... uma actriz. Com David Bowie como actor secundário em algumas das melhores cenas, e participação não menos visível do guitarrista Nick Zinner (dos Yeah Yeah Yeahs), o álbum revela uma ideia concreta e consequente. O onirismo de Falling Down ou a mutação de I Wish I Was In New Orleans numa lullaby fantasmática são apenas instantes de um disco que pede atenção antes do sim ou do não. Na verdade, é mais um talvez, revelando a abordagem plástica uma concentração de soluções semelhantes entre si que revelam falta de ginástica como complemento às boas ideias no ponto de partida. Memo assim, Scarlett Johansson não envergonha ninguém. E se escutarem álbuns pop de actores como William Shatner, Nichelle Nichols ou mesmo Johnny Depp, verão porquê...
Scarlett Johansson
"Anywhere I Lay My Head"
Rhino / Warner
3 / 5
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Mais do mesmo... Ou seja, os indefectíveis vão aplaudir. Os curiosos de outros tempos, talvez escutar. E os que há muito apontam inércia nestes campos, passar bem a leste deste conjunto de canções. Fala-se dos Tindersticks e do álbum que assinala a estreia de uma nova etapa na sua carreira. Na verdade, no plano dos bastidores, nunca tanta coisa mudara antes em redor do grupo. O afastamento de Dickon Hinchcliffe (e mais outros dois músicos) em 2006 levou Stuart Staples a repensar a formação da banda. Um novo acordo editorial chegou pelo caminho. Mas, de regresso ao trabalho, o grupo reencontrou as suas marcas de identidade e nelas fechou a condução dos destinos das novas canções. As velhas obsessões por um sentido eloquência escutado em clássicos soul com orquestra há muito que abafou o decadente negrume urbano, com rugosidade herdada de descendentes do punk, que se havia escutado nas primeiras canções. Staples ainda escreve sobre a dor, a perda, o desencanto... E a voz é, como sempre, veículo perfeito para a encenação das histórias sombrias que protagoniza e corpo para o fantasma que atormenta uma alma dorida... Porém, mais soul menos soul, mais despido, mais elaborado, mais introspectivo, mais magoado, o caminho dos Tindersticks parece fechado num beco para carpir mágoas, e sem vontade de dar meia volta e procurar nova luz. The Hungry Saw revela pontuais frestas de interesse. Mas não foge à modorra entediante em que o grupo mergulhou depois de Curtains (1997).
Tindersticks
"The Hungry Saw"
Beggars Banquet / Popstock
2 / 5
Para ouvir: MySpace


Também esta semana:
Spiritualized, Paul Weller, Pogues, Death Cab For Cutie, Moonspell, Weddinng Present, Futureheads, Byrds (reedições), Replacements (reedições), Tangerine Dream (antologia), Zutons, Philip Glass (opera), Wild Beasts

Brevemente:
2 de Junho: Ladytron, Aldina Duarte, Paul Weller, Aimee Mann, Radiohead (best of), Broadcast, Los Campesinos (ed nacional), El Perro del Mar (ed nacional), The Notwist, White Williams
9 de Junho: Coldplay, Joan As Policewoman, Fratellis, Yazoo (reedições), Mark Stewart, Beach House, Joseph Arthur, No Age (ed nacional)
16 de Junho: The Rascals, Dennis Wislon, The Feeder, The Music, My Bloody Valentine (reeedição), Herbaliser, Dead can Dance (reedições)

Junho: Infadels, David Bowie (reedição), U2 (reedições), Black Kids, Yazoo (caixa), Silver Jews, Young Gods, Weezer, No-Man

PS. O texto sobre Martha Wainwright é uma versão editada da crítica publicada no suplemento IN, da revista NS

terça-feira, maio 27, 2008

Sydney Pollack (1934-2008)

J.L.: Foi actor — estudou com Sandford Meisner em meados da década de 50, começou em séries televisivas e estreou-se no cinema em War Hunt (1962), de Denis Sanders, filme em que contracenou com Robert Redford, que viria a tornar-se um grande amigo e protagonista de sete dos seus filmes, de A Flor à Beira do Pântano (1966) a Havana (1990), passando por África Minha (1985).
Foi realizador — pertencendo a uma geração que se assumiu já como herdeira dos grandes clássicos americanos, ao mesmo tempo que começava pela televisão, deixou uma obra em que, nomeadamente no género melodramático — O Nosso Amor de Ontem (1973), Sabrina (1995), Encontro Acidental (1999), etc. —, sempre se afirmou ligado ao património tradicional de Hollywood.
Foi produtor — através da sua companhia, Mirage Entertainment, não só produziu a maioria dos seus filmes, como esteve ligado a alguns projectos invulgares, incluindo Sensibilidade e Bom Senso (1995), de Ang Lee, Assalto e Intromissão (2006), de Anthony Minghella, e ainda o telefilme Recount (estreado há poucos dias pela HBO), sobre a contagem dos votos na eleição presodencial americana de 2000.
Sydney Pollack foi uma personalidade marcante da história do cinema americano dos últimos 40 anos, símbolo modelar de uma atitude moral e politicamente liberal, ao mesmo tempo que empenhado na preservação da grande arte narrativa de Hollywood. No plano formal, foi um brilhante encenador do formato largo (scope), por isso mesmo assumindo uma sistemática atitude de resistência aos abusos das televisões, sempre que amputam tal formato para o "quadrado" televisivo, nessa medida anulando, literalmente, metade da imagem original — este seu depoimento denuncia tal crime estético, servindo-se de imagens de A Intérprete (2004), sua derradeira longa-metragem de ficção (depois, realizou ainda o documentário Esboços de Frank Gehry).



* Sydney Pollack: obituário no New York Times.

Nós é que agradecemos...

Uma boa ideia para enervar os que não gostam que se abordem as músicas pela sua geografia. É certo que a geografia não age necessariamente na criação musical, não define obrigatoriamente características nem condiciona heranças. Mas define eventuais traços de identidade que, vistos por quem está longe, podem servir de porta de entrada para a descoberta. Daí que se elogie a edição da antologia Thank You For The Music, uma compilação que, naturalmente sem ter a ambição de retratar todo o panorama real actual, serve de montra a algumas figuras e canções do panorama pop indie da Suécia actual. O disco, com título tirado de uma canção dos Abba, serve de casa para canções de 21 nomes, entre os quais Jens Lekman, Frida Hyvonen, El Perro del Mar, Concretes, Peter Björn & John, Loney Dear, Shout Out Louds, Pacific ou Kleerup.

Pop torrencial

Enquanto se espera para saber se In Ghost Colours, o segundo álbum dos australianos Cut Copy terá edição nacional (coisa que deve dar cá um trabalho!), aqui fica um dos telediscos que dele já nasceram. Este é Hearts On Fire. Pop com chuva quanto baste...

Há, mas são verdes... (1)

Enquanto a sonda Phoenix visita Marte, o Sound + Vision vai recordar, ao longo das próximas semanas, alguns livros, filmes e discos nos quais o planeta vermelho e as formas de vida que a ficção nele criou são protagonistas. Começamos com um livro que toma Marte (e os marcianos) apenas como ponto de partida para a história da transformação de um ser humano e, depois, da Humanidade em geral. Trata-se de Um Estranho Numa Terra Estranha (no original A Stranger In A Strange Land), de Robert A. Heinlein. Originalmente publicado em 1962, numa versão severamente editada (retirando conteúdos considerados excessivos para os códigos da época, repostos no texto integral, editado apenas depois da morte do escritor), o livro relata a história de Valentine Michael Smith, um ser humano criado por marcianos que regressa à Terra e acaba por transformar as mentalidades e hábitos dos que o rodeiam. Vários subtextos cruzam a história, desde as jogadas políticas de quem procura chamar a si a posse de terrenos marcianos à criação de uma religião centrada em pressupostos completamente distintos dos que conhecemos nas diversas “fés” que conhecemos na Terra actual. A contracultura de 60 tomou o livro como quase um manifesto, pela forma como o texto veiculava reflexões invulgares para a época sobre temáticas como a liberdade individual e sexual, o desafio à afirmação da personalidade de cada um, num quadro crítico sobre os modelos de poder vigentes. Nos anos 60 uma seita foi inclusivamente criada sob inspiração no livro, tendo-se o autor imediatamente demarcado dela. A ficção pode reflectir sobre a realidade, mas não se deve tomar pelo real...
PS. O título do post traduz a inevitável resposta do astronauta quando, chegado da Terra, lhe perguntam se há marcianos em Marte...

A primeira manhã marciana

A Phoenix dormiu bem durante a sua primeira noite marciana. Ao acordar, olhou em redor e esta é a imagem do que viu. Brevemente iniciará o seu programa científico que visa essencialmente dois objectivos. Um deles é o estudo da história geológica da água marciana, que permitirá conclusões sobre cenários de mudanças climáticas. O outro representa mais uma tentativa de busca de sinais de vida (passada ou presente) no planeta. A escolha da região polar Norte de Marte como local de descida não é alheia a estas demandas. A água, que se crê existir, gelada, sob o solo, guarda eventuais respostas a estas questões. Marcianos? Não, ainda não apareceram frente às câmaras da sonda...

segunda-feira, maio 26, 2008

Life on Mars?

A notícia do dia lembra um clássico de Bowie. Life On Mars, mais precisamente. Era perto da meia noite (hora portuguesa) quando a sonda Phoenix, da Nasa, chegou à superfície do planeta vermelho, mais concretamente a umz região polar do hemisfério Norte do planeta conhecida como Vastitas Borealis. Pouco depois enviou as primeiras imagens para a Terra. A que aqui reproduzimos pertence ao primeiro conjunto de imagens divulgadas pela Nasa. No solo, imagens de gelo em padrões poligonais, semelhantes aos que se conhecem nas regiões polares da Terra. A missão vai agora centrar-se na sua demanda principal. É desta que saberemos se há (ou houve, em tempos), vida em Marte?

O que dizer do novo Indiana Jones?

Com alguns dias de cartaz e muitas opiniões já registas na imprensa e na Internet, chegou a altura de lançar aqui a questão: o que pensar do novo Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal?... Para simplificar as respostas, sugerimos as que se seguem. Podem votar no inquérito na barra lateral do blogue, antes da zona dedicada à agenda.

Muito Bom
Bom
Razoável
Uma desilusão
Não tenciono ver

Logo a seguir outra questão se impõe. Qual é o melhor dos quatro filmes de Indiana Jones. As respostas podem ser dadas logo abaixo do inquérito anterior:

Os Salteadores da Arca Perdida
Indiana Jones e o Templo Perdido
Indiana Jones e a Última Cruzada
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

O amigo de Alex

Está a chegar o álbum de estreia dos The Rascals, a banda de Miles Kane, a “outra” metade dos Last Shadow Puppets. O álbum, Out Of These Dreams, tem data de lançamento agendada para 16 de Junho. Como aperitivo, aqui fica o teledisco do single de avanço, Freakbeat Phantom.

Noites nómadas em Paris

Patti Smith vai programar, enquanto estiver aberta ao público a exposição que a Fundação Cartier, em Paris, lhe dedica, uma série de concertos para pequenas plateias. Sob o título genérico “concerts nomades”, esses serões abrem, a 7 de Junho com um concerto acústico da própria Patti Smith. Apenas 190 espectadores poderão ver o espectáculo.

domingo, maio 25, 2008

França volta a vencer em Cannes

Entre les Murs [foto], de Laurent Cantet, venceu a 61.ª edição do Festival de Cannes. É a primeira Palma de Ouro francesa desde 1987, ano em que foi distinguido Sob o Sol de Satanás, de Maurice Pialat.
O júri, presidido por Sean Penn, atribuiu os seguintes prémios:

PALMA DE OURO
— «Entre les Murs», de Laurent Cantet (Franca)


GRANDE PRÉMIO
— «Gomorra», de Matteo Garrone (Italia)

PRÉMIO ESPECIAL DO 61.º FESTIVAL (ex-aequo)
— Catherine Deneuve
em Un Conte de Noel, de Arnaud Desplechin
— Clint Eastwood
por The Exchange

INTERPRETAÇÃO FEMININA
— Sandra Corveloni
em «Linha de Passe», de Walter Salles (Brasil)

INTERPRETAÇÃO MASCULINA
— Benicio Del Toro
em «Che», de Steven Soderbergh (EUA)

REALIZAÇÃO
— Nuri Bilge Ceylan
por «Three Monkeys» (Turquia)

ARGUMENTO
— Luc e Jean-Pierre Dardenne
por «Le Silence de Lorna» (Belgica)

PRÉMIO DO JÚRI
— «Il Divo», de Paolo Sorrentino (Italia)

Cannes, 25 de Maio de 2008

O título escolhido para o encerramento oficial do 61.º Festival de Cannes — What Just Happened?, de Barry Levinson — veio instalar um perverso jogo de espelhos: esta é a história da agitadíssima pós-produção de um filme americano que visa a passagem em Cannes como um momento decisivo da sua promoção internacional. Aliás, a acção desemboca mesmo na Cote d'Azur e no Palácio dos Festivais (ainda que "reconstituido" nos EUA...).
Convenhamos que as expectativas dominantes eram, no mínimo, cépticas. What Just Happened? tinha saido do Festival de Sundance (em Janeiro) com a sua imagem muito abalada e nem mesmo o elenco — incluindo Robert De Niro, Catherine Keener [ambos na foto], Robin Wright Penn, Stanley Tucci, John Turturro, Sean Penn e Bruce Willis, estes dois últimos nos seus próprios papéis — parecia poder salvar a vida pública do projecto. O certo é que estamos perante uma curiosa visão do interior de Hollywood, algures entre o desencanto romântico e a revolta cáustica, confirmando que o género — "o-cinema-dentro-do-cinema" — continua a ser um registo atraente para alguns cineastas americanos contemporâneos.
A esse propósito, vale a pena recordar que Levinson dirigiu, por exemplo, Wag the Dog/Manobras na Casa Branca (1997), em cujo argumento trabalhou David Mamet, precisamente um filme em que Hollywood surgia nas suas alianças nem sempre muito cristalinas com o poder político. Agora, trata-se de definir uma tapeçaria de personagens cuja sobrevivência, nem que seja no plano emocional, se joga através dos filmes e respectivos artifícios — e, no fundo, um filme de amarga melancolia.

Um finlandês em Nova Iorque

O mais internacionalmente reconhecido dos compositores finlandeses da actualidade, Einojuhani Rautavaara (n. 1928) foi desafiado pela Julliard School Of Muisc (em Nova Iorque) para compor uma peça para o programa das celebrações do centenário da escola, assinalado em 2005. Antigo aluno da escola entre 1955 e 56, que frequentou sob recomendação de Jean Sibelius, e na qual Aaron Copland foi um dos seus professores, Rautavaara procurou fonte de inspiração naquilo que mais o marcou nesses dois anos de estudos em Nova Iorque: Manhattan. Ou, como descreve nas notas que acompanham o disco, “a sua beleza, a sua crueldade, as suas constantes mudanças de humor”... Assim nasce Manhattan Trilogy, peça dividida em três partes, sob os títulos específicos Daydreams, Nightmares e Dawn, expressões que o compositor define como caracterizadores de sensações centrais aos seus dias de juventude e que, explica, lhe parecem comuns às histórias de vida de muitos outros jovens compositores. Mais que uma obra descritiva, Manhattan Trilogy procura antes explorar a memória de certas sensações. E como em muitas outras obras recentes do compositor finlandês, cruza marcas do modernismo com elementos mais tradicionais. Uma síntese dos contrastes habituais em muitas das suas peças pode encontrar-se na Sinfonia Nº 3 (de 1961), igualmente registada neste disco, composta pouco depois de uma temporada na Suíça, inteiramente dedicada ao estudo das então novas linguagens do modernismo. Editado pela Ondine (em cujo catálogo se pode escutar parte da extensa obra de Rautavaara), Manhattan Trilogy surge em gravação pela Orquestra Filarmónica de Helsínquia, dirigida por Leif Segerstam.

sábado, maio 24, 2008

Para descobrir Claude Chabrol

Há qualquer coisa de desgraçadamente absurdo no facto de, na mesma semana em que o mercado é literalmente inundado pela amarga desilusão de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de Steven Spielberg, assistirmos ao discreto apagamento mediático (e na Net) de um filme com a marca do génio de Claude Chabrol: A Rapariga Cortada em Dois, com Ludivine Sagnier [foto], François Berleand e Benoit Magimel.
Convém deixar um aviso pedagógico. A saber: que os mais precipitados se poupem a esforços para relançar esse maniqueismo infantil que joga na oposição entre os americanos "populares" e os europeus "esotéricos" ou, pior ainda, na suposta resistência dos "intelectuais" a Spielberg e aos modelos de espectáculo que ele representa. Ninguém neste blog tem que dar provas do seu respeito pela personalidade criativa de Spielberg, quanto mais não seja porque algumas décadas de textos falam por si. Aliás, importa dizer o mais básico: o problema seria exactamente idêntico, mesmo se considerassemos este novo Indiana Jones uma esplendorosa obra-prima. O problema, simulteamente económico e jornalístico, é a difícil visibilidade a que estão automaticamente condenados muitos filmes que (ainda) chegam às salas.
Digamos, então, para simplificar, que A Rapariga Cortada em Dois — história luminosa de um amor negro entre um escritor de meia idade (Berleand) e uma muito jovem apresentadora (Sagnier) da meteorologia televisiva — evolui como uma fabulosa crónica de usos e costumes. Através dela se confirma que Chabrol é, de uma só vez, um analista metódico da alma humana e um arqueólogo implacável da vida social da França profunda.
Fica, por isso, este avassalador desencanto: através da Net, multiplicam-se as notícias e comentários que parecem ecoar a campanha de Indiana Jones, enquanto sobre Chabrol se abate um imenso e desesperante silêncio. Onde estao os espectadores que gostam de descobrir filmes?

Cannes, 24 de Maio de 2008

E se a Palma de Ouro fosse para o último título apresentado na secção competitiva de Cannes? E se, 21 anos decorridos sobre o último triunfo francês — Sob o Sol de Satánas, de Maurice Pialat —, a França voltasse a vencer o festival com Entre Les Murs, de Laurent Cantet?
A pergunta justifica-se, quanto mais não seja porque (ainda que erradamente) surge sempre essa sensação difusa de que os últimos dois dias do certame são para as "sobras"... Pois bem, Entre les Murs, sobre as relações atribuladas de professores e alunos num típico liceu francês, consegue essa proeza muito especial que é oferecer-nos um retrato subtil dos muitos conflitos que uma escola pode abarcar (geracionais, pedagógicos, morais, rácicos, etc.), preservando um realismo à flor da pele que, uma vez mais, repõe a questão fascinante da contaminação da ficção pelo documentário. Baseado num estudo de François Begaudeau, o filme integra-o (a ele e aos seus alunos) como actor para definir uma invulgar ambiencia dramática, com tanto de perturbante como de comovente. Seja qual for o palmarés, Entre les Murs fica como um dos momentos emblemáticos desta 61.ª edição do Festival de Cannes.

Arqueologia da pop electrónica - parte 2

A ideia da “segunda oportunidade” pode, por vezes, trazer a surpresa a quem sabe esperar. Gary Numan que o diga. Em 1977 formou uma banda punk, os Tubeway Army, com os quais gravou um álbum que só veria a luz do dia sete anos depois, sob o título The Plan. No mesmo ano, o grupo separa-se por divergências estéticas. Numan assina pela Beggars Banquet e, com nova formação, grava um álbum que reflecte um interesse pela emergente new wave. Ninguém dá por ele... Fã confesso de Bowie, deixa-se entretanto cativar pelos sinais de mudança que escutara em Low e Heroes. Ao mesmo tempo descobre nos compatriotas Ultravox uma música que devolve os sintetizadores (recentemente banidos pelos sacerdotes do punk por ligados ao rock progressivo) a um terreno de invenção. Aceita-os, estuda-os e grava, em finais de 1978, um novo conjunto de canções nas quais os novos instrumentos revelam outros caminhos. Era um tempo de revolução na música pop em solo britânico. Além dos Ultravox e Tubeway Army, os Human League, os recém-formados Orchestral Manouevers In The Dark, os Cabaret Voltaire, os The Normal, a primeira formação dos Duran Duran, mostravam sinais de alerta que, mais dia, menos dia, chegariam ao grande público. Coube a Replicas, originalmente editado em 1979 como sendo um álbum dos Tubeway Army, e ao sucesso do single Are Friends Electric? fazer as “honras” da casa. Até então apenas os Kraftwerk e o bem sucedido Sound and Vision de Bowie haviam levado os sintetizadores a terreno pop, sob aclamação geral. Replicas abriu contudo a porta a uma nova geração de bandas e a uma relação com as electrónicas que teria fortíssimo impacte na música dos 80 que se aproximavam. E com consequências mais além, estando esta etapa da obra de Gary Numan tão presente nas referências de nomes vários, da nova pop ao rock industrial mais sombrio dos anos 90.
Replicas acaba de ser reeditado em formato de CD duplo (sob designação Replicas Redux), com um segundo CD no qual se reúnem maquetes das canções depois registadas no álbum. O CD2 permite, assim, uma espécie de leitura arqueológica dos eventos, localizando sinais de transição do som new wave para a pop electrónica (facção cold wave, como então se lhe chamou). O disco acompanha uma digressão nova de Gary Numan, na qual interpretará, de fio a pavio, este álbum histórico de 1979. Uma semana depois de aqui termos recordado Are Friends Electric, mostramos hoje, como aperitivo, a memória, ao vivo, em 1979, de Down In The Park. Tudo muito “moderno”, segundo os códigos de então...



Estas imagens são documento da digressão que Gary Numan realiza em finais de 1979, já como artista a solo, e sob o clima de popularidade que o sucesso de Replicas lhe trouxe. Repare-se no palco, com sinais de piscar de olho à cenografia feita de luzes da Stage Tour, de Bowie... E nos movimentos de Numan, que também não escondem uma admiração por quem, um ano, antes, cantava Heroes...

sexta-feira, maio 23, 2008

Cannes, 23 de Maio de 2008

Sid Vicious, dos Sex Pistols? Com Nancy Spungen? Sim, mas em personagens recriadas pelos actores Jamie Burke e Bijou Phillips — aparecem numa cena ficcionada de um filme que, em ultima instancia, escolhe um tom documental: chama-se Chelsea on the Rocks e e uma belissima deambulacao pelo lendario Chelsea Hotel, de Nova Iorque, com assinatura de Abel Ferrara.
Foi uma sexta-feira dificil no Festival de Cannes. De facto, numa edicao pautada por um notavel equilibro de escolhas e contrastes, o dia 23 trouxe algumas das piores opcoes da seccao competitiva, a comecar por esse imenso equivoco que e a estreia na realizacao do argumentista americano Charlie Kaufman (Queres Ser John Malkovich?): o seu Synecdoche, New York, sobre as atribulacoes existenciais de um encenador teatral (Philip Seymour Hoffman), resume-se a um exercicio de retorica "copiado" dos argumentos anteriores. Algo de semelhante se podera dizer de Palermo Shooting, embaracoso empreendimento em que Wim Wenders se imita a si proprio, enquanto filma a Italia num tom de pretensioso pitoresco... Resta My Magic, titulo de Singapura assinado por Eric Khoo, que nao estara na competicao a nao ser por razoes de equilibrio diplomatico...

Era um café e uns Sonic Youth...

Mais um disco interessante nasce no catálogo da Hear Music, a tal editora da rede de cafés Starbucks. Trata-se da já anunciada compilação de canções dos Sonic Youth, Hits Are For Squares. O alinhamento é definido pelas escolhas de figuras como Beck (Sugar Cane), Gus Van Sant (Tom Violence), Flaming Lips (Expressway To yr Skull), Mike D (100%) ou Radiohead (Kool Thing), entre outros. Não é má ideia, convenhamos... E com um blueberry muffin a ajudar, é razão mais que certa para ir a um Starbucks... E quando é que a coisa (já muito falada, mas ainda não concretizada) cá chega?

Trova do vento que mudou

A fechar uma semana de evocações eurovisivas, uma memória portuguesa. Em 1967, Eduardo Nascimento apresentava-se em Viena, na Áustria, com O Vento Mudou. Era a quarta participação portuguesa no concurso, depois da estreia em 1964 com António Calvário e das representações que se seguiram com Simone de Oliveira (65) e Madalena Iglésias (66). A canção somou apenas 3 pontos (um da França, um da Suíça e um de Espanha), terminando em 12º lugar. É das canções eurovisivas portuguesas que mais bem envelheceu. Nos anos 80 os Delfins gravaram uma versão. Aqui fica a memória da sua leitura original.

De Scorsese para Demme

O documentário sobre Bob Marley, que estava na agenda de Martin Scorsese passou, por impossibilidade do cumprimento de calendário, das mãos deste para as de Jonathan Demme. A estreia, marcada para assinalar, a 6 de Fevereiro de 2010, o 65º aniversário do nascimento do músico jamaicano, obrigou Scorsese a abandonar o projecto. Demme já assinou documentários musicais, nomeadamente os filmes-concerto Stop Making Sense (Talking Heads) e Heart Of Gold (Neil Young).

A remistura tu-tu-tu-tu-tura

Discografia Duran Duran - 16
'The Reflex' (single), 1984

O terceiro e último single extraído de Seven And The Ragged Tiger “salvou” o que parecia um acumular de erros na etapa de maior popularidade da história dos Duran Duran. Remisturada por Nile Rodgers (dos Chic), The Reflex surgiu no formato de 45 rotações numa versão radicalmente diferente da que se escutara no álbum. Mais intensa, com ritmo capaz de sugerir adesão nas pistas de dança. E liberta de alguns excessos que caracterizavam o tom “barroco” que dominara o som do álbum. A resposta do público a um single que parecia devolver os Duran Duran ao clima de viço pop que haviam conhecido entre 1981 e 82 não se fez esperar. E rapidamente The Reflex acabou transformado no maior êxito do grupo até à data, subindo ao primeiro lugar de tabelas de vendas em países como o Reino Unido, EUA, Canadá, Irlanda ou Holanda, entre outros mais. No lado B do single, sublinhando o facto do grupo ter passado parte dos meses anteriores na estrada, foi incluída uma gravação ao vivo, curiosamente registada não na presente digressão, mas em 1982. Nela escutamos a banda, com Steve Harley em palco, numa versão de Make Me Smile (Come Up And See Me), velho clássico dos Cockney Rebel. O máxi-single incluía uma versão longa da remistura de Nile Rodgers para The Reflex.



O teledisco de The Reflex surgiu das filmagens de palco durante a Sing Blue Silver Tour da qual nasceriam um documentário, um especial de televisão e o filme Arena. Novamente sob a direcção de Russel Mulcahy, os Duran Duran surgem em cena, sobre o palco usado na digressão. As imagens ao vivo são depois cruzadas com efeitos visuais que, modernos na altura, hoje parecem ingénua coisa datada.